Melissa
Quase uma hora depois, sou chamada! Assim que tratam um futuro paciente?
Ele deve ser bom mesmo porque a cara da mulherada quando sai da sala é de dar inveja, inclusive a de Vivian.
— Senhorita Melissa, pode entrar! O doutor Felipe vai lhe atender — diz Ingrid com um sorriso gracinha, enquanto me conduz até a entrada.
— Obrigada! — agradeço.
— Pode se sentar, por favor! — Ele indica a cadeira em frente à mesa.
Sento para aguardar o então médico famoso.
É uma sala bonita, clara e arejada. Tem um divã longo e cinza com uma poltrona azul ao lado. No centro da sala, há uma mesa de vidro com um notebook e papéis perfeitamente organizados. No canto, está uma estante de livros e no outro canto, uma porta entreaberta que deduzo ser o banheiro, pelo revestimento típico. . Meu celular começa a tocar e pego para desligar. É Fernanda. Recuso e mando uma mensagem dizendo que falarei depois, pois estou em consulta.
— Boa tarde! Desculpe por fazê-la esperar, é que… — ele se interrompe ao cruzarmos nossos olhares.
— Você! — falamos em uníssono.
— O desastrado do café — alfineto.
— A mal-educada do corredor! — retruca e se senta à minha frente.
Ele abaixa a tela do notebook e reparo que ele é muito bonito e charmoso.
— Sou mal-educada? Você derrubou café em minha roupa e ainda fez piada… — começo e ele levanta a sobrancelha, abrindo um sorriso perfeito.
— Que piada? Mancha de café sai mesmo — respondeu ironicamente. — E você me deixou falando sozinho lá fora, como disse, mal-educada!
— Não sei se você percebeu, porém, derrubou café quente em cima de mim… — dou ênfase na palavra quente.
Sua expressão fica divertida.
— Não seja fresca, não estava tão quente assim, foi exatamente por isso que fui trocar — ele fala, encostando em sua cadeira.
— Fresca? — Quem esse cara pensa que é? — Não me chame de fresca, que espécie de psicólogo chama seus pacientes de frescos? Que falta de profissionalismo!
— É, acontece que você conseguiu me tirar do sério! Aliás, você ainda não é minha paciente — diz com desdém.
— Obrigada por lembrar! — Me levanto num rompante. — Obrigada por nada e passar bem.
— Até a próxima consulta! — Ele retruca com sorriso na voz.
Que raiva! Odeio gente irônica, ele pode até ser lindo, mas é um lindo besta!
Vou para casa bufando de raiva por um cidadão que eu mal conheço. Carla, me paga, se o psicólogo é assim, imagine a nutricionista, eu tô fora!
Chego em casa e tomo um banho frio para me acalmar. O doutorzinho me chamou de fresca… como consegue ser tão lindo e tão sem noção ao mesmo tempo? Beleza, definitivamente, não significa nada!
Meu telefone toca, é Fernanda.
— Oi, amiga!
— Hum… que voz é essa? Não me diga que a consulta foi um desastre? — Ela me conhece bem.
— Digo, claro que digo. Foi um desastre! Antes de chegar no consultório, ganhei um banho de café quente que manchou a minha calça. Para completar, o desastrado que me deu banho era o psicólogo… — tagarelo, irritada.
— Amiga, me conta do começo que não estou entendendo nada. — Ela me interrompe.
Conto toda a história e ela ri!
— Deixa de ser boba. Mel, foi um acidente. E você meio que foi um pouquinho mal-educada mesmo, poderia ter ficado para ouvir o que ele tinha a dizer, pelo que me contou, foi sem querer. — Nanda defende o cidadão que ela nem conhece.
— Desde quando é formada em direito, Fernanda? Virou advogada agora, é? — indago.
— Não, amiga, é que depois do término com Bernardo, você ficou muito mal-humorada e extremista, qualquer coisa é motivo para te estressar — ela observa e tem razão, embora eu odeie admitir.
— Eu não acho, mas quer saber, deixa isso para lá, não o verei mais em todo o caso — encerro o assunto e conversamos por mais alguns minutos, desligando depois e sigo para minha rotina noturna pré-sono.
Sexta-feira, dia do happy hour e escolho uma roupa bem confortável. Pego um vestido longo de tecido fino, verde folha e de alças finas. Faço um coque estiloso nos cabelos e passo apenas um batom, não estou a fim de maquiagem hoje.
O dia já começa complicado, quase perdi minha linda sapatilha que custou meio salário, no metrô lotado. É sério, andar de metrô no Rio deveria ser uma modalidade olímpica, com direito a medalha até para o último colocado. Um desafio isso aqui!
Chego atrasada e, para variar, Janaína já está na empresa.
— Não me olhe assim, quase tive um incidente com as minhas lindas sapatilhas — Me defendo ao notar o olhar acusador da Fernanda.
— Eu não disse nada! — Ela levanta as palmas. — Apenas saiba que a sua chefe está atacada hoje, te procurou duas vezes e quis saber se já terminou o livro de fantasia que ela te deixou responsável? — termina com uma careta.
— Ótimo, ontem, quando acordei, eu realmente achei que tudo seria melhor na minha vida. Contudo, depois daquela consulta, o universo resolveu tirar uma comigo! — resmungo e ligo meu computador imediatamente.
Impressionante como aquele doutorzinho me irritou, o reflexo dessa irritação está durando até agora. Balanço a cabeça para recobrar meus pensamentos de paz, eu já estou no fim do livro, então não me dou ao trabalho de justificar nada para Janaína.
— Amiga, não exagera, acho que deveria ao menos seguir com a consulta. Sabe que a Carlinha vai cumprir o que prometeu e não te atender mais, não é? — Minha amiga alerta e sim, a Carla é dessas.
— Vamos falar disso depois, por favor? Preciso embarcar nesse original incrível e esquecer um pouco meus problemas ou nossa chefe vai me fazer lembrar de cada um deles no melhor estilo serpente! — Suspiro e minha amiga afaga meus ombros.
Assim, segue o nosso dia, eu sou literalmente transportada para aquele livro incrível, cheio de magia, amizade e amor. Janaína ficará feliz ao saber que temos um potencial best-seller. Termino o livro e dou a minha aprovação, encaminho minhas considerações ao Pedro e Janaína e preparo meu e-mail ao autor com nossa proposta comercial. Agora é só nossos editores chefes darem o OK para executar.
— Vamos para onde hoje? — Fernanda indaga.
— Não sei, é o dia da Carla escolher, não? — A cada semana revezamos a escolha do bar ou restaurante do nosso happy hour.
— Hum, ela só escolhe lugar bom! — Fernanda comemora, encerrando seu expediente.
Faço o mesmo e na portaria encontramos com Pedro, Bruna e André, um casal bacana que trabalha no mesmo andar que o nosso. Eles têm uma empresa de advocacia. Nos encontramos quase todo fim de semana nas baladas e acabamos nos tornando um grande grupo.
Carla liga e diz estar saindo do consultório com Lee. O marido dela sempre nos acompanha, Lee, é um homem fofo e super do bem.
Minha amiga escolhe um barzinho super gostoso no centro nervoso da Tijuca, está cheio e tem uma banda tocando ao vivo, o máximo. O lugar está lotado de gente bonita e descontraída. Montamos nossa grande mesa e pedimos nossas bebidas e petiscos.
— Então? Como foi a consulta com Felipe? — Carla se aproxima e fala um pouco mais alto devido ao volume da música.
— Nada bem, como eu já supunha! — Dou de ombros e conto tudo para ela e Fernanda, que escuta uma segunda vez, rolando os olhos.
— Nossa, Mel, só você mesmo para conseguir estragar uma consulta com o gato do Felipe! As meninas ficam doidas com ele. Achei que te faria bem conversar e admirar um cara bonito. — Carla me olha com desaprovação, mas sorri afinal.
— Gente, um amigo meu está aqui perto, pediu para vir, posso chamá-lo? — Lee pergunta de repente, nos pegando de surpresa, seus olhos estão em mim como se me pedisse permissão.
— Claro! — Nós três respondemos em uníssono e rimos.
— Agora, falando sério, Melissa, dê uma chance ao Felipe. Ele é bom profissional e pode te ajudar, esqueça a parte pessoal e não se envolva mesmo, ele é bem mulherengo e um tanto antiético se der corda. Foque no profissional, pois sei que é bom no que faz. — Minha amiga aconselha exatamente como a Fernanda.
— Okay, vou pensar… ele foi bem atrevido ao me chamar de fresca, confessem? — As observo e elas sorriem.
Termino minha pina colada sem álcool e Carla sorri, olhando para longe.
— O amigo do Lee chegou! — Ela abre um sorrisinho conspirador e oferece um tchauzinho para alguém.
Meu telefone apita e vejo ser uma mensagem do Bernardo. Eu sei, não devo olhar, porém, desbloqueei pensando em não saber o que, sim, sou uma trouxa.
Abro a mensagem.
Traidor.
Online
Mel, fala comigo. Por favor…
Já faz dois meses e não me deixou explicar.
18:23
Você está aí?
19:01
Sei que saiu com suas amigas!
Vamos nos encontrar?
19:40
?
20:01
?
20:06
Me responde, vai… sinto a sua falta.
20:06
Aquilo abre uma comporta que estou tentando lacrar em meu peito. Por que esse homem me manda mensagem o tempo todo? Será que a noivinha se cansou e deu um pé nele? Seria ótimo!
Perdida em minhas divagações mentais, levanto e viro em um rompante, esbarrando em alguém… duas vezes na mesma semana só pode ser destino! Sinto algo gelado bater na minha testa com certa força e um líquido extremamente frio me inunda da cabeça aos pés.
Meus amigos arfam e eu também, odeio cerveja e, nesse momento, estou mergulhada nela.
— Caramba, me desculpe mesmo, isso tem que parar de acontecer! — Ele pede e divaga ao mesmo tempo.
Olho para cima e fico estarrecida.
— Só pode ser brincadeira! — murmuro, irritada.
MelissaÀ minha frente, com um sorriso enorme no rosto e um olhar intenso, está ninguém mais, ninguém menos que o doutorzinho. Confesso que ele está bonito com a camisa justa azul, bermudas pretas e tênis. Os cabelos naquela bagunça que faz a gente querer tocar.Sacudo a cabeça para reprimir o pensamento intruso.— Qual a chance de isso acontecer duas vezes? Ainda bem que é gelado desta vez, equilibra as coisas! — Ele brinca.Não sei como responder àquilo, sinto minha cabeça latejar onde bateu sua caneca cheia.— E agora? Vai colocar a culpa em mim também? Mais uma peça de roupa destruída graças a você! — exclamo.Minha respiração está ofegante.— Gosto mais de seu vestido assim! — Ele dá uma piscadinha e me avalia de cima
MelissaEu estou sentada no apartamento de um estranho. Ok, não é tão estranho. Afinal, Lee e Carla o conhecem, então eu devo confiar nele, não é? Observo seu apartamento, que é elegante e minimalista. Tem uma planta aberta, grandes janelas, paredes claras, poucos móveis; um sofá cinza elegante, uma grande TV, a cozinha é americana e super organizada, além de ter o cheiro de limpeza.Ele volta com uma maleta preta e a estende sobre a mesa de madeira maciça e rústica, que destoa um pouco dos outros móveis. — Certo, vamos ver como está isso. — Ele se aproxima e, instintivamente, me afasto. — Relaxa, eu não mordo, não sempre! — O psicólogo brinca. Sinto meu rosto pegar fogo. O encaro é o vejo exibir um sorriso. — É brincadeira, Estressadinha! — diz rapidamente e se concentra em limpar meu rosto. Relaxo dentro do possível. Felipe, afasta meus cabelos delicadamente e tento ajudar para aquilo não ficar esquisito. — Ei, fique parada, não vou te machucar.— Só quero ajudar, e evitar
MelissaA emoção daquele momento é indescritível. Enquanto me admiro no espelho, sinto uma onda de felicidade me invadir. É mais do que apenas um vestido; é um símbolo de tudo o que está por vir. O dia do meu casamento se aproxima e, com ele, a promessa de um futuro ao lado da pessoa que amo.— Você realmente encontrou o vestido dos seus sonhos, Melissa — diz dona Judite, ajustando delicadamente a renda na cintura. — Ele destaca sua beleza natural.Sorrio ainda mais, lembrando de todas as vezes em que imaginei esse momento. Sempre sonhei em usar um vestido de noiva que me fizesse sentir especial, e este é, sem dúvida, o escolhido. A renda delicada e o caimento do vestido me fazem sentir como uma verdadeira princesa.Enquanto a vendedora continua a fazer os ajustes finais, meu pensamento viaja para o dia do casamento. Posso imaginar meus amigos e familiares reunidos, as risadas, os olhares emocionados e, claro, o meu futuro marido, esperando por mim no altar. Sinto meu coração acelerar
MelissaTrês meses depois.Meus dias são miseráveis. O trabalho é péssimo, e acabo pedindo minhas férias antecipadamente; preciso ficar em casa e sofrer sozinha. No escritório, a todo instante alguém vem perguntar se estou bem. O que acontece é que saio da minha mesa para chorar no banheiro, e não é um choro educado! São soluços entrecortados e altos, com olhos inchados e nariz vermelho.Isolei-me do mundo. Minhas amigas vêm aqui em casa, mas eu não atendo sempre; é exatamente isso que faço até aliviar a dor. Depois de alguns dias, decido sair um pouco para aliviar os colegas da obrigação de se preocuparem. Mesmo que alguns zombem e digam que descobrir uma traição, não é o fim do universo. Nos olhos dos outros, é refresco, isso sim!Aquele descarado é noivo de outra mulher, e não é qualquer uma. A beldade é filha de um procurador importante no país, ou seja, extremamente influente e linda. Sei disso porque passei longos dias como uma stalker nas redes sociais dela, olhando suas fotos
Melissa— Bom dia, Mel! — diz Pedro, um dos editores chefes da empresa e um dos caras mais bonitos que já vi.— Bom dia, Pedro, tudo bem? — respondo, seguindo para minha mesa. Janaína, nossa chefe, escolheu o layout da empresa e nosso escritório é parecido com aqueles de filmes americanos, um grande salão dividido por várias baias e no final das salas dos chefes está a sala de reuniões. É um estilo bacana, mas atrapalha às vezes.— Está bonita, algum encontro hoje? — ele pergunta, me acompanhando.Paro e franzo a testa. Ele disse que eu estava bonita?— Ah… obrigada, mas nada de encontros, só me sentindo bem ao retornar, agora me diga, quer minha ajuda para alguma coisa? — desvio a conversa para não entrarmos no assunto tão constrangedor que é a minha vida amorosa.— Na verdade, eu queria te pedir ajuda para… — Bom dia, gente! — Fernanda, outra amiga que amo e trabalha comigo, diz ao entrar.— Bom dia! — respondemos em uníssono.— Uau, Mel, está linda! Adorei a calça, é aquela que n