capítulo 4

Henrique

          Prezo por duas coisas quando estou trabalhando: concentração e dedicação, porém, já faz dois dias que minha mente estava distraída, e por quê? Pelo simples fato de ter esbarrado em uma mulher de cabelos escuros e olhos castanhos que tinha uma boca incrível e uma língua solta.

          Não sei quem era ela ou o seu nome, no entanto, não consegui parar de pensar naquela ocasionalidade. Resolvi que já era hora de expulsar aquela estranha da minha cabeça e me concentrar no trabalho. Finalmente achamos uma pessoa que possa trabalhar comigo. Serena não disse muito sobre a mulher, só que ela era perfeita para o cargo, pois sua personalidade batia com a minha

          — Ela começa amanhã, mas Henrique, não faça com que a mulher queira se demitir no mesmo dia, por favor. — Pediu com um sorrisinho no rosto. — Ela é bonita e inteligente. Tem desejo de crescer, e com certeza poderá resistir por um tempo ao seu lado.

          Continuei desenhando o esboço do nosso último projeto enquanto a ouvia. Serena, apesar de ser uma ótima profissional, era muito tagarela. A conheci na faculdade e agora ela trabalhava para mim.

          — Que bom, só espero não a odiar também. — Falei dando de ombros.

          — Às vezes penso que você é um daqueles protótipos robóticos que se parece com ser humano, mas que não tem sentimentos. — Ela disse se levantando abruptamente, parecendo chateada.

          — Se eu fosse, vocês estariam ferrados. — Brinquei e a ouvi rir.

          — Olha, você tem senso de humor. — Ironizou antes de sair. — Mas falo sério quando digo que você tem que pegar mais leve com as pessoas.

           Quando finalmente fiquei só, continuei o meu projeto, sempre amei fazer isso. Minha família estava no ramo de arquitetura há muito tempo, porém, isso nunca foi uma obrigação para mim, pois sempre gostei de desenhar e projetar coisas.

           Já ganhei diversos prêmios no ramo, e quando meu pai quase arruinou a empresa, fui eu que assumi e fiz com que ela fosse reconhecida no país.

          Devido a diversos fatores, meu pai e eu não tínhamos uma boa relação, mas sabia que ele estava satisfeito com o meu trabalho.

***

          O dia não havia começado muito bem. Cheguei tarde, ontem. Mal consegui dormir e hoje perdi a hora. Isso nunca tinha acontecido.

          Não tomei café antes de sair de casa. Sabia que encontraria um trânsito caótico, pois dirigir de Recife para Olinda não era tarefa fácil, já que as cidades não suportavam a quantidade de veículo nas ruas.

          Fiquei mais tranquilo quando cheguei ao escritório, depois de passar quase uma eternidade no trânsito. Não queria falar com ninguém tão cedo, mas sabia que assim que colocasse os pés na empresa, os problemas apareceriam. Pedi um café forte a Judi que me seguia, batendo seus saltos no piso.

          Antes de entrar na minha sala, parei no corredor em frente a sala da minha nova assistente. Sabia que ela começava hoje, e a silhueta perfeita que estava vendo, era bastante curioso. Apesar de estar em uma posição provocante, ela estava formal.

          Algo naquela mulher de cabelos escuros me dava uma sensação estranha e familiar. Ela vestia uma saia preta e blusa branca solta. O movimento que fazia ao colocar os seus cabelos longos para trás, me deixou encantado.

          Quando ouvi a voz da minha secretária, tive que voltar ao mundo real e caminhar para o meu escritório.

          — É a sua nova assistente. O nome dela é Elisabete Medeiros, achei ela uma ótima pessoa. — Falou a mulher baixinha de cabelos cacheados.

          Ainda pensava na silhueta sexy que havia visto, mas isso não mudou o meu humor. Sabia que até o fim do dia ficaria com dor de cabeça.

          Depois que ela me serviu o café forte, pude enfim começar o meu dia. Pedi que ela mandasse a nova assistente entrar para começarmos a trabalhar. Sabia que eu não poderia assustar a bela jovem com o meu mau humor assim de cara, então respirei fundo e encostei-me na cadeira.

          Recebi uma ligação e tive que atender. Enquanto falava ao telefone, vi o rosto conhecido entrar no meu escritório e tive que me concentrar para não surtar.

          Dava para ver que ela também havia ficado surpresa. Continuei a minha ligação observando cada movimento da mulher que se sentou à minha frente, ainda tentando entender o que estava acontecendo. Assim que desliguei o telefone, nos observamos por um instante antes que eu começasse a falar.

          — Claro, você seria a assistente perfeita para mim, não é? — Perguntei ironicamente.

          — Acho que cometi um pecado muito bárbaro nas minhas vidas passadas. — Comentou a mulher.

          Não sabia se era o destino ou só coincidência mesmo. Mas ter esta mulher como minha assistente era a forma do universo me punir por tudo que já fiz. Ela era linda e atraente, mas da última vez que nos encontramos foi muito mal-educada me culpando por esbarrar nela.

          O pior era que a mulher não saiu da minha cabeça desde aquele dia e agora ela estava aqui, parada em minha frente e iria trabalhar comigo.

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