capítulo 5

Elisabete

          Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida, quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas que até pensei que eu não seria selecionada.

          Graças a Deus obtive uma resposta positiva. Agora eu trabalharia em uma grande empresa e numa função maravilhosa no qual esperei tanto. A partir deste dia teria mais responsabilidade e não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar o meu objetivo.

          Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma chefe muito irritante, já estava preparada para tudo.

           Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou, Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e que odiava atrasos ou distrações, mas que não deixasse ele me amedrontar ou qualquer coisa do tipo.

          Judi era secretária de Henrique Vilella há um bom tempo, e ela também me alertou sobre ele. Eu já estava ansiosa e todas essas palavras me deixaram ainda mais pilhada. Não conhecia muito o senhor Vilella, porém, sabia que ele era um dos melhores no ramo e que já ganhou vários prêmios. Trabalhar ao seu lado me ajudaria muito a evoluir.

          Arrumei a minha nova sala e tentei me acalmar para a chegada do novo chefe.

          Eu já aguentei muito pepino da minha antiga chefe e odiaria trabalhar com alguém igual ou pior que ela. Acreditei que a maré de azar havia acabado, pois já tinha conquistado o meu objetivo, porém, pelo que estava ouvindo, parecia que meu novo chefe não seria fácil.

          Liguei para minha irmã contando a novidade e tudo o que as pessoas já haviam falado para mim. Ela me aconselhou a relaxar e respirar fundo, mas se o homem for grosseiro ou me humilhasse, que eu não baixasse a cabeça.  

          Não sei se eu teria coragem de enfrenta-lo, pois batalhei muito e demorou mais ainda para que eu conseguisse finalmente um trabalho na minha área e se o desrespeitar, logo no primeiro dia, com certeza eu não teria oportunidade em lugar nenhum.

           Quando a secretária me avisou que o senhor Vilella já havia chegado e que estava à minha espera, senti meu estômago embrulhar. Tive que respirar fundo várias vezes enquanto caminhava até o seu escritório, pois eu pensava que a qualquer momento poderia desmaiar.

           Entretanto, eu não estava preparada para o que encontrei assim que adentrei a sala. O homem arrogante de dias atrás que havia esbarrado em mim e foi muito grosseiro, falava ao telefone. Ele também ficou surpreso ao me ver e acabei acreditando que estava ferrada.

          As lembranças exatas daquele dia se voltaram a minha mente. Geralmente não sou tão rude, mas aquele homem despertou uma fúria dentro de mim que não consigo explicar.

          Sentei na cadeira a sua frente bastante preocupada. Eu não sabia se ele iria me dar a chance de provar o meu valor ou simplesmente me mandaria para o RH.

          Assim que ele terminou sua ligação, ficamos nos encarando por alguns segundos.    Era verdade que desde aquele dia eu não consegui o tirar da cabeça. Henrique Vilella era o homem mais lindo que já vira na vida, porém, sua personalidade era de um cavalo e não iria suportar conviver com este homem.

          Como antes, ele foi grosso e irônico, esse seu sorrisinho de canto fez com que eu quase me derretesse em sua frente. Questionei a mim mesma sobre o destino ou as forças do universo que sempre me colocavam nessas situações estranhas.

          — Serena podia muito bem ter escolhido alguém que não fosse tão desatenta quanto você. — Falou arrogante, me deixando levemente irritada. — Não dá para acreditar no que está acontecendo.

          — Sei que tivemos um início muito conturbado, mas acredito que podemos melhorar e trabalhar juntos, senhor Vilella. — Falei reprimindo a minha raiva e vontade de responde-lo a altura.

          — Você acredita? — Me questionou com o cenho franzido. — Eu aposto que não.

          — Por que é tão grosso com as pessoas? — O questionei, levantando-me, apoiando os meus braços sobre a sua mesa.

           Eu realmente estava furiosa. Poderia até o matar agora, mas decidi ser mais prudente e tentar me acalmar, mesmo que o homem tente a todo custo me fazer perder a cabeça.

          — Por que tem a língua tão solta? — Perguntou, também se levantando e me encarando bem de perto.

          Sua aproximação causou um efeito sobre mim muito estranho. Olhar em seus olhos verdes, assim, tão de perto, me fez sentir insegura.

          — Desculpe-me, mas não ficarei calada se o senhor quiser me tratar como uma qualquer. — Falei, sentando-me novamente. — Não devo o responder dessa forma, pois é meu chefe. Porém, o senhor também deve me respeitar.

           Ele cerrou os olhos e também se sentou. O homem juntou as mãos sobre a mesa e me avaliou por um instante. Eu quis novamente questioná-lo, entretanto, para que nossa convivência seja, pelo menos, suportável, tinha que renunciar algumas palavras.

          — Creio que já foram passadas algumas informações para você. Não quero atraso, não tolero condutas inapropriadas no local de trabalho e por favor, senhorita Medeiros, trate-me como seu chefe e não como um colega, muito menos, como um cara qualquer. — Falou desviando o olhar de mim.

          — Não se preocupe, sei de tudo isso. — Falei em um tom firme.

          — Em que empresa você trabalhou anteriormente?

          Sua pergunta fez o meu cérebro congelar. Se o homem já estava irritado por eu ser a sua nova assistente, imagine como ficaria quando descobrisse que não trabalhei na área de paisagismo nos últimos três anos.

          — Fui assistente de uma contadora. Sei que não é a área da arquitetura, mas acredite, sou capaz de trabalhar com o senhor. — Disse, tentando amenizar cada palavra que havia falado.

          Não sabia o que era pior: ter o arrogante gritando comigo ou em silêncio me observando como se me julgasse mentalmente.

          — Você não tem experiência na área, senhorita? — Perguntou com certa irritação.

Henrique tinha aquele típico olhar que fazia você querer um buraco para se enfiar. Eu estava nervosa e sabia que ele iria discutir por causa disso.

          — Estagiei por 6 meses quando ainda estudava na faculdade, e mesmo que eu tenha tentado diversas vezes encontrar algo em minha área, não consegui nada e tive que optar por arranjar um trabalho para pagar as contas. — Expliquei com o máximo de paciência e calmaria.

          Ele respirou fundo, fechando os olhos, analisando cada palavra que saiu da minha boca. Mesmo que eu não tenha conseguido emprego em arquitetura e ter trabalhado por três anos em outro ramo, isso não me desqualificava para este trabalho. Sempre me mantive antenada e nos meus momentos de folga adorava desenhar e imaginar projetos.   Claro que isso não era profissional, mas não tive culpa se não consegui nada.

          Alguém tinha que me dar uma oportunidade.

          — Serena, você pode vir ao meu escritório? — Falou ao pegar o telefone, parecendo bastante chateado.

         Meu coração parecia que ia parar a qualquer momento. Minhas emoções estavam a flor da pele e sentia um misto de ódio e tristeza.

          — Senhor Vilella, por favor, não fique chateado, sei que isso parece algo ruim, mas não tive culpa. Isso não me desqualifica para trabalhar com o senhor. — Falei quase entrando em desespero. Eu sabia que este homem frio e arrogante não iria ter pena de mim, porém, eu não poderia desistir após ter conseguido chegar até aqui. — Posso provar que sou capaz, só preciso de uma oportunidade e vou me esforçar ao máximo.

          — Não quero uma pessoa que não vai me acompanhar. Pensa que brinco quando entro nesse escritório? — Questiona-me rude. — Sinto muito por você não ter tido uma oportunidade antes, no entanto, preciso de alguém capaz e com preparo para trabalhar ao meu lado, senhorita Medeiros.

          — Eu sou capaz, e o senhor está sendo o mesmo frio e arrogante de sempre. — Levantei-me novamente, chateada. — Não pode me demitir sem antes me deixar provar que sou capaz. O senhor me trata mal desde o momento que botei os pés dentro desta empresa, e não pode esperar por uma só oportunidade para me julgar. Já trabalhei com uma pessoa que era o verdadeiro diabo para mim, mas o senhor vai além. Eu nem tenho palavras para descrevê-lo.

          Eu sabia que não poderia surtar e gritar com meu chefe. Ele estava a ponto de me demitir e eu estava dando o armamento para que ele pudesse fazer isso.

           Henrique se levantou e me encarou de perto, assim como antes. Ele também estava irritado e com razão. Mas ele não me respondeu.

          — O que está acontecendo aqui? — Questionou Serena ao entrar.

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