Retirado do jornal Comércio Angabaíbano em 11 de março de 2013:
Sem teto é vítima de possível grupo Neonazista
Na última quinta-feira (10) morador de rua, sem documentação, ainda não identificado. Foi assassinado de maneira brutal, covarde e desumana.
O corpo foi encontrado pelos irmãos Guilherme e Larissa Borges Faria e pelo empresário Otávio Medeiros, de uma forma um tanto inusitada e dramática. Guilherme, de 11 anos, ao avi
Os vários pisos quebrados e rachados, encardidos, alguns até mesmo com um pouco de mato crescendo por sua descontinuidade, indicavam que o local deveria ser algum prédio a muito não utilizado. As paredes apresentavam um alto grau de umidade, o que ajudava a criar a sensação de abandono. É neste corredor de algum lugar que ninguém normal visitaria durante a noite que corre, de mãos dadas, estava o jovem casal. Ele com seu velho par de um modelo genérico de All Star, vestindo um novo velho blue jeans rasgado, uma camiseta branca e justa. Ela de saltos altos (por que?), também de calça jeans, baby look branca e um leve agasalho por cima. Um desespero, nada genuíno, marcado em seus rostos. - Capitão Aurélio taê? O homem, na soleira da porta da delegacia estava todo vestido de preto. Sapato social, calça de lona, camiseta e boné. A barba por fazer e o palito de dentes na boca deixariam qualquer pessoa com a sensação de estar na presença de algum mau caráter qualquer. Este homem, no entanto, não era um mau caráter qualquer, era um bem especial. Joaquim era o policial civil responsável por manter uma comunicação amistosa entre os policiais civis e os militares, o que podia ser percebido pelo pacote pardo em suas mãos. No interior da delegacia a movimentação era a7
Quando Paulo olhou para a janela e percebeu o que estava anoitecendo, fechou, apressado, a tela de seu notebook, puxou o carregador da tomada e pulou a cama em um salto, aterrissando de joelhos, com a cabeça olhando por debaixo da cama em busca de seu coturno. Encontrou o par e puxou, enquanto se levantava e sentava na cama. Calçou-os com o devido cuidado de amarrá-los por cima da calça cáqui camuflada e seguiu em direção ao armário. Escolheu uma camiseta justa, totalmente vermelha, e cobriu com ela todas as tatuagens de seu corpo. Abriu uma das gavetas da cômoda e, afastando as meias, encontrou seu canivete butterfly, que enfiou na cintura. No banheiro, deu uma ultima ajeitada em seu cabelo loiro, cortado à escovinha. Fez uma última cara de mau antes de se decidir por ir embora. - Não sei até que ponto eu concordo com o feriado do “20 de novembro”, sei lá, uma vez, alguém me falou que não curtia porque só os fracos têm um dia pra si. Tipo, não tem dia pra branco! - Olha, Eliana, aposto que a pessoa que te falou isso era branca! - Era... - É sempre fácil pra quem tá por cima manter seu lugar no topo e parte do processo tá justamente em deslegitimar a luta e os símbolos de quem tá por baixo. Manja?&n9
Eles estavam em um grupo de cinco. Aguardavam escondidos separadamente. Quase não tiveram tempo de se preparar desde que tiveram conhecimento do espancamento de Paulo, mas de alguma forma tinham conseguido. É claro que não foi simplesmente sorte, é que um dos cinco do grupo sabia que Maicon estava envolvido e avisou aos outros o melhor lugar para emboscá-lo. Agora, aguardavam em silêncio a chegada do rapaz. As árvores frondosas tornavam fraca a iluminação da Rua Prudente de Morais. A escuridão somada à criatividade de se esconder do grupo, propiciou uma boa oportunidade. Um deles nem estava totalmente escondido, apenas agachara-se perto de dois grandes sacos plásticos pretos de lixo e mesmo assim, estava pratic
Achamos que somos imunes a muitas coisas, até o dia em que elas acontecem conosco. O assassinato do mendigo em Angabaíba chamou muito a atenção da mídia em toda a região de Campinas, mas não a ponto de alguma outra prefeitura ter tomado alguma precaução para impedir que algo semelhante acontecesse em suas cidades. A segurança pública continuava ruim. Não fique surpreendido em saber que até mesmo em Angabaíba as coisas não mudaram muito com o assassinato. O assunto era o principal tema das conversas por toda a cidade, frases como “onde o mundo vai parar” ou “antigamente essas coisas não aconteciam” eram muito comuns na boca das pessoas, no entanto isso não significa que elas tenham passado a adotar qualquer medida para se precaver de se tornar víti
A mulher à porta estava com o rosto inchado, provavelmente de tanto chorar. Se os cabelos não fossem raspados, rentes à cabeça, provavelmente estariam desgrenhados. A senhora negra não era alta, era obesa, possuía grandes olhos castanhos, normalmente muito belos, mas agora devastados pelo sofrimento, trajava um vestido colorido que deixavam à mostra suas grandes panturrilhas maltratadas pelas varizes. Sua voz geralmente tão deliciosa de ser ouvida, devido o forte sotaque baiano, era puro desespero e terror: - Cibele, por favor, diga que Maicon passou a noite em sua casa! Eu TENHO que estar vivendo um pesadelo! Diga que ele está aí! Dêxe eu entrar!
Não se sabe qual foi o artifício utilizado pelos membros do grupo Supremacia Branca, o fato é que quando Dona Lourdes, a avó de Paulo, abriu a porta do quarto de hospital para deixar os novos visitantes entrar, eles eram cinco. Muito além do permitido pela política de silêncio e tranquilidade do hospital. Olhando a porta, não dá para desconfiar a suntuosidade da suíte ocupada por Paulo. Além do catre e da aparelhagem médica, o quarto possuía um televisor de cinquenta polegadas, duas poltronas e um sofá de dois lugares, muitas vezes utilizado pelos acompanhantes. O primeiro a entrar no quarto, pôs-se