Capítulo 2

Melissa

— Bom dia, Mel! — diz Pedro, um dos editores chefes da empresa e um dos caras mais bonitos que já vi.

— Bom dia, Pedro, tudo bem? — respondo, seguindo para minha mesa. 

Janaína, nossa chefe, escolheu o layout da empresa e nosso escritório é parecido com aqueles de filmes americanos, um grande salão dividido por várias baias e no final das salas dos chefes está a sala de reuniões. É um estilo bacana, mas atrapalha às vezes.

— Está bonita, algum encontro hoje? — ele pergunta, me acompanhando.

Paro e franzo a testa. Ele disse que eu estava bonita?

— Ah… obrigada, mas nada de encontros, só me sentindo bem ao retornar, agora me diga, quer minha ajuda para alguma coisa? — desvio a conversa para não entrarmos no assunto tão constrangedor que é a minha vida amorosa.

— Na verdade, eu queria te pedir ajuda para… 

— Bom dia, gente! — Fernanda, outra amiga que amo e trabalha comigo, diz ao entrar.

— Bom dia! — respondemos em uníssono.

— Uau, Mel, está linda! Adorei a calça, é aquela que não estava fechando? — Ela j**a suas coisas sobre a mesa e vira para nós.

Bem, a razão pela qual a Fernanda ainda respira é o amor que sinto por ela, senão eu a teria matado com certeza. A mulher veio sem filtro quando nasceu. 

Olho para Pedro, que parece não ter prestado muita atenção na parte “não estava fechando”, pois ele encara a minha amiga como se ela fosse um prêmio de loteria.

— Dá para a gente conversar sobre isso depois? — falo entredentes.

— Ok, e então do que falavam? — ela pergunta, ligando seu computador. 

Pedro praticamente falta salivar olhando para ela, será que ele quer a minha ajuda com a Fernanda?

— Não foi nada, só vim dar um oi à Mel que retornou das férias, bom trabalho para vocês! — ele sai rápido.

— O que foi isso? — Fernanda o observa desaparecer entre as baias.

— Sei lá, não entendi muito bem.

— Como esse cara é bonito, um dia tomo coragem e me declaro — confessa.

Fernanda tem uma queda por Pedro desde que entrou na empresa, e algo me diz que pode ser recíproco. Eles formariam um belo casal.

Nanda é morena, tem uma pele linda, marrom ocre, belíssimos cachos volumosos e olhos verdes. Totalmente oposto a mim, tenho a pele clara e dourada pelo sol, cabelos castanhos escuros, meus olhos são azuis, minha avó dizia que herdei da minha mãe, e no momento, ostento um peso extra.

— Para alguém sem filtro, nesse aspecto você é bem fraquinha mesmo — zombo.

— Ah, seria legal ele chegar, algumas mulheres gostam de ser conquistadas — ela se defende e tem razão, nada como ser conquistada gradualmente.

— É, eu concordo! — Me sento e vejo Janaína, em toda sua glória loira, chegando.

— Bom dia, meninas! — ela diz sorridente, exibindo seu novo corte de cabelo com franjão repicado e mais loiro do que nunca. 

Nela tudo fica bem.

— Bom dia! — falamos surpresas. 

Ela passa direto para a sua sala, deixando o rastro de seu perfume importado sufocante.

— O que será que deu nela, deu bom dia e tudo? — Fernanda pergunta com a mão no nariz.

— Não sei, só sei que amo os cortes de cabelos que ela escolhe, pena que não posso fazer quase nada com os meus — lamento, segurando meus fios.

Janaína é um ser humano difícil, mas tem um ótimo gosto para roupas e afins. Eu adoro moda, então sempre presto atenção nas tendências e tudo mais, e ela segue à risca.

— Não é verdade, quando fez aquele chanel “long” bob, ficou bacana — minha amiga lembra, escondendo o riso.

— É, para um poodle! Meu cabelo mais parecia uma nuvem cinzenta pairando em minha cabeça! — Fiz o corte inspirado em um chanel reto que Janaína fez uma vez e, Jesus! 

Sabe aquela história de expectativa e realidade? Adivinhe quem era a realidade? E uma realidade drástica!

— Você tem que ver um que fique bem com a estrutura do seu fio e o formato de seu rosto, não os que a megera usa, embora fique bem nela — Nanda diz em tom solene.

— Quer saber, vamos trabalhar, pois precisarei sair às quatro, tenho consulta com psicólogo — falo, finalmente ligando meu computador.

— O quê? A Carlinha conseguiu? Até que enfim resolveu esquecer o imbecil do Bernardo de uma vez por todas. É sério, amiga, você está extrapolando na fossa, tudo tem limites e o cara é um babaca de marca maior.

Fernanda não tem medo de dizer o que pensa e eu já estou acostumada a isso. Carla e ela dizem que eu preciso sair da sofrência. Contudo, foram 6 anos de relacionamento, tudo bem que é estranho tanto tempo de romance sem um anel no dedo e bem, antes do término, nos encontrávamos apenas em fast foods, no meu apartamento e no dele, não fazíamos programas de casal juntos e não nos víamos por dias, entretanto, mesmo hoje notando isso, não é fácil assim.

— Que seja, vamos trabalhar! — finalizo a conversa. 

O dia até que é bem produtivo, estou lendo um original maravilhoso, mal vejo a hora passar. 

Minha amiga me cutuca.

— Mel, você não tem que sair às quatro? Faltam dez minutos.

— Nossa, não vi a hora passar! — Me apresso para guardar as coisas. — Tchau, amiga, me deseje sorte.

— Boa sorte e me liga mais tarde! — pede.

— Tá bom, beijo.

Ela j**a um beijo no ar.

Apresso o passo para chegar ao elevador e consigo entrar, está vazio e aproveito para dar uma olhada no visual, nada mudou muito. Saio disparada e trombo em alguém, sentindo algo quente escorrer pelo corpo e, pelo aroma, sei que é café.

— Caramba, me desculpe, é que estou atrasado e… — A voz masculina ecoa no corredor.

O desastrado me deu um banho de café e manchou toda a minha calça favorita. 

Sufoco o resmungo.

— Você não olha por onde anda, não? Seu desastrado. E está quente… — Fico furiosa, dando pulinhos pelo corredor tentando amenizar o estrago, mas é tarde. — Poxa, minha calça favorita… — reclamo.

— Relaxa, mancha de café sai! — responde o engraçadinho.

Levanto a cabeça para encará-lo. Ele é um bonito! Tem um sorriso maroto no rosto. Tenho que erguer meu pescoço, pois ele é alto, forte, já que a camisa verde de mangas dobradas está justa no corpo. Sua pele é clara e contrasta com os olhos castanhos claros.

Ele levanta a sobrancelha e abre mais o sorriso. Seus cabelos escuros, embora curtos, caem sobre os olhos. Acontece que esse choque de beleza me deixa sem palavras, por um mísero instante, então aproveito e sigo meu caminho, deixando o desastrado para trás.

Procuro um dos banheiros do andar a fim de amenizar o estrago. Não posso visitar um médico, suja desse jeito. 

Tento limpar o máximo que posso, mas quando olho para o relógio, vejo que já passa das  16 horas e corro para o consultório que, consoante o aviso na porta, mudou para a sala 902. Logo,  sigo correndo com as calças molhadas e cheirando a café para o outro lado.

Entro esbaforida e me assusto, acho que me enganei e entrei no consultório errado. A sala de espera está lotada de mulheres bonitas e bem-vestidas, me sinto em uma clínica de estética, não em um consultório de psicologia. 

Vou até a recepção e conferir o nome. No panfleto do balcão está escrito o nome do médico mesmo, Dr. Felipe Brandão, Psicologia especializada. 

Estranho.

A recepcionista, uma moça simpática e baixinha, me atende super bem, seu nome é Ingrid. Explico que estou atrasada e ela diz não ter problemas, que ele me atenderá assim mesmo, só que seguirá sua agenda. Respiro aliviada e sento em uma das poltronas macias, sob a mira de todos os olhares na minha linda calça destruída. 

— Oi! — Uma mulher no banco ao lado me cumprimenta.

— Oi… — respondo sem a encarar, só falta perguntar o que houve.

— Acho que não está me reconhecendo, sou a sua vizinha de porta, Vivian!

Levanto os olhos.

Ela abre um sorriso bonito.

Claro que a reconheço. Eu a vejo sair diariamente com seu terninho moderno e seus longos cabelos castanhos escuros ao vento. Ela tem olhos verdes, tão verdes que não parecem normais, o rosto simétrico como de uma modelo.

— Ah, eu sei quem é você, sim, me desculpe, é que continuo traumatizada com o que acabou de acontecer à minha calça. — Mostro o estrago e ela faz uma careta em compreensão.

— Eu imagino, também ficaria, ainda mais sendo uma calça linda como essa. Adoro suas escolhas de roupas. São muito inspiradoras! — ela diz e parece sincera. 

Parece….

— Obrigada, apesar de trabalhar com livros, eu amo moda! — respondo, agradecida por alguém reparar no meu esforço.

— Não me fale, amo ler. Porém, não tenho muito tempo, sou arquiteta e CEO da minha própria empresa, então fica complicado. — Ela dá de ombros. 

Fala sério, a mulher é super bem-sucedida e linda, além de ser um doce de pessoa, ao menos é o que parece. 

— Sempre que posso, dou umas escapadas para dentro das páginas.

Bem, o que posso dizer? Gosto dela! 

Começamos uma conversa super animada sobre livros e muito mais. Vivian é divertida. Seu nome é chamado e reparo sermos apenas nós duas e mais uma moça aguardando.

— Foi ótimo conversar com você, Melissa! Vamos marcar para tomar um vinho no meu apartamento qualquer dia desses! — ela oferece gentilmente.

— Claro, eu adoraria! — Trocamos nossos números e ela segue para o atendimento. 

Meia hora depois, Vivian sai com um sorriso gentil no rosto e nos despedimos. A outra paciente é chamada e fico por último.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App