Henrique
Prezo por duas coisas quando estou trabalhando: concentração e dedicação, porém, já faz dois dias que minha mente estava distraída, e por quê? Pelo simples fato de ter esbarrado em uma mulher de cabelos escuros e olhos castanhos que tinha uma boca incrível e uma língua solta.
Não sei quem era ela ou o seu nome, no entanto, não consegui parar de pensar naquela ocasionalidade. Resolvi que já era hora de expulsar aquela estranha da minha cabeça e me concentrar no trabalho. Finalmente achamos uma pessoa que possa trabalhar comigo. Serena não disse muito sobre a mulher, só que ela era perfeita para o cargo, pois sua personalidade batia com a minha
— Ela começa amanhã, mas Henrique, não faça com que a mulher queira se demitir no mesmo dia, por favor. — Pediu com um sorrisinho no rosto. — Ela é bonita e inteligente. Tem desejo de crescer, e com certeza poderá resistir por um tempo ao seu lado.
Continuei desenhando o esboço do nosso último projeto enquanto a ouvia. Serena, apesar de ser uma ótima profissional, era muito tagarela. A conheci na faculdade e agora ela trabalhava para mim.
— Que bom, só espero não a odiar também. — Falei dando de ombros.
— Às vezes penso que você é um daqueles protótipos robóticos que se parece com ser humano, mas que não tem sentimentos. — Ela disse se levantando abruptamente, parecendo chateada.
— Se eu fosse, vocês estariam ferrados. — Brinquei e a ouvi rir.
— Olha, você tem senso de humor. — Ironizou antes de sair. — Mas falo sério quando digo que você tem que pegar mais leve com as pessoas.
Quando finalmente fiquei só, continuei o meu projeto, sempre amei fazer isso. Minha família estava no ramo de arquitetura há muito tempo, porém, isso nunca foi uma obrigação para mim, pois sempre gostei de desenhar e projetar coisas.
Já ganhei diversos prêmios no ramo, e quando meu pai quase arruinou a empresa, fui eu que assumi e fiz com que ela fosse reconhecida no país.
Devido a diversos fatores, meu pai e eu não tínhamos uma boa relação, mas sabia que ele estava satisfeito com o meu trabalho.
***
O dia não havia começado muito bem. Cheguei tarde, ontem. Mal consegui dormir e hoje perdi a hora. Isso nunca tinha acontecido.
Não tomei café antes de sair de casa. Sabia que encontraria um trânsito caótico, pois dirigir de Recife para Olinda não era tarefa fácil, já que as cidades não suportavam a quantidade de veículo nas ruas.
Fiquei mais tranquilo quando cheguei ao escritório, depois de passar quase uma eternidade no trânsito. Não queria falar com ninguém tão cedo, mas sabia que assim que colocasse os pés na empresa, os problemas apareceriam. Pedi um café forte a Judi que me seguia, batendo seus saltos no piso.
Antes de entrar na minha sala, parei no corredor em frente a sala da minha nova assistente. Sabia que ela começava hoje, e a silhueta perfeita que estava vendo, era bastante curioso. Apesar de estar em uma posição provocante, ela estava formal.
Algo naquela mulher de cabelos escuros me dava uma sensação estranha e familiar. Ela vestia uma saia preta e blusa branca solta. O movimento que fazia ao colocar os seus cabelos longos para trás, me deixou encantado.
Quando ouvi a voz da minha secretária, tive que voltar ao mundo real e caminhar para o meu escritório.
— É a sua nova assistente. O nome dela é Elisabete Medeiros, achei ela uma ótima pessoa. — Falou a mulher baixinha de cabelos cacheados.
Ainda pensava na silhueta sexy que havia visto, mas isso não mudou o meu humor. Sabia que até o fim do dia ficaria com dor de cabeça.
Depois que ela me serviu o café forte, pude enfim começar o meu dia. Pedi que ela mandasse a nova assistente entrar para começarmos a trabalhar. Sabia que eu não poderia assustar a bela jovem com o meu mau humor assim de cara, então respirei fundo e encostei-me na cadeira.
Recebi uma ligação e tive que atender. Enquanto falava ao telefone, vi o rosto conhecido entrar no meu escritório e tive que me concentrar para não surtar.
Dava para ver que ela também havia ficado surpresa. Continuei a minha ligação observando cada movimento da mulher que se sentou à minha frente, ainda tentando entender o que estava acontecendo. Assim que desliguei o telefone, nos observamos por um instante antes que eu começasse a falar.
— Claro, você seria a assistente perfeita para mim, não é? — Perguntei ironicamente.
— Acho que cometi um pecado muito bárbaro nas minhas vidas passadas. — Comentou a mulher.
Não sabia se era o destino ou só coincidência mesmo. Mas ter esta mulher como minha assistente era a forma do universo me punir por tudo que já fiz. Ela era linda e atraente, mas da última vez que nos encontramos foi muito mal-educada me culpando por esbarrar nela.
O pior era que a mulher não saiu da minha cabeça desde aquele dia e agora ela estava aqui, parada em minha frente e iria trabalhar comigo.
Elisabete Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida, quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas que até pensei que eu não seria selecionada. Graças a Deus obtive uma resposta positiva. Agora eu trabalharia em uma grande empresa e numa função maravilhosa no qual esperei tanto. A partir deste dia teria mais responsabilidade e não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar o meu objetivo. Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma chefe muito irritante, já estava preparada para tudo. Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou, Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e que odiava atrasos ou distrações, ma
Henrique Eu não queria acreditar que Serena havia feito isso comigo. Ela era uma mulher experiente e de minha confiança, eu só queria saber por que ela contrataria uma mulher sem experiência para trabalhar ao meu lado. As palavras de Elisabete ainda estavam pairando sobre a minha cabeça quando a minha amiga adentrou a sala me olhando com espanto. Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso negar que Elisabete era uma mulher determinada e com personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha, mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para mim. Entretanto, algo em seu olhar me fazia querer ficar com ela, mesmo estando muito chateado pela situação. A mulher me desafiava e já fazia muito tempo que eu não encont
Elisabete Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que realmente poderia ter nascido com a vida azarada. Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer desistir do meu sonho. Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento, Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando esta ocasião. Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e esbravejava com
ElisabeteEu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado, e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma satisfação inexplicável. Quando estava conversando com o Rodolfo, o dono da rede de hotéis, ele me contou sobre sua noiva que trabalhava ao seu lado na administração, e quando percebi quem ela era, uma raiva descomunal tomou posse de mim. Eu sempre fui focado nos estudos e era um dos melhores na faculdade, nunca namorei sério na vida até Amanda aparecer e roubar meu coração. Achei que ela me amava, apesar das suas exigências e chiliques. Eu fazia tudo que ela queria, era como um cachorrinho, no entanto, um dia ela terminou comigo sem me dar muitas explicações, apenas disse que eu não era o que ela desejava. Não tive uma infância muito
Elisabete Em um único mês fui demitida, corneada e ganhei o status de namorada de mentira do meu novo chefe. Posso saber um pouco mais o porquê Henrique estava fazendo isso, mas ele ainda era um arrogante, e mesmo se esforçando para melhorar comigo, eu ainda tinha que suportar suas mudanças de humor. Está certo que o homem era lindo de morrer, no entanto, era como um robô de última geração que não tinha sentimentos. A não ser a raiva, claro. Agora, tínhamos que ir a um noivado da sua ex, e ainda tínhamos que fingir que estávamos apaixonados. Henrique me trouxe a uma das lojas de vestidos de luxo mais caros da cidade e eu não sabia como me comportar em um lugar assim. Não sei o porquê tanto exagero para ir a um noivado que ele odiaria, porém, acho que era só para provocar a ira da sua ex. confesso que se fosse eu, faria o mesmo. — Henrique, esse já é o sexto, acho que já basta! Você tem que escolher um. — Falei bufan
Henrique Eu realmente estava tentando entender o que se passava na cabeça de Elisabete Medeiros. Decidimos pegar leve e nos tratar com cordialidade, mas agora ela parecia estar estranha e esquecido do nosso acordo. A mulher estava linda no vestido vermelho que escolhi. Quando me pediu para escolher o vestido que usaria não pensei muito, odiava compras ou ter que esperar, mas quando toquei no tecido macio de cor vermelho eu sabia que era o escolhido. Ela realmente estava linda. Nunca havia imaginado que ficaria admirado com a beleza de alguém, porém, Elisa estava me surpreendendo. Não sou de demostrar o que penso ou sinto, mas senti o desejo de elogia-la, no entanto, a mulher não me deu bola, simplesmente me ignorou e entrou no carro. Eu também estava tentando entender o porquê de ter que aceitar o convite de Amanda para comparecer ao seu noivado idiota, já que não tínhamos uma boa relação. A suportava enquanto estávamos no mesmo ambien
Elisabete Desde que conheci Henrique, tentei imaginar o que poderia ter acontecido para que um homem como ele, que tem tudo, poderia se tornar alguém tão odiável e agora eu sabia. Claro que ele não deveria deixar que uma mulher o mudasse tanto, ao ponto de se tornar uma pessoa tão amarga e arrogante, mas era compreensível quando se pensava que ele a amava e ela o fez pensar que o seu modo de ser era horrível, o que não é verdade. Acredito que ser tão distante das pessoas seja um modo de defesa dele, para que ninguém possa o magoar de novo, então ele decidiu que seria ele a magoar. Minha irmã diria que eu estava fantasiando ao pensar que eu poderia fazê-lo enxergar o contrário, mas pelo meu bem e o bem de todos, eu teria que tentar. Ouvi-lo falar sobre o seu relacionamento conturbado com Amanda me fez sentir compreensão e fiquei ainda mais chateada com a vadia. Por isso que quando a avistei sobre os ombros dele, se aproximando de nós, t
Elisabete Eu queria me bater por ter passado tempo demais pensando no beijo que dei no meu chefe ontem à noite. Depois que botei a cabeça no travesseiro, tudo passou novamente pela minha mente, alguns suspiros e sorrisos bobos abandonaram a minha boca. Nunca imaginei que o melhor beijo que já dei na vida seria com alguém que me fazia tanta raiva, mas tenho que confessar que nos últimos dias, Henrique estava sendo menos irritante. A forma como ele me defendeu ontem foi surpreendente, e isso lhe deu alguns pontos positivos. Não que eu apoie a violência, porém, Miguel procurou sarna para se coçar quando praticamente me chamou de vadia. Eu não fazia ideia de como ele descobriu sobre mim e o delicia do meu chefe, e hoje eu tentaria descobrir. Assim que levantei, fiz um café bem forte e comi algumas torradas. Mariana abriu um sorriso que ia de orelha a orelha quando passou por mim na cozinha e sentou-se à mesa. — Como foi sua noite