Capítulo 5

Carla F Clarke 

  O relógio marca 20h30 da noite. Estamos atrasados, dou uma última olhada no espelho. Estou me sentindo linda num vestido preto de seda, com decote em v e uma fenda lateral. Meus cabelos estão cacheados nas pontas e um salto de 15cm compunha o visual. A maquiagem estava mais clara, o destaque estava em meus lábios cor escarlate. 

 Caminho do quarto até o corredor e meu corpo se choca com um Tomás num terno preto perfeitamente alinhado, acabo tropeçando e sendo amparada por ele. Suas mãos quentes causam arrepios em minha pele exposta. Noto os músculos recém definidos em seus braços, alguém está finalmente levando a academia à sério. 

 Nos encaramos e prendo o fôlego por alguns segundos, fico perdida naquelas esferas escuras dilatadas. Prestando mais atenção nele, percebo que conheço cada um dos seus detalhes bem de perto: a maciez dos cabelos domados com gel pegajoso, a barba crescendo desproporcional em seu maxilar, o meio sorriso galanteador que desponta em seus lábios finos naturalmente rosados, quase sempre convidativos para um beijo. 

 Tenho certeza que estamos pensando o mesmo, pois parece igualmente hipnotizado pela minha boca. Ele se aproxima um pouco mais, se é que é possível, nossas respirações se misturam e o roçar leve dos nossos narizes provoca cócegas. Sentindo uma ansiedade familiar borbulhar em meu estômago fecho os olhos à espera do que está por vir. 

Seus lábios tocam levemente os meus em um selinho meio torto antes que o som irritante do celular nos assuste e nos afastamos em um pulo, como se tivéssemos acabado de ser pegos em flagrante.

 Depois de atender a ligação, o cantor me estende o braço como se nada tivesse acontecido informando que o carro está nos esperando. Abro meu melhor sorriso para disfarçar a tremedeira em minhas mãos e pernas e o coração quase saindo pela boca. 

O trajeto até o local do evento é silencioso e constrangedor, o que não combina com nenhum de nós dois, já fizemos coisas muito piores e nunca fiquei tão acanhada como agora. 

  Ao descer do veículo somos recebidos por flashes que quase me cegam e perguntas inconvenientes de repórteres como " quando pretendemos anunciar que voltamos ? " Ou se existem planos de um futuro casamento ou faremos projetos juntos?! " Tento me desviar ao máximo de cada uma delas e tenho vontade de correr.

— Somos apenas amigos agora, Carla gentilmente aceitou me acompanhar nesta noite tão especial. – É o que Tomás afirma, entretanto, seus braços ao redor da minha cintura, a maneira como me olha com segundas intenções e o sorriso provocador e cafajeste que lança pra mim e para câmeras dá ainda mais força para as especulações de um possível romance secreto.  

 Uma onda de ódio percorre minhas veias, pois, sei que está fazendo isso de propósito para arruinar a lista de potenciais pais para o meu bebê. Com boatos do nosso relacionamento reatado, ninguém será capaz de se envolver comigo sabendo que estou, em teoria, comprometida, digo, ninguém com caráter. 

Por meio segundo, eu ODEIO Tomás Alonzo com todas as forças existentes em meu corpo.

 Ele estava dando um jeito de ser a única opção que restava eu entendi bem? 

Adentramos o grande teatro onde ocorre a premiação de jovens talentos brasileiros, segundo sua empresária, é o último ano que Tomás pode competir, então estamos torcendo para que vença todas as categorias para as quais foi indicado. 

 Durante todas as performances, ele segura a minha mão, apertando-a ansiosamente, deixo a raiva de lado e permaneço com nossos dedos entrelaçados porque compreendo seu nervosismo.No final de tudo, acaba levando os prêmios de melhor álbum e música do ano para casa. 

É na afterparty que nosso jogo se inicia

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