Capítulo 04
Eliza Campos
Meu coração batia acelerado, como se estivesse prestes a saltar do peito, e a inquietação me consumia, dificultando minha respiração.
Tentei relaxar sob o chuveiro quente, mas a sensação de nervosismo persistia. O vapor envolvia meu corpo, criando um ambiente de calor e conforto, mas minha mente continuava agitada. Passei mais tempo debaixo do chuveiro do que o normal, como se pudesse lavar a ansiedade, mas ela não saía.
Saí do banho e me enrolei na toalha, procurando algo no meu armário que me fizesse sentir confiante. Encontrei o vestido azul — meu favorito. Elegante e confortável, ele sempre me transmitiu segurança. Me arrumei com cuidado, tentando afastar os pensamentos perturbadores.
Enquanto ajustava o cabelo no espelho, o celular tocou, interrompendo meus devaneios.
— Oi, Matheus? — falei, enquanto calçava os sapatos, tentando soar mais animada do que realmente estava.
— E aí, Lizz? Já tá pronta? Tô aqui fora te esperando. — A voz dele era tranquila, mas eu sentia meu coração acelerar.
— Uhum, já tô quase... só vou dar um toque rápido aqui. — Respondi, sorrindo para o reflexo. O vestido estava lindo, mas a confiança ainda não havia chegado.
Desliguei o celular e dei uma última olhada no espelho. Senti um leve aumento na segurança. Saí e encontrei Matheus no carro, com aquele sorriso maroto. No caminho, tentamos conversar sobre a empresa e a vaga, mas minha cabeça estava a mil.
— Então, o dono é um cara meio exigente, mas, pelo que dizem, é justo. — Matheus começou, mas eu mal conseguia ouvir.
— Sério? — murmurei, tentando me concentrar. — Espero que eu consiga me sair bem.
Ele deu uma risadinha. — Relaxa! Você manda muito bem!
À medida que a conversa fluía, a ansiedade foi dando lugar a uma determinação crescente. Chegamos a um prédio moderno, com janelas enormes refletindo a luz da manhã. O sol batia em minhas costas e eu pude sentir o calor e a esperança começando a brotar.
Antes de sair do carro, Matheus se virou para mim, segurando minha mão por um instante.
— Vai ser tranquilo, Lizz. Confie na sua força. — Ele me olhou com aquela intensidade que me fazia querer acreditar.
— Valeu, Matheus. — disse, segurando o olhar.
Um aperto no peito quase me fez desviar os olhos, mas o sorriso dele era encorajador.
— Tô na torcida! — ele acrescentou, com seu tom carregado de apoio.
Enquanto eu descia do carro, uma onda de gratidão me invadiu. Eu realmente precisava dele ali. Entrei no prédio e fui recebida por uma recepcionista sorridente.
— Oi... Tenho uma entrevista. Meu nome é Eliza Campos.
— Claro! Pode esperar ali, por favor — ela disse, apontando para uma sala.
Agradeci e fui para a sala de espera. O ambiente era silencioso, com algumas paisagens nas paredes que me deixavam mais calma. O único som era o zumbido de conversas ao fundo e o tique-taque do relógio.
Enquanto esperava, outros candidatos chegaram, cada um com sua própria carga de nervosismo. Então, meu coração disparou. Ele estava lá.
Jonas.
Não acreditei quando o vi parado perto de mim, usando a mesma camisa azul que adorava. Ao lado dele estava uma mulher de cabelos longos e escuros, que eu nunca havia visto. Eles pareciam um casal feliz, e a lembrança da vida que poderíamos ter juntos me atingiu como um soco no estômago.
Nossos olhares se encontraram, e o tempo parou. Era como se o mundo ao redor tivesse sumido, deixando só a dor nos olhos dele. A mulher sorriu para ele, mas o sorriso não parecia sincero.
As lembranças do que vivemos voltaram com tudo. A culpa e o arrependimento pesaram no meu peito. Mas, antes que eu me perdesse nesses sentimentos, uma voz conhecida me tirou dos pensamentos.
— A entrevista vai começar. Sigam-me, por favor.
Era Carla, a assistente da empresa. Levantei junto com os outros candidatos e segui pelo corredor até uma sala ampla, iluminada pelas janelas. A sala tinha uma mesa de madeira maciça no centro, e as paredes eram decoradas com quadros abstratos que pareciam vibrar com a luz do sol.
— Pessoal, este é Pedro Monteiro — anunciou Carla, antes de sair da sala.
Meus olhos se voltaram para ele, que tinha uma postura firme e um olhar atento. Seu olhar, apesar de intenso, não era frio. Havia nele uma aura de inteligência e gentileza que me deixava intrigada.
Respirei fundo e tentei manter a calma, mas meu coração ainda batia acelerado. Não era só pela entrevista. Era por Jonas, pelas lembranças e pela certeza de que a vida estava prestes a mudar.
— Obrigado a todos. Podemos começar? — Ele perguntou, com um sorriso discreto, mas observador. Seus olhos pretos brilhavam com um tom de expectativa.
Enquanto ele falava, forcei-me a deixar os fantasmas do passado para trás. Jonas não tinha mais espaço na minha vida. A mulher ao lado dele podia ser qualquer coisa, mas não era mais um problema meu. Eu tinha algo maior em jogo: meu futuro.
Pedro nos analisava com atenção, e percebi que precisava mostrar a ele, e a mim mesma, que eu era mais do que as feridas que carregava. O nervosismo começou a se dissipar, dando lugar a uma determinação silenciosa.
Quando ele pediu para nos apresentarmos, esperei minha vez, respirando fundo. A imagem de Jonas e sua nova companheira me invadiu, e a insegurança ameaçou voltar. Mas me lembrei da conversa com Giulia, minha terapeuta, que sempre me dizia para nunca desistir dos meus sonhos. Isso me deu forças.
Me levantei e caminhei para frente, sentindo o olhar de todos sobre mim. Um frio na barriga me percorreu, mas não me senti pequena. Eu era Eliza Campos, e estava pronta para mostrar ao mundo quem eu era.
Por um breve instante, vi Pedro erguer as sobrancelhas, como se tivesse encontrado algo inesperado. Ele fez uma anotação rápida, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seu rosto. Um sorriso que carregava um brilho de aprovação.
Naquele momento, soube que era minha chance. Não importava o que viesse depois — eu estava pronta para enfrentar tudo. E pela primeira vez em muito tempo, a sensação no meu peito não era de inquietação. Era esperança. Eu queria mostrar a todos e a mim mesma que podia construir um futuro brilhante, livre do passado que me assombrava.
Capítulo 05Pedro MonteiroO despertador tocou, me acordando de um sono leve. A luz da manhã já entrava pela janela. Espreguicei-me com cuidado, tentando não acordar Heloísa. A briga de ontem ainda estava na minha cabeça – mais uma discussão que não resolveu nada e só nos deixou cansados.Fui ao banheiro e me olhei no espelho. A cara de cansado refletia o que eu estava sentindo. Passei a mão no rosto, como se pudesse apagar o cansaço. Atrás de mim, Heloísa dormia tranquila, nem ligando para a noite passada.Peguei um terno preto no guarda-roupa e me vesti rápido. O trabalho na Editora Monteiro não dava folga. Na cozinha, fiz um café forte, mas o gosto amargo não ajudou a aliviar a tensão.No estacionamento, entrei no carro. O barulho do motor ligado me deu uma sensação de controle, por pequena que fosse. O trânsito estava bom, e quando estacionei na editora, vi algumas pessoas esperando na entrada – provavelmente candidatos para as entrevistas do dia. Carla, minha assistente, me cumpr
Capítulo 06Eliza CamposMeu coração disparou enquanto acompanhava Carla até a recepção. O olhar intenso de Pedro me deixava nervosa, como se ele pudesse ver tudo sobre mim, e eu estava até agora sem entender o motivo dele me olhar daquela maneira. Cada passo parecia pesado, e eu estava prestes a desabar.— Eliza, bem-vinda à equipe! Aqui estão seus horários. Você começa amanhã e vai cuidar da agenda do Sr. Monteiro. Sua sala é aquela ali, perto da do Pedro — disse Carla.Ela parecia tão confiante, enquanto eu me sentia meio perdida, quase frágil, como se pudesse desabar a qualquer momento. Pensei em contar pra Carla sobre meu passado, mas a lembrança do Jonas me fez travar. Me recordei de quando ele me dava sorrisos falsos e da dor que ele me causou quando terminamos.— Nossa, o trabalho tá uma loucura aqui! Muitos autores nacionais estão chegando, e tá sendo bem legal, sabe? — comentou ela, toda animada.— É, imagino. Deve ser um desafio — respondi.— É, mas é maneiro! Você vai ver.
Capítulo 07Eliza CamposTinha que contar tudo a Matheus sobre Jonas. Um aperto no peito me sufocava. Cada palavra era um nó na garganta. Era um peso enorme, uma verdade que carregava há tempos. Precisava dividir.— Matheus, sabe... encontrei o Jonas hoje. — A voz saiu quase como um sussurro, e eu me senti um pouco tonta. — Foi rápido, mas... me pegou de surpresa. Não tava esperando. — Meu coração disparou e temi que ele percebesse o tremor na minha voz.Ele me encarava com aquele olhar compreensivo, uma ruguinha de preocupação surgindo em sua testa. Aquilo me deixava ainda mais nervosa.— Sério? O que aconteceu? Ele aprontou alguma coisa?— Não, estávamos na mesma entrevista, e ele foi contratado também. Mas foi o suficiente pra me dar um susto. Fiquei com medo de recair.Ele se aproximou e recuei, sentindo um friozinho na barriga. Ele hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras certas.— Sobre... o que rolou ontem... — ele começou, mas eu o interrompi, desviando
Capítulo 08Eliza CamposSaí da minha sala com aquele friozinho no estômago; a reunião estava prestes a começar. No fim do corredor, avistei a Carla. Segurei o papel com firmeza e respirei fundo, tentando reunir coragem para falar com ela.— Carla! — chamei, acenando. — Preparei algo especial para a reunião. Quer dar uma olhada?Seus olhos brilham como se estivessem dizendo: "Conta tudo!", me encararam.— Deixa eu ver! — respondeu, toda animada.Carla pegou o papel e, enquanto olhava, seu rosto se iluminou com um sorriso enorme.— Uau, Lizz! Isso ficou incrível! Você arrasou!— Sério? — perguntei, um pouco insegura. — Tava com medo de ter exagerado...Ela me olhou nos olhos, como se conseguisse ler minha mente.— Olha, a gente ainda tá se conhecendo, mas posso dizer: você mandou muito bem! Eu adoraria ter uma apresentação assim.Senti um calorzinho no peito. Era bom saber que alguém que eu mal conhecia já estava do meu lado.— Obrigada! — respondi, me sentindo um pouco mais confiante.
Capítulo 09 Eliza CamposEu estava nervosa, esperando pela Carla. A reunião seria no último andar do prédio, e meu coração estava a mil. A situação era complicada, especialmente com a presença de Jonas, Cassandra e Heloísa — que, para minha surpresa, era noiva do Pedro.Respirei fundo várias vezes até que Carla apareceu no final do corredor. Quando ela chegou, senti um alívio misturado com nervosismo. Uma lágrima quase escapou, mas me esforcei para que ela não percebesse.— E aí, pronta? — perguntou Carla, sorrindo.— Vamos nessa — respondi, tentando esconder o tremor na voz. Minha respiração acelerada já entregava a tensão.Caminhamos até a sala de reuniões. O ar-condicionado aliviava o calor e a pressão no meu peito. Ao entrar, percebi que quase todos já estavam lá. Jonas e Cassandra estavam num canto, sussurrando, o que me deixou com um nó no estômago. Heloísa estava ao lado de Pedro, me observando com um olhar critico. O clima estava pesado, cheio de expectativas, e a pressão aume
Capítulo 10Eliza CamposCassandra entrou na minha sala e o clima ficou pesado na hora. Seus olhos estavam fixos em mim, cheios de raiva, e meu coração disparou, como se quisesse sair correndo.— E aí, Cassandra, precisa de alguma coisa? — perguntei.Ela se aproximou, com a expressão tensa, e percebi que algo sério estava prestes a acontecer.— Ele me contou tudo... — sussurrou, e cada palavra parecia um soco no estômago.Fiquei parada, tentando controlar a inquietação que crescia dentro de mim. Jonas estava no meio dessa confusão, como sempre.— Não sei do que você tá falando — respondi, tentando manter a firmeza, mas meu coração acelerado entregava a farsa.Cassandra deu um passo à frente e a distância entre nós parecia desaparecer.— Você tá se metendo onde não deveria. Ele é meu. — Sua voz era forte, mas havia um tremor que a tornava vulnerável.Engoli em seco, desejando que tudo acabasse logo. A pressão era demais para ignorar.— O que rolou entre mim e o Jonas já passou — disse,
Capítulo 11Eliza CamposEles apareceram perto da gente, sentia o meu coração batendo tão rápido que quase saía pela boca, tinha certeza de que Carla se sentia da mesma forma, acabamos criando uma amizade incrível.Respirei profundamente, sentindo a garganta seca, o peito apertado... parecia que o ar tinha ficado mais pesado, como se a pressão aumentasse a cada segundo. Respirei com dificuldade, meu corpo todo tenso, como se tivesse sido puxada para dentro de uma tempestade.— Ah, não... — murmurei, a voz quase falhando. Era como se a tensão estivesse me engolindo. O ar parecia mais denso e eu quase não conseguia respirar.Carla fez um movimento discreto com a mão, sem nem olhar para mim. Os olhos dela percorriam a sala, captando cada olhar calculista dos outros, que ficavam lá, em silêncio, só esperando. Algo estava no ar, além daquelas observações.— Putz. — Carla sussurrou, tão baixo que eu quase não consegui pegar. Ela olhou rapidamente ao redor, meio paranoica, como se tivesse med
Capítulo 12Eliza camposDe repente, o cara misterioso se aproxima e eu fico sem saber pra onde olhar. O perfume dele invade o espaço, como uma brisa quente que me envolve.Ele me dá um sorriso que ilumina tudo ao redor; o ar parece mudar. Sério, não sei se sou eu ou ele que está causando essa sensação estranha.— E aí! Como você se chama? — ele pergunta, com um olhar que faz meu coração acelerar.— Eliza — respondo, tentando manter a calma. — E você?— Thomas — ele diz, tomando um gole da bebida enquanto seus olhos continuam fixos em mim. O jeito como ele me olha provoca uma onda de calor dentro de mim. — Tá sozinha?Essa atenção me faz sentir valorizada, especialmente depois do desprezo que levei da Heloisa.— Vim com o pessoal do trabalho — explico, tentando parecer tranquila. — E só pra deixar claro... tô solteira.O olhar dele se aprofunda e meu coração dispara. Ele sorri e me encara em silêncio; parece estar esperando uma deixa. Ergo uma sobrancelha e sinto a coragem pulsar dentr