Capítulo 03

Eu devia ter ido direto, mas não tinha que cortar caminho, queria ver o lago, queria lembrar da minha infância de quando as coisas eram simples, quando eu era a pequena Liz, que passava as férias no sítio da sua madrinha e brincava com Marcos, nessa época não havia dor, éramos só crianças. E só porque eu queria me apegar um pouco nessa menininha que ainda não tinha quebrado o coração de Marcos, que me enfiei nessa enrascada.

  “Como eu tenho sorte!”

O carro atolou e por mais que eu tentasse não saia do lugar, peguei meu celular para tentar achar sinal, precisava pedir para alguém ir ao meu encontro,  quando ouvir uma voz de longe.

—  Sempre procurando o jeito mais fácil Liz.

Me virei e senti minhas pernas fraquejarem, ele estava lindo, seus cabelos continuavam com o mesmo corte da adolescência, mas ele não era o garoto magricela que eu deixei, ele agora adquiriu músculos “ e que músculos". Ele usava uma regata branca, que estava um pouco molhada, como se alguém tivesse jogado água nele e uma bermuda preta, seus olhos cor de mel brilhavam com a zombaria, e havia um sorrisinho de triunfo que simplesmente não entendi. 

— Pode não parecer, mas pessoas normais pedem ajuda. — Enfim conseguir dizer, havia uma tensão sobre nós, ele não desviou o olhar, parecia determinado a me encarar a ler minhas expressões, se ele está esperando um pedido de desculpas está muito enganado.

—  Pessoas fracas, pedem ajuda sem ao menos tentar antes. —  Ele se aproximou e eu senti meu coração indo á boca, eu não devia mais sentir isso, não devia sentir como se houvessem borboletas no meu estômagos, eu as matei, matei todas elas quando decidir ir embora, mas lá estavam elas revivendo só com olhar dele sobre mim. 

—  Então porque não tenta sozinho. —  Balancei a chave para ele, que veio até mim, com certa fúria, aproximou seu corpo do meu, não o bastante para encostar, mas o suficiente para me deixar sem ar.

— Não tenho nada com seus problemas Liz. — E então sorriu se afastando e se encostando em uma árvore.  — Não tem sinal de celular por aqui, mas pode subir em alguma árvore, talvez alguma desses pássaros se a padeça de você e leva o seu recado, ou se preferir pode ir até a casa andando.  

Olhei para os meus pés , estava com uma sapatilha que com certeza não tinha sido feita para caminhadas longas, não imaginei que iria precisar andar. Mas se ele acha que vou implorar por sua ajuda, ele está muito enganado, eu me virei, peguei a minha bolsa, o encarei e elevei o queixo e sai.

“Devo avisá-la que está indo pelo caminho errado” 

Ele sussurrou, me virei para encará-lo novamente.

—  Continuar infantil!

—  Sou o mesmo Liz, quem foi para cidade grande foi você, eu sou o mesmo Marcos de sempre, sem qualquer alteração. — Olhei para os músculos novamente, não exatamente o mesmo.  

—  Estou vendo. —  Falei seguindo por outro caminho, fazia muito tempo que estive aqui, possivelmente vou me perder antes de conseguir achar a casa. 

— E a fascinante Liz, não consegue admitir que está perdida, tão orgulhosa. —  E não me virei, mas sabia que ele sorria. —  Se orgulha do que fez Liz?

Senti meu coração acelera, eu sabia que chegaria o dia que estaríamos frente a frente e que ele iria me cobra uma explicação, mas eu não a tinha, nada justificava a partida sem despedida, sem uma explicação, além de que se eu olhasse para trás, se eu tivesse que escolher entre seu abraço e meu sonho, talvez eu ficasse com seu abraço, eu precisei ser fria, precisei de toda as minhas forças para ir sem olhar para trás.

— Se orgulha da dor que causou a toda a sua família? A dor que causou na minha família Liz? —  Eu me virei e vi que ele estava indo até o carro, pegou a chave que eu tinha deixado no chão.

— Não, mas não importa, não posso mudar isso, não tem conserto, então apenas vamos esquecer. —  Ele me entregou a chave, tinha pegado algumas das minha malas.

—  Tranque o carro, te darei uma carona até a casa, minha mãe mandará alguém vim buscar o seu carro. —  E foi isso, ele não me encarou, mal me olhou quando disse isso, apenas continuou andando e eu o segui em silêncio.

O silêncio entre nós era como uma navalha percorrendo o meu corpo,a sensação que a qualquer momento ele perfumaria a minha pele, me questionaria novamente, se vira e me encarar com aquele grandes olhos cor de mel,  e me perguntaria porque fui sem despedida, porque não liguei, porque agir como se nunca tivéssemos sido nós. E o medo de não conseguir negar que foi porque se eu ouvisse sua voz, se ele me olhasse daquele jeito, como se eu fosse o mundo dele, eu largaria tudo e ficaria com ele, eu voltaria se ele pedisse, que não era tão forte como ele acha, se Marcos tivesse dado qualquer sinal que ainda me queria, teria voltado correndo. Isso me assustava, morria de medo de me perder naquele amor e me tornar apenas a esposa de Marcos, apenas uma esposa, eu queria mais que isso, muito mais que ser uma esposa de alguém. 

Quando me aproximei vi que Leila estava lá, a pequena Leila tinha se tornado uma linda mulher, claro ela devia ter apenas dezoito anos agoa, mas estava linda seu cabelos negros caia em cascatas por suas costas, ela ria junto ao que parecia ser seu namorado, ele era muito bonito e parecia ser mais velho, tinhas lindos olhos azuis e seus cabelos eram cacheados e loiros, ele parecer se aquelas pessoas que tudo sempre ta bem. Fiquei feliz por ver Leila tão bem, mas quando seus olhos verdes se ergueram em minha direção, consegui perceber que ela não sentia o mesmo. 

—  Falei que Marcos iria voltar, sua irmã queria que eu fosse atrás de você nessa mata. —  O homem sorri para mata. —  Ela realmente achou que eu voltaria se fosse atrás de você.

—  Ele é um covarde, disse que preferia ir buscar ajuda, está sempre se aproximando de pessoas que não se importam tanto assim com seu bem estar Marcos, acho que devo começar a escolher suas amizades e talvez seus amores, já que já provamos que é péssimo  nisso. —  Leila diz, me avaliando por um momento. —  Liz ficou tanto tempo fora, que não sabe o caminho da casa?

—  Meu carro atolou. —  Falei, mas ela pareceu nem me ouvir, apenas olhou para as mão de Marcos. 

—  Ao menos arrumou um chofer para ajudá-la. 

—  Não comece Leila, vamos para o carro, nossa mãe já deve tá surtando.  —  Marcos começou  a caminhar sem nem ao menos me olhar. 

—  Eu me chamo Mathew. —  O homem gentilmente tirou a mala que eu segurava da minha mão  e sussurrou. —  Você é a famosa Liz, a noiva fujona, sei muito de você, não são coisas boas.

E então caminhamos até o carro, eu me sentia completamente desconcertada com a forma que Leila me olhava, não esperava por isso, claro que não esperava flores, mas ela era tão apegada a mim, sempre estava me seguindo por aí, ela chorava para dormir na minha casa, mas agora havia um desprezo em seus olhos.

— Não vai entrar? —  Matheus me perguntou, e percebi que eu estava esperando pelo convite, parecia tão impróprio então naquele carro, parecia errado está com aqueles dois de novo, mas Matheus me deu um sorrizinho. —  Nos resta o banco do carona, Leila se sente adulta indo na frente. 

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