Tomás Campos Alonzo
Depois de uma turnê de seis meses. Inúmeras noites mal dormidas com multidões gritando meu nome. Tudo que eu queria era silêncio e hibernar o restante do ano, porém, dividindo apartamento com a minha ex namorada, que acabou de sair de mais um encontro desastroso. Eu podia esquecer meus planos e passar a noite toda a consolando.
Carlinha passou pela porta feito um furacão, jogando a bolsa e os sapatos de salto alto em qualquer canto da sala. Me esforço para desviar minha atenção do vestido colado ao corpo, acentuando suas curvas perfeitas ou como o Decote V do vestido deixavam seus seios siliconados à mostra. Mordi os lábios, imaginando que uma recaída hoje não seria nada mal. O que era bastante normal entre nós. Tudo costuma ser bem fácil para os dois. O sexo costuma ter o mesmo magnetismo de quando ainda éramos um casal, temos ideias parecidas e nos entendemos no nosso próprio caos. Se tudo estava tão descomplicado como digo, por que nosso namoro chegou ao fim? Bom, tínhamos acabado de mudar pra cá e começado a faculdade, enquanto a dançarina tinha cada segundo do resto de nossas vidas bem planejadas. Eu queria viver tudo num estilo Zeca pagodinho: deixa a vida me levar, vida leva eu. E para não atrapalhar as escolhas de Carla, resolvemos terminar. O motivo para continuarmos vivendo sob o mesmo teto é simples: Ao longo dos anos, nossa cumplicidade e amizade evoluiu ao ponto de nos sentirmos muito mais felizes e confortáveis vivendo juntos. Cada centímetro dessa casa foi pensada e construída pra nós, sendo ou não, um casal. Sem contar que é bastante econômico. E o fato que eu ainda a amava como um louco, ajudava também.
Em todas as minhas canções, ela e somente ela continuava a ser a musa no fundo da mente. Por mais que me agradem os sorrisos das minhas fãs, é pelo seu que canto, ainda que os holofotes da fama façam bem ao meu ego e vaidade, tudo que me importa é a sua opinião sobre mim.
Viro do avesso, se possível, para fazê-la feliz.
— Qual o defeito do ator caribenho? – Assistindo-a bufar com toda sua impaciência, se arrastando para o sofá ao meu lado.
— Ele descobriu que tem problemas de fertilidade e para ser sincera,parecia carente demais! Possivelmente ia criar dependência emocional no meu filho, deus me livre! – Prendeu o cabelo longo e escuro num coque, deixando a mostra a borboleta desenhada em sua nuca.
— Por que não partir logo para uma inseminação artificial? Você nunca vai encontrar o cara que preencha todos os requisitos da perfeição que quer. – Cruzo os braços, relaxado enquanto espero sua resposta.
— Ah você sabe, sou ansiosa e metódica demais para passar a vida inteira sem conhecer o doador do sêmen, iria ficar obcecada com isso até conseguir uma ficha. Um nome! – Um bico se formou em seus lábios grossos.
— Tem mais alguém na sua lista de encontros? – De repente, me sinto nervoso. As palavras carregam todo meu receio.
Eu quero que a resposta seja não! Porque eu não suportaria a dor de vê-la com outro homem para sempre, jamais poderia acreditar na minha tolice em deixa-la ser mãe do filho de outro cara, quando poderia muito bem ser meu.
Já faz um tempo a minha vó vem me azucrinando com a ideia de ter um bisneto pra dar continuidade a linhagem da família Campos Alonzo e eu começava a achar que deveria ter um herdeiro para toda a fortuna que somarei com a minha música ao passar dos anos, não tinha nada haver com a possibilidade de reconquistar Carla através do bebê, que ela tanto desejava. Não!
— Vem cá, por que tanta pressa pra ter essa criança? Cadê aquela mulher que acreditava que as aconteciam no tempo certo e quando tinha que ser? – Dou um meio sorriso, implicando de brincadeira com a determinação dela.
— Tá aqui. Eu sinto que estou pronta! O momento certo chegou e vai acontecer agora!! Pelo visto, vou ter que partir pro plano B e tentar uma adoção. Não é problema, você sabe, eu mesma fui adotada pela minha família e fazemos campanhas pra ajudar o orfanato em que passei meus primeiros 3 anos de vida... – Seus olhos escuros, vivos e curiosos expressam uma sombra de tristeza.
— Isso ainda é um assunto difícil pra você, não é? Então realize esse sonho quando se sentir bem, ok? Sabe que se precisar de ajuda, eu tô aqui em todos os sentidos da frase. – Segurei sua mão, puxando para perto de mim. Seu queixo se encaixa em meu ombro, aspiro o cheiro de limão fresco do seu shampoo.
— sim, sei bem disso! Mas sabe o que ajudaria? Aquele brigadeiro de churros que te ensinei a fazer uma vez, lembra?
Então, fomos para a cozinha e fizemos a maior bagunça. Voou Leite condensado fake e canela para todos os lados. Vez ou outra, contava uma piada que a fazia rir e morder minha bochecha.
Logo depois de comer, voltamos pro sofá. Ela se aconchegou no meu peito e dormiu. Fico fazendo um cafuné em sua cabeça até que eu peguei no sono também.
Carla Clarke Acordei no meio da madrugada sentindo dores no pescoço massageando enquanto coço os olhos. O perfume de camomila de Tomás invadiu minhas narinas e não pude evitar de sorrir. Depois de 6 meses longe, ele estava de volta e percebi o quanto senti falta dele. No fundo, eu sabia que aquele carinho e atenção toda é a esperança boba de que podemos voltar um dia. E também deu a entender durante nossa conversa, poderia ser o pai dessa criança. Honestamente, sei que não daria muito certo, ele é um amor, adora crianças, entretanto é um completo irresponsável e com sua rotina de shows seria complicado se manter presente. Melhor esquecer essa ideia! Me arrasto para o meu quarto, lavando o rosto e trocando de roupa para afundar na cama logo em seguida. O despertador toca pontualmente às 5h40, visto a roupa de corrida, prendo o cabelo, respiro fundo e saio. Ao passar pelo portão, encontro Mariana me esperando: — Mulher, eu tô me esgoelando há mais de meia hora, velho! Desde ontem
Tomás Campos AlonzoAproveito meu tempo livre para visitar meu irmão mais novo, Josh Alonzo, com seus 19 anos e uma energia invejável. O garoto está lutando com os próprios recursos para ser um bom dançarino e cantor, tanto eu, quanto Carla oferecemos ajuda quando nosso pai o recriminou pela carreira escolhida, mas o garoto, muito provavelmente, com o orgulho ferido, quer conseguir o sucesso por mérito próprio. O admiro por isso. Já passava das 10 da manhã, nós dois estávamos tomando café e eu contava a decisão que tomei: — Cara, mas isso não vai dar merda, não?! Vocês tem um passado, um passado de boa, mas ainda assim foi um namoro! Você sempre tá com uma mulher diferente a cada vez que viaja e eu sei bem que ainda ama a cunhadinha, mas fazer isso é arriscado demais. — Arriscado? Nós nos amamos e não penso em outra mulher para ser mãe de um futuro filho meu, essa criança ajudaria a fazê-la enxergar que podemos recomeçar! - Confirmo, convicto da minha decisão. Tomando um gole de s
Carla F Clarke O relógio marca 20h30 da noite. Estamos atrasados, dou uma última olhada no espelho. Estou me sentindo linda num vestido preto de seda, com decote em v e uma fenda lateral. Meus cabelos estão cacheados nas pontas e um salto de 15cm compunha o visual. A maquiagem estava mais clara, o destaque estava em meus lábios cor escarlate. Caminho do quarto até o corredor e meu corpo se choca com um Tomás num terno preto perfeitamente alinhado, acabo tropeçando e sendo amparada por ele. Suas mãos quentes causam arrepios em minha pele exposta. Noto os músculos recém definidos em seus braços, alguém está finalmente levando a academia à sério. Nos encaramos e prendo o fôlego por alguns segundos, fico perdida naquelas esferas escuras dilatadas. Prestando mais atenção nele, percebo que conheço cada um dos seus detalhes bem de perto: a maciez dos cabelos domados com gel pegajoso, a barba crescendo desproporcional em seu maxilar, o meio sorriso galanteador que desponta em seus lábi
Tomás Alonzo O trajeto para a afterparty é desconfortável. O único barulho que pode ser ouvido são as unhas de Carla batendo no teclado do celular enquanto troca mensagens com Mariana. O comportamento invasivo da imprensa a inibiu de um jeito inesperado e o fato de que quase nos beijamos mais cedo não ajuda em nada. O desânimo me toma ao ponto de não ter pique para comemorar a vitória em duas categorias da premiação. Adentramos o salão do hotel e o clima aqui é bem mais descontraído do que na cerimônia, todo mundo parece menos tenso. — Ei, desculpa ter insistido pra você vir comigo hoje. Eu não fazia ideia que ia acontecer aquela situação ridícula, Carlinha! – Enrolo a ponta de seus cabelos escuros entre os dedos. — Tudo bem, Tomás! De toda forma, não foi culpa sua, mas sabe como pode melhorar meu humor?– Ela abre um sorriso, levando a minha taça de champanhe à boca. — como? — Dança comigo? Olhei para o palco e tocava Love nwantiti remix, Mariana já pulava em frente à cabin
Carla F Clarke Já passava da meia noite, meu vestido estava grudado à pele por conta do suor que escorria pelo meu pescoço e minha bebida estava começando a esquentar no copo que eu segurava apenas de enfeite. Mariana tinha sumido com outra amiga nossa e fiquei cansada de brincar de seduzir o Campos Alonzo, um beijo que seja e eu ia acabar nua na cama daquele traiçoeiro, o que não seria nada mal, se não tivesse um plano em jogo. Um bebê em jogo. Entretanto, tecnicamente para ter o bebê, independente de qual fosse a minha escolha, eu ainda precisava de um maldito homem e por mais que odeie admitir meu ex namorado parecia ser a opção mais confiável e acessível no momento. Caminho meio sem rumo pelo salão do evento sentindo a frustração preencher minha alma, percebendo que em poucos meses, 3 para ser exata o tempo para cumprir a maldita lista de desejos terá se esgotado. Quase perco um par dos sapatos, tamanha a preguiça de continuar andando. Por sorte, esbarro em Tomás de novo, está
Tomás AlonzoO carro está estacionado dentro de um fast food 24 horas. Tudo que consigo ouvir é o canto dos grilos e o ronco do motorista no banco da frente. Agitada, Carla suga o canudo do milkshake de chocolate com pedaços crocantes de amendoim, o pote de batatas fritas dividido por nós já está na medida. O vento frio entrando pela janela faz seus cabelos negros e cacheados voarem, a luz do luar realça as maçãs perfeitamente redondas de seu rosto, o sorriso que desponta em seus lábios e reflete nos olhos enquanto mastiga encarando o céu, acaba por me deixar fascinado. Meu coração parece querer saltar do peito a qualquer instante, é bobagem, mas, me sinto com 16 anos de novo.Apaixonado e depois de muito tempo em uma casca de inseguranças e pose de machão desapegado, vulnerável.Por meio segundo, apenas por meio segundo, eu repenso sobre tudo que afirmei para Josh mais cedo, não estou mais tão certo de me infiltrar nos planos e sonhos de Carla seja a melhor maneira de reconquistar se
Carla F Clarke Os primeiros três anos da minha vida eu passei no orfanato " Doce infância " todas as lembranças desse lugar são um borrão, como vim parar aqui não é, a diretora disse ao meu pai adotivo que a mulher que me deixou aqui aos 6 meses, alegou não poder desperdiçar a juventude cuidando de uma criança. Fui, surpreendentemente bem cuidada aqui, mas ainda assim, eu não falava muito e pouco interagia com as outras crianças que pareciam acanhadas de mim e eu delas. A sorte começou a sorrir pra mim, quando o senhor Ferrer Clarke passou a me visitar acompanhado de Hande, que insistiu para o pai me adotar. Aos 4 anos e meio, a adoção foi formalizada. Fui cercada de amor e psiquiatras de todos os lados, Roger me amava como se eu fosse sua filha desde que nasci e nunca fez distinção entre eu e minha irmã Hande. Nossa avó Marisa vivia a me contar histórias e mimar com todo carinho possível, ela vivia entre Salvador e RJ para ficar perto de nós. Aos 15 anos, meu pai adotivo morre
Tomás Alonzo No dia seguinte, Carla me enviou uma mensagem pedindo para buscá-la no estúdio de dança. O segundo teste ia começar, eu fui, mesmo sem saber o que ia ganhar ao fim desses testes, além da paternidade do bebê, é claro. Chegando lá, recebi outra mensagem que diz: Minha futura esposa 🤍: tô na sala 7, tenho um presente pra você, cuide com carinho, viu, Bê? Eu: Tô até com medo de entrar aí. Minha futura esposa 🤍: eita como é frouxo! Vem logo, menino! Eu: tô indo, mulher. Apresso o passo e chego até sala 7 pelas rampas, duas professoras olharam pra mim e sorriram de uma forma estranha. Quando entrei, a primeira coisa que vejo é a Carla sentada no piso de madeira, ela está segurando um bebê enrolado numa manta azul, ao lado dela, está um carrinho também azul, ela levanta o rosto para me olhar, sorri e diz: — Oi, quer segurar? — Carla ergue o bebê para mim. — De quem ele é? — Sento ao lado dela, sorrindo,um pouco desconfiado. — Ele é o seu presente, que você precisa cu