Capítulo 6

Capítulo 06

Eliza Campos

Meu coração disparou enquanto acompanhava Carla até a recepção. O olhar intenso de Pedro me deixava nervosa, como se ele pudesse ver tudo sobre mim, e eu estava até agora sem entender o motivo dele me olhar daquela maneira. Cada passo parecia pesado, e eu estava prestes a desabar.

— Eliza, bem-vinda à equipe! Aqui estão seus horários. Você começa amanhã e vai cuidar da agenda do Sr. Monteiro. Sua sala é aquela ali, perto da do Pedro — disse Carla.

Ela parecia tão confiante, enquanto eu me sentia meio perdida, quase frágil, como se pudesse desabar a qualquer momento. Pensei em contar pra Carla sobre meu passado, mas a lembrança do Jonas me fez travar. Me recordei de quando ele me dava sorrisos falsos e da dor que ele me causou quando terminamos.

— Nossa, o trabalho tá uma loucura aqui! Muitos autores nacionais estão chegando, e tá sendo bem legal, sabe? — comentou ela, toda animada.

— É, imagino. Deve ser um desafio — respondi.

— É, mas é maneiro! Você vai ver. Vamos conversar mais sobre isso amanhã, combinado? — disse Carla.

— Combinado. Obrigada por tudo, Carla. Preciso ir — disse eu.

— Claro, menina! Até amanhã! — respondeu ela, sorrindo, antes de voltar para a sala do Pedro.

Meu estômago gelou ao me virar para sair. Jonas estava ali, parado como um fantasma, com o cabelo loiro bagunçado e os olhos escuros me encarando. Um sorriso irônico apareceu em seus lábios, e um arrepio percorreu meu corpo.

— Eliza, não me diga que seu novo chefinho já desistiu de contratar uma viciada como você? — Jonas provocou.

Engoli em seco, minha garganta seca de medo. Com as mãos trêmulas, procurei o número do Matheus no meu celular. O toque frio do aparelho me deu um pouco de alívio, como se ele estivesse ali por mim, mesmo de longe.

Antes que eu pudesse dar um passo, Jonas agarrou meu braço com força, me fazendo parar. Seus dedos apertaram minha pele e eu senti uma dor aguda.

— O que foi, ruivinha? Achou que ia escapar assim tão fácil? — Ele me encarou, com os olhos escuros brilhando de satisfação pelo meu medo.

Respirei fundo, tentando controlar a raiva que fervia dentro de mim.

— Jonas, para com isso. — Minha voz tremeu um pouco, mas eu tentei manter a firmeza.

Ele me olhou com um misto de desdém e surpresa, como se tentasse entender a mulher que eu me tornei.

— Uou, você mudou. Está... diferente, de fato. — disse ele, com um tom que soou mais como uma crítica do que um elogio.

Olhei ao redor, sentindo o peso dos olhares invisíveis sobre nós. O escritório parecia mais pesado, como se o ar estivesse carregado de tensão.

— Jonas, você tá com outra pessoa, certo? Então, por que não pode simplesmente me deixar em paz? — A frustração transbordou da minha voz.

Finalmente, ele soltou meu braço e se afastou. Respirei fundo, mas as lembranças do passado ainda me assombravam. As luzes do escritório pareciam me cegar, e o ar condicionado me deixava com frio.

Eu precisava sair dali. Assim que saí do prédio, respirei fundo o ar fresco da praça. O cheiro de terra úmida e flores me fez relaxar, enquanto o som do trânsito me fazia estremecer. Mas o murmúrio da fonte era uma melodia suave que me acalmava.

Caminhei até um banco sob a sombra de uma árvore grande e liguei para Giulia.

— Ei, Gi! Preciso de você! — Minha voz tremia.

— Lizz, onde você tá? — A calma dela foi um alívio.

— Na praça onde a gente costuma se encontrar.

— Tô indo! E não esquece de guardar um lugar pra mim, viu? — ela brincou, me fazendo sorrir.

Desliguei e guardei o celular, enquanto o tempo parecia passar rápido. Respirei fundo, tentando aproveitar a tranquilidade. Peguei a câmera do meu pai e comecei a tirar fotos das pessoas ao meu redor: casais rindo, crianças correndo. A alegria deles era como um bálsamo.

Giulia chegou com dois cafés, sorrindo como se iluminasse o dia nublado. Ela se sentou ao meu lado e o aroma do café se misturou ao perfume das flores.

— O que rolou? — Ela me olhou com as sobrancelhas franzidas.

— Ah, você não vai acreditar... — Suspirei, tentando encontrar as palavras. — Vi o Jonas.

— E o que ele aprontou dessa vez? — A curiosidade dela quase pulava.

— Ele foi contratado na empresa... E ele é a nova namorada dele. Eu pensei que tinha deixado tudo pra trás, mas ele só me provocou, como se o tempo não tivesse passado.

Giulia pegou minhas mãos, com os dedos firmes, mas delicados.

— Encontrar alguém do passado é como ouvir uma música velha que você não queria ouvir. Sempre traz lembranças. Você precisa ser forte.

— É verdade. Preciso focar em mim. — Olhei para as árvores.

— Isso mesmo! E quem precisa de rancor quando se tem café quente e boas amigas? — Ela riu, apertando minhas mãos. — Você merece uma nova chance, Eliza. E eu tô aqui, mesmo que eu tenha que me vestir de super-heroína!

Ri, sentindo o peso começar a se dissipar. Sabia que, com Giulia ao meu lado, poderia enfrentar qualquer coisa. Nos despedimos com um sorriso e comecei a caminhar, sentindo uma nova leveza após nossa conversa. Um nó na garganta se desfez, e a escuridão se abriu para um céu azul. Era como se um fardo tivesse saído dos meus ombros.

Enquanto caminhava, o som familiar do meu celular me fez parar. Olhei a tela e vi que era Matheus. Um misto de alívio e ansiedade tomou conta de mim.

"Onde você tá, Lizz? Vim te buscar e tô aqui há horas! Me avisa, tô preocupado."

Um frio percorreu minha espinha. Como pude esquecer que ele vinha me buscar? A ideia de deixá-lo esperando me deixou inquieta. Digitei uma resposta rápida, me desculpando por estar enrolando.

Enquanto enviava a mensagem, a preocupação por Matheus se misturava com as lembranças de Jonas. Respirei fundo, tentando me acalmar.

Minutos depois, meu celular vibrou de novo. Era Matheus respondendo.

“Tudo certo, Lizz! Só queria saber se você tá bem. Tô indo te encontrar.”

Sorrindo ao ler suas palavras, senti um calor no peito. A preocupação dele era um alívio em meio ao meu turbilhão. Eu realmente precisava dele ali.

Esperando, a brisa leve da praça trouxe um pouco de calma. O lugar parecia mais acolhedor, como se estivesse se preparando para a chegada de Matheus. Quando o vi se aproximando, seu sorriso iluminou o dia.

— Lizz, você me deixou preocupado! Achei que tinha acontecido alguma coisa — disse ele, me abraçando.

Me afastei um pouco para olhar nos olhos dele, buscando as palavras certas.

— Desculpa, Matheus. A entrevista foi boa, mas algumas coisas inesperadas aconteceram. Precisei encontrar a Giulia pra desabafar.

— E o que houve? — Ele me olhou, a preocupação ainda visível nos olhos dele.

Suspirei. Era hora de compartilhar o que havia acontecido.

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