Capítulo 3

Melissa

Quase uma hora depois, sou chamada! Assim que tratam um futuro paciente? 

Ele deve ser bom mesmo porque a cara da mulherada quando sai da sala é de dar inveja, inclusive a de Vivian.

— Senhorita Melissa, pode entrar! O doutor Felipe vai lhe atender — diz Ingrid com um sorriso gracinha, enquanto me conduz até a entrada.

— Obrigada! — agradeço.

— Pode se sentar, por favor! — Ele indica a cadeira em frente à mesa. 

Sento para aguardar o então médico famoso.

É uma sala bonita, clara e arejada. Tem um divã longo e cinza com uma poltrona azul ao lado. No centro da sala, há uma mesa de vidro com um notebook e papéis perfeitamente organizados. No canto, está uma estante de livros e no outro canto, uma porta entreaberta que deduzo ser o banheiro, pelo revestimento típico. . Meu celular começa a tocar e pego para desligar. É Fernanda. Recuso e mando uma mensagem dizendo que falarei depois, pois estou em consulta. 

— Boa tarde! Desculpe por fazê-la esperar, é que… — ele se interrompe ao cruzarmos nossos olhares.

— Você! — falamos em uníssono.

— O desastrado do café — alfineto.

— A mal-educada do corredor! — retruca e se senta à minha frente.

Ele abaixa a tela do notebook e reparo que ele é muito bonito e charmoso.

— Sou mal-educada? Você derrubou café em minha roupa e ainda fez piada… — começo e ele levanta a sobrancelha, abrindo um sorriso perfeito.

— Que piada? Mancha de café sai mesmo — respondeu ironicamente. — E você me deixou falando sozinho lá fora, como disse, mal-educada!

— Não sei se você percebeu, porém, derrubou café quente em cima de mim… — dou ênfase na palavra quente. 

Sua expressão fica divertida.

— Não seja fresca, não estava tão quente assim, foi exatamente por isso que fui trocar — ele fala, encostando em sua cadeira.

— Fresca? — Quem esse cara pensa que é? — Não me chame de fresca, que espécie de psicólogo chama seus pacientes de frescos? Que falta de profissionalismo!

— É, acontece que você conseguiu me tirar do sério! Aliás, você ainda não é minha paciente — diz com desdém.

— Obrigada por lembrar! — Me levanto num rompante. — Obrigada por nada e passar bem.

— Até a próxima consulta! — Ele retruca com sorriso na voz.

Que raiva! Odeio gente irônica, ele pode até ser lindo, mas é um lindo besta!

Vou para casa bufando de raiva por um cidadão que eu mal conheço. Carla, me paga, se o psicólogo é assim, imagine a nutricionista, eu tô fora!

Chego em casa e tomo um banho frio para me acalmar. O doutorzinho me chamou de fresca… como consegue ser tão lindo e tão sem noção ao mesmo tempo? Beleza, definitivamente, não significa nada!

Meu telefone toca, é Fernanda.

— Oi, amiga!

— Hum… que voz é essa? Não me diga que a consulta foi um desastre? — Ela me conhece bem.

— Digo, claro que digo. Foi um desastre! Antes de chegar no consultório, ganhei um banho de café quente que manchou a minha calça. Para completar, o desastrado que me deu banho era o psicólogo… — tagarelo, irritada.

— Amiga, me conta do começo que não estou entendendo nada. — Ela me interrompe. 

Conto toda a história e ela ri! 

— Deixa de ser boba. Mel, foi um acidente. E você meio que foi um pouquinho mal-educada mesmo, poderia ter ficado para ouvir o que ele tinha a dizer, pelo que me contou, foi sem querer. — Nanda defende o cidadão que ela nem conhece.

— Desde quando é formada em direito, Fernanda? Virou advogada agora, é? — indago.

— Não, amiga, é que depois do término com Bernardo, você ficou muito mal-humorada e extremista, qualquer coisa é motivo para te estressar — ela observa e tem razão, embora eu odeie admitir.

— Eu não acho, mas quer saber, deixa isso para lá, não o verei mais em todo o caso — encerro o assunto e conversamos por mais alguns minutos, desligando depois e sigo para minha rotina noturna pré-sono.

Sexta-feira, dia do happy hour e escolho uma roupa bem confortável. Pego um vestido longo de tecido fino, verde folha e de alças finas. Faço um coque estiloso nos cabelos e passo apenas um batom, não estou a fim de maquiagem hoje.

O dia já começa complicado, quase perdi minha linda sapatilha que custou meio salário, no metrô lotado. É sério, andar de metrô no Rio deveria ser uma modalidade olímpica, com direito a medalha até para o último colocado. Um desafio isso aqui!

Chego atrasada e, para variar, Janaína já está na empresa.

— Não me olhe assim, quase tive um incidente com as minhas lindas sapatilhas — Me defendo ao notar o olhar acusador da Fernanda.

— Eu não disse nada! — Ela levanta as palmas. — Apenas saiba que a sua chefe está atacada hoje, te procurou duas vezes e quis saber se já terminou o livro de fantasia que ela te deixou responsável? — termina com uma careta.

— Ótimo, ontem, quando acordei, eu realmente achei que tudo seria melhor na minha vida. Contudo, depois daquela consulta, o universo resolveu tirar uma comigo! — resmungo e ligo meu computador imediatamente.

Impressionante como aquele doutorzinho me irritou, o reflexo dessa irritação está durando até agora. Balanço a cabeça para recobrar meus pensamentos de paz, eu já estou no fim do livro, então não me dou ao trabalho de justificar nada para Janaína.

— Amiga, não exagera, acho que deveria ao menos seguir com a consulta. Sabe que a Carlinha vai cumprir o que prometeu e não te atender mais, não é? — Minha amiga alerta e sim, a Carla é dessas.

— Vamos falar disso depois, por favor? Preciso embarcar nesse original incrível e esquecer um pouco meus problemas ou nossa chefe vai me fazer lembrar de cada um deles no melhor estilo serpente! — Suspiro e minha amiga afaga meus ombros. 

Assim, segue o nosso dia, eu sou literalmente transportada para aquele livro incrível, cheio de magia, amizade e amor. Janaína ficará feliz ao saber que temos um potencial best-seller. Termino o livro e dou a minha aprovação, encaminho minhas considerações ao Pedro e Janaína e preparo meu e-mail ao autor com nossa proposta comercial. Agora é só nossos editores chefes darem o OK para executar.

— Vamos para onde hoje? — Fernanda indaga.

— Não sei, é o dia da Carla escolher, não? — A cada semana revezamos a escolha do bar ou restaurante do nosso happy hour.

— Hum, ela só escolhe lugar bom! — Fernanda comemora, encerrando seu expediente.

Faço o mesmo e na portaria encontramos com Pedro, Bruna e André, um casal bacana que trabalha no mesmo andar que o nosso. Eles têm uma empresa de advocacia. Nos encontramos quase todo fim de semana nas baladas e acabamos nos tornando um grande grupo. 

Carla liga e diz estar saindo do consultório com Lee. O marido dela sempre nos acompanha, Lee, é um homem fofo e super do bem.

Minha amiga escolhe um barzinho super gostoso no centro nervoso da Tijuca, está cheio e tem uma banda tocando ao vivo, o máximo. O lugar está lotado de gente bonita e descontraída. Montamos nossa grande mesa e pedimos nossas bebidas e petiscos. 

— Então? Como foi a consulta com Felipe? — Carla se aproxima e fala um pouco mais alto devido ao volume da música.

— Nada bem, como eu já supunha! — Dou de ombros e conto tudo para ela e Fernanda, que escuta uma segunda vez, rolando os olhos.

— Nossa, Mel, só você mesmo para conseguir estragar uma consulta com o gato do Felipe! As meninas ficam doidas com ele. Achei que te faria bem conversar e admirar um cara bonito. — Carla me olha com desaprovação, mas sorri afinal.

— Gente, um amigo meu está aqui perto, pediu para vir, posso chamá-lo? — Lee pergunta de repente, nos pegando de surpresa, seus olhos estão em mim como se me pedisse permissão.

— Claro! — Nós três respondemos em uníssono e rimos.

— Agora, falando sério, Melissa, dê uma chance ao Felipe. Ele é bom profissional e pode te ajudar, esqueça a parte pessoal e não se envolva mesmo, ele é bem mulherengo e um tanto antiético se der corda. Foque no profissional, pois sei que é bom no que faz. — Minha amiga aconselha exatamente como a Fernanda.

— Okay, vou pensar… ele foi bem atrevido ao me chamar de fresca, confessem? — As observo e elas sorriem. 

Termino minha pina colada sem álcool e Carla sorri, olhando para longe.

— O amigo do Lee chegou! — Ela abre um sorrisinho conspirador e oferece um tchauzinho para alguém. 

Meu telefone apita e vejo ser uma mensagem do Bernardo. Eu sei, não devo olhar, porém, desbloqueei pensando em não saber o que, sim, sou uma trouxa.

 Abro a mensagem.

Traidor.

Online

Mel, fala comigo. Por favor… 

Já faz dois meses e não me deixou explicar.

18:23

Você está aí?

19:01

Sei que saiu com suas amigas! 

Vamos nos encontrar?

19:40

?

20:01

?

20:06

Me responde, vai… sinto a sua falta.

20:06

Aquilo abre uma comporta que estou tentando lacrar em meu peito. Por que esse homem me manda mensagem o tempo todo? Será que a noivinha se cansou e deu um pé nele? Seria ótimo!

Perdida em minhas divagações mentais, levanto e viro em um rompante, esbarrando em alguém… duas vezes na mesma semana só pode ser destino! Sinto algo gelado bater na minha testa com certa força e um líquido extremamente frio me inunda da cabeça aos pés. 

Meus amigos arfam e eu também, odeio cerveja e, nesse momento, estou mergulhada nela.

— Caramba, me desculpe mesmo, isso tem que parar de acontecer! — Ele pede e divaga ao mesmo tempo.

 Olho para cima e fico estarrecida.

— Só pode ser brincadeira! — murmuro, irritada.

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