Carla F Clarke
O relógio marca 20h30 da noite. Estamos atrasados, dou uma última olhada no espelho. Estou me sentindo linda num vestido preto de seda, com decote em v e uma fenda lateral. Meus cabelos estão cacheados nas pontas e um salto de 15cm compunha o visual. A maquiagem estava mais clara, o destaque estava em meus lábios cor escarlate.
Caminho do quarto até o corredor e meu corpo se choca com um Tomás num terno preto perfeitamente alinhado, acabo tropeçando e sendo amparada por ele. Suas mãos quentes causam arrepios em minha pele exposta. Noto os músculos recém definidos em seus braços, alguém está finalmente levando a academia à sério.
Nos encaramos e prendo o fôlego por alguns segundos, fico perdida naquelas esferas escuras dilatadas. Prestando mais atenção nele, percebo que conheço cada um dos seus detalhes bem de perto: a maciez dos cabelos domados com gel pegajoso, a barba crescendo desproporcional em seu maxilar, o meio sorriso galanteador que desponta em seus lábios finos naturalmente rosados, quase sempre convidativos para um beijo.
Tenho certeza que estamos pensando o mesmo, pois parece igualmente hipnotizado pela minha boca. Ele se aproxima um pouco mais, se é que é possível, nossas respirações se misturam e o roçar leve dos nossos narizes provoca cócegas. Sentindo uma ansiedade familiar borbulhar em meu estômago fecho os olhos à espera do que está por vir.
Seus lábios tocam levemente os meus em um selinho meio torto antes que o som irritante do celular nos assuste e nos afastamos em um pulo, como se tivéssemos acabado de ser pegos em flagrante.
Depois de atender a ligação, o cantor me estende o braço como se nada tivesse acontecido informando que o carro está nos esperando. Abro meu melhor sorriso para disfarçar a tremedeira em minhas mãos e pernas e o coração quase saindo pela boca.
O trajeto até o local do evento é silencioso e constrangedor, o que não combina com nenhum de nós dois, já fizemos coisas muito piores e nunca fiquei tão acanhada como agora.
Ao descer do veículo somos recebidos por flashes que quase me cegam e perguntas inconvenientes de repórteres como " quando pretendemos anunciar que voltamos ? " Ou se existem planos de um futuro casamento ou faremos projetos juntos?! " Tento me desviar ao máximo de cada uma delas e tenho vontade de correr.
— Somos apenas amigos agora, Carla gentilmente aceitou me acompanhar nesta noite tão especial. – É o que Tomás afirma, entretanto, seus braços ao redor da minha cintura, a maneira como me olha com segundas intenções e o sorriso provocador e cafajeste que lança pra mim e para câmeras dá ainda mais força para as especulações de um possível romance secreto.
Uma onda de ódio percorre minhas veias, pois, sei que está fazendo isso de propósito para arruinar a lista de potenciais pais para o meu bebê. Com boatos do nosso relacionamento reatado, ninguém será capaz de se envolver comigo sabendo que estou, em teoria, comprometida, digo, ninguém com caráter.
Por meio segundo, eu ODEIO Tomás Alonzo com todas as forças existentes em meu corpo.
Ele estava dando um jeito de ser a única opção que restava eu entendi bem?
Adentramos o grande teatro onde ocorre a premiação de jovens talentos brasileiros, segundo sua empresária, é o último ano que Tomás pode competir, então estamos torcendo para que vença todas as categorias para as quais foi indicado.
Durante todas as performances, ele segura a minha mão, apertando-a ansiosamente, deixo a raiva de lado e permaneço com nossos dedos entrelaçados porque compreendo seu nervosismo.No final de tudo, acaba levando os prêmios de melhor álbum e música do ano para casa.
É na afterparty que nosso jogo se inicia
Tomás Alonzo O trajeto para a afterparty é desconfortável. O único barulho que pode ser ouvido são as unhas de Carla batendo no teclado do celular enquanto troca mensagens com Mariana. O comportamento invasivo da imprensa a inibiu de um jeito inesperado e o fato de que quase nos beijamos mais cedo não ajuda em nada. O desânimo me toma ao ponto de não ter pique para comemorar a vitória em duas categorias da premiação. Adentramos o salão do hotel e o clima aqui é bem mais descontraído do que na cerimônia, todo mundo parece menos tenso. — Ei, desculpa ter insistido pra você vir comigo hoje. Eu não fazia ideia que ia acontecer aquela situação ridícula, Carlinha! – Enrolo a ponta de seus cabelos escuros entre os dedos. — Tudo bem, Tomás! De toda forma, não foi culpa sua, mas sabe como pode melhorar meu humor?– Ela abre um sorriso, levando a minha taça de champanhe à boca. — como? — Dança comigo? Olhei para o palco e tocava Love nwantiti remix, Mariana já pulava em frente à cabin
Carla F Clarke Já passava da meia noite, meu vestido estava grudado à pele por conta do suor que escorria pelo meu pescoço e minha bebida estava começando a esquentar no copo que eu segurava apenas de enfeite. Mariana tinha sumido com outra amiga nossa e fiquei cansada de brincar de seduzir o Campos Alonzo, um beijo que seja e eu ia acabar nua na cama daquele traiçoeiro, o que não seria nada mal, se não tivesse um plano em jogo. Um bebê em jogo. Entretanto, tecnicamente para ter o bebê, independente de qual fosse a minha escolha, eu ainda precisava de um maldito homem e por mais que odeie admitir meu ex namorado parecia ser a opção mais confiável e acessível no momento. Caminho meio sem rumo pelo salão do evento sentindo a frustração preencher minha alma, percebendo que em poucos meses, 3 para ser exata o tempo para cumprir a maldita lista de desejos terá se esgotado. Quase perco um par dos sapatos, tamanha a preguiça de continuar andando. Por sorte, esbarro em Tomás de novo, está
Tomás AlonzoO carro está estacionado dentro de um fast food 24 horas. Tudo que consigo ouvir é o canto dos grilos e o ronco do motorista no banco da frente. Agitada, Carla suga o canudo do milkshake de chocolate com pedaços crocantes de amendoim, o pote de batatas fritas dividido por nós já está na medida. O vento frio entrando pela janela faz seus cabelos negros e cacheados voarem, a luz do luar realça as maçãs perfeitamente redondas de seu rosto, o sorriso que desponta em seus lábios e reflete nos olhos enquanto mastiga encarando o céu, acaba por me deixar fascinado. Meu coração parece querer saltar do peito a qualquer instante, é bobagem, mas, me sinto com 16 anos de novo.Apaixonado e depois de muito tempo em uma casca de inseguranças e pose de machão desapegado, vulnerável.Por meio segundo, apenas por meio segundo, eu repenso sobre tudo que afirmei para Josh mais cedo, não estou mais tão certo de me infiltrar nos planos e sonhos de Carla seja a melhor maneira de reconquistar se
Carla F Clarke Os primeiros três anos da minha vida eu passei no orfanato " Doce infância " todas as lembranças desse lugar são um borrão, como vim parar aqui não é, a diretora disse ao meu pai adotivo que a mulher que me deixou aqui aos 6 meses, alegou não poder desperdiçar a juventude cuidando de uma criança. Fui, surpreendentemente bem cuidada aqui, mas ainda assim, eu não falava muito e pouco interagia com as outras crianças que pareciam acanhadas de mim e eu delas. A sorte começou a sorrir pra mim, quando o senhor Ferrer Clarke passou a me visitar acompanhado de Hande, que insistiu para o pai me adotar. Aos 4 anos e meio, a adoção foi formalizada. Fui cercada de amor e psiquiatras de todos os lados, Roger me amava como se eu fosse sua filha desde que nasci e nunca fez distinção entre eu e minha irmã Hande. Nossa avó Marisa vivia a me contar histórias e mimar com todo carinho possível, ela vivia entre Salvador e RJ para ficar perto de nós. Aos 15 anos, meu pai adotivo morre
Tomás Alonzo No dia seguinte, Carla me enviou uma mensagem pedindo para buscá-la no estúdio de dança. O segundo teste ia começar, eu fui, mesmo sem saber o que ia ganhar ao fim desses testes, além da paternidade do bebê, é claro. Chegando lá, recebi outra mensagem que diz: Minha futura esposa 🤍: tô na sala 7, tenho um presente pra você, cuide com carinho, viu, Bê? Eu: Tô até com medo de entrar aí. Minha futura esposa 🤍: eita como é frouxo! Vem logo, menino! Eu: tô indo, mulher. Apresso o passo e chego até sala 7 pelas rampas, duas professoras olharam pra mim e sorriram de uma forma estranha. Quando entrei, a primeira coisa que vejo é a Carla sentada no piso de madeira, ela está segurando um bebê enrolado numa manta azul, ao lado dela, está um carrinho também azul, ela levanta o rosto para me olhar, sorri e diz: — Oi, quer segurar? — Carla ergue o bebê para mim. — De quem ele é? — Sento ao lado dela, sorrindo,um pouco desconfiado. — Ele é o seu presente, que você precisa cu
Tomás Alonzo No dia seguinte, Carla me enviou uma mensagem pedindo para buscá-la no estúdio de dança. O segundo teste ia começar, eu fui, mesmo sem saber o que ia ganhar ao fim desses testes, além da paternidade do bebê, é claro. Chegando lá, recebi outra mensagem que diz: Minha futura esposa 🤍: tô na sala 7, tenho um presente pra você, cuide com carinho, viu, Bê? Eu: Tô até com medo de entrar aí. Minha futura esposa 🤍: eita como é frouxo! Vem logo, menino! Eu: tô indo, mulher. Apresso o passo e chego até sala 7 pelas rampas, duas professoras olharam pra mim e sorriram de uma forma estranha. Quando entrei, a primeira coisa que vejo é a Carla sentada no piso de madeira, ela está segurando um bebê enrolado numa manta azul, ao lado dela, está um carrinho também azul, ela levanta o rosto para me olhar, sorri e diz: — Oi, quer segurar? — Carla ergue o bebê para mim. — De quem ele é? — Sento ao lado dela, sorrindo,um pouco desconfiado. — Ele é o seu presente, que você precisa cu
Tomás AlonzoAcordar com Carla nos meus braços sempre vai ser a melhor sensação de todas. Ver a serenidade do seu rosto durante o sono, sua respiração regulada, o jeito como seu corpo está perfeitamente enrolado no meu, seus lábios inchados, as marcas que eu deixei em seu pescoço e clavícula, seu perfume de jasmim e especiarias. Decoro todo detalhe que é possível. Ela se encolhe quando o sol atravessa a janela e clareia seu rosto. — apaga essa luz aí! – resmungou, afundando o rosto no meu peito. — É o sol, Amor, quer que te leve pro seu quarto? – Sussurro. — Depende, você vai ficar lá comigo? — Carla faz um bico e eu mordo. — Vou, linda — eu a carrego para o quarto dela. Estamos deitados na cama dela, Carla ainda está agarrada em mim, apesar do espaço grande, ela ainda está de olhos fechados falando várias coisas sem sentido. É sempre assim quando acorda. — Quando eu disse pra você tomar uma atitude não era pra me beijar e muito pra acabarmos transando no sofá de novo, a gente
— Carla, você enlouqueceu? Como assim você e seu ex-namorado vão adotar uma adolescente com um filho? E como assim você está pensando em engravidar ao mesmo tempo do processo de adoção? Você sabe que ter um filho não é como brincar de casinha, certo? E se quer minha opinião, continue cuidando da sua carreira, sua vida está ótima do jeito que está, você não precisa ter filhos agora. — Hande me olhava através da tela como se tivesse louca, depois que eu contei meus planos para depois da viagem. Não me levem a mal, eu amo a minha irmã, mas ela tem um jeito de tentar destruir qualquer expectativa ou sonho que eu crie para mim, ela sempre acha que sabe o que é melhor pra mim. — É, eu sei que parece loucura,mas sempre quis ser mãe e você sabe, fiz uma lista no ensino médio e só falta esse item, eu sinto que estou pronta, irmã. – Me esforço para falar sem chorar. — Odeio ter que te dizer isso, maninha, mas adotar uma adolescente não vai trazer nosso pai de volta, engravidar não vai fech