Sorri e alisei o rosto dela:
- Quer me matar? Quantas vezes irá se ferir?
Ela sorriu antes de dizer:
- Depois que Nicolle me feriu não lembro de muita coisa, pois fiquei meio atordoada na hora. Mas vi um troféu no chão, que creio que tenha sido o que me feriu. Será que isto é um sinal?
- Um sinal? – arqueei a sobrancelha.
- Sim, um sinal de que ganharei a eleição.
Enquanto eu a olhava, impressionado com seu pensamento, Calum começou a rir:
- Um troféu na cabeça significa simplesmente um troféu na cabeça, Danna.
A porta se abriu e Jorge entrou, também sem bater na porta, como eu. Seu olhar era de preocupação.
- Como você está Danna? – Ele quis saber, logo levantando seus cabelos e observando o curativo.
- Estou deste jeito... Incrédula pela atitude da prefeita. – Confessou – E... As notícias se espalham rápido nesta cidade. – Olhou para nós três ali.
Jorge suspirou:
- Sim, muito mais rápido do que dev
Danna arregalou os olhos:- E você aceitou, não é mesmo?- Se for seu desejo, por mim tudo bem.Ela vibrou e me abraçou. Sentir seu perfume, o pescoço tão próximo do meu era algo que sempre me deixava um pouco nervoso, como se ela ainda fosse um pouco proibida... Ou quem sabe eu ainda não acreditava que Deus tivesse aceitado de forma tão tranquila minha desvinculação da igreja, sempre esperando que algo ruim acontecesse. No entanto ela estava ali, totalmente minha.- Acha que conseguiremos encontrar bons lares adotivos para todas as crianças? - perguntei, como se precisasse da garantia dela, já que Danna conseguiu atrair mais interessados em adotar as crianças em meses do que eu numa vida inteira.- Não sei conseguiremos para todos, Killian. Mas ainda assim, tentaremos... Até o fim. E os que não saírem do orfanato seguir&atil
POV DANNA DAVEEu não esperava tanta gente na nossa divulgação do plano de governo. Mas percebi que certamente toda a cidade estava ali, a maioria sentados e os que não conseguirão lugar estavam de pé, olhando para o pequeno e discreto palco montado com quatro cadeiras para as candidatas ao cargo de prefeitas e vice.Eu estava com Maria Cecília e Nicolle Sturman já sentada, acompanhada de sua vice, uma senhora que eu nunca vi na vida, sequer sabendo se de fato pertencia a Machia.Meu pai teve um compromisso inadiável na capital e infelizmente não poderia assistir meu primeiro discurso político. Mas aquilo me dava um pouco mais de confiança, pois saber que ele estaria ali, me analisando, talvez me trouxesse certa insegurança. Embora eu o criticasse muito enquanto pai, nunca duvidei que fosse um ótimo político. E justo por aquele motivo eu queria ser diferente:
Nicolle, ao perceber que meu discurso estava agradando, levantou-se rapidamente:- Dinheiro não compra tudo, Danna Dave! – apontou o dedo na minha direção – Principalmente boa educação.- Não estou sendo educada, Nicolle? – sentei-me novamente – Pois assim está bom para você? – cruzei as pernas e pus as mãos sobre os joelhos, fazendo pose de boa moça – eu poderia fingir ser esta pessoa – levantei-me novamente – Mas felizmente não sou. Não é do meu feitio ser hipócrita.Nicolle levantou-se e ficou na minha frente:- Você quebrou toda a minha sala na prefeitura, Danna – ela levantou os braços e mostrou as marcas para todos – Olhem os arranhões... Tudo feito por ela – me acusou – E nem lembro o que falei que a deixou tão agressiva e violenta. Este é o tipo de mulher que querem para ser prefeita de Machia? – apontou para os arranhões no rosto.- Se ela fizer o hospital e não agredir a gente, está tudo bem! – alguém gritou, fazendo uma gracinha, da qual
- Eu... Não compactuei com o que Lourenço fez. E sequer... O visitei na cadeia. Ele teve um advogado público... Porque não paguei um advogado para defendê-lo. – Aquela foi a forma de Nicolle de se defender.- Se não compactuou... Por que me culpa pelo que o seu filho fez? – Perguntei, de forma sincera.- Inclusive tenho provas – ela pegou mais alguns papéis e levantou-os, de forma vitoriosa – A prova de que nunca visitei meu próprio filho na cadeia.Suspirei e balancei a cabeça, incrédula:- Isto só prova que você é uma péssima mãe. E tudo com que se importa é a porra do seu cargo. Só se preocupou em mostrar que não visitou seu filho. Ou seja, não ficou do lado dele... Nem do meu. Quer se esquivar, não tomar posicionamento com relação a nada... Porque tudo com que se preocupa &eacut
- Já tenho dúvidas de quem realmente quebrou toda a sala da prefeitura... – Marialva balançou a cabeça, confusa – Afinal, é palavra contra palavra... O que não podemos levar em conta. Eu só gostaria de dizer que quanto às crianças do orfanato, Danna tem razão. Se cada um de nós fizer a nossa parte, realmente não precisamos de um orfanato em Machia. Tantos de vocês tiveram os filhos crescidos que partiram. Ou infelizmente os que partiram para o céu... Anjos que Deus não quis que ficassem por aqui. Eu estive no orfanato... São crianças maravilhosas. Sem contar que se precisarmos de ajuda para qualquer coisa... Sempre teremos Killian... Ou mesmo Danna para nos instruírem de como agirmos para que estes pequenos sejam acolhidos e felizes. Eu... Penso em adotar Ananda. Sou uma pessoa solitária... E sinceramente nunca pensei que uma criança
Eu não devia… Nem imaginava que algum dia poderia reagir daquela forma. Mas senti pena de Juliana Sturman. Por algum motivo me vi nela… Amargurada, vingativa, querendo que o mundo se curvasse aos meus pé. Era exatamente eu há algum tempo atrás, antes de chegar em Machia. Talvez Killian tivesse um pouco de razão quando dizia que o seu Deus tratava de punir os pecadores sem que precisássemos intervir muito.- Não pensa em esquecer o seu passado traumático e seguir em frente? - Perguntei.Juliana riu de forma irônica:- Isto tudo é o medo?- Não… É pena! - Confessei, incerta se era realmente para magoá-la que proferi aquelas palavras sinceras.- Poupe-me de suas palavras venenosas, Danna Dave. Elas não me atingem.- Já vivi de passado e fui exatamente como você. E me dei em conta do tanto de tempo que perdi com isto
- Claro que não, Deise – respondeu Alegra, que tinha sorvete até no nariz – Ela é filha da prefeita e prefeitas não abandonam filhos.Juliana abaixou o olhar, parecendo ficar com o pensamento longe. A conversa com Deise certamente a fez refletir sobre algo que a deixou visivelmente entristecida.- Bem... Acho que está na hora de irmos, meninas. – Observei – Se quiser ir ao casamento, será bem-vinda, Juliana. Não sei se você tem maturidade para isto... Tampouco serei cínica a ponto de lhe oferecer um lugar na primeira fila. Confesso que quando decidi convidar você e sua mãe, contra vontade de Killian, inicialmente foi para que me invejasse. Mas... Isto mudou quando percebi que não preciso provar para ninguém, especialmente a você, que venci. Eu sou feliz e amada e sei disto. E basta.Virei as costas e saí, mas consegui ouvir Deise se despe
- E qual foi? Danna ganhou, não é mesmo? – Meu pai perguntou nervoso.Killian iluminou o rosto com um belo sorriso e eu não tive dúvidas do resultado.- Dentro de um mês Danna Dave assumirá a prefeitura de Machia. – A voz dele era carregada de emoção.- Eu sabia! – Meu pai gritou, eufórico, retirando-me do chão e girando meu corpo no ar.Abri meus braços, feliz e satisfeita. Não havia sido em vão todo meu esforço. E também o quanto de desaforo e humilhação que passei para obter aquele resultado.Quando meu pai me soltou, corri até Killian, pulando em seu colo. Eis algo que ainda não tínhamos feito: mostrar a todos o quanto nos amávamos, se é que alguém naquela cidade ainda não sabia. Porém demonstrações públicas de afeto não era alg