Capítulo 2

POV DARIUS

Uma forte chuva está caindo sobre mim e uma mulher, mas por mais que eu tente, não consigo ver seu rosto com clareza. Um borrão me impede, e o fato de ser noite não ajuda.

Estou segurando-a em meus braços, chorando incontrolavelmente, implorando para que ela não me deixe.

Sinto o cheiro de seu sangue. No fundo, sei que não há o que fazer. Ela toca suavemente meu rosto e diz algo antes de morrer.

Acordo assustado, com dificuldade de respirar, sentindo o desespero em cada parte do meu corpo.

Sento-me na cama, e percebo que os lençóis estão encharcados de suor. Estranhamente, isso sempre me acalma — significa que não estou mais sonhando.

Concentro-me na respiração e, aos poucos, começo a me acalmar.

Tenho esse pesadelo desde os 18 anos, quando me transformei pela primeira vez, e nunca, em todos esses anos, consegui lembrar o que ela diz.

Meu lobo, Andrew, insiste que não é um pesadelo, mas sim uma memória de uma vida passada.

Apesar de existirem diversas criaturas no mundo, eu me considero um lobisomem cético em relação a certos temas, um deles é vidas passadas. Simplesmente não consigo acreditar.

“Pois deveria acreditar, Darius. Tenho certeza de que vamos reencontrá-la nesta vida” disse Andrew em minha mente.

Peguei minha garrafa de água ao lado da cama, bebi um gole e ignorei Andrew.

“Não me ignore” ele rosnou com raiva.

“Você sabe o que penso melhor do que ninguém. Se essa mulher existiu e está nesse mundo novamente, por que ainda não apareceu? Se ela é minha companheira, está bem atrasada” falei em tom de tristeza e amargura.

Andrew se calou. Tivemos essa discussão tantas vezes ao longo dos anos que ambos já estamos cansados.

Hoje vai ser um longo dia. É melhor eu me levantar e começar a me arrumar.

Odeio reuniões matinais, mas odeio ainda mais me atrasar. Sendo um alfa, é meu dever ser pontual.

Depois de um banho rápido, me visto e desço as escadas. Vou até a cozinha, como algo rápido e vou direto para a sala de reuniões esperar meus oficiais.

— Bom dia, alfa Darius — disseram Joseph, meu beta, e Francis, meu delta.

Ambos se sentaram e começaram a relatar os eventos da semana.

— Tivemos um Desonrado tentando entrar em nossa alcateia. Ele foi contido e interrogado. Estava sozinho e tentou invadir para roubar suprimentos — disse Joseph de forma formal.

— O que fizeram com ele? — perguntei. Mesmo que ele estivesse tentando invadir em busca de suprimentos, não posso me dar ao luxo de ser bondoso com desconhecidos.

— Não se preocupe, alfa, ele já virou adubo — disse Francis, com um sorriso satisfeito.

Depois de quase 40 minutos discutindo os assuntos recentes e pendentes, a reunião parecia ter chegado ao fim, se não fosse por Francis e sua inquietação.

— Francis, pare de me irritar com sua inquietação e apenas fale o que quer de uma vez — falei, quase perdendo a paciência. Coisa boa não era se ele estava nesse estado.

— Alfa, me perdoe, mas a alcateia está agitada. Todos ficam nos perguntando quando o posto de luna será preenchido e, o mais preocupante, quando a alcateia terá um herdeiro — disse Francis, com medo e receio.

Esse era um assunto delicado, que me deixa com raiva toda vez que lembro que ainda não encontrei minha companheira.

Somente alguém como Francis teria coragem de entrar nesse assunto sem rodeios. Ele é um lobisomem corajoso, mesmo que isso possa custar sua cabeça.

— O que Francis quis dizer é que os lobisomens têm se sentido inseguros. Se algo acontecer com você, quem assumiria seria seu tio, e ninguém aqui quer alguém como ele no comando. Sabemos que uma companheira escolhida não é o que você quer, mas talvez seja o que o bando precisa — disse Joseph, tentando apaziguar.

— Saiam. Irei refletir sobre o assunto — disse, irritado.

Ambos saíram de cabeça baixa e em silêncio, mas era possível ver uma pontada de esperança em seus rostos. Era a primeira vez que eu dizia que iria pensar a respeito.

Me sinto péssimo em admitir, mas talvez eles estejam certos. Já tenho 27 anos e ainda não encontrei minha luna.

Normalmente, se encontra a companheira quando se completa 18 anos e se tem a primeira transformação em lobo, mas eu só tive solidão nesses anos.

Eu cresci vendo o amor dos meus pais. Eles começaram a namorar aos 16 anos, como se já soubessem que pertenciam um ao outro. A confirmação como companheiros foi uma das maiores alegrias para eles.

Meu pai dizia que minha mãe era a obra mais preciosa já feita pela deusa da lua, não havia nada mais magnífico. Eram tantas juras de amor que, mesmo com o passar dos anos, a chama entre eles se mantinha viva.

Eu pensei que, quando tivesse idade, encontraria minha outra metade e seríamos assim. Não poderia estar mais enganado.

Os anos passaram, e agora talvez seja hora de jogar a toalha, desistir. Existem muitas lobas fortes na alcateia. Alguma delas poderia trazer estabilidade à minha posição e gerar um herdeiro saudável.

“Eu durmo um pouco e, quando acordo, você está pensando essa estupidez” disse Andrew, gritando em minha mente.

“E o que você quer que eu faça? Bata em todo mundo da alcateia que acha necessário uma luna escolhida?” falei, irritado.

“Quero que espere. Acredite, ela vai aparecer”, disse, suplicante.

“Tenho empurrado essa situação com a barriga por tempo demais. Já está gerando comoção no bando. Aquela escória do meu tio pode se aproveitar da situação. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar isso por mais um ano. Quando marcamos uma companheira escolhida, com o tempo o laço de companheiros nos fará amá-la. Não vai ser tão ruim” disse, tentando convencer a ele e a mim mesmo. Sempre fiz o que quis, mas ser forçado a escolher alguém me estressa.

“Você não me entende mesmo. Isso não me serve. Não quero outra”, disse ele, rosnando com muita raiva.

Sempre fomos unidos, mas quando o assunto é ela, parece que nos tornamos inimigos se não concordo com o que ele quer.

“Vou esperar mais algum tempo até decidir quem seria uma boa luna. Não vou comunicar a ninguém que estou procurando. Se até lá ela não aparecer, vou prosseguir com minha escolha” falei, esperando encerrar a conversa.

“Vou aceitar sua oferta, pois sei que logo ela vai aparecer” disse Andrew, desaparecendo em minha mente.

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