Mallory
O sol já havia nascido há algumas horas, mas o peso da noite ainda estava sobre mim.
Eu não dormi.
Passei a madrugada inteira rolando na cama, minha mente inquieta, os pensamentos presos em um único nome.
Desde que ele descobriu a verdade, nada foi mais o mesmo. Eu sentia a presença dele em cada parte do meu corpo, como se o vínculo entre nós estivesse crescendo, mesmo que ele ainda não soubesse disso.
E agora ele estava aqui.
Na propriedade de Ragnar.
Andando como um predador, o corpo rígido, a raiva pulsando em cada movimento. Ele estava indo direto para o espaço de treinamento.
Meu coração disparou.
Ele não estava apenas aceitando o que era.
Ele queria lutar.
— Lory, não vá até lá.
A voz de Cameron carregava uma firmeza incomum.
Ela não estava apenas pedindo. Ela estava me alertando.
Mas nem mesmo minha irmã conseguiria me impedir de fazer o que precisava ser feito.
Eu sabia que Karev era intenso, mas agora ele parecia algo além disso. Cada fibra do seu corpo irradiava uma energia bruta, instintiva, algo que eu nunca tinha visto antes. Não havia mais um humano ali.
Ele não era mais apenas o nadador olímpico.
Ele não era mais apenas um jovem perdido tentando entender quem era.
Ele era um lobo indo para o abate.
Meu coração bateu mais forte.
Eu sabia que isso aconteceria. Mas saber era diferente de ver.
O Karev que caminhava agora não era o garoto que conheci na piscina.
Não era o garoto irritado e perdido que descobriu a verdade sobre si mesmo.
Era um guerreiro.
Um predador.
E ele estava pronto para desafiar o pai que nunca teve.
Eu senti Cameron segurar meu braço com mais força.
— Lory, me escuta. Você sabe como Gabriel é. Ele vai testá-lo até o limite. E se Karev perder o controle...?
— É exatamente por isso que eu preciso ir até lá. — Minha voz saiu firme, mas minha respiração já estava acelerada.
Puxei meu braço da mão dela e saí correndo pela porta antes que minha irmã pudesse me segurar.
A cada passo que eu dava, a tensão aumentava.
O espaço de treinamento ficava nos fundos da propriedade, um ringue de combate ao ar livre, cercado por árvores e observadores silenciosos. O cheiro de terra batida misturado ao suor e testosterona se intensificava conforme eu me aproximava.
E então eu o vi.
Karev.
Sem camisa. Os músculos definidos brilhavam sob o sol da manhã, cada movimento seu era uma ameaça silenciosa. O rosto estava rígido, os olhos selvagens, fixos em Gabriel.
Ele não piscava. Não hesitava.
Ele queria atacar.
Mas Gabriel apenas o estudava, sem pressa, como um caçador observando sua presa.
A diferença entre os dois era gritante. Gabriel era um guerreiro experiente. Um Beta de sangue puro. Um lobo treinado para proteger o Alfa Supremo.
E Karev?
Karev era um jovem que acabou de descobrir o próprio poder.
Ele era forte. Mas não forte o suficiente para Gabriel.
E aquilo só o deixaria mais frustrado.
Parei na entrada do galpão, meus olhos fixos neles. Mas antes que eu pudesse dar um passo à frente, a voz de Gabriel ecoou, fria e sem emoção:
— Pare onde está, Mallory.
Mas eu não parei.
Continuei andando, ignorando a ordem.
— Se você continuar desse jeito, só vai afastá-lo ainda mais.
Karev se virou para mim num movimento brusco.
E rosnou.
O som reverberou pelo ringue, profundo, vibrante, um aviso animal.
Meu corpo inteiro se arrepiou.
Minha loba se contorceu dentro de mim, reconhecendo aquele chamado. Meu instinto gritou para que eu me aproximasse, para que provasse a ele quem realmente éramos um para o outro.
Mas eu me controlei.
E sorri.
Mostrei minhas presas.
Os olhos de Karev se arregalaram por um segundo.
— O quê...?
Inclinei a cabeça, a provocação estampada no meu rosto.
— Bem-vindo ao nosso mundo, Karev.
Ele ainda parecia absorver aquilo quando subi no ringue. Gabriel me lançou um olhar de advertência, mas eu já sabia o que ele diria.
— Tome cuidado. Sorri de canto.
— Eu confio no lobo dele. Gabriel arqueou uma sobrancelha e riu.
— Hm. Existe alguma ligação aqui?
Dei de ombros, sem responder.
A verdade? Eu não sabia. Mas algo dentro de mim me dizia que Karev era meu, mesmo que ele ainda não entendesse isso.
Eu me virei para ele, meu olhar o analisando. Ele ainda estava tenso, respirando pesado.
— Mesmo que você também seja uma aberração, eu não vou lutar com você. — Karev disse, a voz baixa, carregada de algo que eu não sabia nomear.
Eu ri.
— Não? — Inclinei a cabeça, fingindo inocência. — Então tente encostar em mim.
Me abaixei em posição de ataque, meus movimentos fluídos, graciosos, naturais.
Algo brilhou nos olhos dele. Não ele. Mas seu lobo.
Eu estava chamando sua atenção.
Instigando seu instinto.
Nossos corpos começaram a se movimentar em um ritmo próprio, como uma dança. Eu deslizava ao redor dele, minhas mãos roçando sua pele, mas nunca me deixando ser pega.
A cada vez que ele tentava avançar, eu desviava, rindo.
— Você precisa ser mais rápido do que isso.
Ele riu, ofegante.
— Você foi treinada, mas eu não.
— Sim, então vamos treiná-lo. Deixe que seu lobo observe o que eu faço. Seus olhos humanos não vão conseguir me acompanhar.
Ele cerrou os dentes, percebendo o que eu estava fazendo. Desafiando-o.
E então, eu vi.
Seus olhos mudaram.
Seus músculos endureceram.
Ele começava a entender.
E quando Gabriel deu um passo para trás, senti o cheiro dele se alterando.
O cheiro de desejo.
Territorialidade.
Meu coração bateu rápido.
Minha pele queimava onde ele me olhava.
E então eu ataquei.
Meus dedos deslizaram pelo seu peito, rápidas, firmes, sentindo cada centímetro da pele quente. Ele tentou me pegar, mas eu escapei, girando pelo ringue.
— Isso não é justo, Mal. — Ele rosnou, o tom baixo e perigoso.
O som da sua voz me fez ronronar.
Ele parou no mesmo instante.
Me olhou como se eu fosse a única coisa no mundo que importava.
E então ele sorriu. De forma safada.
Ele tinha entendido.
Não só Karev. Mas seu lobo.
Eu podia sentir a energia queimando entre nós. Meu corpo queria tomá-lo. Marcá-lo.
O dele queria o mesmo.
Meu coração batia forte quando ele deu um passo à frente.
Eu não recuei.
Mas antes que qualquer um de nós pudesse fazer qualquer coisa, Gabriel limpou a garganta.
Nós dois congelamos.
Como se tivéssemos sido pegos no meio de algo proibido.
E então, Gabriel riu.
— Então é assim que você quer aprender, Karev?
Ele ergueu as mãos, exasperado.
— Não foi isso que eu planejei!
Mas a verdade?
Era exatamente o que seu lobo queria.
E talvez... o que nós dois quiséssemos o tempo todo.
KarevO rosnado escapou do meu peito antes que eu pudesse contê-lo.Alto. Grave. Possessivo.Meus olhos estavam fixos em Gabriel, meu corpo inteiro tenso, pronto para atacar, como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir.Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços, a expressão completamente relaxada. Sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. E, pior, sabia que eu não fazia ideia de como lidar com aquilo.Eu sentia Mallory ao meu lado, sua respiração ainda acelerada depois da nossa luta no ringue. Meu lobo rugia dentro de mim, irritado pela presença de outro macho tão perto dela. Não importava que fosse meu pai. Não importava que ele não fosse uma ameaça.Meu instinto berrava uma única coisa: afaste-o.E, sem pensar, minha mão deslizou pela cintura de Mallory e a puxei para perto.O choque em seus olhos durou apenas um segundo antes de desaparecer. Ela não recuou, nem tentou se afastar. Pelo contrário, sua respiração pareceu prender por um instante, e seu cheiro s
KarevMeus dedos ainda estavam enterrados no pelo quente e macio do lobo à minha frente. Ou melhor, de Mallory.Minha mente recusava-se a aceitar o que meus olhos viam, o que minha pele sentia. Meu coração batia forte contra as costelas, como se tentasse romper a barreira entre lógica e instinto. O ar dentro do galpão parecia pesado, denso, como se o próprio universo estivesse me empurrando para aceitar o impossível.Ela era real. O lobo diante de mim era ela.Minha respiração ficou presa no peito. Minha garganta secou. E a única coisa que eu conseguia ouvir era o eco ensurdecedor da minha própria pulsação."Essa também sou eu."A voz dela soou dentro da minha cabeça. Não pela minha audição, mas como um pensamento impresso diretamente em minha mente.Minha reação foi imediata. Um palavrão escapou dos meus lábios, e eu soltei a mão rapidamente, me afastando.O lobo branco e marrom inclinou a cabeça de leve, como se me estudasse. Mallory não parecia preocupada, nem ofendida. Ela apenas
KarevAceitar.A palavra martelava em minha mente, pesada como chumbo, enquanto eu tentava ignorar o calor pulsante que percorria cada centímetro do meu corpo.Mallory estava ali, me observando, a expressão séria, os olhos azuis fixos nos meus. Sua mão quente ainda pressionava meu peito momentos antes, como se quisesse me ancorar à realidade. Mas que realidade era essa? A que eu conhecia desde sempre ou essa nova que se desenrolava diante de mim?Minha pele ainda formigava. Meu peito subia e descia rapidamente, como se meus pulmões estivessem tentando acompanhar o ritmo frenético da minha mente. Era como se meu próprio corpo estivesse sendo puxado em duas direções opostas, uma luta silenciosa entre o que eu pensava ser e o que, aparentemente, eu realmente era.— Levanta. — A voz de Gabriel quebrou o silêncio.Meu olhar encontrou o dele. O homem que eu deveria chamar de pai estava parado, os braços cruzados, a expressão impassível. Ele parecia inabalável, como se nada naquele momento f
MalloryCada golpe acertado reverberava através de mim como se fosse em meu próprio corpo. O som dos impactos, os grunhidos abafados e a respiração irregular de Karev enchiam o espaço, tornando o ar pesado. Eu sabia que isso era necessário, que Gabriel não estava apenas ensinando, mas testando os limites dele. Era cruel, talvez, mas essencial.Karev precisava despertar.Um lobo trancado por quase duas décadas não surgiria simplesmente como se sempre tivesse existido. Ele poderia emergir feroz, incontrolável, uma força indomável que não reconheceria limites. Ou poderia ser algo que ninguém esperava. Gabriel não estava disposto a esperar para descobrir. Ele queria ter certeza antes que Ragnar percebesse o quão instável Karev poderia ser.O suor escorria pelo corpo dele, misturando-se ao sangue de pequenos cortes e hematomas. Os músculos rígidos denunciavam seu cansaço, mas o fogo em seus olhos dizia que ele ainda não havia desistido. Seu orgulho não o permitiria.Eu conhecia bem esse ol
KarevEu não conseguia desviar o olhar dela.A provocação ainda estava no ar, como um desafio silencioso entre nós."Você já me teve antes. Mas não como um lobo."As palavras de Mallory ainda vibravam dentro de mim, misturadas à adrenalina da luta e ao calor que queimava sob minha pele.Ela sabia exatamente o que estava fazendo.E sabia que estava funcionando.Minha respiração estava pesada, meu corpo ainda pulsava da surra que levei de Gabriel. Mas nada disso importava mais. Não quando o cheiro dela estava me envolvendo dessa forma. Eu nunca tinha notado antes. Ou talvez tivesse, mas não como agora.O cheiro de Mallory era quente, amadeirado, com um toque levemente adocicado, como algo viciante. Ele entrava nos meus pulmões e ia direto para a corrente sanguínea, me intoxicando. Meu corpo inteiro reagia a isso, como se algo dentro de mim reconhecesse seu perfume e implorasse por mais.Ela sabia disso.Seu olhar era puro desafio. Seu corpo se movia de maneira calculada, provocante, esp
KarevO olhar de Mallory me desafiava a ir além. A me render ao que já era inevitável.Ela sabia o que estava fazendo. Sabia como cada parte do meu corpo reagia aos seus toques, aos seus olhares, ao simples fato de sua pele roçar na minha.E, naquele momento, eu não queria mais lutar contra isso.Seus dedos percorreram meu peito, explorando as marcas da luta. Seu toque era firme, mas ao mesmo tempo delicado, como se estivesse redescobrindo cada pedaço de mim. Meu corpo inteiro pulsava em resposta, um misto de desejo e algo mais profundo que eu ainda não sabia explicar.Mallory me puxou para um beijo, e foi como se meu mundo pegasse fogo.O beijo foi intenso, feroz, carregado de algo primal. Minha boca tomava a dela com fome, minha língua explorava cada canto, como se precisasse gravar seu gosto em mim. Ela gemeu contra meus lábios, e um rosnado grave escapou do fundo do meu peito.Ela sorriu, satisfeita.— Isso... — murmurou contra minha boca. — É disso que estou falando.O calor entr
Karev— KAREV, NÃO!A voz de Mallory cortou o nevoeiro na minha mente como uma lâmina afiada, mas o instinto já havia assumido o controle.Meus pés se moviam antes que minha mente pudesse intervir. Meu corpo inteiro vibrava com a necessidade de atacar. A floresta parecia mais nítida do que nunca, os cheiros mais intensos, cada som amplificado. Eu sentia o chão úmido sob os pés descalços, o vento cortando minha pele quente, o cheiro da terra misturado ao de Mallory.Mas havia algo mais ali.Algo que não pertencia.O estrondo da minha própria pulsação era tudo o que eu ouvia, até que uma voz carregada de tédio e irritação interrompeu minha corrida.— Pelo amor da Deusa, irmã! Segura teu macho. Estou aqui apenas para dar um recado.Minha visão se ajustou ao escuro e então a vi: Astoria, parada entre as árvores com os braços cruzados e uma expressão de puro desdém.Minha respiração era irregular. Meu peito subia e descia com força, e eu sentia meu lobo rosnando dentro de mim, ainda pronto
MalloryA água estava perfeita.Fresca, límpida, deslizando suavemente pela minha pele como um convite para algo proibido.Eu me virei na cachoeira, deixando meu corpo flutuar, observando Karev parado na margem, ainda esbaforido da corrida.Ele estava uma visão selvagem.Os cabelos desgrenhados, a pele quente brilhando sob a luz da lua, o peito subindo e descendo rápido, os músculos tensos como se ele ainda não tivesse aceitado que perdeu.Sorri, satisfeita."Tão previsível."Ele ergueu uma sobrancelha.— O que foi?Meu sorriso cresceu.— Você não vai entrar?Karev cruzou os braços, os olhos analisando a água com desconfiança.— E se tiver animais peçonhentos?A risada saiu antes que eu pudesse evitar.Joguei a cabeça para trás e gargalhei, sentindo a água fria deslizar por meu pescoço.— Você tá falando sério?— Sim. — Ele resmungou. — Pode ter cobras aí dentro.O riso só aumentou.— Não acredito que um lobo tem medo de cobra!Ele franziu o cenho, claramente irritado.— Não é medo. É