A manhã amanhecera fria e cinzenta em Montanha de Prata. A chuva descia em cortinas finas, encharcando o vilarejo e abafando os sons habituais. O sol mal havia nascido, e todos ainda estavam em suas casas, aquecidos pelo fogo.Collin continuava deitada, observando as gotas deslizando pela janela. Por um instante, lembrou-se de sua casa. Da família que nunca a quisera de verdade. Fazia tanto tempo… Parecia que fora arrancada deles há anos, mesmo que soubesse que nunca realmente pertencera àquele lar.Ela bufou, afundando o rosto nos travesseiros, tentando afastar a melancolia. Mas então, a porta se abriu de repente.— Venha comigo.A voz firme a fez erguer a cabeça. Liam estava ali, parado no batente, os cabelos pingando, os ombros úmidos da chuva. O olhar intenso, impaciente.— Liam, eu não quero sair… — murmurou, puxando o cobertor para si.Ele cruzou os braços, os músculos tensos sob a camisa molhada.— Tente ser menos cabeça dura só uma vez na vida, fêmea.Ela suspirou, derrotada,
Collin cambaleou ao se levantar, ainda sentindo o peso daquela transformação incompleta em seu corpo. A ardência em seus dentes e unhas era insuportável, como se sua pele quisesse rasgar para revelar algo novo.Liam se aproximou rapidamente, as mãos firmes segurando seus braços, impedindo-a de cair. Seu olhar estava tenso, o corpo rígido.— Faça isso parar… — implorou, a voz embargada.— Você está em uma transição incompleta.— Eu não quero isso, Liam! — gritou, o desespero transbordando. — Faz isso parar agora!Ele se posicionou diante dela, os olhos fixos nos seus.— Respire.— Liam, eu…— Me obedeça.Havia algo na forma como ele disse aquilo… A ordem, o tom baixo, quase um rosnado. Seu olhar penetrante a segurou no lugar, e, pela primeira vez, Collin sentiu que não tinha outra escolha a não ser fazer o que ele pedia.Fechou os olhos.Respirou fundo.E como um feitiço, o fogo dentro dela começou a ceder. A pressão que parecia rasgá-la por dentro diminuiu, as garras desapareceram, os
Collin* Collin e Liam trocaram um olhar afiado no instante em que Damon pronunciou as palavras. O choque foi instantâneo. Sem pensar, Collin se aproximou de Eve. — Você não está falando sério. Eve desviou o olhar. Mas foi Damon quem respondeu, firme: — Estou, sim. Liam deu um passo à frente, perplexo. — Damon, Eve perdeu o parceiro há duas semanas. — Ela não pode ficar sozinha. — Eu não preciso de você! — Eve explodiu, a voz cortante. Damon a encarou, os olhos duros. Eve cruzou os braços ao redor do próprio corpo, como se segurasse as palavras que queria dizer. Mas, no fim, sussurrou: — Mas o filhote precisa. O silêncio pesou. Collin franziu o cenho, tentando entender. — Você está se unindo a ele pelo bebê? Eve não respondeu. Mas não precisava. Estava tudo em seu rosto. Damon engoliu em seco e se voltou para Liam. — Conheço as leis do nosso povo. Sei as obrigações de um macho com uma fêmea. Sei que terei desafios, já que ela já teve um parceiro e está
Collin*Collin não pregou os olhos a noite inteira. As palavras, as revelações, tudo girava em sua mente como um turbilhão.Algo dentro dela implorava para que fosse mentira. Mas o instinto dizia o contrário.Ela precisava de respostas.Precisava olhar seus pais nos olhos e perguntar.A incerteza doía como uma lâmina afiada.Suspirando, ela se levantou. Liam não estava na cama. Provavelmente já estava na aldeia.Collin puxou a camisola fina sobre o corpo e caminhou até a banheira. A água ainda estava morna.Ao passar pelo espelho, parou.Seu reflexo devolveu o olhar. O corpo nu, marcado.Os arranhões da luta contra o lupino ainda estavam ali. As manchas arroxeadas no abdômen eram prova do que havia enfrentado.Ela tocou a pele com dedos hesitantes. Procurava algo que não sabia nomear.Então, sem aviso, a porta do banheiro se abriu.Liam entrou.Sem camisa, suado, o peito subindo e descendo de forma ritmada.O choque veio como um soco.Collin tentou se cobrir, agarrando a toalha mais p
Collin*A noite estava sufocante, mas não pelo calor.Collin estava sentada na cama, os joelhos juntos, os olhos fixos em suas próprias mãos. Ainda estavam vermelhas, manchadas pelo surto que tivera mais cedo. A lembrança de seus punhos acertando Caius, do gosto amargo da fúria, fazia seu estômago revirar.A porta rangeu.Liam entrou, a expressão fechada, os músculos tensos. Havia suor em sua pele, como se estivesse tentando se desgastar fisicamente para acalmar a mente. Em uma das mãos, ele segurava uma xícara fumegante.— Bebe. — Sua voz saiu baixa, mas firme.Collin piscou, voltando lentamente à realidade.— O que é isso?— Chá de rosas. Vai te acalmar.Ela hesitou, os olhos estudando os dele. Liam não era do tipo que oferecia conforto facilmente. Não quando estava tão inquieto quanto ela.Ainda assim, pegou a xícara.O calor do líquido contra os dedos deveria ter sido reconfortante, mas a deixava ainda mais consciente do próprio corpo. Da tensão impregnada no quarto.Liam não saiu
Damon*A casa de Damon era maior do que Eve imaginava. Não luxuosa, mas organizada de um jeito quase meticuloso. A grande janela na sala deixava a luz entrar, mas mesmo assim, o lugar parecia sombrio.Ela parou no meio do cômodo, abraçando a si mesma.Damon fechou a porta atrás de si e a observou em silêncio. Então, sem dizer nada, fez um gesto com a cabeça.— Vem.Eve o seguiu pelo corredor estreito até um quarto pequeno. Não tinha nada de especial. Ela entrou hesitante, observando os detalhes mínimos, como se tentasse absorver o fato de que agora aquele era seu lar.— É tão... arrumado.— Não gosto de bagunça. — Sua voz era baixa, mas carregada de uma dureza contida.Eve desviou o olhar, enquanto ele colocava suas malas no chão.— Você pode dormir aqui. A cama é pequena, mas... vou tentar construir uma maior antes do filhote nascer.Ela assentiu lentamente, encarando-o.Damon passou a mão pelos cabelos e bufou.— Eu vou dormir na sala, não precisa fazer essa cara.Eve franziu o cenh
Collin*A floresta parecia infinita.Ela corria, os pulmões queimando a cada respiração, o coração trovejando no peito. O desespero impulsionava seus passos, mas o medo sussurrava que poderia não ser rápida o bastante.Se a encontrassem antes de sair dali, tudo estaria perdido.O céu começou a clarear. Pequenos raios de sol filtravam-se por entre as copas das árvores, mas antes que pudesse sentir algum alívio, um som cortou o silêncio da manhã.Um uivo. Alto. Estridente.O sangue de Collin gelou.Liam.Por um segundo, seu corpo paralisou. O som reverberou dentro dela, despertando algo que não queria encarar. Mas o tempo não era seu aliado-precisava continuar.Foi então que tropeçou.O chão desapareceu sob seus pés, e antes que pudesse reagir, sentiu-se mergulhando em algo frio e espesso. A lama a engoliu num baque pesado.Ela emergiu arfante, tossindo, o cheiro pútrido impregnando suas roupas e pele. Mas Collin não se deu ao luxo de reclamar. O perigo ainda a rondava.Com dificuldade,
Collin*Collin sentou-se na cama lentamente, o corpo ainda fraco. Sua cabeça pulsava, a visão embaçada.O homem se aproximou, hesitante.— Calma aí, você levou uma queda feia no riacho.Mas Collin já estava se levantando, mesmo que suas pernas tremessem sob seu peso.— Eu preciso sair. — Sua voz saiu rouca, mas determinada.O homem ergueu as mãos em um gesto pacificador.— Você vai desmaiar de novo se...— Eu preciso sair! — ela cortou, sua paciência se esvaindo, o sangue latejando.O desconhecido ficou imóvel por um momento, avaliando-a. Então, sem dizer mais nada, deu passagem.Collin caminhou até a porta e a abriu com força. A luz do sol atingiu seus olhos como navalhas, forçando-a a piscar várias vezes até que sua visão se ajustasse.E então, o cheiro familiar a atingiu.O cheiro de casa.Ela olhou ao redor. Algumas pessoas caminhavam pela vila, rostos conhecidos e desconhecidos se misturando. Mas todos tinham uma coisa em comum: o olhar confuso lançado a ela.Foi então que perceb