Karev
O rosnado escapou do meu peito antes que eu pudesse contê-lo.
Alto. Grave. Possessivo.
Meus olhos estavam fixos em Gabriel, meu corpo inteiro tenso, pronto para atacar, como se algo dentro de mim estivesse prestes a explodir.
Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços, a expressão completamente relaxada. Sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. E, pior, sabia que eu não fazia ideia de como lidar com aquilo.
Eu sentia Mallory ao meu lado, sua respiração ainda acelerada depois da nossa luta no ringue. Meu lobo rugia dentro de mim, irritado pela presença de outro macho tão perto dela. Não importava que fosse meu pai. Não importava que ele não fosse uma ameaça.
Meu instinto berrava uma única coisa: afaste-o.
E, sem pensar, minha mão deslizou pela cintura de Mallory e a puxei para perto.
O choque em seus olhos durou apenas um segundo antes de desaparecer. Ela não recuou, nem tentou se afastar. Pelo contrário, sua respiração pareceu prender por um instante, e seu cheiro se alterou levemente.
Gabriel soltou uma risada baixa, como se enxergasse muito mais do que eu queria admitir.
— Respira, Karev.
Mas eu não conseguia respirar. Meu corpo estava em chamas, cada músculo tenso como se prestes a se partir. O que diabos estava acontecendo comigo?
Foi Mallory quem rompeu o silêncio.
— Gabriel, pode nos dar um momento?
A calma na voz dela me irritou. Como ela podia estar tão no controle quando eu mal conseguia me manter de pé?
Gabriel estreitou os olhos.
— Tem certeza? Ele ainda não sabe o que está fazendo.
— Eu sei — ela disse. — E confio nele.
Aquilo me pegou desprevenido.
Confiança.
Eu nunca confiaria em uma aberração. Mas ela... simplesmente afirmava aquilo como uma verdade absoluta.
Gabriel soltou um suspiro frustrado, mas assentiu.
— Tudo bem. — Ele passou os olhos por mim uma última vez antes de se virar. — Controle seu lobo, Karev. Ou ele vai controlar você.
E então saiu do galpão, me deixando sozinho com Mallory.
O silêncio entre nós se instalou. Eu sentia minha pele formigar, quente, como se houvesse algo vivo debaixo dela, algo que queria sair, tomar o controle.
Mallory se virou nos meus braços e ergueu as mãos, pousando-as suavemente em meu rosto. Seu toque era quente, firme. Seus olhos vagavam pelas minhas feições, analisando cada detalhe, como se estivesse tentando decifrar o que estava acontecendo dentro de mim.
Eu apenas fiquei ali, parado, deixando-a me tocar.
— Está doendo? — sua voz veio suave.
Eu dei de ombros, sem saber ao certo como responder. Não era dor... mas era intenso. Era sufocante, como se algo estivesse prestes a romper dentro de mim.
— Dói em você? — perguntei.
Ela sorriu de leve e balançou a cabeça.
— Não.
Franzi o cenho.
— Por quê?
— Porque eu e minha loba somos uma só. — Sua voz era tranquila, como se estivesse explicando algo óbvio. — Não há divisão entre nós. Eu não luto contra ela. Eu a aceito.
Aceitar.
Minha mandíbula travou.
Eu não aceitava.
Eu nunca aceitei nada além da vida que sempre tive. Nunca quis ser algo além do que fui criado para ser. Mas agora? Agora meu corpo me dizia que eu era mais.
E talvez fosse por isso que estava me rasgando de dentro para fora.
Mas antes que pudesse me aprofundar nessa merda, eu a beijei.
Por puro impulso.
Minha boca se chocou contra a dela, quente, úmida, intensa. O gosto salgado do seu suor misturado ao cheiro de terra e adrenalina invadiu meus sentidos, e eu me perdi.
Um rosnado profundo vibrou no meu peito.
Mallory tremeu nos meus braços.
Ela gostou.
O corpo dela reagiu ao som, sua pele se arrepiando sob minhas mãos. Quando me afastei, seus olhos estavam escuros de desejo.
Aquilo me incendiou.
Meu coração batia rápido. Minha respiração estava pesada.
— Como você pode reagir assim ao que eu sou? — perguntei, minha voz saindo rouca.
Ela riu.
Um som leve. Divertido. Perigoso.
Então, sem aviso, ela se afastou.
Desceu do ringue.
Franzi o cenho, confuso.
— Não acredito que vai me deixar aqui sem respostas.
Ela não respondeu.
Apenas começou a desabotoar a blusa.
Meu corpo inteiro travou.
A tensão cresceu no ar entre nós, uma energia elétrica que me fez engolir em seco. Meu olhar disparou para a entrada do galpão aberto.
— Mallory, Gabriel pode voltar. Alguém pode nos ver.
Minha voz saiu carregada de conflito, mas meu lobo?
Meu lobo já estava excitado.
A palavra "minha" pulsava na minha mente.
Ela era minha.
E tudo em mim queria enterrar os dentes na sua pele só para garantir isso.
Mallory não disse nada. Apenas desceu as calças lentamente.
Dei um passo à frente, os músculos retesados, pronto para avançar.
Mas ela me parou com um olhar.
E então, em questão de segundos, ela se transformou.
Bem ali, na minha frente.
Meu corpo congelou.
Minha mente apagou.
E tudo o que fiz foi tropeçar para trás e cair no chão.
O impacto me trouxe de volta à realidade. Meus olhos estavam arregalados, minha respiração errática. Porque diante de mim, onde antes estava Mallory, agora havia um lobo.
Branco com manchas marrons.
Seus olhos ainda eram dela.
Ela caminhou até mim, cada movimento perfeitamente calculado, fluído, natural.
E então, se sentou bem na minha frente.
Esperando.
Meu coração martelava.
Eu queria me afastar.
Eu queria entender.
Mas acima de tudo, eu queria tocá-la.
Ergui os dedos lentamente, minha mão tremendo levemente até alcançar o pelo macio e quente.
E no instante em que fiz contato, ouvi sua voz.
"Essa também sou eu."
Um arrepio desceu por minha espinha.
Minha garganta secou.
O ar pareceu mais denso ao meu redor.
Eu estava tão perto dela, tão perto de algo que eu negava.
O calor de seu corpo pulsava contra minha pele, e pela primeira vez, me permiti sentir.
E naquele momento, eu soube.
Não havia mais volta para mim.
KarevMeus dedos ainda estavam enterrados no pelo quente e macio do lobo à minha frente. Ou melhor, de Mallory.Minha mente recusava-se a aceitar o que meus olhos viam, o que minha pele sentia. Meu coração batia forte contra as costelas, como se tentasse romper a barreira entre lógica e instinto. O ar dentro do galpão parecia pesado, denso, como se o próprio universo estivesse me empurrando para aceitar o impossível.Ela era real. O lobo diante de mim era ela.Minha respiração ficou presa no peito. Minha garganta secou. E a única coisa que eu conseguia ouvir era o eco ensurdecedor da minha própria pulsação."Essa também sou eu."A voz dela soou dentro da minha cabeça. Não pela minha audição, mas como um pensamento impresso diretamente em minha mente.Minha reação foi imediata. Um palavrão escapou dos meus lábios, e eu soltei a mão rapidamente, me afastando.O lobo branco e marrom inclinou a cabeça de leve, como se me estudasse. Mallory não parecia preocupada, nem ofendida. Ela apenas
KarevAceitar.A palavra martelava em minha mente, pesada como chumbo, enquanto eu tentava ignorar o calor pulsante que percorria cada centímetro do meu corpo.Mallory estava ali, me observando, a expressão séria, os olhos azuis fixos nos meus. Sua mão quente ainda pressionava meu peito momentos antes, como se quisesse me ancorar à realidade. Mas que realidade era essa? A que eu conhecia desde sempre ou essa nova que se desenrolava diante de mim?Minha pele ainda formigava. Meu peito subia e descia rapidamente, como se meus pulmões estivessem tentando acompanhar o ritmo frenético da minha mente. Era como se meu próprio corpo estivesse sendo puxado em duas direções opostas, uma luta silenciosa entre o que eu pensava ser e o que, aparentemente, eu realmente era.— Levanta. — A voz de Gabriel quebrou o silêncio.Meu olhar encontrou o dele. O homem que eu deveria chamar de pai estava parado, os braços cruzados, a expressão impassível. Ele parecia inabalável, como se nada naquele momento f
MalloryCada golpe acertado reverberava através de mim como se fosse em meu próprio corpo. O som dos impactos, os grunhidos abafados e a respiração irregular de Karev enchiam o espaço, tornando o ar pesado. Eu sabia que isso era necessário, que Gabriel não estava apenas ensinando, mas testando os limites dele. Era cruel, talvez, mas essencial.Karev precisava despertar.Um lobo trancado por quase duas décadas não surgiria simplesmente como se sempre tivesse existido. Ele poderia emergir feroz, incontrolável, uma força indomável que não reconheceria limites. Ou poderia ser algo que ninguém esperava. Gabriel não estava disposto a esperar para descobrir. Ele queria ter certeza antes que Ragnar percebesse o quão instável Karev poderia ser.O suor escorria pelo corpo dele, misturando-se ao sangue de pequenos cortes e hematomas. Os músculos rígidos denunciavam seu cansaço, mas o fogo em seus olhos dizia que ele ainda não havia desistido. Seu orgulho não o permitiria.Eu conhecia bem esse ol
KarevEu não conseguia desviar o olhar dela.A provocação ainda estava no ar, como um desafio silencioso entre nós."Você já me teve antes. Mas não como um lobo."As palavras de Mallory ainda vibravam dentro de mim, misturadas à adrenalina da luta e ao calor que queimava sob minha pele.Ela sabia exatamente o que estava fazendo.E sabia que estava funcionando.Minha respiração estava pesada, meu corpo ainda pulsava da surra que levei de Gabriel. Mas nada disso importava mais. Não quando o cheiro dela estava me envolvendo dessa forma. Eu nunca tinha notado antes. Ou talvez tivesse, mas não como agora.O cheiro de Mallory era quente, amadeirado, com um toque levemente adocicado, como algo viciante. Ele entrava nos meus pulmões e ia direto para a corrente sanguínea, me intoxicando. Meu corpo inteiro reagia a isso, como se algo dentro de mim reconhecesse seu perfume e implorasse por mais.Ela sabia disso.Seu olhar era puro desafio. Seu corpo se movia de maneira calculada, provocante, esp
KarevO olhar de Mallory me desafiava a ir além. A me render ao que já era inevitável.Ela sabia o que estava fazendo. Sabia como cada parte do meu corpo reagia aos seus toques, aos seus olhares, ao simples fato de sua pele roçar na minha.E, naquele momento, eu não queria mais lutar contra isso.Seus dedos percorreram meu peito, explorando as marcas da luta. Seu toque era firme, mas ao mesmo tempo delicado, como se estivesse redescobrindo cada pedaço de mim. Meu corpo inteiro pulsava em resposta, um misto de desejo e algo mais profundo que eu ainda não sabia explicar.Mallory me puxou para um beijo, e foi como se meu mundo pegasse fogo.O beijo foi intenso, feroz, carregado de algo primal. Minha boca tomava a dela com fome, minha língua explorava cada canto, como se precisasse gravar seu gosto em mim. Ela gemeu contra meus lábios, e um rosnado grave escapou do fundo do meu peito.Ela sorriu, satisfeita.— Isso... — murmurou contra minha boca. — É disso que estou falando.O calor entr
Karev— KAREV, NÃO!A voz de Mallory cortou o nevoeiro na minha mente como uma lâmina afiada, mas o instinto já havia assumido o controle.Meus pés se moviam antes que minha mente pudesse intervir. Meu corpo inteiro vibrava com a necessidade de atacar. A floresta parecia mais nítida do que nunca, os cheiros mais intensos, cada som amplificado. Eu sentia o chão úmido sob os pés descalços, o vento cortando minha pele quente, o cheiro da terra misturado ao de Mallory.Mas havia algo mais ali.Algo que não pertencia.O estrondo da minha própria pulsação era tudo o que eu ouvia, até que uma voz carregada de tédio e irritação interrompeu minha corrida.— Pelo amor da Deusa, irmã! Segura teu macho. Estou aqui apenas para dar um recado.Minha visão se ajustou ao escuro e então a vi: Astoria, parada entre as árvores com os braços cruzados e uma expressão de puro desdém.Minha respiração era irregular. Meu peito subia e descia com força, e eu sentia meu lobo rosnando dentro de mim, ainda pronto
MalloryA água estava perfeita.Fresca, límpida, deslizando suavemente pela minha pele como um convite para algo proibido.Eu me virei na cachoeira, deixando meu corpo flutuar, observando Karev parado na margem, ainda esbaforido da corrida.Ele estava uma visão selvagem.Os cabelos desgrenhados, a pele quente brilhando sob a luz da lua, o peito subindo e descendo rápido, os músculos tensos como se ele ainda não tivesse aceitado que perdeu.Sorri, satisfeita."Tão previsível."Ele ergueu uma sobrancelha.— O que foi?Meu sorriso cresceu.— Você não vai entrar?Karev cruzou os braços, os olhos analisando a água com desconfiança.— E se tiver animais peçonhentos?A risada saiu antes que eu pudesse evitar.Joguei a cabeça para trás e gargalhei, sentindo a água fria deslizar por meu pescoço.— Você tá falando sério?— Sim. — Ele resmungou. — Pode ter cobras aí dentro.O riso só aumentou.— Não acredito que um lobo tem medo de cobra!Ele franziu o cenho, claramente irritado.— Não é medo. É
KarevA caminhada até a casa de Ragnar foi silenciosa.Minutos atrás, Mallory estava brincando, me provocando, me fazendo esquecer de tudo que não fosse seu toque. Agora, ela estava distante. Seu corpo se movia de maneira contida, menos solta, como se estivesse trancada dentro da própria mente.Aquilo me incomodava.Queria perguntar mais sobre o que aconteceu. Queria entender por que falar daquele cara mexeu tanto com ela. Mas pelo jeito que mantinha os olhos fixos à frente, fechada em sua própria bolha, ficou claro que esse não era o momento.A casa de Ragnar surgiu entre as árvores, imponente e iluminada. As sombras de quem nos esperava podiam ser vistas através das janelas. Assim que cruzamos a porta, todos os olhares se voltaram para nós.Ragnar.Cameron.Astoria e Connor.E, para minha surpresa, Gabriel.Meu corpo ficou tenso.Minha mandíbula travou. Meu peito subiu e desceu lentamente enquanto tentava controlar o desconforto que cresceu no meu estômago.Minha primeira reação foi