Capítulo 2

Capítulo 2

- O de sempre. - O rapaz mais velho pede.

Era quase um ritual ir ao pub todo dourado e preto, revestido de espelhos e bancos madeirados, ordenados em um espaço oval. Às vezes, para Tayler, era entediante vir no mesmo lugar, mas a energia contrária ao seu caos interior, sempre o trazia de volta. Hoje, em especial, estava ocupado demais para pensar nisso. Uma garota de cabelo negro, liso e curto até o ombro, da qual ele nunca tinha visto por ali, desajeitadamente tentava fazer um drink. Quando ela percebe seus olhares e evita, observar atentamente o seu desespero estava começando a ser divertido, até tinha feito um pouco da vontade de socar alguém se esvair. Antony por sua vez, permanecia em silêncio porque sabia que sua companhia bastava.

Aos poucos, várias doses descem rasgando por sua garganta, mas nem o torpor do álcool era capaz de desinteressá-lo por cada passo que a garota dava. O ar misterioso instigava todos os seus sentidos, sensação essa que ele não sentia há muito tempo. Seu celular apita cobrando pelo patrocínio que tinha sido esquecido com aquela bagunça.

- Antony, volte para casa, eu preciso que pague pelo patrocínio do evento de arte, se encerrará em uma hora.

- Certo, quer que eu volte para o buscar?

- Não! Eu peço um táxi.

- Tudo bem, tente não criar uma confusão e qualquer coisa me ligue.

Ele não tinha a menor pretensão de fazer o contrário, mas as coisas mudaram. Um garoto, também barman, com alguns músculos, chega e começa a tocá-la, enquanto a garota tenta lhe dizer que não é o momento adequado, segundo a leitura labial que ele fizera.

- É melhor soltá-la, ou eu me encarregarei de que não saia daqui sem um olho roxo.

A jovem, que agora ficava visível os óculos, as olheiras e as roupas gastas, lhe encara pela primeira vez, mas logo volta a atenção para o homem ao seu lado.

- Quem é você?! - Segura um dos colarinhos da camiseta de Tayler. - Por que não volta a beber e nos deixe em paz?

- Nós somos namorados. - Crava os olhos nos de Tayler. - Tenho certeza que o Tristan entendeu que precisa parar, não é? - Ele não responde e ela aperta seu pulso para que se acalme. - Não é, Tristan? - Repete.

- Sim.

Antes que suas mãos libertem o tecido, Tayler segura fortemente seu pulso e torce, se alegrando com os gemidos do homem, implorando que o solte.

- É melhor que tenha realmente entendido, seu filho da puta.

A olhando uma última vez, ele faz questão de gravar a cor castanho-claro de seus olhos na mente para nunca esquecer daquela sensação, soltando o rapaz em seguida.

Por mais que quisesse ir embora, ele se pegou secretamente torcendo para que tivesse mais um motivo para quebrar a cara daquele sujeito. Tayler ficou de canto até o fim do expediente da moça, mas nada aconteceu. Quando ele a viu de macacão sair pela porta, decidiu ser hora de voltar para casa e esquecer de uma vez por todas aquela pequena obsessão.

- Por que está me vigiando? - Pergunta encostada na parede do lado de fora, quase o assustando na escuridão.

Involuntariamente, Tayler passeia por seu corpo pequeno e curvilíneo, parecendo até um pouco frágil demais. Talvez, pelo efeito do álcool, sua mente começa imaginá-la nua, longe de toda aquela camada de roupas.

- É interessante ver o quanto consegue ser desajeitada e sem técnica nenhuma, eu me pergunto porque a contrataram.

- Alguém já lhe disse o quanto é arrogante? - Fala alterando o tom de voz, um pouco irritada.

- Não, normalmente ninguém tem tanta coragem assim.

- Sempre tem a primeira vez, então.

Ele encurta a distância admirando sua petulância, gostava disso e queria descobrir até onde poderia ir sem a intimidar.

- Você já deveria saber que não se pode brincar com fogo - afasta uma mecha de seu cabelo e sussurra - é perigoso se queimar.

Sem esperar que se afaste, ela empurra seu corpo para trás e vai em direção ao carro, um Ford Hudson com a tinta desbotada e vários riscos nas laterais. Tayler não desgruda os olhos, coloca as mãos no bolso e assiste suas várias tentativas até fazer o motor funcionar, contendo um sorriso de satisfação.

Rapidamente ele acena para um táxi, que prontamente o atende.

~x~

Megan Reese acreditava que tinha se saído bem para um primeiro dia de serviço que seu namorado arranjou, ela estava se esforçando para nada dar errado, pelo menos daquela vez, embora seu lugar fosse mesmo com os computadores e livros. Sabia que não tinha sido nada impecável, mas enquanto voltava para casa se questionava quem aquele cara pensava que era para a insultar tanto.

O carro velho, comprado em uma liquidação, quebrava um bom galho para ela que não podia ter nada melhor, já que o pouco de grana que conseguia dava apenas para pagar a reabilitação de seu pai viciado em jogos de azar.

Daner Reese, carregava a culpa pela situação financeira ruim, devido ao gasto desnecessário da reserva que sua esposa tinha deixado antes de falecer por uma severa depressão.

A pequena cabana de madeira estava com a porta aberta, Megan torcia em silêncio para que apenas tivesse esquecido de a trancar ao invés de não passar de mais uma das cobranças de dívida do pai. A verdade é que ela perderá muita coisa por isso e seria ingenuidade de sua parte acreditar que consegueria sair ilesa dessa vez.

Pensa rapidamente e decide discar para Tristan que desliga em sua cara, como sempre fazia quando estava com raiva. Os dois começaram a namorar há 3 meses quando se esbarraram na rua e ele guardou sua carteira que caíra no chão sem perceber. Ela decidira que o pai não precisava saber sobre essa relação, afinal não sabia quase nada sobre ele e constantemente se pegava fugindo para não lhe entregar seu corpo e consequentemente a virgindade que ainda lhe restava. A garota percebia como ele podia ser grosseiro além do necessário quando queria e insistente também, por isso deixava as coisas rolarem sem nem ter a certeza de gostar dele, porque amor era uma coisa que ela não costumava ter, então não fazia tanta diferença, pelo menos era o que achava. Seu subconsciente dizia que não queria continuar essa relação, mas a vontade de evitar mais um desgaste emocional a paralisava. Tomar conta de seu pai, enquanto deveria ser o contrário, já consumia muito de sua energia.

A única luz que possuía, estava apagada e a menina não conseguia ver nada. O medo tomava conta de seu corpo, causando tremor nas mãos ao apertar o interruptor. Não tinha ninguém, mas tudo o que restara das outras invasões estava revirado e quebrado. Megan sente a vontade de chorar entalada em sua garganta, pensando o que faria agora. O desânimo não permite que a garota perceba o Fiat Fiorino lentamente encostar ao lado do seu Ford Hudson.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo