capítulo 2

Henrique

Eu gostava de trabalhar. Mantinha minha mente focada e funcionando. Sentimentos são complicados, por isso sempre tentei a todo custo me manter distante.

Foi por isso que minha noiva me deixou. Não que eu não gostasse dela, mas Anastácia era uma mulher muito sentimental e pegajosa.

Eu adorava a sua classe e inteligência, porém, tinha as minhas manias e preferia ficar só.

Muitos diziam que eu era frio e arrogante e, na verdade, sou. Acredito que vários fatores ocorreram na minha vida para que eu tivesse me tornado isso.

No passado eu era mais aberto e compreensivo, mas tudo mudou quando a mulher que eu amava jogou na minha cara que não era isso que ela queria.

Depois de uma tragédia em minha família, pensei que era melhor mudar de atitude e me preservar mais.

Foquei-me mais no trabalho e esqueci o resto. Quando pedi a mão de Anastásia em casamento, não queria amor, queria uma esposa e filhos.

Entretanto, acredito que não deixei isso bem claro e a mulher começou a exigir coisas. Se ela não tivesse terminado, quem teria feito isso seria eu.

Não desejava viver a minha vida, muito corrida, ao lado de alguém que me exigisse tanto.

Isso poderia me tornar alguém frio e solitário, mas não queria viver de mentiras.

Eu não sabia se algum dia algo me faria mudar, mas pretendo achar alguém que me dê um herdeiro. Não sou filho único, mas meu irmão não gosta de arquitetura como eu. Sentia a necessidade de fazer o melhor por essa empresa, e criar meu substituto era uma dessas coisas.

Voltando ao trabalho, eu ainda tinha que me preocupar com a nossa nova contratação. A empresa precisava de uma paisagista, e essa pessoa seria uma assistente para mim, trabalhando em meus projetos.

Gosto de saber e controlar tudo ao meu redor, às vezes, as pessoas consideram isso como arrogância minha. Para se ter sucesso, tudo tem que estar organizado e tranquilo. Se o local de trabalho não for assim, não trará benefício algum.

— Quem será responsável pelas entrevistas? — Perguntei a mulher de cabelos curtos assustada que estava a minha frente, segurando uma pilha de papel.

Ela pensou por alguns minutos antes de responder. Essa era a coisa que mais odiava na Judi, minha secretária. Quando eu fazia uma pergunta, gostava de ser respondido logo, tempo era muito precioso para mim.

— Serena. — Finalmente respondeu.

— Ok. — Falei voltando a prestar atenção nos documentos a minha frente. — Diga a Serena que quero a melhor e a mais responsável de todas.

***

Assim que cheguei em casa, coloquei um pouco de bebida no copo e tomei. Como sempre, cheguei bem tarde.

Minha família sempre reclamava sobre a minha rotina de trabalho, porém, fazia o que gostava e isso não me incomodava nem me cansava.

Tenho poucos amigos e os conheço desde a infância, no entanto, não saímos muito, confesso que era minha culpa, pois sempre afastei todos de perto de mim.

Eles vivem reclamando sobre esse meu comportamento, mas não me incomodo com isso.

Sempre que estou a fim de sair com algumas pessoas para beber ou jantar, era eu que os convidava, porém, eram raros esses momentos.

Meu celular tocou em cima do sofá e já ao longe vi que era a minha mãe. Desde que   Anastácia e eu terminamos, a mulher vivia me importunando.

Catarina Vilella sempre desejou que eu me casasse com uma mulher fina, linda e delicada. Sempre que tinha a oportunidade, ela arrumava maneiras de jogar algumas das filhas de suas amigas para cima de mim. Foi assim com Anastácia Alencar, entretanto, não tomarei decisões erradas novamente.

— Mãe. — Falei ao atender o telefone.

Eu já estava cansado e conversar com a minha mãe iria acabar com o resto da minha paciência do dia.

— Querido, como você está? — Perguntou começando a buscar pistas sobre meu humor.

Se eu não a conhecesse, diria que essa era uma reação normal de uma mãe para com o seu filho, no entanto, sei que Catarina estava aprontando algo.

— Bem… por enquanto. — Respondi bebendo o último gole e passando a mão pela minha têmpora. — O que deseja desta vez, mãe?

— Ah, Henrique, até parece que não posso ligar para saber como está meu filho. — Reclamou fingindo estar ofendida. — Mas também queria lhe informar sobre um jantar beneficente.

Eu já adivinhava que poderia haver algo que ela iria me propor.

Jantares beneficentes serviam para dois propósitos: o primeiro, era para esbanjar dinheiro e dizer que os ricos eram benevolentes. O segundo motivo, era para que homens como eu, fossem apresentados a mulheres em busca de maridos.

— Sinto muito, mãe, mas estarei ocupado. — Falei rápido antes que ela continuasse.

— Henrique você tem…

— Quem sabe na próxima. — A cortei. — Amo você, boa noite.

Desliguei o celular antes que ela tentasse me convencer de mais coisas.

Não gosto de ser rude com ela. Sei que a mulher vivia muito deprimida devido ao meu pai, mas não suportava quando minha mãe tentava arranjar uma mulher para mim.

Já cometi esse erro e não pretendo repetir. Sei que já tenho 35 anos e que deveria me casar logo, porém, não queria que essa fosse a função da minha mãe.

Se pretendia arranjar alguém que ficaria ao meu lado para sempre e ser a mãe dos meus filhos, farei isso sozinho, pois sei exatamente o que quero.

***

Quando cheguei à empresa, todos estavam concentrados em seu trabalho e afazeres. Sei que só faziam isso quando estava por perto.

— Que bom que chegou, amigo, temos a reunião com o grupo que está planejando a revitalização dos hotéis no litoral. — Falou Roberto, me acompanhando até a sala de reuniões.

Nos conhecemos no colegial. Ele sempre foi um bom companheiro e muito inteligente. Durante o meu período mais difícil, foi ele que esteva ao meu lado.

Hoje trabalhamos juntos e fico feliz por isso, pois meu amigo era um dos mais criativos.

— Ótimo. — Falei procurando a minha secretária. — Judi! — A chamei em voz alta e todos se assustaram. — Venha!

A mulher minúscula correu em minha direção segurando o seu bloquinho de anotações.

Pedi um café e entramos na sala de reunião onde já estavam à nossa espera.

Uma loira alta com vestido branco que se ajustava ao seu corpo, sorriu ao me ver. Ela era responsável pelos hotéis que seriam reformados.

Assim que começamos, todos se animaram. Eleonor nos contou o que seu chefe desejava para a reforma. Além disso, seriam construídas novas áreas e depois disso, também teríamos que dar uma repaginada, transformando tudo em um local moderno e confortável.

Os hotéis não ficavam muito longe da capital e tinha o privilégio de ficar a poucos metros da praia, onde muitos turistas se hospedariam para a temporada de verão.

Programamos uma visita ao local, onde a mulher disse que o próprio proprietário dos hotéis iria nos receber e nos contar todos os detalhes sobre o que ele desejava. Eu esperava que até lá eu já tivesse a minha assistente, pois segundo Serena, achar a pessoa perfeita para o cargo seria difícil.

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