Melissa
— Bom dia, Mel! — diz Pedro, um dos editores chefes da empresa e um dos caras mais bonitos que já vi.
— Bom dia, Pedro, tudo bem? — respondo, seguindo para minha mesa.
Janaína, nossa chefe, escolheu o layout da empresa e nosso escritório é parecido com aqueles de filmes americanos, um grande salão dividido por várias baias e no final das salas dos chefes está a sala de reuniões. É um estilo bacana, mas atrapalha às vezes.
— Está bonita, algum encontro hoje? — ele pergunta, me acompanhando.
Paro e franzo a testa. Ele disse que eu estava bonita?
— Ah… obrigada, mas nada de encontros, só me sentindo bem ao retornar, agora me diga, quer minha ajuda para alguma coisa? — desvio a conversa para não entrarmos no assunto tão constrangedor que é a minha vida amorosa.
— Na verdade, eu queria te pedir ajuda para…
— Bom dia, gente! — Fernanda, outra amiga que amo e trabalha comigo, diz ao entrar.
— Bom dia! — respondemos em uníssono.
— Uau, Mel, está linda! Adorei a calça, é aquela que não estava fechando? — Ela j**a suas coisas sobre a mesa e vira para nós.
Bem, a razão pela qual a Fernanda ainda respira é o amor que sinto por ela, senão eu a teria matado com certeza. A mulher veio sem filtro quando nasceu.
Olho para Pedro, que parece não ter prestado muita atenção na parte “não estava fechando”, pois ele encara a minha amiga como se ela fosse um prêmio de loteria.
— Dá para a gente conversar sobre isso depois? — falo entredentes.
— Ok, e então do que falavam? — ela pergunta, ligando seu computador.
Pedro praticamente falta salivar olhando para ela, será que ele quer a minha ajuda com a Fernanda?
— Não foi nada, só vim dar um oi à Mel que retornou das férias, bom trabalho para vocês! — ele sai rápido.
— O que foi isso? — Fernanda o observa desaparecer entre as baias.
— Sei lá, não entendi muito bem.
— Como esse cara é bonito, um dia tomo coragem e me declaro — confessa.
Fernanda tem uma queda por Pedro desde que entrou na empresa, e algo me diz que pode ser recíproco. Eles formariam um belo casal.
Nanda é morena, tem uma pele linda, marrom ocre, belíssimos cachos volumosos e olhos verdes. Totalmente oposto a mim, tenho a pele clara e dourada pelo sol, cabelos castanhos escuros, meus olhos são azuis, minha avó dizia que herdei da minha mãe, e no momento, ostento um peso extra.
— Para alguém sem filtro, nesse aspecto você é bem fraquinha mesmo — zombo.
— Ah, seria legal ele chegar, algumas mulheres gostam de ser conquistadas — ela se defende e tem razão, nada como ser conquistada gradualmente.
— É, eu concordo! — Me sento e vejo Janaína, em toda sua glória loira, chegando.
— Bom dia, meninas! — ela diz sorridente, exibindo seu novo corte de cabelo com franjão repicado e mais loiro do que nunca.
Nela tudo fica bem.
— Bom dia! — falamos surpresas.
Ela passa direto para a sua sala, deixando o rastro de seu perfume importado sufocante.
— O que será que deu nela, deu bom dia e tudo? — Fernanda pergunta com a mão no nariz.
— Não sei, só sei que amo os cortes de cabelos que ela escolhe, pena que não posso fazer quase nada com os meus — lamento, segurando meus fios.
Janaína é um ser humano difícil, mas tem um ótimo gosto para roupas e afins. Eu adoro moda, então sempre presto atenção nas tendências e tudo mais, e ela segue à risca.
— Não é verdade, quando fez aquele chanel “long” bob, ficou bacana — minha amiga lembra, escondendo o riso.
— É, para um poodle! Meu cabelo mais parecia uma nuvem cinzenta pairando em minha cabeça! — Fiz o corte inspirado em um chanel reto que Janaína fez uma vez e, Jesus!
Sabe aquela história de expectativa e realidade? Adivinhe quem era a realidade? E uma realidade drástica!
— Você tem que ver um que fique bem com a estrutura do seu fio e o formato de seu rosto, não os que a megera usa, embora fique bem nela — Nanda diz em tom solene.
— Quer saber, vamos trabalhar, pois precisarei sair às quatro, tenho consulta com psicólogo — falo, finalmente ligando meu computador.
— O quê? A Carlinha conseguiu? Até que enfim resolveu esquecer o imbecil do Bernardo de uma vez por todas. É sério, amiga, você está extrapolando na fossa, tudo tem limites e o cara é um babaca de marca maior.
Fernanda não tem medo de dizer o que pensa e eu já estou acostumada a isso. Carla e ela dizem que eu preciso sair da sofrência. Contudo, foram 6 anos de relacionamento, tudo bem que é estranho tanto tempo de romance sem um anel no dedo e bem, antes do término, nos encontrávamos apenas em fast foods, no meu apartamento e no dele, não fazíamos programas de casal juntos e não nos víamos por dias, entretanto, mesmo hoje notando isso, não é fácil assim.
— Que seja, vamos trabalhar! — finalizo a conversa.
O dia até que é bem produtivo, estou lendo um original maravilhoso, mal vejo a hora passar.
Minha amiga me cutuca.
— Mel, você não tem que sair às quatro? Faltam dez minutos.
— Nossa, não vi a hora passar! — Me apresso para guardar as coisas. — Tchau, amiga, me deseje sorte.
— Boa sorte e me liga mais tarde! — pede.
— Tá bom, beijo.
Ela j**a um beijo no ar.
Apresso o passo para chegar ao elevador e consigo entrar, está vazio e aproveito para dar uma olhada no visual, nada mudou muito. Saio disparada e trombo em alguém, sentindo algo quente escorrer pelo corpo e, pelo aroma, sei que é café.
— Caramba, me desculpe, é que estou atrasado e… — A voz masculina ecoa no corredor.
O desastrado me deu um banho de café e manchou toda a minha calça favorita.
Sufoco o resmungo.
— Você não olha por onde anda, não? Seu desastrado. E está quente… — Fico furiosa, dando pulinhos pelo corredor tentando amenizar o estrago, mas é tarde. — Poxa, minha calça favorita… — reclamo.
— Relaxa, mancha de café sai! — responde o engraçadinho.
Levanto a cabeça para encará-lo. Ele é um bonito! Tem um sorriso maroto no rosto. Tenho que erguer meu pescoço, pois ele é alto, forte, já que a camisa verde de mangas dobradas está justa no corpo. Sua pele é clara e contrasta com os olhos castanhos claros.
Ele levanta a sobrancelha e abre mais o sorriso. Seus cabelos escuros, embora curtos, caem sobre os olhos. Acontece que esse choque de beleza me deixa sem palavras, por um mísero instante, então aproveito e sigo meu caminho, deixando o desastrado para trás.
Procuro um dos banheiros do andar a fim de amenizar o estrago. Não posso visitar um médico, suja desse jeito.
Tento limpar o máximo que posso, mas quando olho para o relógio, vejo que já passa das 16 horas e corro para o consultório que, consoante o aviso na porta, mudou para a sala 902. Logo, sigo correndo com as calças molhadas e cheirando a café para o outro lado.
Entro esbaforida e me assusto, acho que me enganei e entrei no consultório errado. A sala de espera está lotada de mulheres bonitas e bem-vestidas, me sinto em uma clínica de estética, não em um consultório de psicologia.
Vou até a recepção e conferir o nome. No panfleto do balcão está escrito o nome do médico mesmo, Dr. Felipe Brandão, Psicologia especializada.
Estranho.
A recepcionista, uma moça simpática e baixinha, me atende super bem, seu nome é Ingrid. Explico que estou atrasada e ela diz não ter problemas, que ele me atenderá assim mesmo, só que seguirá sua agenda. Respiro aliviada e sento em uma das poltronas macias, sob a mira de todos os olhares na minha linda calça destruída.
— Oi! — Uma mulher no banco ao lado me cumprimenta.
— Oi… — respondo sem a encarar, só falta perguntar o que houve.
— Acho que não está me reconhecendo, sou a sua vizinha de porta, Vivian!
Levanto os olhos.
Ela abre um sorriso bonito.
Claro que a reconheço. Eu a vejo sair diariamente com seu terninho moderno e seus longos cabelos castanhos escuros ao vento. Ela tem olhos verdes, tão verdes que não parecem normais, o rosto simétrico como de uma modelo.
— Ah, eu sei quem é você, sim, me desculpe, é que continuo traumatizada com o que acabou de acontecer à minha calça. — Mostro o estrago e ela faz uma careta em compreensão.
— Eu imagino, também ficaria, ainda mais sendo uma calça linda como essa. Adoro suas escolhas de roupas. São muito inspiradoras! — ela diz e parece sincera.
Parece….
— Obrigada, apesar de trabalhar com livros, eu amo moda! — respondo, agradecida por alguém reparar no meu esforço.
— Não me fale, amo ler. Porém, não tenho muito tempo, sou arquiteta e CEO da minha própria empresa, então fica complicado. — Ela dá de ombros.
Fala sério, a mulher é super bem-sucedida e linda, além de ser um doce de pessoa, ao menos é o que parece.
— Sempre que posso, dou umas escapadas para dentro das páginas.
Bem, o que posso dizer? Gosto dela!
Começamos uma conversa super animada sobre livros e muito mais. Vivian é divertida. Seu nome é chamado e reparo sermos apenas nós duas e mais uma moça aguardando.
— Foi ótimo conversar com você, Melissa! Vamos marcar para tomar um vinho no meu apartamento qualquer dia desses! — ela oferece gentilmente.
— Claro, eu adoraria! — Trocamos nossos números e ela segue para o atendimento.
Meia hora depois, Vivian sai com um sorriso gentil no rosto e nos despedimos. A outra paciente é chamada e fico por último.
MelissaQuase uma hora depois, sou chamada! Assim que tratam um futuro paciente? Ele deve ser bom mesmo porque a cara da mulherada quando sai da sala é de dar inveja, inclusive a de Vivian.— Senhorita Melissa, pode entrar! O doutor Felipe vai lhe atender — diz Ingrid com um sorriso gracinha, enquanto me conduz até a entrada.— Obrigada! — agradeço.— Pode se sentar, por favor! — Ele indica a cadeira em frente à mesa. Sento para aguardar o então médico famoso.É uma sala bonita, clara e arejada. Tem um divã longo e cinza com uma poltrona azul ao lado. No centro da sala, há uma mesa de vidro com um notebook e papéis perfeitamente organizados. No canto, está uma estante de livros e no outro canto, uma porta entreaberta que deduzo ser o banheiro, pelo revestimento típico. . Meu celular começa a tocar e pego para desligar. É Fernanda. Recuso e mando uma mensagem dizendo que falarei depois, pois estou em consulta. — Boa tarde! Desculpe por fazê-la esperar, é que… — ele se interrompe ao
MelissaÀ minha frente, com um sorriso enorme no rosto e um olhar intenso, está ninguém mais, ninguém menos que o doutorzinho. Confesso que ele está bonito com a camisa justa azul, bermudas pretas e tênis. Os cabelos naquela bagunça que faz a gente querer tocar.Sacudo a cabeça para reprimir o pensamento intruso.— Qual a chance de isso acontecer duas vezes? Ainda bem que é gelado desta vez, equilibra as coisas! — Ele brinca.Não sei como responder àquilo, sinto minha cabeça latejar onde bateu sua caneca cheia.— E agora? Vai colocar a culpa em mim também? Mais uma peça de roupa destruída graças a você! — exclamo.Minha respiração está ofegante.— Gosto mais de seu vestido assim! — Ele dá uma piscadinha e me avalia de cima
MelissaEu estou sentada no apartamento de um estranho. Ok, não é tão estranho. Afinal, Lee e Carla o conhecem, então eu devo confiar nele, não é? Observo seu apartamento, que é elegante e minimalista. Tem uma planta aberta, grandes janelas, paredes claras, poucos móveis; um sofá cinza elegante, uma grande TV, a cozinha é americana e super organizada, além de ter o cheiro de limpeza.Ele volta com uma maleta preta e a estende sobre a mesa de madeira maciça e rústica, que destoa um pouco dos outros móveis. — Certo, vamos ver como está isso. — Ele se aproxima e, instintivamente, me afasto. — Relaxa, eu não mordo, não sempre! — O psicólogo brinca. Sinto meu rosto pegar fogo. O encaro é o vejo exibir um sorriso. — É brincadeira, Estressadinha! — diz rapidamente e se concentra em limpar meu rosto. Relaxo dentro do possível. Felipe, afasta meus cabelos delicadamente e tento ajudar para aquilo não ficar esquisito. — Ei, fique parada, não vou te machucar.— Só quero ajudar, e evitar
MelissaA emoção daquele momento é indescritível. Enquanto me admiro no espelho, sinto uma onda de felicidade me invadir. É mais do que apenas um vestido; é um símbolo de tudo o que está por vir. O dia do meu casamento se aproxima e, com ele, a promessa de um futuro ao lado da pessoa que amo.— Você realmente encontrou o vestido dos seus sonhos, Melissa — diz dona Judite, ajustando delicadamente a renda na cintura. — Ele destaca sua beleza natural.Sorrio ainda mais, lembrando de todas as vezes em que imaginei esse momento. Sempre sonhei em usar um vestido de noiva que me fizesse sentir especial, e este é, sem dúvida, o escolhido. A renda delicada e o caimento do vestido me fazem sentir como uma verdadeira princesa.Enquanto a vendedora continua a fazer os ajustes finais, meu pensamento viaja para o dia do casamento. Posso imaginar meus amigos e familiares reunidos, as risadas, os olhares emocionados e, claro, o meu futuro marido, esperando por mim no altar. Sinto meu coração acelerar
MelissaTrês meses depois.Meus dias são miseráveis. O trabalho é péssimo, e acabo pedindo minhas férias antecipadamente; preciso ficar em casa e sofrer sozinha. No escritório, a todo instante alguém vem perguntar se estou bem. O que acontece é que saio da minha mesa para chorar no banheiro, e não é um choro educado! São soluços entrecortados e altos, com olhos inchados e nariz vermelho.Isolei-me do mundo. Minhas amigas vêm aqui em casa, mas eu não atendo sempre; é exatamente isso que faço até aliviar a dor. Depois de alguns dias, decido sair um pouco para aliviar os colegas da obrigação de se preocuparem. Mesmo que alguns zombem e digam que descobrir uma traição, não é o fim do universo. Nos olhos dos outros, é refresco, isso sim!Aquele descarado é noivo de outra mulher, e não é qualquer uma. A beldade é filha de um procurador importante no país, ou seja, extremamente influente e linda. Sei disso porque passei longos dias como uma stalker nas redes sociais dela, olhando suas fotos