Retirado do Evento “Marcha do bom cidadão de Angabaíba” criado por João Klauss no Facebook:
Marcha do bom cidadão de Angabaíba
Sábado, 30 de março às 15:00
Daqui a 5 dias
Av. Boa Esperança
Avenida Boa Esperança, 1100, Centro, Angabaíba
O Grupo “Supremacia Branca” com o intuito de mostrar para as autoridades de nossa tão amada cidade que ainda existem moradores apegados à moral e aos bons costumes promoverá uma marcha destinada a manifestação dos bons cidad&
Era pouco mais que uma hora da tarde e uma pequena concentração de pessoas já podia ser vista na Avenida da Prosperidade, o grupo era composto principalmente por jovens, mas aqui e ali era possível identificar algumas pessoas mais maduras. Gustavo não costumava participar de manifestações, muito menos se envolver em disputas ideológicas, mas daquela vez a situação era diferente, os possíveis assassinos de seu amigo de infância estavam organizando uma marcha que, nas entrelinhas, defendia que as pessoas não precisavam se preocupar com essa morte, afinal a vítima era um criminoso, ele era negro. Para ele, não fazia o menor sentido a existência de pessoas que defendessem o assassinato de quem quer que seja, como se houvesse seres humanos melhores e seres humanos piores e ficava chocado com
“Eu me tornei insano, com longos intervalos de horrível sanidade”(Carta para George Washington Eveleth , 4 de janeiro de 1848 - Edgar Allan Poe) - Um fracasso! Um total fracasso! Era para ter sido o nosso grande dia e fomos sabotados! Fomos traídos por aquela polícia frouxa! Fomos traídos! Passados para trás! Fizemos papel de otários! O que mais eu posso dizer? Aqueles pretos, viados e comunistas nos passaram a perna e nós caímos! A luz acesa não era o suficiente para iluminar a garagem apertada onde duas dezenas de jovens estavam espalhados, escorados nas três paredes da garagem, imó
O celular despertava, já no terceiro ciclo da função “soneca”, quando Gustavo parou de tentar se iludir e jogou as cobertas no chão. Ainda ficou um tempo deitado, imóvel, no sofá, mas já estava acordado e não conseguiria voltar a dormir. Ainda sonolento, caminhou, arrastando os pés, até o banheiro enquanto despia a cueca. Tomou um banho demorado e quente. - Mas que merda! Apenas quando saia do banho é que reparou que o toalheiro estava vazio, pensou em suas alternativas, a mais fácil se
O jovem descia a Rua Canadá, na periferia da cidade, e parecia estar imerso em sua mente. Apesar dos fones de ouvido o volume estava tão alto que quem passasse por perto poderia identificar Negro Drama dos Racionais Mcs. As lembranças do que tinha visto na tarde do sábado ainda atormentavam Beto. Ele tinha plena certeza de que o melhor que poderia fazer era tentar esquecer e fingir que nada acontecera. Nada parecia dar certo nos últimos dois meses e se tentasse se meter em mais coisas que não eram seu interesse tudo iria acabar ainda pior. A faixa tracejada do asfalto passava com velocidade por baixo do carro, os poucos veículos da via davam passagem, mas pareciam estar praticamente parados. A sirene ecoava pela noite, como um sinal de mau agouro, muitas famílias em suas casas sentiam uma pontada de angústia, pensando se estaria tudo bem com o parente ausente. E o Capitão Aurélio seguia em seu ritmo frenético para apoiar seus colegas e subordinados em ação. Conforme se aproximava do Jardim Nova Luz, local da ocorrência, teve de deixar a grande Avenida Carlos Marighella e se embrenhar nas tortuosas avenidas menores que levavam ao bairro de periferia. Nestas ruas menores, praguejava pela impossibilidade de andar em alta velocidade. Há muitos meses, a polícia civil vinha investigando um ponto de tráfico de drogas na região, coletando informações e elaborando uma o22
A casa verde estava à venda, já há alguns anos que ninguém morava nela e, aparentemente, há tempos que ninguém fazia alguma visita para ver se a casa precisava de alguma manutenção. Os muros externos da casa mediam cerca de um metro e meio, apesar da cor original ser o verde, ele já estava quase totalmente coberto por pichações e por um novo tom de verde, mais escuro, dos musgos que se proliferavam. A casa não possuía garagem, a única entrada era um portão comum, de barras de ferro, muito corroído pela ferrugem, que era mantido fechado por um cadeado. Estranhamente o cadeado era novo e parecia estar em ótimo estado. Joaquim ficou alguns minutos parado em frente ao portão, fumando um cigarro e coçando a barba que crescia em seu pescoço. Terminado o cigarro ele estralou os dedos e olhou para o
Muitos conhecidos ficavam admirados com a força de vontade de Cibele, comentavam como ela tinha superado rápido a perda do namorado e ficavam aliviados em ver como ela continuava com a mesma risada sonora e gostosa de sempre. O que eles não sabiam é que todos os dias, ao entardecer, Cibele começava a chorar enquanto tomava banho e só parava quando tinha que sair do quarto para fazer alguma coisa. No entanto, Onério, avô de Cibele, sabia. A fina parede que separava os dois quartos não era o suficiente para abafar os soluços de desespero da garota e Onério também chorava enquanto o choro de sua neta durasse. Este homem, que derramara poucas lágrimas em seus mais de oitenta anos, chorava agora por toda uma vida, como se fosse responsável pelo sofrimento da neta. Repentinamente, grossas gotas de chuva passaram a desabar, batendo violentamente contra a janela, empurradas por lufadas de vento. Como se não bastasse o tempo ruim, as notícias recebidas por telefone também não eram nada agradáveis. Plínio escutava cada palavra com máxima atenção, o telefone sem fio colado à orelha, os olhos arregalados. A mão espalmada no vidro da janela, como se o mau tempo fosse o responsável por ter trazido as más notícias. Sua prima Marina estava desaparecida há três dias. O último sinal de vida dado por ela era uma publicação no facebook, reclamando do tédio e anunciando que iria se juntar à manifestação. Depois de algumas respostas25