Por dois dias tentei convencer meu pai a voltar atrás em sua decisão e não me forçar a assumir a culpa por algo que não fiz de propósito... Ou fiz? Enfim, minha intenção não foi prejudicar o professor Jax... Ao menos não muito.Mas o certo é que não passou pela minha cabeça em momento algum que aquela porra toda poderia parar na mídia. Aquilo que literalmente me ferrou. Era só para Jax perder o emprego. Então ficaria sem ter como sustentar a família, me procuraria, se desculparia por ter me rejeitado, dormiria comigo, se apaixonaria, voltaria a dar aulas na faculdade, se divorciaria, não veria mais os filhos porque seria somente eu na sua vida, já que eu podia proporcionar a ele qualquer coisa... E enfim, seríamos felizes para sempre. Ou enquanto durasse minha vontade de ficar com ele.Não pensei que a situação
- Você também pode e merece ser feliz, Danna. Por que não tenta? Por que não dá uma chance a si mesma? – A voz de Nadine foi baixa, tranquila, quase doce.Aquela mulher poderia até conseguir enganar meu pai, mas não a mim. Era sim interesseira.- Irei marcar duas horas de terapeuta para você amanhã, Danna. Faz onze anos que você age como uma criança e se recusa a falar com ela. Se não botar para fora todos os seus anseios e medos, irá embora desta casa.- Legalmente você não pode fazer isto.- Eu posso... Esta casa é minha e eu posso fazer o que quiser. Posso mandá-la embora, posso deixar de pagar sua mesada e obrigá-la a trabalhar e posso inclusive mandar interná-la, pois sei que usa drogas e alegarei que é uma viciada e por isto age desta forma.- Seria mentira... E mentir não é correto.<
- Lúcia não foi uma boa menina! – Expliquei, não conseguindo impedir um sorriso maldoso.- E você tem sido uma boa menina, Danna?- Até os nove anos eu fui uma boa menina... No entanto o ser que vocês chamam de Deus tirou a minha mãe de mim. De que adiantou ser boa, não é mesmo?- Acha que a culpa é de Deus?- Parte sim... E a outra parte é da Lúcia. Já me vinguei dela. De Deus... Bem, ainda não sei como fazer isto... Mas talvez um dia eu descubra.- Como vê a si mesma, Danna?Eu gargalhei:- Acha mesmo que vamos ter esta conversa? Eu não falei com você por doze anos e pensa do nada eu abriria meu coração endurecido e quebrado para que me julgue e analise?- Seu coração endurecido e quebrado... – ela balançou a cabeça – Foi por isto que... – levantou
Assim que a ampla porta automática se abriu, senti o sol leve da tarde batendo na minha pele. Eu amava o sol.- Que ler a sorte? – Ouvi a voz ao meu lado.Estreitei os olhos e acho que não consegui evitar meu semblante de horror ao ver a mulher à minha frente, cheia de bijuterias, usando uma roupa com tantas cores que parecia ter vindo do circo.Dei um passo para trás, assustada.Antes que eu falasse qualquer coisa, ela pegou minha mão, analisando-a:- Nunca vi tanta dor... E sofrimento... – Me olhou.Retirei a mão em poder dela com força.- Não quer saber sobre o futuro? – Inquiriu.Neguei com a cabeça.- Acha que o futuro a Deus pertence? – Ela riu.- Não acredito em Deus.- Mas anda lado a lado com ele, menina! – Ela meneou a cabeça.Antes que eu pudesse agir ou dizer algo, a mulher pegou nov
Fiquei sem ação, olhando para meu pai, certa de que era uma brincadeira de muito mal gosto. Ele olhou no relógio:- O tempo está passando, Danna. Quanto mais demorar, menos tempo terá para pensar no que levar.- Eu... Sei que isto não é verdade... É uma brincadeira! Quer ver como reagirei ou o que botarei na mala, não é mesmo? Faz parte da terapia... Tipo, o que é mais importante para mim? Pois saiba que... Você não cabe na mala, papai. Então... Não posso botar nelas o que tenho de mais importante. – Falei com doçura, tentando convencê-lo a mudar de ideia.- Não faz parte da terapia, Danna. Faz parte do que eu desejo para você a partir de agora: responsabilidade e juízo. E pode achar que o que lhe direi é ridículo, mas é o melhor presente que eu poderia lhe dar de aniversário.- Danna, p
- Saia da minha casa! – meu pai disse entredentes.Entrei no elevador e subi olhando os dois ficarem ali, me observando deixar minha casa, meu lar, como se fosse algo absolutamente normal.O motorista embarcou minhas malas e recostei-me no banco de couro enquanto ele dava a ré pela garagem de vidro, saindo diretamente na autoestrada, pouco movimentada àquela hora da noite.- Para onde iremos, senhorita Dave? – Ele perguntou, me olhando pelo retrovisor.- Pode... Ir dirigindo... Enquanto eu decido. – Minha voz não soou tão decidida, como sempre.A única pessoa que talvez me ajudasse seria Moana. Mas depois do que eu havia feito, pondo o nome dela dentro do caso do professor Gatti, ela jamais me deixaria ficar em sua casa ou mesmo me daria dinheiro. Tinha Lucas... Ele havia deixado bem claro que queria dormir comigo. Mas ficar com ele faria de mim uma viciada em cocaína, algo que eu tentava
Ela me abraçou com força, com se me conhecesse há uma vida inteira. Não consegui mover meus braços em sua direção. Eu era uma pessoa que sabia dar afeto... Tampouco receber. A última pessoa que me deu um abraço daqueles foi... Aquela mesma mulher, no funeral de minha mãe.Mas eu não podia negar que aquele abraço era muito parecido com o de Celli Dave: quente, espontâneo, com tanto afeto que chegava a me dar medo.Isla não era muito alta, talvez um pouco mais baixa do que eu. Magra, morena, com a pele um tom mais claro que a minha. Os cabelos escuros estavam levemente ondulados e ficavam na altura do meio de suas costas. Vestia um conjunto de calça e blusa de mesma cor, de tecido confortável. Os olhos eram castanhos, o nariz fino e alongado e os lábios pequenos. Era bonita, embora minha mãe fosse mais.- Esta é sua prima, Vanessa.
Vanessa me olhou de forma confusa e depois carregou minhas malas até um canto, deixando-as próximas do armário:- Não sei se caberão todas as suas roupas aqui. Então... Tentarei arranjar mais espaço para você assim que der.Ela pegou um colchão e pôs no chão:- Talvez queira conversar, mas estou cansada e preciso dormir. Amanhã... Ou melhor, hoje, preciso trabalhar. – Olhou no relógio de pulso.- Mas você não estava dormindo?- Estava... Na cama da minha mãe.- E sua mãe?- Ela estava fazendo algumas coisas do trabalho, esperando por você. Estava ansiosa e tinha medo que chegasse e não percebêssemos. Eu acabei adormecendo.- Vocês... Estavam na mesma cama?Vanessa riu:- Sim... Ela é minha mãe! Vez ou outra dormimos na mesma cama. – Arqueou a sobranc