Capítulo 1
Tayler Costello estava inquieto essa madrugada. Embora a cama fosse das mais confortáveis, não era assim que se sentia, afinal mais um de seus frequentes pesadelos ousavam o atingir como pedra. Ele não costumava se deixar abater enquanto acordado, permanecia sempre ocupado para esquecer a culpa e o vazio que carregava dentro de si. Então, acreditava que seu corpo se beneficiava com o descanso para lhe pregar uma peça. Não que isso fosse injusto, na verdade, pensava o oposto, só que era exaustivo demais.
Depois de muito girar sobre os lençóis, ele acorda atordoado, as cenas de seu melhor amigo com inúmeras queimaduras sobre a cama do hospital passam rapidamente pela sua memória. "Está tudo bem, Tayler, eu sempre estarei com você. Por favor, cuide do meu pai", foram seus últimos pedidos e Tayler sempre fez questão de cumprir, mesmo que Clince tivesse partido antes de escutar isso de sua boca, levando consigo uma boa parte daquilo que um dia Tayler realmente fora.Como se algo doesse fisicamente, ele decide levantar e se trocar, sacando o fone e os tênis de corrida. Ainda estava escuro, faltava pouco para amanhecer, mas não importava, porque a brisa do vento contra seu rosto o trazia alívio. A cada passo seu corpo acelerou mais o ritmo, até perceber o quão longe estava de casa. Quando para, mal consegue sentir o calor do sol daquela manhã, porque seu celular toca.- Tyler, você já olhou algum jornal hoje? - A voz de seu braço direito ecoa.- Antony, vá direto ao ponto - confere impacientemente o relógio de pulso, que marca sete da manhã.- Seu nome está em todas as capas, uma mulher concedeu entrevista afirmando esperar um filho seu. Ela parece convicta, o nome é...- Não importa, encontre-a e descubra se isso é verdade. Se essa filha da puta estiver mentindo, faça um inferno em sua vida até ela não ter opção de escolha e implorar por perdão publicamente.- Tay... - O homem ainda tenta, mas antes que termine a frase, o botão de desligar é acionado.Costello, como alguns costumavam o chamar, não era sempre tão impiedoso, ele dedicava uma pequena parte da sua fortuna para ONGs de causas sociais, e assim se sentia redimido por destruir quem tentava o prejudicar. Lentamente, ele retira sua camiseta, exibindo o corpo em boa forma, e amenizando o ar abafado que começava a surgir na cidade de Conthe. Pendura a peça em seu ombro e retorna pelo mesmo caminho, recebendo alguns olhares curiosos que cessam quando avista seu enorme prédio, onde possuía uma suíte especial.Por sorte, quando adentra seu apartamento, Antony, que também era seu mordomo e morava ali, já havia saído para resolver o problema, fazendo Tayler se sentir menos irritado. Avança para a cozinha e rouba alguns petiscos da mesa elegantemente posta, subindo em seguida para um banho demorado. No armário, a camiseta preta parece ser a única opção de escolha, já que odiava cores.- Bom dia, senhor Tayler. - A secretária Candela, gentilmente cumprimenta, recebendo apenas o silêncio em troca.A sala decorada em tons monocromáticos está cheirando a lavanda, mas ele nem mesmo percebe, está apenas concentrado em digitar no computador e se certificar de que a Wealth Bank seria a grande patrocinadora da exposição de quadros de Reven, um artista aclamado e valioso, alvo de ricos desejosos por suas obras. Tyler sabia que não precisava de nenhum esforço para conquistar o seu público alvo, considerando que esse era o banco de quase todas as celebridades, entretanto, ainda assim gostava de manter o nome da empresa em alta, mostrando seu poder.
Algumas batidas na porta, interrompem seu momento de paz e sem tirar os olhos do aparelho, esbraveja que quem quer que seja, entre.- Com licença, senhor. Seu pai está na sala de reuniões. - Candela avisa, temendo sua reação.- Mande embora.- Me desculpe senhor, ele está com os membros da diretoria.- Saia. - Ordena ferozmente.Seu pai, John, era visto como um homem pacífico, e muito honesto, mas, embora todas as suas qualidades, Tayler odiava a forma com que opinava sobre sua vida amorosa, já que se sentia muito bem evitando qualquer tipo de contato que não fosse físico. John raramente visitava a empresa e quando isso acontecia aproveitava para arrastar seu filho para um b**e-papo cheio de interrogatórios, que o garoto considerava perda de tempo. Diferente dos outros dias, hoje mais pessoas estavam envolvidas nessa conversa, despertando seu lado sensitivo de que boas coisas não podiam vir, principalmente depois das notícias espalhadas pelos jornais.- Meu amor, como você está? - A mãe, Diana, uma mulher que aparenta ser mais jovem do que realmente é, o espera próximo ao ambiente repleto de homens com terno. - Faz um bom tempo que não nos visita.- O que ele quer? - Pergunta esfregando as têmporas que a essa altura começava a doer, e assim, também evitando as tentativas de aproximação da mulher.- Você sabe... Aquela notícia é demais até para mim, tenha paciência, seu pai só está preocupado com a sua imagem.- Ainda bem que está aqui! - Antony surge, aliviado.- Venha comigo! - Ordena.- Não me diga que se meteu em outra confusão.- É só mais uma das tentativas do meu pai em me controlar e eu preciso de você.Com passos largos, eles chegam rapidamente, querendo adiantar qualquer sermão ou ideia idiota.- Tayler, filho. Sente-se! - O homem aponta para a cadeira, a sua frente, expressivamente desapontado. - Acredito que seja de conhecimento geral o escândalo da manhã.- Desculpe senhor Costello, mas esse assunto já foi resolvido. - Antony revela em um ato de coragem. - São declarações falsas e logo tudo será esclarecido na mídia.
No fundo, de seu frio coração, o jovem de 27 anos se sentia acolhido pelo senhor que beirava aos 50 e sempre se dedicava a limpar suas bagunças e o defender, ignorando que se Tyler tivesse feito a manutenção do carro, seu filho provavelmente estaria vivo. Ainda que não se sentisse merecedor de tanta compaixão, era algo que lhe restara e constantemente ele se pegava associando o homem ao seu melhor amigo, duvidando se era por ele ser muito parecido com Clince ou porque ele não o odiava independente de qualquer coisa.- Compreendo senhor Viegas, mas lamento não ser um caso isolado, todos nós sabemos como meu filho tem se metido em algumas polêmicas por conta de seus vários casos amorosos - olha atentamente para Tyler - por isso, eu pedi que os administradores e advogados da família estivessem presentes para anunciar a minha nova decisão.Suas mãos estendem alguns papéis e o menino passeia os olhos negros minuciosamente, cerrando os punhos.- Casar?! Você só pode estar brincando!- Não, não é nenhum tipo de brincadeira. Como está escrito, você terá que se casar. Eu sei como tem se dedicado a essa empresa, que faz o seu trabalho de forma brilhante filho, então se sobreviver ao casamento por um ano, a Wealth Bank será sua imediatamente. Caso contrário, ou se recusar, eu voltarei a presidência e terá que esperar para ser meu sucessor quando morrer.O preto dos olhos de Tyler parecia bem mais sombria agora, era como se finalmente alguém tivesse tocado em seu ponto mais fraco. Controlando qualquer impulso de proferir todos os tipos de palavrões, ele rasga a folha em vários pedaços.- Já pode ir se preparando, porque eu nunca vou aceitar essa porcaria! - Quase grita.- Eu já imaginava essa reação, por isso trouxe uma cópia que ficará com Antony caso mude de ideia. Pense bem, você tem até o fim do mês.Fuzilando todos que ousavam lhe encarar, volta para sua sala perdendo o juízo. Sem pensar muito, soca a mesa de centro, passando as mãos pelo cabelo preto que sempre estavam bagunçados.- Eu não deixarei que tome essa decisão de cabeça quente, Tayler. Arrume suas coisas e vamos beber, como sempre fazemos quando precisa relaxar. - Antony pronuncia.Mesmo sem perceber em qual momento o único homem a qual confiava havia chegado, ele não protesta e simplesmente o acompanha.Capítulo 2 - O de sempre. - O rapaz mais velho pede. Era quase um ritual ir ao pub todo dourado e preto, revestido de espelhos e bancos madeirados, ordenados em um espaço oval. Às vezes, para Tayler, era entediante vir no mesmo lugar, mas a energia contrária ao seu caos interior, sempre o trazia de volta. Hoje, em especial, estava ocupado demais para pensar nisso. Uma garota de cabelo negro, liso e curto até o ombro, da qual ele nunca tinha visto por ali, desajeitadamente tentava fazer um drink. Quando ela percebe seus olhares e evita, observar atentamente o seu desespero estava começando a ser divertido, até tinha feito um pouco da vontade de socar alguém se esvair. Antony por sua vez, permanecia em silêncio porque sabia que sua companhia bastava. Aos poucos, várias doses descem rasgando por sua garganta, mas nem o torpor do álcool era capaz de desinteressá-lo por cada passo que a garota dava. O ar misterioso instigava todos os seus sentidos, sensação essa que ele não sentia há mui
- Feliz pela visita? - dois homens encapuzados a seguram por trás antes que ela possa correr. - Nós viemos cobrar a dívida daquele velho idiota. - O outro comenta com uma voz divertida. - Não se refira ao meu pai assim. - Megan protesta, sentindo os braços começarem a doer pela força exercida. - Cala a boca. - sente o cano da arma ser apontado no lado direto da cabeça. - Agora você só ouve e obedece, se não ficaremos satisfeitos em acabar com você. - Vocês já reviraram tudo, o que mais querem? - O chefe quer que faça um serviço, e assim nós a deixaremos em paz, por enquanto... - Garanto que nada do que faço irá o interessar. - Não é o que ele acha. - pressiona a pistola ainda mais. - Você realmente não imaginou que facilmente alguém poderia descobrir o que faz pela manhã? A resposta era não, ela realmente não imaginava que seus momentos de hacker seria tão perceptível assim. Megan amava programação e tinha um bom conhecimento graças a sua mãe que a ensinava. Todas as manhãs Meg
- Eu preciso que entregue isso para o senhor Costello. - estende o pequeno computador, após perceber que não havia câmeras por ali. - Tudo bem, quer que diga alguma coisa? - Não, mas não conte quem eu sou. Olhando torto, o homem balança a cabeça concordando e depois de alguns segundos Megan estende um papel escrito "Em breve tudo estará funcionando normal. Alguém está empenhado em te destruir, deveria ser menos arrogante." pedindo que lhe entregue também. Sem olhar para trás, arranca o carro na direção oposta, se certificando de que só o porteiro tivesse a visto. ~X~ No dia anterior, antes de Tayler descobrir a perda milionária causada pelo sistema bloqueado, ele estava sentado em sua mesa sem conseguir se concentrar. Sentia os pensamentos em outro lugar, mais precisamente naquela garota cujo perfume tinha ficado em sua camiseta, mesmo após lavar. Não tinha percebido até aquele momento o quanto estava gastando tempo demais pensando em uma mulher que só vira uma vez, já que nas n
O Apartamento de Tayler era grande e luxuoso demais para o gosto de Megan. Timidamente, ela sentou sobre o sofá e esperou que dissesse o que precisava fazer para sair de lá o mais rápido possível, só que tudo o que ele fez foi se enfiar no escritório e a deixar esperando, ordenando que não saísse dali. Megan não costumava seguir ordens e agora não seria diferente, então quando o tédio tomou conta de seu corpo ela começou a perambular pelos ambientes. Os quadros nas paredes tinham um toque sombrio, como se o autor estivesse mostrando toda a sua dor através da arte. Todos os artigos eram minimalistas e sem muita vida, vagarosamente ela toca sobre os objetos temendo quebrar alguma coisa que custasse seu rim. A escada que levava até o segundo andar era toda preta com detalhes em dourado. Megan esperou mais alguns minutos na expectativa de Tayler aparecer por ali, indo para a parte superior quando percebeu que continuaria sozinha por um bom tempo. O corredor era extenso e tinha várias port
No dia seguinte, quando Megan acordou, o papel e a caneta estavam prontos para serem assinados, ela conferiu tudo e rabiscou seu nome nos espaços em branco. Na parte de baixo, Antony estava terminando de colocar o café na mesa. - Você deve ser o Antony. - diz entregando o contrato e sentando em uma das cadeiras, dispensando a cordialidade dele em tentar afastar o acento para ela. - Sim, sou eu mesmo. A sua disposição senhorita Megan. - Deixe disso. Pode me chamar só de Megan, eu não sou prepotente como o Tayler. - Oh! - solta uma risadinha. - Ele só é um pouco difícil de lidar, mas com o tempo verá que é uma boa pessoa. - Eu duvido bastante. Ele ainda está dormindo? - Não, imagine. Tayler se deixar madruga naquela empresa, nunca vi ninguém amar tanto um negócio. - Melhor assim, não iremos nos encontrar tanto. Quando podemos ir ver meu pai. - Assim que tomarmos café. De lá vamos levá-lo a clínica. - Tudo bem. - Antony, será que podemos passar em casa? Eu preciso pegar o meu ca
- Posso fazer isso sozinha. - Levanta rápido, ajeitando o macacão. - O vestido que comprou para hoje é horrível. - fala despretensioso, antes dela fugir para a suíte. - Mexeu nas minhas coisas? - Não precisei, o Antony fez questão de me avisar. - Ele concordou, eu achei que estava bom. - A caixa com o vestido que irá usar está em cima da sua cama, tem dois tamanhos, já que eu não fazia ideia de qual era o seu. Esteja pronta às sete. - E o meu carro? - Já está com ele. - Não se faça de sonso, Tayler! Antony me disse ser temporário. - Ele mentiu, tem receio de suas histerias. Você pode comprar outro se quiser, apliquei o dinheiro da venda em um banco com seu nome. - Eu não suporto você! - grita, batendo o pé para o segundo andar. ~X~ A casa de Diana e John Costello era na verdade uma mansão aos olhos de Megan. Na entrada, vários paparazzi esperavam afoitos pela declaração que fariam mais tarde. No subconsciente, Megan agradecia o fato de não precisar sair do carro e passar ve
Sentado em frente ao caos que restara do cassino Ballagio, Tristan Santiago segurava uma bolsa de gelo contra os machucados que conseguira receber de Tayler no pub, se odiando por não revidar. As notícias sobre ele eram ridículas, mas pelo menos serviam para aumentar a vontade de ver o empresário morto. Enquanto tamborila os dedos na mesa, decide que estava na hora de recuar e deixar Tayler, e principalmente seus pais, acreditarem que tinham saído vencendo, para que depois o sabor da derrota fosse mais amargo. Os homens de Tayler ainda sondavam seus comparças para tentar extrair qualquer nova informação, mas Tristan já tinha se precavido caso isso acontecesse, nada se ligaria a ele e todos estavam ameaçados e muito bem pagos para não abrir o bico. Ele olhava o celular com a foto de sua mãe entorpecido, querendo sentir qualquer coisa além de raiva da família Costello. Ao crescer, Tristan virara um assassino, seja para cobrar ou conseguir aquilo que queria, e nada disso, nem mesmo obser
O vestido branco, de manga comprida e saia rodada, estava deslumbrante em Megan. Ela havia escolhido com a ajuda do pai e se sentia uma verdadeira princesa. Tayler queria fazer apenas os trâmites das papeladas sem igreja e festa, mas depois de muita discussão, os dois conseguiram entrar em um consenso de uma cerimônia pequena apenas para os familiares e um ou dois jornalistas, para parecer algo real.Depois de um atraso considerável, seguindo os costumes da noiva em um casamento, a música começou a tocar e as portas da capela se abriram para ela e Dener irem até o altar. Tudo o que conseguiu reparar é que Tayler usava o terno preto, embora nas poucas vezes que se esbarraram - graças apenas à megan- ele dava sempre um jeito de demonstrar sua insatisfação com isso. Tayler estava lindo como sempre e ela não conseguia tirar os olhos, lembrando da tatuagem que vira em seu peito esquerdo quando o encontrou sem camiseta no escritório. O desenho ia até o ombro e pegava um pouco do braço, entã