Capítulo 4

Melissa

À minha frente, com um sorriso enorme no rosto e um olhar intenso, está ninguém mais, ninguém menos que o doutorzinho. Confesso que ele está bonito com a camisa justa azul, bermudas pretas e tênis. Os cabelos naquela bagunça que faz a gente querer tocar. 

Sacudo a cabeça para reprimir o pensamento intruso.

— Qual a chance de isso acontecer duas vezes? Ainda bem que é gelado desta vez, equilibra as coisas! — Ele brinca.

Não sei como responder àquilo, sinto minha cabeça latejar onde bateu sua caneca cheia.

— E agora? Vai colocar a culpa em mim também? Mais uma peça de roupa destruída graças a você! — exclamo.

Minha respiração está ofegante.

— Gosto mais de seu vestido assim! — Ele dá uma piscadinha e me avalia de cima a baixo, causando algo no meu estômago. 

Indignação é mais alguma coisa.

Foco, Mel.

— Amiga, vamos ao banheiro dar um jeito nisso. — Carla diz e se aproxima com a Fernanda.

— Não, está tudo bem. Vou para casa, não tem como ficar com o vestido cheirando mal desse jeito! — O fuzilo com os olhos.

— Não fique chateada, agora os caras que gostam de cerveja vão olhar e perseguir você. — Ele ri de sua piada idiota. 

Sei que não importa, ele não sabe nada a meu respeito, entretanto, aquilo machuca. Não respondo à sua provocação e apenas pego as minhas coisas.

— Bom fim de semana, pessoal, vejo vocês na segunda. — Me despeço.

— Eu te levo, Mel — Lee se prontifica, pegando a chave do carro, já que é o único sóbrio do local.

Eu não dirijo.

— Não, Lee, relaxa. Não quero deixar seu carro com cheiro de cerveja e estou pertinho de casa, obrigada! — Saio rapidamente sem dar chance de alguém me impedir.

Felipe

Tantas pessoas no mundo para derramar algo e logo em quem derramo a cerveja que nem é minha? Na mal-educada do corredor! Foi cômico, pois no dia anterior derrubei café nela, pena que ela não levou na esportiva. Principalmente após ter grudado seu vestido, marcando suas belas curvas, isso a aborreceu… em parte entendo. Nem todo mundo gosta de se expor. Mas ela é bem estressadinha e ficou furiosa como um leão. E pensar que vim aqui me desculpar pelo lance do café ontem.

Me sinto um idiota depois que falo sobre os caras irem atrás dela. Não foi por mal, porém eu tenho uma grande tendência a agir como uma besta quando fico nervoso.

— Qual é a tua, Felipe? A Mel é uma pessoa incrível e importante para nós! — Lee ralhou e tem razão, detesto vê-lo decepcionado. 

Eu tenho grande admiração por ele e sua esposa, Lee é como um irmão mais velho.

— Foi um acidente — me defendo, embora saiba que não é disso que fala.

— Para um psicólogo, você é bem sem noção, hein, meu amigo! — uma morena diz em tom de repreensão.

— Felipe, vá até lá e dê uma carona para a Melissa, agora! — Carlinha pede com sua doçura azeda habitual.

— Ok, sargento! — Aceno e sigo atrás da estressada.

Carla indica o caminho que ela seguiu e vou logo atrás. A vejo na rua sozinha, caminhando distraída. Um pouco à frente, observo um grupo de moleques muito suspeitos, andando em sua direção e ela está avoada demais para notar. 

Começo a buzinar para chamar sua atenção, reduzindo a velocidade e abro o vidro do carona.

 — Ei, Estressadinha! — chamo e ela finalmente me dá atenção.

— O que você quer, hein? — Ela olha para mim e vejo o brilho em seus olhos, essa não. 

Ela está chorando? Detesto ver mulheres chorando e principalmente por minha causa, eu nem sei por que escolhi psicologia. Deveria ter feito veterinária, não tenho tato nenhum. Suspiro e aponto para o grupo que se aproxima rápido. 

Ela se sobressalta. 

— Entre no carro, por favor, te deixo na sua casa. — Me estico e abro a porta do carona.

— Não precisa, obrigada! — ela rebate, com o olhar dividido entre mim e o grupo mais próximo.

— Se ficar, poderá ser assaltada, no mínimo. Vai arriscar? — Levanto a sobrancelha e, quando eles chegam a uma distância de dez passos, ela corre e senta-se no carona, fechando a porta. 

Seu celular apita ferozmente, provavelmente Carla querendo saber se a encontrei.

— Obrigada, eu não notei que eles estavam no caminho — ela confessa, olhando o grupo que encara o carro a passos reduzidos. Acelero e tomamos distância. — Moro no quarteirão à frente. — Funga e seca os olhos. 

Me sinto pior ainda. Um minuto silencioso se passa.

— Olha, me desculpe. Pelo café e pela cerveja, ambas às vezes foram sem querer… — alterno os olhos entre ela e a rua. — E sobre o que eu disse dos caras, não quis te ofender. É que homens gostam de cerveja e uma garota bonita com um vestido molhado, cheio de cerveja, é tentador! — dou de ombros.

— Esse tipo de elogio não agrada os meus ouvidos… — ela diz baixinho.

— Entendo, me desculpe.

De fato, ela não aparenta ser despreocupada nesse sentido. Ela é o tipo de mulher para casar. Costumo sair com mulheres que não querem compromisso, assim como eu. Entretanto, ela é uma mulher bonita, seus cabelos estão presos de maneira que contrastam com seus olhos azuis impressionantes, que apesar de vermelhos por chorar, são brilhantes e o tom de sua pele bronzeada é um belo conjunto, tenho que admitir.

— Está tudo bem, sabe… não é como se eu fosse sair para paquerar, não sendo eu nesse momento — diz em tom melancólico. 

Hum… ela precisa de ajuda. Isso é típico, com certeza, um término mal-sucedido. Eu tenho experiência própria. Chegamos à sua rua e ela mostra seu prédio. Uma coincidência, somos vizinhos de prédio, moro ao lado. 

Ela se solta do cinto como se ele queimasse.

— Obrigada por me trazer aqui e me desculpe também, não fui nada razoável em nenhuma das vezes… — Ela coloca a mão em sua testa e faz uma careta.

— Está tudo… — Antes de concluir a pergunta, vejo sangue em sua mão.

A caneca era bem pesada e deve ter machucado sua cabeça. 

— Acho que precisa de um curativo. — Avanço com o carro e paro em frente ao portão automático do meu prédio.

— O que está fazendo? Moro logo ali, não foi nada. Posso me cuidar, é só um corte bobo — ela se alarma.

— Quer ficar calma? Não vou te sequestrar, eu moro aqui e sou médico. — Ok, não exatamente, conforme o Conselho, não receito medicamentos. Mas entendo alguma coisa de curativos… — Deixa eu ver isso aí, não levará mais que de minutos. — Estaciono na garagem subterrânea e saio do carro. — Vai ficar aí dentro? 

Ela parece ponderar se sai correndo gritando ou sobe comigo. Sua expressão é transparente, dá para saber o que se está passando dentro daquela bela cabecinha.

Fecho a porta e abro a sua. O sangue começa a escorrer por seu rosto bonito. 

— Vamos, precisamos olhar sua cabeça.

Puxo a sua mão e ela não protesta. Subimos ao décimo andar e entramos no meu apartamento.

— Pode se sentar naquela cadeira ali, vou pegar algumas coisas para o curativo. — Caminho até o banheiro e lavo as minhas mãos. Até onde a gente vai quando se sente culpado e não quer ficar mal com amigos importantes?

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