Carla
Eu sabia que aquilo não era certo. Sabia que não devia usar outra pessoa para alcançar o meu objetivo. Por outro lado, estou prestes a completar 27 anos,o que significa que restam-me apenas dois anos para ter o meu tão sonhado bebê!
Assim que me formei no ensino médio, eu fiz uma lista de desejos para completar até os 30.
• Entrar na universidade de dança contemporânea ✓
• Morar um ano em um país diferente, passei uma temporada inesquecível em Portugal ✓
• Abrir minha própria escola de dança para crianças✓
• Ter alta da terapia ✓
• Ter um filho ×
E por esse último item estava fazendo coisas impossíveis e inimagináveis como um total de 20 encontros em busca do pai aceitável para o meu baby. Não, não quero me envolver emocional e nem de forma conjugal com nenhum homem. Nunca dá certo,a minha metade da laranja deve ter virado suco! Então decidi marcar esses dates e conhecer o candidato perfeito:
Deve gostar de crianças
Entender algo de educação e psicologia infantil
Trabalhar com qualquer forma de arte e opcional ter olhos castanhos e os cabelos também. Condições físicas e mentais para ser o lado paterno da situação.
Sim, posso fazer uma inseminação artificial é o plano B ou adotar uma criança, mas embarquei nessa missão porque quero partilhar a experiência com outra pessoa.
O Alvo da vez se chamava Asthon, é ator teatral, tem dupla nacionalidade tendo nascido em Porto Rico e sendo filho de uma caribenha com um brasileiro. Seus hobbies incluem ensinar crianças a surfar, passar 6 horas dentro da academia, o que explica o excesso de músculos fortes e a pele num tom amarronzado,seus cabelos eram macios e cacheados num castanho claro, seus olhos azul piscina eram hipnotizantes e por isso deixando minhas regras de lado,o escolhi.
Tínhamos saído três vezes,o papo entre nós fluía facilmente, o beijo encaixava e sentia que podia confiar nele.
— Sei que ainda é cedo pra pensarmos nisso,mas,eu gosto muito de você e parece ser a mulher certa para dar esse passo em minha vida. – Parecia encabulado, seu olhar estava fixo nas próprias mãos e estalava os dedos. — Queria saber se nós dois,no futuro, teríamos a chance de ter filhos,fiz alguns exames essa semana e descobri, infelizmente,sou estéril!
Meu queixo despencou. Minhas pernas tremem e eu mal consigo respirar. Ele estava fazendo planos tão grandes pra nós? Como posso simplesmente pular fora agora? Dizer que meu plano era justamente esse e porque ele não pode me dar o que quero, estamos acabamos? Um homem tão sensível e legal não merece tomar um pé na bunda assim.
De repente, me lembro de algo que a minha avó contou sobre uma tia e resolvo usar como desculpa:
— Excelente você tocar no assunto, porque tenho um segredo que poderia interferir nesses planos. Ainda tenho muito vergonha de dizer isso,mas prometi ao meu pai em seu leito de morte, que permaneceria virgem durante toda a vida – Minha voz sai fina da garganta e minhas faces com toda certeza estão vermelhas, por sorte o ator não me conhece o suficiente pra saber que esses são sinais claros de mentira.
— Isso me pegou de surpresa, mas não quer dizer que não podemos continuar saindo, sabe? Sexo não é tudo em uma relação e... – Seu semblante estava tranquilo e sua voz soava gentil. Tinha um sorriso amigável congelado nos lábios.
— E além disso, vou mudar de país. Como já te contei, minha irmã está vivendo sozinha na Itália com dois filhos pequenos e eu preciso muito ajudá-la nesse período tão difícil – Espremo os olhos para forçar lágrimas a escorrerem pelo rosto.
A verdade é que Hande estava lidando muito bem com o divórcio e eu morria de saudades dos meus sobrinhos, entretanto,vou passar apenas as férias com eles.
— Isso é um jeito sútil de terminar comigo?
— Ainda bem que reparou! Eu não sou boa nisso! Pois é, você é um cara incrível e merece uma mulher que esteja completamente envolvida e acabei de perceber que não estamos em sintonia! Detesto ter que fazer isso, mas vou embora agora e provavelmente nunca mais olharei na sua cara e não é nada pessoal. – Dito isso, parecendo uma louca saio do apartamento em direção ao elevador, onde risco o nome de Asthon da minha lista de potenciais pais e bloqueio qualquer contato.
Tomás Campos Alonzo Depois de uma turnê de seis meses. Inúmeras noites mal dormidas com multidões gritando meu nome. Tudo que eu queria era silêncio e hibernar o restante do ano, porém, dividindo apartamento com a minha ex namorada, que acabou de sair de mais um encontro desastroso. Eu podia esquecer meus planos e passar a noite toda a consolando. Carlinha passou pela porta feito um furacão, jogando a bolsa e os sapatos de salto alto em qualquer canto da sala. Me esforço para desviar minha atenção do vestido colado ao corpo, acentuando suas curvas perfeitas ou como o Decote V do vestido deixavam seus seios siliconados à mostra. Mordi os lábios, imaginando que uma recaída hoje não seria nada mal. O que era bastante normal entre nós. Tudo costuma ser bem fácil para os dois. O sexo costuma ter o mesmo magnetismo de quando ainda éramos um casal, temos ideias parecidas e nos entendemos no nosso próprio caos. Se tudo estava tão descomplicado como digo, por que nosso namoro chegou ao fim?
Carla Clarke Acordei no meio da madrugada sentindo dores no pescoço massageando enquanto coço os olhos. O perfume de camomila de Tomás invadiu minhas narinas e não pude evitar de sorrir. Depois de 6 meses longe, ele estava de volta e percebi o quanto senti falta dele. No fundo, eu sabia que aquele carinho e atenção toda é a esperança boba de que podemos voltar um dia. E também deu a entender durante nossa conversa, poderia ser o pai dessa criança. Honestamente, sei que não daria muito certo, ele é um amor, adora crianças, entretanto é um completo irresponsável e com sua rotina de shows seria complicado se manter presente. Melhor esquecer essa ideia! Me arrasto para o meu quarto, lavando o rosto e trocando de roupa para afundar na cama logo em seguida. O despertador toca pontualmente às 5h40, visto a roupa de corrida, prendo o cabelo, respiro fundo e saio. Ao passar pelo portão, encontro Mariana me esperando: — Mulher, eu tô me esgoelando há mais de meia hora, velho! Desde ontem
Tomás Campos AlonzoAproveito meu tempo livre para visitar meu irmão mais novo, Josh Alonzo, com seus 19 anos e uma energia invejável. O garoto está lutando com os próprios recursos para ser um bom dançarino e cantor, tanto eu, quanto Carla oferecemos ajuda quando nosso pai o recriminou pela carreira escolhida, mas o garoto, muito provavelmente, com o orgulho ferido, quer conseguir o sucesso por mérito próprio. O admiro por isso. Já passava das 10 da manhã, nós dois estávamos tomando café e eu contava a decisão que tomei: — Cara, mas isso não vai dar merda, não?! Vocês tem um passado, um passado de boa, mas ainda assim foi um namoro! Você sempre tá com uma mulher diferente a cada vez que viaja e eu sei bem que ainda ama a cunhadinha, mas fazer isso é arriscado demais. — Arriscado? Nós nos amamos e não penso em outra mulher para ser mãe de um futuro filho meu, essa criança ajudaria a fazê-la enxergar que podemos recomeçar! - Confirmo, convicto da minha decisão. Tomando um gole de s
Carla F Clarke O relógio marca 20h30 da noite. Estamos atrasados, dou uma última olhada no espelho. Estou me sentindo linda num vestido preto de seda, com decote em v e uma fenda lateral. Meus cabelos estão cacheados nas pontas e um salto de 15cm compunha o visual. A maquiagem estava mais clara, o destaque estava em meus lábios cor escarlate. Caminho do quarto até o corredor e meu corpo se choca com um Tomás num terno preto perfeitamente alinhado, acabo tropeçando e sendo amparada por ele. Suas mãos quentes causam arrepios em minha pele exposta. Noto os músculos recém definidos em seus braços, alguém está finalmente levando a academia à sério. Nos encaramos e prendo o fôlego por alguns segundos, fico perdida naquelas esferas escuras dilatadas. Prestando mais atenção nele, percebo que conheço cada um dos seus detalhes bem de perto: a maciez dos cabelos domados com gel pegajoso, a barba crescendo desproporcional em seu maxilar, o meio sorriso galanteador que desponta em seus lábi
Tomás Alonzo O trajeto para a afterparty é desconfortável. O único barulho que pode ser ouvido são as unhas de Carla batendo no teclado do celular enquanto troca mensagens com Mariana. O comportamento invasivo da imprensa a inibiu de um jeito inesperado e o fato de que quase nos beijamos mais cedo não ajuda em nada. O desânimo me toma ao ponto de não ter pique para comemorar a vitória em duas categorias da premiação. Adentramos o salão do hotel e o clima aqui é bem mais descontraído do que na cerimônia, todo mundo parece menos tenso. — Ei, desculpa ter insistido pra você vir comigo hoje. Eu não fazia ideia que ia acontecer aquela situação ridícula, Carlinha! – Enrolo a ponta de seus cabelos escuros entre os dedos. — Tudo bem, Tomás! De toda forma, não foi culpa sua, mas sabe como pode melhorar meu humor?– Ela abre um sorriso, levando a minha taça de champanhe à boca. — como? — Dança comigo? Olhei para o palco e tocava Love nwantiti remix, Mariana já pulava em frente à cabin
Carla F Clarke Já passava da meia noite, meu vestido estava grudado à pele por conta do suor que escorria pelo meu pescoço e minha bebida estava começando a esquentar no copo que eu segurava apenas de enfeite. Mariana tinha sumido com outra amiga nossa e fiquei cansada de brincar de seduzir o Campos Alonzo, um beijo que seja e eu ia acabar nua na cama daquele traiçoeiro, o que não seria nada mal, se não tivesse um plano em jogo. Um bebê em jogo. Entretanto, tecnicamente para ter o bebê, independente de qual fosse a minha escolha, eu ainda precisava de um maldito homem e por mais que odeie admitir meu ex namorado parecia ser a opção mais confiável e acessível no momento. Caminho meio sem rumo pelo salão do evento sentindo a frustração preencher minha alma, percebendo que em poucos meses, 3 para ser exata o tempo para cumprir a maldita lista de desejos terá se esgotado. Quase perco um par dos sapatos, tamanha a preguiça de continuar andando. Por sorte, esbarro em Tomás de novo, está
Tomás AlonzoO carro está estacionado dentro de um fast food 24 horas. Tudo que consigo ouvir é o canto dos grilos e o ronco do motorista no banco da frente. Agitada, Carla suga o canudo do milkshake de chocolate com pedaços crocantes de amendoim, o pote de batatas fritas dividido por nós já está na medida. O vento frio entrando pela janela faz seus cabelos negros e cacheados voarem, a luz do luar realça as maçãs perfeitamente redondas de seu rosto, o sorriso que desponta em seus lábios e reflete nos olhos enquanto mastiga encarando o céu, acaba por me deixar fascinado. Meu coração parece querer saltar do peito a qualquer instante, é bobagem, mas, me sinto com 16 anos de novo.Apaixonado e depois de muito tempo em uma casca de inseguranças e pose de machão desapegado, vulnerável.Por meio segundo, apenas por meio segundo, eu repenso sobre tudo que afirmei para Josh mais cedo, não estou mais tão certo de me infiltrar nos planos e sonhos de Carla seja a melhor maneira de reconquistar se
Carla F Clarke Os primeiros três anos da minha vida eu passei no orfanato " Doce infância " todas as lembranças desse lugar são um borrão, como vim parar aqui não é, a diretora disse ao meu pai adotivo que a mulher que me deixou aqui aos 6 meses, alegou não poder desperdiçar a juventude cuidando de uma criança. Fui, surpreendentemente bem cuidada aqui, mas ainda assim, eu não falava muito e pouco interagia com as outras crianças que pareciam acanhadas de mim e eu delas. A sorte começou a sorrir pra mim, quando o senhor Ferrer Clarke passou a me visitar acompanhado de Hande, que insistiu para o pai me adotar. Aos 4 anos e meio, a adoção foi formalizada. Fui cercada de amor e psiquiatras de todos os lados, Roger me amava como se eu fosse sua filha desde que nasci e nunca fez distinção entre eu e minha irmã Hande. Nossa avó Marisa vivia a me contar histórias e mimar com todo carinho possível, ela vivia entre Salvador e RJ para ficar perto de nós. Aos 15 anos, meu pai adotivo morre