Assim que chegou à fábrica, Diego encaminhou-se para a sala de Enrique e relatou os comentários feitos por Penélope, buscando uma ajuda para descobrir qual segredo ela e Roberto tinham. Obviamente, da mesma forma que fez na mesa de café da manhã, ocultou que levou Penélope para seu quarto e passaram a noite na mesma cama.— Pode dizer que sou louco, mas ainda acho que o garoto é seu filho — Enrique disse sem nem mesmo pensar em outra opção. — Só isso explica a insistência do Roberto para que casem.Diego sacudiu a cabeça, junto com um sonoro e longo não.— Impossível.— Nenhum contraceptivo é cem por cento eficiente — Enrique salientou.Diego odiava expor sua vida sexual, e ainda mais mostrar que cogitou a possibilidade, mas tinha de remover aquela suposição do caminho, de forma a encontrarem uma resposta no mínimo próxima de acerto.— O que tive com Penélope foi no máximo por um mês. Ela apareceu na mansão com o garoto cerca de seis meses depois de nos separarmos, e Samuel já tinha u
Enrique entrou na cafeteria e caminhou decidido até Jéssica, arrumando a vitrine de bolos.— Boa tarde, Jess!Ela ergueu-se em um sobressalto, fitando-o com surpresa. Enrique era um cliente que aparecia exclusivamente de manhã.— Boa tarde, Enrique! — Jéssica devolveu simpática, alisando o avental rosado com o nome da cafeteria bordado. — O que deseja? Os bolos de laranja acabaram de sair do forno. — Indicou o doce que acabará de ajeitar para venda.Enrique olhou ao redor. Os três funcionários da cafeteria os observava discretamente, eram leais a Jéssica, mas eram cezarianos acima disso. Cezário tinha olhos, ouvidos e bocas demais para cuidar da vida alheia. Seu pai, com seu ar diplomático e político, dizia se tratar de sintomas de cidade pequena, necessitando de mais avanços para ocupar o tempo, uma forma bonita para não dizer que eram um bando de bisbilhoteiros desocupados.— Podemos conversar em outro lugar?Jéssica estranhou o pedido. Apesar dele ser um cliente constante e trocarem
Faltando menos de duas horas para encerrar seu horário de trabalho, Penélope, poupando-se do constrangimento de fugir das perguntas inconvenientes sobre seu atraso, não foi para a fábrica. Elas estariam aguardando no dia seguinte, multiplicadas pela primeira falta em anos, mas Penélope estaria preparada e sem vontade de cometer um crime, tipo estrangular o filho do CEO.Não bastasse o fim do namoro com Lucas e o anúncio do casamento acelerado com Diego, ele tinha feito com que ela faltasse. Deu uma montanha de munição para os fofoqueiros.O mataria! Com requinte de crueldade. Já visualizava suas mãos em volta do pescoço dele, acabando com aquele sorrisinho abusado.Deixando de lado seus instintos assassinos, com foco única e exclusivamente ao noivo, foi para a escola da cidade buscar Samuel.Pelo menos isso Diego não tiraria dela.E só em lembrar que Diego mentiu de manhã, ao levar Samuel para a escola dizendo ser uma ordem dela, bufou de raiva.Não bastasse não ter a acordado, ainda m
Chegando na mansão, Diego estranhou encontrar o carro de Enrique no estacionamento da casa. Não tinham combinado nada após a infrutífera conversa durante a manhã. Junto com Penélope e Samuel, seguiu para dentro da residência, porém, antes que subisse a escadaria para acompanhá-los ao quarto de seu pai, Carla o abordou. — Enrique te espera no escritório. Passou os dedos pelo cabelo de Samuel, dizendo que o veria mais tarde no jantar, mandou um beijo para Penélope, só para provocá-la, amando a expressão nervosa dela. Ela fingia mal que odiava seus galanteios. Ao entrar no escritório recebeu o cumprimento empolgado do amigo. — O que faz aqui? — questionou dando tapinhas nas costas do amigo em resposta ao braço apertado. — Espere! Espere! Enrique foi até a porta e, para estranheza de Diego, passou a chave, trancando-os. — Hoje procurei a Jéssica e perguntei sobre a possibilidade do Samuel ser seu filho. — Sério que você questionou a minha suposta paternidade para uma amiga da Pené
Ocupando-se ao máximo com os afazeres da fábrica, incorporando Neo[1] para desviar das balas de fofocas e ainda encontrando tempo para ser a melhor irmã para Samuel, a semana voou para Penélope.Em um estalar de dedos a véspera de seu casamento chegou, e com ela o desânimo.Tanto ela quanto Diego não contribuíram em nada nos preparativos. Ambos os noivos estavam apáticos, no automático. Eram peças num jogo orquestrado e jogado unicamente por Roberto, que todos os dias, no café da manhã, repassava o relatório das decisões tomadas, solicitando aos dois uma ou outra providência.O único empolgado com a cerimônia era Samuel, além de contar os minutos para a despedida de solteiro em que participaria.O entusiasmo do menino aumentava a apreensão de Penélope com o futuro. Para piorar, nos últimos dois dias Diego estava estranho. Parou com as provocações, estava calado e compenetrado.Longe de ficar feliz com o fim dos elogios e insinuações, como pensou que ficaria, Penélope estava preocupada
Como tudo relacionado ao seu relacionamento com os Teixeira, Diego deixou a escolha do local de sua “despedida de solteiro” nas mãos de terceiros. Nesse caso, nas de Enrique.E não se arrependeu. O lugar escolhido era maravilhoso para uma criança hiperativa e curiosa como Samuel.Enrique comprou ingressos para o Museu da Imaginação[1], um lugar que agradou Samuel antes mesmo de descerem do carro. Em parte pelo Mendez lotar o menino de folhetos, descrições e animadas idealizações do que fariam. Sentiu-se como o único adulto do trio.As instalações imersivas para crianças e adultos curtirem juntos no local, chamados de Estações Lúdicas, abrilhantaram os olhos de Samuel. O menino divertia-se as gargalhadas com o “tio” Enrique e as outras crianças no lugar. Mas empolgado que ele, só o próprio Mendez ao participar de todas as atividades junto do menino.Diego participou de algumas, porém não tinha todo o entusiasmo e energia dos outros dois, passava mais tempo observando e interagindo quan
Naquela manhã Penélope acordou introspectiva, nem mesmo a falação incessante de Samuel sobre a despedida de solteiro a tirou os próprios pensamentos.Às quinze da tarde selaria sua vida a de Diego. Algo que no passado a encheria de felicidade, agora a enchia de tristeza e solidão.Durante o passar das horas foi difícil não pensar em sua mãe.Durante seu crescimento, principalmente ao entrar na adolescência, sua mãe a encheu de expectativas, planos de como seria o futuro. Paloma sonhava com o dia que veria a filha casar de branco, na igreja e com tudo que lhe foi negado ao engravidar, ser expulsa de casa pelos pais e morar com um egocêntrico bêbado.Nessa mesma época, tendo adquirido medo do comportamento agressivo do pai, questionou o amor de sua mãe pelo pai.— Não tive escolha, filha — ela lamentou acariciando suas bochechas, as íris avelã fitando as suas com intensidade. — Mas você terá. Encontrará um bom homem, alguém que a respeite, ame e proteja, casará e formará uma família. Es
Preocupada com o estado trêmulo e aturdido da ex-sogra, com serenidade e certa insistência, Tereza convenceu Marcela a entrar na casa em vez de segui-la para dentro do carro.— Sente-se, Marcela! — Tereza pediu suavemente ao chegarem na pequena sala, levando-a até o sofá. — Te farei um chá docinho e calmante.— Não! Temos que partir agora e evitar que Diego case com a filhote de meretriz — Marcela bradou de imediato.Com cuidado, Tereza segurou-lhe uma mão, enquanto mantinha a outra no ombro da mulher, tão fraca e abatida que aparentava bem mais que seus cinquenta e nove anos. O sofrimento sugará a vitalidade e a vaidade dela. Anos antes Marcela orgulhava-se de seus cabelos sempre alinhados e pintados de castanho-escuro, de seu corpo forte e mente veloz. Agora estava extremamente magra, os cabelos grisalhos curtos e despenteados, o olhar aflito e a pele sulcada e frágil.— A senhora não parece bem. Sente-se um pouco, depois saímos — prometeu, embora tivesse a esperança de fazê-la desi