Elisabete
Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida, quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas que até pensei que eu não seria selecionada.
Graças a Deus obtive uma resposta positiva. Agora eu trabalharia em uma grande empresa e numa função maravilhosa no qual esperei tanto. A partir deste dia teria mais responsabilidade e não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar o meu objetivo.
Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma chefe muito irritante, já estava preparada para tudo.
Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou, Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e que odiava atrasos ou distrações, mas que não deixasse ele me amedrontar ou qualquer coisa do tipo.
Judi era secretária de Henrique Vilella há um bom tempo, e ela também me alertou sobre ele. Eu já estava ansiosa e todas essas palavras me deixaram ainda mais pilhada. Não conhecia muito o senhor Vilella, porém, sabia que ele era um dos melhores no ramo e que já ganhou vários prêmios. Trabalhar ao seu lado me ajudaria muito a evoluir.
Arrumei a minha nova sala e tentei me acalmar para a chegada do novo chefe.
Eu já aguentei muito pepino da minha antiga chefe e odiaria trabalhar com alguém igual ou pior que ela. Acreditei que a maré de azar havia acabado, pois já tinha conquistado o meu objetivo, porém, pelo que estava ouvindo, parecia que meu novo chefe não seria fácil.
Liguei para minha irmã contando a novidade e tudo o que as pessoas já haviam falado para mim. Ela me aconselhou a relaxar e respirar fundo, mas se o homem for grosseiro ou me humilhasse, que eu não baixasse a cabeça.
Não sei se eu teria coragem de enfrenta-lo, pois batalhei muito e demorou mais ainda para que eu conseguisse finalmente um trabalho na minha área e se o desrespeitar, logo no primeiro dia, com certeza eu não teria oportunidade em lugar nenhum.
Quando a secretária me avisou que o senhor Vilella já havia chegado e que estava à minha espera, senti meu estômago embrulhar. Tive que respirar fundo várias vezes enquanto caminhava até o seu escritório, pois eu pensava que a qualquer momento poderia desmaiar.
Entretanto, eu não estava preparada para o que encontrei assim que adentrei a sala. O homem arrogante de dias atrás que havia esbarrado em mim e foi muito grosseiro, falava ao telefone. Ele também ficou surpreso ao me ver e acabei acreditando que estava ferrada.
As lembranças exatas daquele dia se voltaram a minha mente. Geralmente não sou tão rude, mas aquele homem despertou uma fúria dentro de mim que não consigo explicar.
Sentei na cadeira a sua frente bastante preocupada. Eu não sabia se ele iria me dar a chance de provar o meu valor ou simplesmente me mandaria para o RH.
Assim que ele terminou sua ligação, ficamos nos encarando por alguns segundos. Era verdade que desde aquele dia eu não consegui o tirar da cabeça. Henrique Vilella era o homem mais lindo que já vira na vida, porém, sua personalidade era de um cavalo e não iria suportar conviver com este homem.
Como antes, ele foi grosso e irônico, esse seu sorrisinho de canto fez com que eu quase me derretesse em sua frente. Questionei a mim mesma sobre o destino ou as forças do universo que sempre me colocavam nessas situações estranhas.
— Serena podia muito bem ter escolhido alguém que não fosse tão desatenta quanto você. — Falou arrogante, me deixando levemente irritada. — Não dá para acreditar no que está acontecendo.
— Sei que tivemos um início muito conturbado, mas acredito que podemos melhorar e trabalhar juntos, senhor Vilella. — Falei reprimindo a minha raiva e vontade de responde-lo a altura.
— Você acredita? — Me questionou com o cenho franzido. — Eu aposto que não.
— Por que é tão grosso com as pessoas? — O questionei, levantando-me, apoiando os meus braços sobre a sua mesa.
Eu realmente estava furiosa. Poderia até o matar agora, mas decidi ser mais prudente e tentar me acalmar, mesmo que o homem tente a todo custo me fazer perder a cabeça.
— Por que tem a língua tão solta? — Perguntou, também se levantando e me encarando bem de perto.
Sua aproximação causou um efeito sobre mim muito estranho. Olhar em seus olhos verdes, assim, tão de perto, me fez sentir insegura.
— Desculpe-me, mas não ficarei calada se o senhor quiser me tratar como uma qualquer. — Falei, sentando-me novamente. — Não devo o responder dessa forma, pois é meu chefe. Porém, o senhor também deve me respeitar.
Ele cerrou os olhos e também se sentou. O homem juntou as mãos sobre a mesa e me avaliou por um instante. Eu quis novamente questioná-lo, entretanto, para que nossa convivência seja, pelo menos, suportável, tinha que renunciar algumas palavras.
— Creio que já foram passadas algumas informações para você. Não quero atraso, não tolero condutas inapropriadas no local de trabalho e por favor, senhorita Medeiros, trate-me como seu chefe e não como um colega, muito menos, como um cara qualquer. — Falou desviando o olhar de mim.
— Não se preocupe, sei de tudo isso. — Falei em um tom firme.
— Em que empresa você trabalhou anteriormente?
Sua pergunta fez o meu cérebro congelar. Se o homem já estava irritado por eu ser a sua nova assistente, imagine como ficaria quando descobrisse que não trabalhei na área de paisagismo nos últimos três anos.
— Fui assistente de uma contadora. Sei que não é a área da arquitetura, mas acredite, sou capaz de trabalhar com o senhor. — Disse, tentando amenizar cada palavra que havia falado.
Não sabia o que era pior: ter o arrogante gritando comigo ou em silêncio me observando como se me julgasse mentalmente.
— Você não tem experiência na área, senhorita? — Perguntou com certa irritação.
Henrique tinha aquele típico olhar que fazia você querer um buraco para se enfiar. Eu estava nervosa e sabia que ele iria discutir por causa disso.
— Estagiei por 6 meses quando ainda estudava na faculdade, e mesmo que eu tenha tentado diversas vezes encontrar algo em minha área, não consegui nada e tive que optar por arranjar um trabalho para pagar as contas. — Expliquei com o máximo de paciência e calmaria.
Ele respirou fundo, fechando os olhos, analisando cada palavra que saiu da minha boca. Mesmo que eu não tenha conseguido emprego em arquitetura e ter trabalhado por três anos em outro ramo, isso não me desqualificava para este trabalho. Sempre me mantive antenada e nos meus momentos de folga adorava desenhar e imaginar projetos. Claro que isso não era profissional, mas não tive culpa se não consegui nada.
Alguém tinha que me dar uma oportunidade.
— Serena, você pode vir ao meu escritório? — Falou ao pegar o telefone, parecendo bastante chateado.
Meu coração parecia que ia parar a qualquer momento. Minhas emoções estavam a flor da pele e sentia um misto de ódio e tristeza.
— Senhor Vilella, por favor, não fique chateado, sei que isso parece algo ruim, mas não tive culpa. Isso não me desqualifica para trabalhar com o senhor. — Falei quase entrando em desespero. Eu sabia que este homem frio e arrogante não iria ter pena de mim, porém, eu não poderia desistir após ter conseguido chegar até aqui. — Posso provar que sou capaz, só preciso de uma oportunidade e vou me esforçar ao máximo.
— Não quero uma pessoa que não vai me acompanhar. Pensa que brinco quando entro nesse escritório? — Questiona-me rude. — Sinto muito por você não ter tido uma oportunidade antes, no entanto, preciso de alguém capaz e com preparo para trabalhar ao meu lado, senhorita Medeiros.
— Eu sou capaz, e o senhor está sendo o mesmo frio e arrogante de sempre. — Levantei-me novamente, chateada. — Não pode me demitir sem antes me deixar provar que sou capaz. O senhor me trata mal desde o momento que botei os pés dentro desta empresa, e não pode esperar por uma só oportunidade para me julgar. Já trabalhei com uma pessoa que era o verdadeiro diabo para mim, mas o senhor vai além. Eu nem tenho palavras para descrevê-lo.
Eu sabia que não poderia surtar e gritar com meu chefe. Ele estava a ponto de me demitir e eu estava dando o armamento para que ele pudesse fazer isso.
Henrique se levantou e me encarou de perto, assim como antes. Ele também estava irritado e com razão. Mas ele não me respondeu.
— O que está acontecendo aqui? — Questionou Serena ao entrar.
Henrique Eu não queria acreditar que Serena havia feito isso comigo. Ela era uma mulher experiente e de minha confiança, eu só queria saber por que ela contrataria uma mulher sem experiência para trabalhar ao meu lado. As palavras de Elisabete ainda estavam pairando sobre a minha cabeça quando a minha amiga adentrou a sala me olhando com espanto. Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso negar que Elisabete era uma mulher determinada e com personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha, mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para mim. Entretanto, algo em seu olhar me fazia querer ficar com ela, mesmo estando muito chateado pela situação. A mulher me desafiava e já fazia muito tempo que eu não encont
Elisabete Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que realmente poderia ter nascido com a vida azarada. Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer desistir do meu sonho. Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento, Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando esta ocasião. Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e esbravejava com
ElisabeteEu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado, e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma satisfação inexplicável. Quando estava conversando com o Rodolfo, o dono da rede de hotéis, ele me contou sobre sua noiva que trabalhava ao seu lado na administração, e quando percebi quem ela era, uma raiva descomunal tomou posse de mim. Eu sempre fui focado nos estudos e era um dos melhores na faculdade, nunca namorei sério na vida até Amanda aparecer e roubar meu coração. Achei que ela me amava, apesar das suas exigências e chiliques. Eu fazia tudo que ela queria, era como um cachorrinho, no entanto, um dia ela terminou comigo sem me dar muitas explicações, apenas disse que eu não era o que ela desejava. Não tive uma infância muito
Elisabete Em um único mês fui demitida, corneada e ganhei o status de namorada de mentira do meu novo chefe. Posso saber um pouco mais o porquê Henrique estava fazendo isso, mas ele ainda era um arrogante, e mesmo se esforçando para melhorar comigo, eu ainda tinha que suportar suas mudanças de humor. Está certo que o homem era lindo de morrer, no entanto, era como um robô de última geração que não tinha sentimentos. A não ser a raiva, claro. Agora, tínhamos que ir a um noivado da sua ex, e ainda tínhamos que fingir que estávamos apaixonados. Henrique me trouxe a uma das lojas de vestidos de luxo mais caros da cidade e eu não sabia como me comportar em um lugar assim. Não sei o porquê tanto exagero para ir a um noivado que ele odiaria, porém, acho que era só para provocar a ira da sua ex. confesso que se fosse eu, faria o mesmo. — Henrique, esse já é o sexto, acho que já basta! Você tem que escolher um. — Falei bufan
Henrique Eu realmente estava tentando entender o que se passava na cabeça de Elisabete Medeiros. Decidimos pegar leve e nos tratar com cordialidade, mas agora ela parecia estar estranha e esquecido do nosso acordo. A mulher estava linda no vestido vermelho que escolhi. Quando me pediu para escolher o vestido que usaria não pensei muito, odiava compras ou ter que esperar, mas quando toquei no tecido macio de cor vermelho eu sabia que era o escolhido. Ela realmente estava linda. Nunca havia imaginado que ficaria admirado com a beleza de alguém, porém, Elisa estava me surpreendendo. Não sou de demostrar o que penso ou sinto, mas senti o desejo de elogia-la, no entanto, a mulher não me deu bola, simplesmente me ignorou e entrou no carro. Eu também estava tentando entender o porquê de ter que aceitar o convite de Amanda para comparecer ao seu noivado idiota, já que não tínhamos uma boa relação. A suportava enquanto estávamos no mesmo ambien
Elisabete Desde que conheci Henrique, tentei imaginar o que poderia ter acontecido para que um homem como ele, que tem tudo, poderia se tornar alguém tão odiável e agora eu sabia. Claro que ele não deveria deixar que uma mulher o mudasse tanto, ao ponto de se tornar uma pessoa tão amarga e arrogante, mas era compreensível quando se pensava que ele a amava e ela o fez pensar que o seu modo de ser era horrível, o que não é verdade. Acredito que ser tão distante das pessoas seja um modo de defesa dele, para que ninguém possa o magoar de novo, então ele decidiu que seria ele a magoar. Minha irmã diria que eu estava fantasiando ao pensar que eu poderia fazê-lo enxergar o contrário, mas pelo meu bem e o bem de todos, eu teria que tentar. Ouvi-lo falar sobre o seu relacionamento conturbado com Amanda me fez sentir compreensão e fiquei ainda mais chateada com a vadia. Por isso que quando a avistei sobre os ombros dele, se aproximando de nós, t
Elisabete Eu queria me bater por ter passado tempo demais pensando no beijo que dei no meu chefe ontem à noite. Depois que botei a cabeça no travesseiro, tudo passou novamente pela minha mente, alguns suspiros e sorrisos bobos abandonaram a minha boca. Nunca imaginei que o melhor beijo que já dei na vida seria com alguém que me fazia tanta raiva, mas tenho que confessar que nos últimos dias, Henrique estava sendo menos irritante. A forma como ele me defendeu ontem foi surpreendente, e isso lhe deu alguns pontos positivos. Não que eu apoie a violência, porém, Miguel procurou sarna para se coçar quando praticamente me chamou de vadia. Eu não fazia ideia de como ele descobriu sobre mim e o delicia do meu chefe, e hoje eu tentaria descobrir. Assim que levantei, fiz um café bem forte e comi algumas torradas. Mariana abriu um sorriso que ia de orelha a orelha quando passou por mim na cozinha e sentou-se à mesa. — Como foi sua noite
Enrique A noite de ontem foi surpreendente e confusa. Eu não poderia imaginar que gostaria tanto de um beijo, e foi justamente o dela. Elisabete me surpreende a cada dia, e mesmo tendo um início bem conturbado, ela realmente pode ser uma boa assistente. Apesar de que a mulher adorava me provocar e ser irritante. Acredito que ela faz isso de propósito, só para discutirmos. Confesso que quando não brigamos até sinto falta e isso era confuso. Foi difícil dormir na noite passada, pois minha cabeça, idiota, não parava de imaginar a linda morena provocante e sua boca macia. Somos muito diferentes, mas algo fazia com que nos sentisse atraídos um pelo outro, mesmo que a danada tentasse negar a todo custo. Graças a sua ajuda, todos sabiam sobre nós. Claro que isso me ajudava, o problema era ela que agora parecia que teria um surto só porque todos sabiam sobre nosso relacionamento. Assim que passamos pela porta, os olhares curiosos nos