O quarto de Samuel era seu refúgio, um espaço onde brinquedos e desenhos o conectavam a um mundo onde a tristeza e a complexidade dos adultos parecia distante. Mas nem ali conseguia esquecer a perda do avô e o medo de perder também os pais.Ao entrar no quarto de Samuel, Diego viu o menino sentado na cama, abraçando seu urso de pelúcia favorito, um presente antigo de Roberto.Ao erguer os olhos e notar a presença de Diego, sem largar o brinquedo, Samuel pulou da cama e correu na direção dele, os braços pequenos envolvendo-o com força pela cintura.— Papai, não me deixa — pediu erguendo os olhos marejados.Diego se abaixou, ficando à altura do menino.— Não irei a lugar algum. Estarei sempre aqui, ao seu lado — prometeu acariciando-o os fios escuros do cabelo da criança, observando-o como se fosse à primeira vez.E de fato sentia que era a primeira vez, a primeira em que buscava traços do irmão no menino. Não entendia a decisão de Roberto em ocultar que Luiz teve um filho.Luiz não foi
Penélope permaneceu no escritório de Roberto, lendo o testamento que tinha se tornado o epicentro do fim de suas ilusões. Cada palavra que passava por seus olhos a deixava mais atônita e magoada, revelando o quanto foi enganada pelos Freitas. A indignação crescia dentro dela, como uma fera enjaulada.O som do celular ecoou de dentro da bolsa. O pegou e viu que se tratava de uma mensagem de Jéssica, preocupada com seu estado de espírito.Depois de enviar uma resposta vaga, verificou que Ana também mandou mensagem pelo mesmo motivo.Olhou para o testamento em suas mãos e se perguntou quanto tempo levaria até a verdade sobre Samuel vir à tona. Talvez os três meses que levariam a tal segunda parte do testamento, ou menos se Marcela ou Diego optassem por isso.Sabia que não havia mais como fugir do inevitável. A história que cercava a concepção de Samuel estava prestes a explodir, e ela não queria continuar sendo uma peça manipulada no jogo dos Freitas. A verdade seria revelada em algum mo
Enrique se recostou na poltrona, visivelmente chocado com o relato do que aconteceu na mansão Freitas naquela manhã. A revelação sobre o verdadeiro pai de Samuel foi o que mais o desnorteou.— Luiz... Luiz é o pai de Samuel? — gaguejou, incapaz de esconder seu choque. — Caramba, Diego, cada vez que eu pisco sua vida dá uma reviravolta de 360!Sem clima para brincadeiras, Diego batucava o pé no chão, focado em achar uma solução para a situação difícil em que se encontrava com Penélope.— Não sei como lidar com tudo isso. Amo Penélope, amo Samuel, e quero fazer o que for preciso para consertar as coisas, mas ela está irredutível por achar que casei pelo dinheiro.— Hum, mas foi isso que você fez — Enrique apontou arrancando um resmungo do amigo. — Sei que a ama, mas, diante dos fatos, compreendo a descrença dela.— Tentei fazer meu pai mudar os termos, insisti que deixasse tudo para Penélope, sem imposições futuras, mas ele não quis — retrucou lembrando-se da conversa que teve com Rober
Avisado pela governanta que o jantar estava pronto, e que Penélope permanecia trancada no escritório de Roberto com as amigas, Diego deixou a empregada encarregada de levar Samuel para se alimentar e decidiu que ele próprio avisaria a esposa. Era uma oportunidade de conversarem, imaginou deixando Enrique ir junto para diminuir as chances de discutirem.A música esganiçada ao se aproximarem foi à dica de que dificilmente Penélope estaria em condições de discutir.— Garçooom[1] nu bar todo mundo é iguallll. Meu caso é banallll... Mas presta tenção pu favor....Bateu na porta e chamou por Penélope. No entanto, quem abriu foi Jéssica, a expressão carregada de culpa se movendo dele para Enrique alguns passos atrás.— Hum, posso ajudar?— Pra matar a tristezaaa é meeesa e baaarrr. Vou toma todas... me embriiaagaarr...Sendo pequena em relação a ele, não foi difícil para Diego observar o que acontecia atrás dela, vendo uma cena inusitada. Penélope e Ana estavam sentadas lado a lado atrás da
Devagar, Diego colocou Penélope gentilmente na cama e, sentado na beirada, ajeitou o cobertor sobre ela. Enquanto terminava de acomodá-la, Penélope se remexeu, piscando lentamente os olhos avelã.— O que aconteceu? — murmurou, esfregando os olhos.— Você adormeceu no escritório e eu te trouxe para o nosso quarto — respondeu com um sorriso suave, acariciando o rosto dela. — Amor, você é incrível em muitas coisas, mas, definitivamente, é péssima com bebidas e cantando — brincou.Ainda sofrendo com os efeitos do álcool, Penélope riu, afagando os escuros fios castanhos do cabelo dele.— E você não presta, Diego Freitas. Mas eu... eu te amo, sabia?— Também te amo, Penélope. Mais do que tudo — garantiu movendo o rosto para beijar a palma da mão dela.Na nuvem leve da embriaguez, Penélope desejou que fosse verdade, que Diego a amasse mais do que tudo como declarava. Queria varrer para longe a dolorosa suspeita, o medo de se machucar da mesma maneira que sua mãe, se envolvendo em um romance
Aproveitando o raro e precioso momento de tranquilidade, Penélope admirava Diego auxiliando Samuel com as peças de lego. Ou melhor, seguindo pacientemente as ordens do menino, que se esbaldava com a gigante taça que recebeu minutos antes, enquanto indicava o que queria que fosse feito a cada colherada. Era impressionante que um mês antes até imaginar aquela cena seria impossível.Podia ter suas dúvidas a respeito do amor de Diego por ela, mas não pensava o mesmo sobre a afeição dele pelo menino. E agora, que ele sabia o real laço que os unia, ficava óbvio que a conexão aumentou.Inspirou fundo, tomando mais um gole do suco de laranja que Diego trouxe em uma jarra. De um modo torto, manipulador e inescrupuloso Roberto cumpriu a palavra dada a Samuel, dando a ele o pai que sempre pediu.Uma leve batida interrompeu a interação. Carla, a governanta da mansão, abriu a porta ao receber permissão e tensa comunicou:— Sinto muito interromper, mas Tereza Mendez Freitas está na biblioteca e sol
A tensão na biblioteca era palpável. Todos estavam apreensivos, esperando para ouvir o que Tereza tinha a dizer sobre o futuro de cada um naquele cômodo, especialmente sobre Samuel. Penélope era a mais tensa e preocupada, tentando não demonstrar fraqueza, mas, sem perceber, agarrando a mão de Diego com força.Tereza finalmente quebrou o silêncio, respirando fundo antes de falar com frieza:— O direito de tutela nunca esteve em perigo. No entanto, como assinalei anteriormente, nos próximos dias será feito uma avaliação completa de sua capacidade como tutora — indicou. — Eu e o advogado que elaborou o testamento ajudaremos em todo o processo para garantir que a avaliação seja positiva.Sufocando um riso de alívio, Penélope moveu a cabeça em concordância. Determinada a fazer de tudo para garantir que a avaliação fosse positiva.— Antes de continuarmos, há algo que preciso confessar. — Tereza deslizou as mãos pela borda de mogno. — Embora tenha tido fama de sem coração, de impiedoso, Robe
A figura de Roberto Freitas preencheu a tela. Parecia imponente, olhando diretamente para a câmera com uma intensidade desconcertante, como se estivesse frente a frente com todos os presentes em pessoa e não em uma gravação.— Vovô! — Samuel gritou saindo do colo de Penélope para correr até o televisor. — Vovô! — Chorou, deslizando as mãos espalmadas no rosto preenchendo a tela.Sendo uma profissional pronta para qualquer situação, Tereza pausou o vídeo antes que a primeira palavra saísse dos lábios de Roberto.Diego e Penélope se precipitaram até o menino ao mesmo tempo, tentando confortá-lo da melhor maneira que podiam. O garoto estava visivelmente perturbado, a saudade do avô refletida em seus olhos marejados fixos na tela, a dor cortante saindo em súplicas para o avô voltar.— Tudo ficará bem, filho — sussurrou Diego, segurando o menino nos braços. — Seu avô sempre estará com você, em seu coração — disse olhando fundo nos olhos do menino e levando a mão pequena dele ao coração ag