04. A Verdade Sob a Pele

Karev

O rosnado escapou do meu peito antes que eu pudesse contê-lo.

Alto. Grave. Possessivo.

Meus olhos estavam fixos em Gabriel, meu corpo inteiro tenso, pronto para atacar, como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir.

Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços, a expressão completamente relaxada. Sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. E, pior, sabia que eu não fazia ideia de como lidar com aquilo.

Eu sentia Mallory ao meu lado, sua respiração ainda acelerada depois da nossa luta no ringue. Meu lobo rugia dentro de mim, irritado pela presença de outro macho tão perto dela. Não importava que fosse meu pai. Não importava que ele não fosse uma ameaça.

Meu instinto berrava uma única coisa: afaste-o.

E, sem pensar, minha mão deslizou pela cintura de Mallory e a puxei para perto.

O choque em seus olhos durou apenas um segundo antes de desaparecer. Ela não recuou, nem tentou se afastar. Pelo contrário, sua respiração pareceu prender por um instante, e seu cheiro se alterou levemente.

Gabriel soltou uma risada baixa, como se enxergasse muito mais do que eu queria admitir.

— Respira, Karev.

Mas eu não conseguia respirar. Meu corpo estava em chamas, cada músculo tenso como se prestes a se partir. O que diabos estava acontecendo comigo?

Foi Mallory quem rompeu o silêncio.

— Gabriel, pode nos dar um momento?

A calma na voz dela me irritou. Como ela podia estar tão no controle quando eu mal conseguia me manter de pé?

Gabriel estreitou os olhos.

— Tem certeza? Ele ainda não sabe o que está fazendo.

— Eu sei — ela disse. — E confio nele.

Aquilo me pegou desprevenido.

Confiança.

Eu nunca confiaria em uma aberração. Mas ela... simplesmente afirmava aquilo como uma verdade absoluta.

Gabriel soltou um suspiro frustrado, mas assentiu.

— Tudo bem. — Ele passou os olhos por mim uma última vez antes de se virar. — Controle seu lobo, Karev. Ou ele vai controlar você.

E então saiu do galpão, me deixando sozinho com Mallory.

O silêncio entre nós se instalou. Eu sentia minha pele formigar, quente, como se houvesse algo vivo debaixo dela, algo que queria sair, tomar o controle.

Mallory se virou nos meus braços e ergueu as mãos, pousando-as suavemente em meu rosto. Seu toque era quente, firme. Seus olhos vagavam pelas minhas feições, analisando cada detalhe, como se estivesse tentando decifrar o que estava acontecendo dentro de mim.

Eu apenas fiquei ali, parado, deixando-a me tocar.

— Está doendo? — sua voz veio suave.

Eu dei de ombros, sem saber ao certo como responder. Não era dor... mas era intenso. Era sufocante, como se algo estivesse prestes a romper dentro de mim.

— Dói em você? — perguntei.

Ela sorriu de leve e balançou a cabeça.

— Não.

Franzi o cenho.

— Por quê?

— Porque eu e minha loba somos uma só. — Sua voz era tranquila, como se estivesse explicando algo óbvio. — Não há divisão entre nós. Eu não luto contra ela. Eu a aceito.

Aceitar.

Minha mandíbula travou.

Eu não aceitava.

Eu nunca aceitei nada além da vida que sempre tive. Nunca quis ser algo além do que fui criado para ser. Mas agora? Agora meu corpo me dizia que eu era mais.

E talvez fosse por isso que estava me rasgando de dentro para fora.

Mas antes que pudesse me aprofundar nessa merda, eu a beijei.

Por puro impulso.

Minha boca se chocou contra a dela, quente, úmida, intensa. O gosto salgado do seu suor misturado ao cheiro de terra e adrenalina invadiu meus sentidos, e eu me perdi.

Um rosnado profundo vibrou no meu peito.

Mallory tremeu nos meus braços.

Ela gostou.

O corpo dela reagiu ao som, sua pele se arrepiando sob minhas mãos. Quando me afastei, seus olhos estavam escuros de desejo.

Aquilo me incendiou.

Meu coração batia rápido. Minha respiração estava pesada.

— Como você pode reagir assim ao que eu sou? — perguntei, minha voz saindo rouca.

Ela riu.

Um som leve. Divertido. Perigoso.

Então, sem aviso, ela se afastou.

Desceu do ringue.

Franzi o cenho, confuso.

— Não acredito que vai me deixar aqui sem respostas.

Ela não respondeu.

Apenas começou a desabotoar a blusa.

Meu corpo inteiro travou.

A tensão cresceu no ar entre nós, uma energia elétrica que me fez engolir em seco. Meu olhar disparou para a entrada do galpão aberto.

— Mallory, Gabriel pode voltar. Alguém pode nos ver.

Minha voz saiu carregada de conflito, mas meu lobo?

Meu lobo já estava excitado.

A palavra "minha" pulsava na minha mente.

Ela era minha.

E tudo em mim queria enterrar os dentes na sua pele só para garantir isso.

Mallory não disse nada. Apenas desceu as calças lentamente.

Dei um passo à frente, os músculos retesados, pronto para avançar.

Mas ela me parou com um olhar.

E então, em questão de segundos, ela se transformou.

Bem ali, na minha frente.

Meu corpo congelou.

Minha mente apagou.

E tudo o que fiz foi tropeçar para trás e cair no chão.

O impacto me trouxe de volta à realidade. Meus olhos estavam arregalados, minha respiração errática. Porque diante de mim, onde antes estava Mallory, agora havia um lobo.

Branco com manchas marrons.

Seus olhos ainda eram dela.

Ela caminhou até mim, cada movimento perfeitamente calculado, fluído, natural.

E então, se sentou bem na minha frente.

Esperando.

Meu coração martelava.

Eu queria me afastar.

Eu queria entender.

Mas acima de tudo, eu queria tocá-la.

Ergui os dedos lentamente, minha mão tremendo levemente até alcançar o pelo macio e quente.

E no instante em que fiz contato, ouvi sua voz.

"Essa também sou eu."

Um arrepio desceu por minha espinha.

Minha garganta secou.

O ar pareceu mais denso ao meu redor.

Eu estava tão perto dela, tão perto de algo que eu negava.

O calor de seu corpo pulsava contra minha pele, e pela primeira vez, me permiti sentir.

E naquele momento, eu soube.

Não havia mais volta para mim.

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