Elisabete
Eu não era de acreditar em superstições e mau agouro, porém hoje estava sendo um daqueles dias em que tudo dava errado.
A sorte nem sempre estava a meu favor, no início pensava que era coisa da minha cabeça, que tinha que me esforçar mais para conseguir as coisas, mas com o tempo, tive que admitir que havia algo errado.
Mesmo que ainda negasse que alguém podia carregar esse mal, alguns fatos ainda me faziam ficar em dúvida.
Hoje era um desses dias.
Não sei o porquê, mas meu celular alarmou muito cedo.
Muito adiantado!
Duas horas adiantado!
Quando olhei no aparelho, achei que estava atrasada, pois as horas marcavam duas horas a mais do que eu esperava. Quando olhei no espelho, meu rosto parecia ter sido amassado por um trator e o pior de tudo era que eu achava que não tinha tempo para tomar café.
Eu era uma pessoa simpática e bem-humorada, mas de barriga vazia as coisas mudavam, pois uma substituta mal-humorada possuía o meu corpo e me dava dor de cabeça.
Como o dia estava só começando, os ônibus estavam lotados. Não como eu já estava habituada, mas de forma anormal. As pessoas se amontoavam como em uma lata de sardinha, e o cheiro não era dos melhores.
Eu não sabia como alguém poderia sair de casa de manhã sem tomar um banho.
Quando cheguei à empresa, não havia ninguém além do vigia.
Para falar a verdade, eu deveria ter notado as pistas durante o trajeto.
Primeiro, estava mais frio que o normal para as oito da manhã. Até o ônibus. Tudo estava lá, porém, como não havia tomado café e havia acordado duas horas mais cedo, o que dificultava o meu raciocínio, não percebi o meu erro.
Trabalhava na empresa Duarte investimentos há três anos e não era na minha área de formação.
Depois que sai da faculdade, você pensa que será tudo um mar de rosas, mas tristemente descobri que o mundo era cruel e existem milhares de pessoas tão boas quanto eu.
Tive que fazer uma escolha: continuava tentando buscar o meu sonho ou pagava o aluguel e o supermercado.
Confesso que passei três anos com os pés no chão, deprimida por não ter conseguido.
— Bom dia, senhor Antônio. — Falei me aproximando do homem de quarenta anos com o sorriso simpático. — O senhor sabe por que está tudo tão… vazio?
O homem me olhou com o cenho franzido, parecendo que eu tinha feito a pergunta mais burra que ele havia ouvido, mas continuei firme, o olhando com um sorriso amarelo.
— São seis da manhã, sabe que as coisas só começam a funcionar aqui a partir das sete. — Ele disse.
Na hora eu ainda estava refletindo sobre a palavra sete, e estava cética sobre o horário. Abri a bolsa abruptamente e peguei o aparelho que estava no fundo, escondido.
— Senhor, são nove horas. — Falei não querendo acreditar no que o homem estava falando.
O homem tirou do seu bolso o celular que não era um dos mais novos da sua linha, e o estendeu para mim, mostrando o horário correto.
Olhei para o objeto, ainda sem acreditar, aos poucos tudo veio à minha mente e desejei morrer.
Nenhum palavrão era o mais adequado para se designar a mim naquele momento. Eu só continuei olhando para o nada, esperando que algum tipo de explicação óbvia viesse a mente, mas nada aconteceu.
Eu poderia ter feito a maior cena na frente do homem, pois sempre que algo assim acontecia, sendo tão cedo, meus olhos se enchiam de lágrimas.
Eu não era assim tão frágil, porém, se meu estômago estivesse vazio e o sono ainda estivesse pairando sobre a minha mente, corroborava para esse fim.
No entanto, optei por me conter e arranjar uma alternativa.
Primeiro, eu teria que comer algo, pois se não houvesse comida no meu estômago, não trabalhava nesse ambiente estressante, e minha chefe era como o próprio diabo.
Se eu ficasse dessa forma até o almoço, com certeza ficaria sem emprego, já que diversas vezes tive que me conter para não a xingar.
A sorte era que o prédio ficava perto de várias lanchonetes, onde eu poderia comer e passar o tempo. Retirei o aparelho diabólico da bolsa e acertei as horas para que não houvesse mais problemas.
***
Depois daquele contratempo inicial, eu finalmente estava melhor. Voltei e comecei o dia com uma pilha de documentos para reorganizar. Carolina estava tensa quando chegou e mal falou comigo, o que era estranho, pois a mulher adorava me importunar logo quando chegava.
Fiquei bastante cansada após organizar tudo. Graças ao sono que me consumia, tive que tomar café a mais, só para não dormir em cima do computador.
No almoço, a chefe saiu mais cedo, ela ainda estava estranha, mas não me importei e dei graças a Deus por ela não ter me incomodado, pelo menos ainda.
Saí com algumas colegas para comer e na volta fiquei envergonhada ao encontrar o porteiro, que era o único que sabia do meu desastre do início de dia.
Antes de ir embora, fui chamada na sala de Carolina e senti a tensão no ar. Eu sentia um mau pressentimento de que iria ser demitida.
Assim que entrei e sentei-me, vi a expressão de preocupação da mulher. Ela estava estranha o dia todo, e agora estava me olhando como se fosse dizer que alguém morreu.
— Alguma coisa aconteceu? — Perguntei cautelosa.
— Sim, infelizmente. — Disse deixando os ombros caírem e se encostou à cadeira. — Falimos.
Ouvir isso fez meu coração pular. Era o nosso fim e a minha demissão. Já havia ouvido rumores sobre as condutas indevidas do chefão. Ele estava roubando e jogava tudo em pôquer.
— O que farão agora? — Perguntei triste.
— Todos vocês serão pagos e o que sobrar será para pagar as dívidas. — Respondeu.
Depois dessa breve conversa, foi acertado o dia que deveríamos voltar e receber. Todos que saíam estavam como eu: tristes e para baixo. Uns piores que outros.
Passei todo o caminho pensando no que fazer. Gastei três anos da minha vida em um emprego que não me valorizava, e nem era do meu ramo. Agora estava sem nada e acreditava que seria difícil arranjar outro agora.
A situação do país não era a melhor e perder o emprego agora seria um grande problema. Mas talvez seja essa a oportunidade que eu esperava para finalmente trabalhar em paisagismo, que era a área que me formei. Eu tinha uma casa, e meu namorado tinha um bom trabalho. Mesmo que demorasse um pouco, talvez conseguisse algo.
Andei poucos metros até a casa que tínhamos alugado. Não era muito grande, mas servia. Vivíamos trabalhando, e era Miguel que passava a maior parte do tempo em casa. Pelo menos até agora.
Entrei já tirando o sapato e jogando a minha bolsa no sofá. As luzes estavam acesas, mas nada do homem. Um barulho vindo do quarto, chamou minha atenção.
Não chamei seu nome, porém, a curiosidade era maior e caminhei até o quarto, devagar. A porta estava entreaberta e quando vi duas pessoas trepando em cima da minha cama, quase caí.
Miguel e Ângela transavam como dois coelhos enquanto eu assistia chocada. Uma raiva tomou conta do meu corpo, e abri a porta com uma batida forte.
— QUE PORRA É ESSA?
Parecia que alguém havia me jogado o pior feitiço do mundo. Primeiro perdi o emprego, agora descubro que sou corna.
HenriqueEu gostava de trabalhar. Mantinha minha mente focada e funcionando. Sentimentos são complicados, por isso sempre tentei a todo custo me manter distante.Foi por isso que minha noiva me deixou. Não que eu não gostasse dela, mas Anastácia era uma mulher muito sentimental e pegajosa.Eu adorava a sua classe e inteligência, porém, tinha as minhas manias e preferia ficar só.Muitos diziam que eu era frio e arrogante e, na verdade, sou. Acredito que vários fatores ocorreram na minha vida para que eu tivesse me tornado isso.No passado eu era mais aberto e compreensivo, mas tudo mudou quando a mulher que eu amava jogou na minha cara que não era isso que ela queria.Depois de uma tragédia em minha família, pensei que era melhor mudar de atitude e me preservar mais.Foquei-me mais no trabalho e esqueci o resto. Quando pedi a mão de Anastásia em casamento, não queria amor, queria uma esposa e filhos.Entretanto, acredito que não deixei isso bem claro e a mulher começou a exigir coisas.
ElisabeteFoi realmente decepcionante descobrir que meu namorado e minha amiga estavam me traindo. Por incrível que pareça, não me importei em perder o Miguel, pois penso que lá no fundo eu só gostava dele e não o amava. Porém, descobrir que foi traída era algo horrível, agora estava difícil seguir sem saber em quem confiar.Naquela noite que os peguei juntos, fiz questão de colocar tudo para fora. Disse o que se passava pela minha cabeça e não me arrependia de nada.Na verdade, estava arrependida por não ter cortado o pau dele fora e feito a vadia o comer.Conheci Ângela na faculdade e a achei muito legal na época. Eu mal sabia que seria apunhalada pelas costas e ter que arrumar um lugar para morar.Tenho sorte por ter uma irmã maravilhosa, pois quando liguei para ela, rapidamente Mariana veio ao meu socorro. Eu ficaria com ela até achar um novo emprego, já que não bastava o meu dia ter sido conturbado, ainda descobri que fui traída e não tinha onde morar.Seu apartamento não era mui
Henrique Prezo por duas coisas quando estou trabalhando: concentração e dedicação, porém, já faz dois dias que minha mente estava distraída, e por quê? Pelo simples fato de ter esbarrado em uma mulher de cabelos escuros e olhos castanhos que tinha uma boca incrível e uma língua solta. Não sei quem era ela ou o seu nome, no entanto, não consegui parar de pensar naquela ocasionalidade. Resolvi que já era hora de expulsar aquela estranha da minha cabeça e me concentrar no trabalho. Finalmente achamos uma pessoa que possa trabalhar comigo. Serena não disse muito sobre a mulher, só que ela era perfeita para o cargo, pois sua personalidade batia com a minha — Ela começa amanhã, mas Henrique, não faça com que a mulher queira se demitir no mesmo dia, por favor. — Pediu com um sorrisinho no rosto. — Ela é bonita e inteligente. Tem desejo de crescer, e com certeza poderá resistir por um tempo ao seu lado. Continuei desenhando o esboço do nosso último proj
Elisabete Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida, quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas que até pensei que eu não seria selecionada. Graças a Deus obtive uma resposta positiva. Agora eu trabalharia em uma grande empresa e numa função maravilhosa no qual esperei tanto. A partir deste dia teria mais responsabilidade e não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar o meu objetivo. Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma chefe muito irritante, já estava preparada para tudo. Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou, Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e que odiava atrasos ou distrações, ma
Henrique Eu não queria acreditar que Serena havia feito isso comigo. Ela era uma mulher experiente e de minha confiança, eu só queria saber por que ela contrataria uma mulher sem experiência para trabalhar ao meu lado. As palavras de Elisabete ainda estavam pairando sobre a minha cabeça quando a minha amiga adentrou a sala me olhando com espanto. Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso negar que Elisabete era uma mulher determinada e com personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha, mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para mim. Entretanto, algo em seu olhar me fazia querer ficar com ela, mesmo estando muito chateado pela situação. A mulher me desafiava e já fazia muito tempo que eu não encont
Elisabete Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que realmente poderia ter nascido com a vida azarada. Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer desistir do meu sonho. Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento, Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando esta ocasião. Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e esbravejava com
ElisabeteEu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado, e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma satisfação inexplicável. Quando estava conversando com o Rodolfo, o dono da rede de hotéis, ele me contou sobre sua noiva que trabalhava ao seu lado na administração, e quando percebi quem ela era, uma raiva descomunal tomou posse de mim. Eu sempre fui focado nos estudos e era um dos melhores na faculdade, nunca namorei sério na vida até Amanda aparecer e roubar meu coração. Achei que ela me amava, apesar das suas exigências e chiliques. Eu fazia tudo que ela queria, era como um cachorrinho, no entanto, um dia ela terminou comigo sem me dar muitas explicações, apenas disse que eu não era o que ela desejava. Não tive uma infância muito
Elisabete Em um único mês fui demitida, corneada e ganhei o status de namorada de mentira do meu novo chefe. Posso saber um pouco mais o porquê Henrique estava fazendo isso, mas ele ainda era um arrogante, e mesmo se esforçando para melhorar comigo, eu ainda tinha que suportar suas mudanças de humor. Está certo que o homem era lindo de morrer, no entanto, era como um robô de última geração que não tinha sentimentos. A não ser a raiva, claro. Agora, tínhamos que ir a um noivado da sua ex, e ainda tínhamos que fingir que estávamos apaixonados. Henrique me trouxe a uma das lojas de vestidos de luxo mais caros da cidade e eu não sabia como me comportar em um lugar assim. Não sei o porquê tanto exagero para ir a um noivado que ele odiaria, porém, acho que era só para provocar a ira da sua ex. confesso que se fosse eu, faria o mesmo. — Henrique, esse já é o sexto, acho que já basta! Você tem que escolher um. — Falei bufan