O alfa e a bruxa: além do ódio
O alfa e a bruxa: além do ódio
Por: Vitória Jaines
Capítulo 1

POV EILEEN

A floresta macabra da ilha me cerca, suas árvores são grandes e espessas. Mesmo sendo um dia de sol, algo nela a torna mais escura, mais perversa, fazendo jus ao nome da grande deusa da guerra, Morrigan.

Aqui, até o menor dos animais parece ser letal à sua maneira, espantando aqueles que adentram a floresta, dizendo ser corajosos, quando, na verdade, são fracos e covardes. Uma risada maligna ressoa entre a mata. Eu não recuo, não temo sua escuridão ou as vozes misteriosas. Seu ar gelado e misterioso não me abalam; sigo em frente.

Fui treinada para este momento durante toda a minha vida. Eu sei que cada parte dessa ilha vai brincar comigo, tentar me levar ao delírio, fazer-me sucumbir ao medo, porém o desejo pelo poder que ela pode me oferecer é maior. A vontade de obtê-lo até a última gota de sua fonte me deixa determinada. Dois anos, apenas dois anos, e o terei.

Escuto passos pesados quebrando os galhos secos; a fera, ainda escondida, solta um rugido gutural. Um urso negro sai do seu esconderijo, seus olhos cheios de cólera. Ele, sem demora, começa a se aproximar com uma velocidade sobrenatural. Quando o urso avança para atacar meu rosto, acordo sobressaltada.

Olho para o teto do quarto, sentindo-me frustrada por ser apenas um sonho. Para meu desgosto, ainda tenho 20 anos, e hoje se inicia meu ano de férias, e não meu treinamento nas Ilhas Morrigan.

Essa m*****a tradição do clã: por um ano inteiro, o futuro líder, quando completa seu vigésimo aniversário, tem a liberdade de não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. Que irritante! Eles acham que não sei das suas artimanhas? Apenas mais um truque para ver como nos comportamos sem supervisão. Estralo a língua com irritação, levantando-me.

Me arrumo com lentidão, adiando a tarefa de arrumar minhas malas. Os anciões fizeram um trabalho tão bom me criando para ser a líder perfeita — coisa que o inútil do meu pai deixou de ser há anos — que agora não quero perder meu tempo. Se não fosse por esse ano, faltariam apenas dois anos para eu poder assumir a sucessão do clã das bruxas Lua Sangrenta.

Eles têm sorte de eu ter Olívia, minha amiga mais próxima e querida. Foi ela que me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Eileen Moore e não como uma bruxa poderosa. Tenho que admitir, essa metamorfa tem uma lábia tão boa que, quando percebi, já estava concordando com ela.

Juntas decidimos que o melhor para mim seria viajar, expandir meus horizontes. Não gostei muito da ideia, mas com certeza era melhor do que as outras opções.

Depois de não ter mais como adiar, comecei a arrumar minhas malas, colocando cada item com cuidado na grande mala prateada.

Começo a escutar um barulho de passos familiares. Suspiro, fecho os olhos por alguns segundos. De novo ela vem sem avisar.

— Vejo que já está fazendo as malas — diz Olívia, abrindo a porta do meu quarto com um grande sorriso no rosto.

A encaro com seriedade. Nós nos damos muito bem, mas o fato de ela sempre invadir minha casa como se fosse sua me tira do sério às vezes.

— Até quando vai invadir minha casa, Olívia? Sabe, existe uma coisa chamada bater na porta — digo com descontentamento.

— Você se preocupa demais com coisas pequenas. Olha só o que eu trouxe para você — disse Olívia, com um sorriso malicioso, me entregando uma suspeita sacola preta.

Pego a sacola, abrindo-a com cautela. Olívia é uma figura; um presente dela me deixa sempre receosa. Não poderia ficar mais surpresa com o conteúdo do pacote.

— Por que eu precisaria de uma lingerie vermelha? Meus deuses, Olívia, isso não cobre nada! — digo, espantada. Sou uma mulher muito bonita e confiante, admito, mas em questões amorosas é outra história. Bem, não é minha culpa que os homens dessa cidade nunca vão além, por medo.

— Não seja boba. Você já tem 20 anos, já passou da hora de se aventurar em outros corpos, em outras línguas, se é que me entende — disse, dando uma gargalhada no final.

— Não tenho culpa se os seres dessa cidade são uns frouxos — Diferente de mim, que não tenho muita experiência além de beijos, Olívia é uma mulher confiante, com uma invejada vida sexual ativa. Ela tem um corpo de dar inveja, é um pouco mais alta que eu, sua pele é bronzeada, seus cabelos ruivos e seus olhos esmeraldas. Um completo furacão na vida de quem passa.

Olívia achou graça da minha desgraça. Revirei os olhos, não querendo mais discutir, e coloquei a lingerie na mala.

Preciso de sexo. Essa viagem será a oportunidade perfeita de me aventurar nesse aspecto; não é possível que lá não haja um homem que não ligue para o que o clã vai pensar. Não sou ingênua, sei que, quando concluir meu treinamento, com certeza os anciões vão tentar me arranjar um noivo que eles aprovem.

— Você não tem jeito mesmo. Tem certeza de que não quer vir comigo? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Não posso. Você tem que fazer isso sozinha. Sinceramente, espero que esse ano longe abra seus olhos e que você veja que, além de bruxa, é uma mulher, e que suas emoções importam — disse Olívia, enquanto me dava um abraço caloroso. Retribuo o gesto.

Pensei em retrucar, em dizer que estou bem assim. O que mais eu poderia querer? Tenho o respeito do clã, todos aqui sabem muito bem como sou e que seria uma péssima ideia me desrespeitar.

Sabendo que não sou boa nesse tipo de conversa, Olívia muda de assunto. Conversamos por mais alguns minutos, enquanto termino de arrumar minhas malas.

Quando terminei, Olívia me levou ao aeroporto. Embora seja outubro, o aeroporto está bem lotado. Estou na fila, esperando minha vez.

Vou começar minha jornada indo direto para a Inglaterra, pois Olga, uma comerciante de itens raros, me intrigou dizendo que está em posse de algo que me interessaria muito. Torço para que não seja uma perda de tempo, ou terei que arrancar a língua de uma certa criatura.

— Aqui está, senhorita Moore. Já pode embarcar. Tenha uma ótima viagem — disse a agente do aeroporto, me entregando meu passaporte.

Me sentei no meu lugar, e o avião começou a decolar. Me senti estranha; nunca havia saído da Irlanda. Não sabia o que esperar desse ano. Pela primeira vez na vida, não tinha tudo planejado. Estava completamente só. Era apenas e somente eu.

Enquanto refletia, fui pega pelo sono. Dormi praticamente as três horas de voo. Só acordei com o barulho do avião prestes a aterrissar.

O carro que comprei para usar na cidade já estava à minha espera no aeroporto. Um McLaren preto fosco, chamativo e discreto ao mesmo tempo.

Entrei no carro e fui direto para o hotel. Quando já havia desfeito as malas e tomado banho, já era começo de noite.

Pensei em seguir a recomendação da recepcionista e ir a um restaurante perto dali, mas algo dentro de mim me deixou inquieta desde o momento que cheguei.

Tentei dormir, mas fiquei rolando de um lado para o outro até que perdi a paciência. Joguei as cobertas longe e me levantei.

Peguei um saco vermelho, contendo minhas cartas de tarô. Raramente recorro a algum tipo de oráculo. Gosto de tirar minhas próprias conclusões ou apenas encarar o que o destino me der. Porém, essa inquietação não é normal; sinto que algo vai acontecer. Pode ser apenas medo do desconhecido, mas creio ser melhor tirar isso a limpo.

Começo a embaralhar as cartas de tarô, pensando no que quero perguntar. Fecho meus olhos e começo a chamar pela deusa.

— Morrigan, tu que és a deusa da guerra, não por usar armas, mas sim por teu grande espírito e esperteza na feitiçaria, invoco-te agora para abrir meus olhos, abençoá-los com sabedoria para ver o que o destino me trará.

Começo a entrar em transe e estou pronta para começar.

Abro meus olhos, tiro dez cartas, fazendo o método da cruz celta. O que a leitura das cartas diz me choca: alguém aparecerá e virará tudo de cabeça para baixo. O que antes era certo se mostrará errado, mentiras cairão por terra, uma grande turbulência se aproxima. Cuidado com aqueles que sorriem sem mostrar as mãos, pois podem te apunhalar pelas costas.

Volto ao normal. Ainda não entendo o que essa revelação quer dizer, mas devo tomar cuidado. As cartas não mentem. Acho melhor, por enquanto, guardar essa revelação. Não sei quem seria essa pessoa de quem devo tomar cuidado.

Agora que me acalmei um pouco, posso dormir. Amanhã será um longo dia. Encontrarei Olga para almoçar. Quero muito saber que item é esse que ela tem para mim.

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