Os moradores da cidade dizem que Angabaíba é um nome tupi, o que não é estranho em terras brasileiras. Só em São Paulo, podemos citar outras cidades, bairros e ruas que tenham os nomes oriundos da mesma fonte: Itu, Itupeva, Moji Guaçu, Moji Mirim e tantas outras que encheriam linhas e linhas. As divisões entre a população local começam quando dizemos: “Oquei, é tupi, mas que raios significa?” Começam as típicas brigas da cidade. Existem aqueles que apostariam a própria vida em que um significado plausível seria Terra cheia de coisa boa, o outro grupo, que também apostaria a própria vida em sua razão, encontrou um significado macabro, que do ponto de vista deles, é mais plausível que o primeiro e seria nada mais nada menos que assombração ruim. Por mim, acredito que apostar a vida nunca é uma coisa segura.
Não é uma cidade que chama a atenção se você tentar localizá-la pelo G****e Mapas em uma busca manual, ao invés de, simplesmente, digitar o nome na barra de busca. Aproximando pela América do Sul fica fácil encontrar a grande massa territorial brasileira. Continuando a busca, encontraremos São Paulo ali no cone sul. Agora, aproximando no Estado de São Paulo, perceba que o nome de Angabaíba não aparece logo de início, procure por Campinas. Aproxime lentamente, até que aparecerá mais ao sul de Campinas uma cidade chamada Jundiaí. Agora, fica fácil, aproxime um pouco mais, no espaço entre Campinas e Jundiaí, e verá surgir uma teia de aranha que representa o desenvolvimento urbano desta cidade que, apesar de pequena, é muito bem estruturada.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam ser possível, o local não se desenvolveu porque todos pensavam de maneira coesa, mas, justamente por haver um grande número de pessoas impossíveis de serem satisfeitas e mesmo de aceitar uma opinião divergente da sua. Se a cidade possuísse mais de 200mil habitantes, não haveria eleição sem segundo turno. Os mesários agradecem.
Conhecida como “a cidade dos movimentos” (sociais ou não), parece que cada habitante participa de ao menos um grupo com encontro semanal (e não apenas os cristãos protestantes). Para constar, além dos grupos partidários, existem grupos ativistas, como o Movimento Gay, o Mulheres de Luta, Ascensão Socialista e o Cor da Alma. Existem ao menos três ou quatro grupos de assistência social que prestam ajuda a famílias carentes e moradores de rua. Podemos citar os grupos menores e mais fechados como o Grupo dos Cinéfilos de Angabaíba e o Leitores de Angabaíba, isso sem citar os grupos menores, chega até mesmo existir uma reunião dos apaixonados por cozinhar. Não podemos nunca deixar de citar alguns grupos polêmicos, como o Supremacia Branca, que todos conhecem a existência, mas fingem não existir.
Característica peculiar da cidade, que não podemos deixar passar em branco é o grande número de idosos. Podemos certamente dizer que toda família Angabaíbense possui o seu próprio velhinho. No entanto, uma das grandes falhas da cidade é a falta de adaptação para o bem estar desta população idosa. Estranhamente, os idosos não possuem nenhum grupo social conhecido.
O polo industrial da cidade é pequeno. Não muito afastado da cidade, é composto principalmente por indústrias de moda infantil. Caminhões cruzam a cidade, primeiramente repletos de tecido, tinta e borracha e caminhões cruzam novamente a cidade, repletos de pequenas jaquetas, calças e camisetas. Nenhuma multinacional obscurece os grupos e empresas da região.
Como já foi dito, a cidade é bem administrada e segura. Isso não significa que não exista desigualdade social, a periferia da cidade é pobre. Cuidado, pobreza e violência não são palavras que necessitem caminhar lado a lado! A pobreza de Angabaíba não é violenta, talvez, por não ser escondida. Esconder um problema é optar por não resolvê-lo e quando se trata de esconder a pobreza é praticamente dizer para esta população: Ei, fica neste cantinho e espera, quem sabe um dia a sorte vai bater na sua porta. Quando você esconde alguém contra a vontade, a reação imediata é gritar e chutar, voilá! Criamos uma situação violenta. O inverso, não esconder, é um sinal de que se está preocupado com aquilo, pensando em maneiras de solucionar a questão, e neste caso, os atingidos pelo problema passam a colaborar.
Em todo caso, apesar de ser uma cidade pequena, apesar de ter seus problemas, a cidade da terra cheia de coisas boas ou da assombração ruim, você pode escolher por qual nome apostaria a vida, vai muito bem (excluindo o possível corpo jogado em uma calçada e a criança atropelada em uma das principais avenidas da cidade, é claro) e prospera.
Apesar dos azulejos brancos na parede e azulados no chão, do silêncio (interrompido por uma ou outra tosse, gemido de dor, sussurro, ou choro desesperado) e da extrema sensação de limpeza, o ambiente hospitalar está longe de ser receptivo e aconchegante. E é nesses corredores que encontramos, andando de um lado para o outro, as pessoas que tiveram a sensibilidade de se retirar do quarto de seus parentes ou amigos antes que eles percebessem que quem vem para consolar & confortar, na maioria das vezes deseja mais do que tudo nesse mundo é ser consolado & confortado.Andando de um lado para o outro no Hospital Municipal de Angabaíba, Larissa pensava que o trauma psicológico causado por ter presenciado de camarote o atropelamento de seu próprio irmão, sozinho, já
Retirado do jornal Comércio Angabaíbano em 11 de março de 2013:Sem teto é vítima de possível grupo NeonazistaNa última quinta-feira (10) morador de rua, sem documentação, ainda não identificado. Foi assassinado de maneira brutal, covarde e desumana. O corpo foi encontrado pelos irmãos Guilherme e Larissa Borges Faria e pelo empresário Otávio Medeiros, de uma forma um tanto inusitada e dramática. Guilherme, de 11 anos, ao avi
Os vários pisos quebrados e rachados, encardidos, alguns até mesmo com um pouco de mato crescendo por sua descontinuidade, indicavam que o local deveria ser algum prédio a muito não utilizado. As paredes apresentavam um alto grau de umidade, o que ajudava a criar a sensação de abandono. É neste corredor de algum lugar que ninguém normal visitaria durante a noite que corre, de mãos dadas, estava o jovem casal. Ele com seu velho par de um modelo genérico de All Star, vestindo um novo velho blue jeans rasgado, uma camiseta branca e justa. Ela de saltos altos (por que?), também de calça jeans, baby look branca e um leve agasalho por cima. Um desespero, nada genuíno, marcado em seus rostos. - Capitão Aurélio taê? O homem, na soleira da porta da delegacia estava todo vestido de preto. Sapato social, calça de lona, camiseta e boné. A barba por fazer e o palito de dentes na boca deixariam qualquer pessoa com a sensação de estar na presença de algum mau caráter qualquer. Este homem, no entanto, não era um mau caráter qualquer, era um bem especial. Joaquim era o policial civil responsável por manter uma comunicação amistosa entre os policiais civis e os militares, o que podia ser percebido pelo pacote pardo em suas mãos. No interior da delegacia a movimentação era a7
Quando Paulo olhou para a janela e percebeu o que estava anoitecendo, fechou, apressado, a tela de seu notebook, puxou o carregador da tomada e pulou a cama em um salto, aterrissando de joelhos, com a cabeça olhando por debaixo da cama em busca de seu coturno. Encontrou o par e puxou, enquanto se levantava e sentava na cama. Calçou-os com o devido cuidado de amarrá-los por cima da calça cáqui camuflada e seguiu em direção ao armário. Escolheu uma camiseta justa, totalmente vermelha, e cobriu com ela todas as tatuagens de seu corpo. Abriu uma das gavetas da cômoda e, afastando as meias, encontrou seu canivete butterfly, que enfiou na cintura. No banheiro, deu uma ultima ajeitada em seu cabelo loiro, cortado à escovinha. Fez uma última cara de mau antes de se decidir por ir embora. - Não sei até que ponto eu concordo com o feriado do “20 de novembro”, sei lá, uma vez, alguém me falou que não curtia porque só os fracos têm um dia pra si. Tipo, não tem dia pra branco! - Olha, Eliana, aposto que a pessoa que te falou isso era branca! - Era... - É sempre fácil pra quem tá por cima manter seu lugar no topo e parte do processo tá justamente em deslegitimar a luta e os símbolos de quem tá por baixo. Manja?&n9
Eles estavam em um grupo de cinco. Aguardavam escondidos separadamente. Quase não tiveram tempo de se preparar desde que tiveram conhecimento do espancamento de Paulo, mas de alguma forma tinham conseguido. É claro que não foi simplesmente sorte, é que um dos cinco do grupo sabia que Maicon estava envolvido e avisou aos outros o melhor lugar para emboscá-lo. Agora, aguardavam em silêncio a chegada do rapaz. As árvores frondosas tornavam fraca a iluminação da Rua Prudente de Morais. A escuridão somada à criatividade de se esconder do grupo, propiciou uma boa oportunidade. Um deles nem estava totalmente escondido, apenas agachara-se perto de dois grandes sacos plásticos pretos de lixo e mesmo assim, estava pratic
Achamos que somos imunes a muitas coisas, até o dia em que elas acontecem conosco. O assassinato do mendigo em Angabaíba chamou muito a atenção da mídia em toda a região de Campinas, mas não a ponto de alguma outra prefeitura ter tomado alguma precaução para impedir que algo semelhante acontecesse em suas cidades. A segurança pública continuava ruim. Não fique surpreendido em saber que até mesmo em Angabaíba as coisas não mudaram muito com o assassinato. O assunto era o principal tema das conversas por toda a cidade, frases como “onde o mundo vai parar” ou “antigamente essas coisas não aconteciam” eram muito comuns na boca das pessoas, no entanto isso não significa que elas tenham passado a adotar qualquer medida para se precaver de se tornar víti