Capítulo 02

Ela está chegando, ouvir sua mãe falar com ela pelo telefone, então ela teria coragem de vim até mim, Liz se tornou mesmo uma desavergonhada, é isso que se espera de alguém que vai para cidade grande, nunca achei que veria novamente, eu sonhei tanto que um dia ela voltaria para implorar meu perdão, desejei tanto que ela se arrependesse, estive por vezes tentado em ir buscá-la, mas não fui, ela tomou um decisão e achei que manteria, ela prometeu que nunca mais pisaria aqui novamente, que nunca mais teria que vê-la, ela havia prometido. E eu tolo acreditei novamente em sua palavra, acreditei que eu poderia seguir minha vida, e deixar de ser a piada da cidade, mas agora ela vem sem pensar nas consequências, pronta para tirar o resto de paz que eu conseguir. 

Ouvido atrás da porta? Matheus disse rindo.

Não, apenas estava passando.

E decidiu ficar ouvindo as conversas. Ele era mesmo, um idota, arrumei minha postura e saí de  perto dele, sem dizer nada. 

Eu teria que me manter distante dela, não sei se vou conseguir me segurar e não dizer tudo que penso sobre ela, sobre o que ela fez comigo e com toda a nossa família, e agora ela será recebida como uma lady, minha mãe passou a manhã toda fazendo os doces favoritos da Liz, como se ela não tivesse nos tornado a piada da cidade por anos, como se ela não tivesse me arruinado. Mas agora ela volta como se não tivesse feito nada, sem consequências, porém eu não esqueci o que ela me fez passar, jamais a perdoarei de mim ela não terá nada.

 Vai mesmo ficar?  —  Leila pergunta, ela sabia o que eu tinha passado, minha irmã mais nova tinha sofrido como eu, e não estava tão tentada a perdoar Liz tanto quanto eu.

- É renovação de votos dos nossos pais, não vou faltar com eles, ela que devia saber que não é bem vinda. 

- Mamãe me proibiu de ignorá-la. 

- Não seria cortês de nossa parte, devemos tratá-la como qualquer outro convidado, nem pior nem melhor, como qualquer um. - Falei certo que isso é o melhor que eu conseguiria dar a ela, apenas a indiferença de ser como todos os outros, ela não merece sequer ser lembrada de que algum dia foi importante para mim.

- Podemos ir ao lago, seria divertido e não precisávamos esperar ela aqui, feitos cachorros ansiosos. -  Leila falou fazendo careta, ela era minha irmãzinha e eu que devia protegê-la, mas ela era extremamente protetora, nós dois tínhamos concordo que a felicidade do matrimônio dos nossos pais, não foi passado para nós. A pouco tempo ela também levou uma rasteira do amor, “essas coisas acontecem” eu falei e ela se virou para mim e disse com a cara mais lavada do mundo “ ao menos ele não me deixou no altar”. 

Leila era a única que  brincava com isso, a única que eu permitia trazer essa lembrança, porque ela foi a única que sentiu tanto quanto eu.  

- Nossa mãe iria nos matar. - Falei, Matheus que até então ouvia a conversa, pegou Leila no colo.

Por isso a ideia é boa, bem que eu quero ver você tomando uma surra da sua mãe. Os dois riram quando revirei os olhos.

Apenas por 1h ou 2h, mas que isso nossa mãe nos mata e eu não irei pensar duas vezes em entregar você Leila, e dizer que foi você que quebrou a porcelana de nossa avó.

Prometeu que nunca diria! - Seus olhos verdes se encheram de fúria e Matheus a soltou.

Vamos o sol já está esquentando. Ele diz revirando os olhos, Matheus é quase como irmão para mim, ele veio passar um tempo com sua tia, porém se apaixonou pela cidade e decidiu ficar, e com sua ajuda consegui erguer os negócios da minha família. 

Cada som de carro que eu ouvia ao longe, eu pensava que podia ser ela, o lago era pequeno e ficar um pouco distante da nossa casa, era um lugar quase escondido, apenas minha família tinha acesso, Leila se balançou no pneu que estava pendurada em uma árvore perto do lago e se jogou, eu já não tinha mesma disposição que ela, então apenas tirei o sapato e coloquei os pés na água, Matheus tirou a camisa e pulou na água fria, ele gostava mais disso aqui do que eu.

— Marcos, não seja chato, vamos pula também água, está uma delícia. — Leila disse, jogando água em mim, mas eu não cairia na implicância dela.

— Ele está chato hoje, porque aquela que não deve ser mencionada está voltando. — Matheus fala afogando a cabeça de Leila na água.

—  Vocês são ridículos. — Falei me levantando, resolvi dar uma volta, por ali, não queria provocações hoje.

Me distanciei o máximo que puder das vozes deles, sempre amei o ar do campo, gosto das coisas simples, e esse sempre foi o problema entre Liz e eu, ela sempre sonhou alto e por muito tempo eu estive disposto a largar tudo por ela, mas a vida não é tão simples e quando eu me neguei a seguir seu sonho e pedir que ela seguisse o meu vi que ela não estava tão disposta a abrir mão dos seus sonhos por mim, tanto quanto eu estava disposto abrir por ela. 

Decidir que eu devia ir um pouco mais longe, talvez ir tão longe que fosse difícil de voltar ainda hoje “ isso é covardia", claro que todos vão achar que sinto algo por ela, e eu terei que lidar com olhar de pena novamente, ela se foi e me deixou como o coitadinho, o homem que não conseguiu segurar um mulher. Como se alguém pudesse segurar Liz, mas não foi o abandono que me magoou, não foi ela ter escolhido seu sonho, mas foi a covardia dela. Foi a falta de coragem de me dizer que tinha tomado outra escolha, foi ela ter me deixado lá com uma m*****a aliança na mão achando que ela logo chegaria.

“M*****a”

Percebi que eu já estava saindo da trilha, decidir voltar, ela merecia me olhar, merecia sentir o meu desprezo por ela, saber que agora ela não pode me afetar, que eu não sinto nada por ela, eu a enterrei naquele dia, naquela tarde em que ela me deixou, ela morreu para mim.

Escutei uma voz familiar, parecia estar extremamente irritada.

“ Como eu tenho sorte!”

Ela falava alto, ela sempre fala alto demais e vive por falar sozinha, sentir meu coração acelerado, eu ainda não estava preparado para ir vê-la, mas parecia que ela tinha tido algum problema, com certeza tentou cortar caminho para ver o lago antes de ir para casa, ela é tão previsível como não pensei nisso. 

Andei em direção da sua voz, e a vi, tão linda como sempre.

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