POV DARIUS
Uma forte chuva está caindo sobre mim e uma mulher, mas por mais que eu tente, não consigo ver seu rosto com clareza. Um borrão me impede, e o fato de ser noite não ajuda. Estou segurando-a em meus braços, chorando incontrolavelmente, implorando para que ela não me deixe. Sinto o cheiro de seu sangue. No fundo, sei que não há o que fazer. Ela toca suavemente meu rosto e diz algo antes de morrer. Acordo assustado, com dificuldade de respirar, sentindo o desespero em cada parte do meu corpo. Sento-me na cama, e percebo que os lençóis estão encharcados de suor. Estranhamente, isso sempre me acalma — significa que não estou mais sonhando. Concentro-me na respiração e, aos poucos, começo a me acalmar. Tenho esse pesadelo desde os 18 anos, quando me transformei pela primeira vez, e nunca, em todos esses anos, consegui lembrar o que ela diz. Meu lobo, Andrew, insiste que não é um pesadelo, mas sim uma memória de uma vida passada. Apesar de existirem diversas criaturas no mundo, eu me considero um lobisomem cético em relação a certos temas, um deles é vidas passadas. Simplesmente não consigo acreditar. “Pois deveria acreditar, Darius. Tenho certeza de que vamos reencontrá-la nesta vida” disse Andrew em minha mente. Peguei minha garrafa de água ao lado da cama, bebi um gole e ignorei Andrew. “Não me ignore” ele rosnou com raiva. “Você sabe o que penso melhor do que ninguém. Se essa mulher existiu e está nesse mundo novamente, por que ainda não apareceu? Se ela é minha companheira, está bem atrasada” falei em tom de tristeza e amargura. Andrew se calou. Tivemos essa discussão tantas vezes ao longo dos anos que ambos já estamos cansados. Hoje vai ser um longo dia. É melhor eu me levantar e começar a me arrumar. Odeio reuniões matinais, mas odeio ainda mais me atrasar. Sendo um alfa, é meu dever ser pontual. Depois de um banho rápido, me visto e desço as escadas. Vou até a cozinha, como algo rápido e vou direto para a sala de reuniões esperar meus oficiais. — Bom dia, alfa Darius — disseram Joseph, meu beta, e Francis, meu delta. Ambos se sentaram e começaram a relatar os eventos da semana. — Tivemos um Desonrado tentando entrar em nossa alcateia. Ele foi contido e interrogado. Estava sozinho e tentou invadir para roubar suprimentos — disse Joseph de forma formal. — O que fizeram com ele? — perguntei. Mesmo que ele estivesse tentando invadir em busca de suprimentos, não posso me dar ao luxo de ser bondoso com desconhecidos. — Não se preocupe, alfa, ele já virou adubo — disse Francis, com um sorriso satisfeito. Depois de quase 40 minutos discutindo os assuntos recentes e pendentes, a reunião parecia ter chegado ao fim, se não fosse por Francis e sua inquietação. — Francis, pare de me irritar com sua inquietação e apenas fale o que quer de uma vez — falei, quase perdendo a paciência. Coisa boa não era se ele estava nesse estado. — Alfa, me perdoe, mas a alcateia está agitada. Todos ficam nos perguntando quando o posto de luna será preenchido e, o mais preocupante, quando a alcateia terá um herdeiro — disse Francis, com medo e receio. Esse era um assunto delicado, que me deixa com raiva toda vez que lembro que ainda não encontrei minha companheira. Somente alguém como Francis teria coragem de entrar nesse assunto sem rodeios. Ele é um lobisomem corajoso, mesmo que isso possa custar sua cabeça. — O que Francis quis dizer é que os lobisomens têm se sentido inseguros. Se algo acontecer com você, quem assumiria seria seu tio, e ninguém aqui quer alguém como ele no comando. Sabemos que uma companheira escolhida não é o que você quer, mas talvez seja o que o bando precisa — disse Joseph, tentando apaziguar. — Saiam. Irei refletir sobre o assunto — disse, irritado. Ambos saíram de cabeça baixa e em silêncio, mas era possível ver uma pontada de esperança em seus rostos. Era a primeira vez que eu dizia que iria pensar a respeito. Me sinto péssimo em admitir, mas talvez eles estejam certos. Já tenho 27 anos e ainda não encontrei minha luna. Normalmente, se encontra a companheira quando se completa 18 anos e se tem a primeira transformação em lobo, mas eu só tive solidão nesses anos. Eu cresci vendo o amor dos meus pais. Eles começaram a namorar aos 16 anos, como se já soubessem que pertenciam um ao outro. A confirmação como companheiros foi uma das maiores alegrias para eles. Meu pai dizia que minha mãe era a obra mais preciosa já feita pela deusa da lua, não havia nada mais magnífico. Eram tantas juras de amor que, mesmo com o passar dos anos, a chama entre eles se mantinha viva. Eu pensei que, quando tivesse idade, encontraria minha outra metade e seríamos assim. Não poderia estar mais enganado. Os anos passaram, e agora talvez seja hora de jogar a toalha, desistir. Existem muitas lobas fortes na alcateia. Alguma delas poderia trazer estabilidade à minha posição e gerar um herdeiro saudável. “Eu durmo um pouco e, quando acordo, você está pensando essa estupidez” disse Andrew, gritando em minha mente. “E o que você quer que eu faça? Bata em todo mundo da alcateia que acha necessário uma luna escolhida?” falei, irritado. “Quero que espere. Acredite, ela vai aparecer”, disse, suplicante. “Tenho empurrado essa situação com a barriga por tempo demais. Já está gerando comoção no bando. Aquela escória do meu tio pode se aproveitar da situação. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar isso por mais um ano. Quando marcamos uma companheira escolhida, com o tempo o laço de companheiros nos fará amá-la. Não vai ser tão ruim” disse, tentando convencer a ele e a mim mesmo. Sempre fiz o que quis, mas ser forçado a escolher alguém me estressa. “Você não me entende mesmo. Isso não me serve. Não quero outra”, disse ele, rosnando com muita raiva. Sempre fomos unidos, mas quando o assunto é ela, parece que nos tornamos inimigos se não concordo com o que ele quer. “Vou esperar mais algum tempo até decidir quem seria uma boa luna. Não vou comunicar a ninguém que estou procurando. Se até lá ela não aparecer, vou prosseguir com minha escolha” falei, esperando encerrar a conversa. “Vou aceitar sua oferta, pois sei que logo ela vai aparecer” disse Andrew, desaparecendo em minha mente.POV EILEEN Ainda está escuro, mas já estou de pé. Não consegui dormir muito devido às novas revelações, mas foi o suficiente para encarar o dia.Mesmo de férias, quero manter minha rotina matinal: acordar às 5h30, alongar, meditar, fazer minhas preces e oferendas aos deuses e meus ancestrais, revisar meu grimório e ver onde posso melhorar meus feitiços.Esse tipo de hábito me ajuda a manter tanto a mente quanto a vida em equilíbrio.Após duas horas, decido tomar um banho e me arrumar. Coloco um vestido preto casual e, como peça complementar, um kimono de tule com bordados de lírio vermelho e botas pretas.Pego um óculos de sol; está nublado agora, mas vai fazer sol mais tarde.Desço para o café da manhã no hotel. Sento e tento comer com tranquilidade. Estou tão acostumada com a vida corrida que é preciso grande esforço para realizar uma tarefa tão simples como comer sem me preocupar com o que vem a seguir.Depois de comer, dei uma volta nas redondezas para passar o tempo. É um lugar
POV DARIUS Hoje, sem dúvidas, não está sendo um bom dia. Essa reunião e discussão com Andrew acabaram com o meu humor.Às vezes, sinto falta de quando ainda não era o alfa. Eu tinha mais liberdade de ser eu mesmo, vivia melhor o tempo presente.É melhor eu parar com esses pensamentos melancólicos. Nunca fui o tipo de lobo triste, não é agora, com quase trinta anos, que vou começar a ser.Sei que sou um bom alfa. Minha família é dona da maioria das casas, hotéis e restaurantes de luxo da cidade. É daí que tiramos a renda para manter a alcateia.Nos últimos anos, não só aumentei nosso patrimônio como também agreguei valor. A alcateia nunca esteve melhor.A única parte chata é ficar indo e voltando para a cidade, já que a alcateia fica fora dela. Infelizmente, é um negócio que preciso sempre estar de olho, afinal muitos dos que trabalham para mim não são lobisomens.Como tenho alguns compromissos na cidade, vou aproveitar e almoçar em um dos meus restaurantes. Saindo agora, provavelment
POV EILEEN Começo a me arrumar. Visto um vestido de couro bem justo e curto, uma jaqueta de couro e saltos Mary Jane. Hoje, não quero muita maquiagem, passo apenas um batom vermelho. Essa balada deve ser a única exclusiva para seres sobrenaturais na cidade. Imagino que estará bem cheia. Como meu cabelo é muito comprido, é melhor prendê-lo em um rabo de cavalo. Não quero que fique enroscando em nada. Pego um táxi. O local fica no centro da cidade, não muito longe do hotel. Como imaginei, está lotado. Se os humanos soubessem a quantidade de sobrenaturais que vivem entre eles, ficariam em choque. Entro na área VIP e vou direto ao bar. — O que posso servir para você esta noite? — disse o barman, dando uma piscadinha no final. — Um uísque puro, por favor — respondi com um sorriso, preciso de uma bebida forte para essa noite. Hoje, nada de Eileen estressada e mal-humorada. Onde quer que aquela demônia esteja, ela não vai mais tirar minha paz. Até porque o grimório será meu. Ela não s
POV DARIUS Cheguei na boate “Outra dimensão”. Esse lugar foi minha ideia de construir, é exclusiva para sobrenaturais. Aqui todos podem apenas serem quem são, sem ter que ficar pisando em cascas de ovos, devido aos humanos. No entanto, não é nada fácil manter a segurança desse lugar, de vez em quando aparece um humano enxerido tentando entrar, nunca tiveram êxito. É arriscado, mas muito lucrativo.Esse é o lugar perfeito para tentar tirá-la da minha mente. A agonia de saber que você têm uma companheira e não estar com ela é absurda. Preciso beber até não sentir mais nada ou ficar inconsciente, tanto faz, desde que eu não termine ficando louco e indo atrás dela.Vou até o bar. O barman, antes mesmo de dizer uma palavra, já me entrega minha bebida favorita: English Cider.Essa que temos na boate, além de ser de ótima qualidade, tem o teor alcoólico bem alto. Nunca me canso dessa bebida mas hoje vou precisar de mais do que ela para me derrubar.— Boa noite Alfa Dar
POV EILEEN Me senti hipnotizada pelo seus olhos dourados, era como se, naquele momento, não existisse mais nada ou ninguém. Seu toque, embora fosse dominante, também era caloroso. Esse mix de emoções estavam fazendo minhas pernas fraquejarem. Nunca me senti tão impotente, porém, de alguma forma, estou gostando, o que me deixa ainda mais confusa. Porque eu que gosto de tudo à sua maneira, estou me deixando levar por esse homem misterioso?.Ele me tira de meus pensamentos conforme chega mais perto. Quase perto o suficiente para seus lábios encostarem nos meus, mas antes que eu caísse nos encantos do belo homem misterioso à minha frente, concentro-me em sentir sua energia. Quero saber que ser ele é.Meu corpo estremece de raiva, me tirarando do transe. Ele é um lobo, um maldit* lobo! Como ele ousa colocar suas patas em mim? E, pior de tudo, como eu me deixei levar por essa situação? Algo está errado, tem que estar. Talvez eu tenha bebido demais e não esteja pensando com clareza.— Tire
POV EILEEN Como futura líder do clã Lua Sangrenta, finalmente chegou o dia em que terei meu ano de férias. Quando a próxima bruxa ou bruxo sucessor completa 20 anos, ele recebe a liberdade de, por um ano, não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. O que fará nesse ano fica a seu próprio critério. Eu fui criada e moldada para ser uma líder perfeita, tudo aquilo que meu pai deixou de ser há anos. Eu não precisava dessas férias; por mim, iria direto para a Ilha de Morrigan para cumprir meu treinamento de 2 anos, a última etapa necessária para, enfim, me tornar a nova chefe do clã. Todos que passavam por esse treinamento intenso ficavam mais fortes. Não sei o que acontecia naquela ilha, mas quem retornava voltava mudado. Eu almejava esse poder, essa mudança. Nós, bruxas, somos gananciosas por poder: quanto mais forte a bruxa é, mais ela deseja. Mas minha amiga Olívia me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Ei