POV EILEEN
A floresta macabra da ilha me cerca, suas árvores são grandes e espessas. Mesmo sendo um dia de sol, algo nela a torna mais escura, mais perversa, fazendo jus ao nome da grande deusa da guerra, Morrigan. Aqui, até o menor dos animais parece ser letal à sua maneira, espantando aqueles que adentram a floresta, dizendo ser corajosos, quando, na verdade, são fracos e covardes. Uma risada maligna ressoa entre a mata. Eu não recuo, não temo sua escuridão ou as vozes misteriosas. Seu ar gelado e misterioso não me abalam; sigo em frente. Fui treinada para este momento durante toda a minha vida. Eu sei que cada parte dessa ilha vai brincar comigo, tentar me levar ao delírio, fazer-me sucumbir ao medo, porém o desejo pelo poder que ela pode me oferecer é maior. A vontade de obtê-lo até a última gota de sua fonte me deixa determinada. Dois anos, apenas dois anos, e o terei. Escuto passos pesados quebrando os galhos secos; a fera, ainda escondida, solta um rugido gutural. Um urso negro sai do seu esconderijo, seus olhos cheios de cólera. Ele, sem demora, começa a se aproximar com uma velocidade sobrenatural. Quando o urso avança para atacar meu rosto, acordo sobressaltada. Olho para o teto do quarto, sentindo-me frustrada por ser apenas um sonho. Para meu desgosto, ainda tenho 20 anos, e hoje se inicia meu ano de férias, e não meu treinamento nas Ilhas Morrigan. Essa m*****a tradição do clã: por um ano inteiro, o futuro líder, quando completa seu vigésimo aniversário, tem a liberdade de não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. Que irritante! Eles acham que não sei das suas artimanhas? Apenas mais um truque para ver como nos comportamos sem supervisão. Estralo a língua com irritação, levantando-me. Me arrumo com lentidão, adiando a tarefa de arrumar minhas malas. Os anciões fizeram um trabalho tão bom me criando para ser a líder perfeita — coisa que o inútil do meu pai deixou de ser há anos — que agora não quero perder meu tempo. Se não fosse por esse ano, faltariam apenas dois anos para eu poder assumir a sucessão do clã das bruxas Lua Sangrenta. Eles têm sorte de eu ter Olívia, minha amiga mais próxima e querida. Foi ela que me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Eileen Moore e não como uma bruxa poderosa. Tenho que admitir, essa metamorfa tem uma lábia tão boa que, quando percebi, já estava concordando com ela. Juntas decidimos que o melhor para mim seria viajar, expandir meus horizontes. Não gostei muito da ideia, mas com certeza era melhor do que as outras opções. Depois de não ter mais como adiar, comecei a arrumar minhas malas, colocando cada item com cuidado na grande mala prateada. Começo a escutar um barulho de passos familiares. Suspiro, fecho os olhos por alguns segundos. De novo ela vem sem avisar. — Vejo que já está fazendo as malas — diz Olívia, abrindo a porta do meu quarto com um grande sorriso no rosto. A encaro com seriedade. Nós nos damos muito bem, mas o fato de ela sempre invadir minha casa como se fosse sua me tira do sério às vezes. — Até quando vai invadir minha casa, Olívia? Sabe, existe uma coisa chamada bater na porta — digo com descontentamento. — Você se preocupa demais com coisas pequenas. Olha só o que eu trouxe para você — disse Olívia, com um sorriso malicioso, me entregando uma suspeita sacola preta. Pego a sacola, abrindo-a com cautela. Olívia é uma figura; um presente dela me deixa sempre receosa. Não poderia ficar mais surpresa com o conteúdo do pacote. — Por que eu precisaria de uma lingerie vermelha? Meus deuses, Olívia, isso não cobre nada! — digo, espantada. Sou uma mulher muito bonita e confiante, admito, mas em questões amorosas é outra história. Bem, não é minha culpa que os homens dessa cidade nunca vão além, por medo. — Não seja boba. Você já tem 20 anos, já passou da hora de se aventurar em outros corpos, em outras línguas, se é que me entende — disse, dando uma gargalhada no final. — Não tenho culpa se os seres dessa cidade são uns frouxos — Diferente de mim, que não tenho muita experiência além de beijos, Olívia é uma mulher confiante, com uma invejada vida sexual ativa. Ela tem um corpo de dar inveja, é um pouco mais alta que eu, sua pele é bronzeada, seus cabelos ruivos e seus olhos esmeraldas. Um completo furacão na vida de quem passa. Olívia achou graça da minha desgraça. Revirei os olhos, não querendo mais discutir, e coloquei a lingerie na mala. Preciso de sexo. Essa viagem será a oportunidade perfeita de me aventurar nesse aspecto; não é possível que lá não haja um homem que não ligue para o que o clã vai pensar. Não sou ingênua, sei que, quando concluir meu treinamento, com certeza os anciões vão tentar me arranjar um noivo que eles aprovem. — Você não tem jeito mesmo. Tem certeza de que não quer vir comigo? — perguntei, tentando mudar de assunto. — Não posso. Você tem que fazer isso sozinha. Sinceramente, espero que esse ano longe abra seus olhos e que você veja que, além de bruxa, é uma mulher, e que suas emoções importam — disse Olívia, enquanto me dava um abraço caloroso. Retribuo o gesto. Pensei em retrucar, em dizer que estou bem assim. O que mais eu poderia querer? Tenho o respeito do clã, todos aqui sabem muito bem como sou e que seria uma péssima ideia me desrespeitar. Sabendo que não sou boa nesse tipo de conversa, Olívia muda de assunto. Conversamos por mais alguns minutos, enquanto termino de arrumar minhas malas. Quando terminei, Olívia me levou ao aeroporto. Embora seja outubro, o aeroporto está bem lotado. Estou na fila, esperando minha vez. Vou começar minha jornada indo direto para a Inglaterra, pois Olga, uma comerciante de itens raros, me intrigou dizendo que está em posse de algo que me interessaria muito. Torço para que não seja uma perda de tempo, ou terei que arrancar a língua de uma certa criatura. — Aqui está, senhorita Moore. Já pode embarcar. Tenha uma ótima viagem — disse a agente do aeroporto, me entregando meu passaporte. Me sentei no meu lugar, e o avião começou a decolar. Me senti estranha; nunca havia saído da Irlanda. Não sabia o que esperar desse ano. Pela primeira vez na vida, não tinha tudo planejado. Estava completamente só. Era apenas e somente eu. Enquanto refletia, fui pega pelo sono. Dormi praticamente as três horas de voo. Só acordei com o barulho do avião prestes a aterrissar. O carro que comprei para usar na cidade já estava à minha espera no aeroporto. Um McLaren preto fosco, chamativo e discreto ao mesmo tempo. Entrei no carro e fui direto para o hotel. Quando já havia desfeito as malas e tomado banho, já era começo de noite. Pensei em seguir a recomendação da recepcionista e ir a um restaurante perto dali, mas algo dentro de mim me deixou inquieta desde o momento que cheguei. Tentei dormir, mas fiquei rolando de um lado para o outro até que perdi a paciência. Joguei as cobertas longe e me levantei. Peguei um saco vermelho, contendo minhas cartas de tarô. Raramente recorro a algum tipo de oráculo. Gosto de tirar minhas próprias conclusões ou apenas encarar o que o destino me der. Porém, essa inquietação não é normal; sinto que algo vai acontecer. Pode ser apenas medo do desconhecido, mas creio ser melhor tirar isso a limpo. Começo a embaralhar as cartas de tarô, pensando no que quero perguntar. Fecho meus olhos e começo a chamar pela deusa. — Morrigan, tu que és a deusa da guerra, não por usar armas, mas sim por teu grande espírito e esperteza na feitiçaria, invoco-te agora para abrir meus olhos, abençoá-los com sabedoria para ver o que o destino me trará. Começo a entrar em transe e estou pronta para começar. Abro meus olhos, tiro dez cartas, fazendo o método da cruz celta. O que a leitura das cartas diz me choca: alguém aparecerá e virará tudo de cabeça para baixo. O que antes era certo se mostrará errado, mentiras cairão por terra, uma grande turbulência se aproxima. Cuidado com aqueles que sorriem sem mostrar as mãos, pois podem te apunhalar pelas costas. Volto ao normal. Ainda não entendo o que essa revelação quer dizer, mas devo tomar cuidado. As cartas não mentem. Acho melhor, por enquanto, guardar essa revelação. Não sei quem seria essa pessoa de quem devo tomar cuidado. Agora que me acalmei um pouco, posso dormir. Amanhã será um longo dia. Encontrarei Olga para almoçar. Quero muito saber que item é esse que ela tem para mim.POV DARIUSUma forte chuva está caindo sobre mim e uma mulher, mas por mais que eu tente, não consigo ver seu rosto com clareza. Um borrão me impede, e o fato de ser noite não ajuda.Estou segurando-a em meus braços, chorando incontrolavelmente, implorando para que ela não me deixe.Sinto o cheiro de seu sangue. No fundo, sei que não há o que fazer. Ela toca suavemente meu rosto e diz algo antes de morrer.Acordo assustado, com dificuldade de respirar, sentindo o desespero em cada parte do meu corpo.Sento-me na cama, e percebo que os lençóis estão encharcados de suor. Estranhamente, isso sempre me acalma — significa que não estou mais sonhando.Concentro-me na respiração e, aos poucos, começo a me acalmar.Tenho esse pesadelo desde os 18 anos, quando me transformei pela primeira vez, e nunca, em todos esses anos, consegui lembrar o que ela diz.Meu lobo, Andrew, insiste que não é um pesadelo, mas sim uma memória de uma vida passada.Apesar de existirem diversas criaturas no mundo, eu
POV EILEEN Ainda está escuro, mas já estou de pé. Não consegui dormir muito devido às novas revelações, mas foi o suficiente para encarar o dia.Mesmo de férias, quero manter minha rotina matinal: acordar às 5h30, alongar, meditar, fazer minhas preces e oferendas aos deuses e meus ancestrais, revisar meu grimório e ver onde posso melhorar meus feitiços.Esse tipo de hábito me ajuda a manter tanto a mente quanto a vida em equilíbrio.Após duas horas, decido tomar um banho e me arrumar. Coloco um vestido preto casual e, como peça complementar, um kimono de tule com bordados de lírio vermelho e botas pretas.Pego um óculos de sol; está nublado agora, mas vai fazer sol mais tarde.Desço para o café da manhã no hotel. Sento e tento comer com tranquilidade. Estou tão acostumada com a vida corrida que é preciso grande esforço para realizar uma tarefa tão simples como comer sem me preocupar com o que vem a seguir.Depois de comer, dei uma volta nas redondezas para passar o tempo. É um lugar
POV DARIUS Hoje, sem dúvidas, não está sendo um bom dia. Essa reunião e discussão com Andrew acabaram com o meu humor.Às vezes, sinto falta de quando ainda não era o alfa. Eu tinha mais liberdade de ser eu mesmo, vivia melhor o tempo presente.É melhor eu parar com esses pensamentos melancólicos. Nunca fui o tipo de lobo triste, não é agora, com quase trinta anos, que vou começar a ser.Sei que sou um bom alfa. Minha família é dona da maioria das casas, hotéis e restaurantes de luxo da cidade. É daí que tiramos a renda para manter a alcateia.Nos últimos anos, não só aumentei nosso patrimônio como também agreguei valor. A alcateia nunca esteve melhor.A única parte chata é ficar indo e voltando para a cidade, já que a alcateia fica fora dela. Infelizmente, é um negócio que preciso sempre estar de olho, afinal muitos dos que trabalham para mim não são lobisomens.Como tenho alguns compromissos na cidade, vou aproveitar e almoçar em um dos meus restaurantes. Saindo agora, provavelment
POV EILEEN Começo a me arrumar. Visto um vestido de couro bem justo e curto, uma jaqueta de couro e saltos Mary Jane. Hoje, não quero muita maquiagem, passo apenas um batom vermelho. Essa balada deve ser a única exclusiva para seres sobrenaturais na cidade. Imagino que estará bem cheia. Como meu cabelo é muito comprido, é melhor prendê-lo em um rabo de cavalo. Não quero que fique enroscando em nada. Pego um táxi. O local fica no centro da cidade, não muito longe do hotel. Como imaginei, está lotado. Se os humanos soubessem a quantidade de sobrenaturais que vivem entre eles, ficariam em choque. Entro na área VIP e vou direto ao bar. — O que posso servir para você esta noite? — disse o barman, dando uma piscadinha no final. — Um uísque puro, por favor — respondi com um sorriso, preciso de uma bebida forte para essa noite. Hoje, nada de Eileen estressada e mal-humorada. Onde quer que aquela demônia esteja, ela não vai mais tirar minha paz. Até porque o grimório será meu. Ela não s
POV DARIUS Cheguei na boate “Outra dimensão”. Esse lugar foi minha ideia de construir, é exclusiva para sobrenaturais. Aqui todos podem apenas serem quem são, sem ter que ficar pisando em cascas de ovos, devido aos humanos. No entanto, não é nada fácil manter a segurança desse lugar, de vez em quando aparece um humano enxerido tentando entrar, nunca tiveram êxito. É arriscado, mas muito lucrativo.Esse é o lugar perfeito para tentar tirá-la da minha mente. A agonia de saber que você têm uma companheira e não estar com ela é absurda. Preciso beber até não sentir mais nada ou ficar inconsciente, tanto faz, desde que eu não termine ficando louco e indo atrás dela.Vou até o bar. O barman, antes mesmo de dizer uma palavra, já me entrega minha bebida favorita: English Cider.Essa que temos na boate, além de ser de ótima qualidade, tem o teor alcoólico bem alto. Nunca me canso dessa bebida mas hoje vou precisar de mais do que ela para me derrubar.— Boa noite Alfa Dar
POV EILEEN Me senti hipnotizada pelo seus olhos dourados, era como se, naquele momento, não existisse mais nada ou ninguém. Seu toque, embora fosse dominante, também era caloroso. Esse mix de emoções estavam fazendo minhas pernas fraquejarem. Nunca me senti tão impotente, porém, de alguma forma, estou gostando, o que me deixa ainda mais confusa. Porque eu que gosto de tudo à sua maneira, estou me deixando levar por esse homem misterioso?.Ele me tira de meus pensamentos conforme chega mais perto. Quase perto o suficiente para seus lábios encostarem nos meus, mas antes que eu caísse nos encantos do belo homem misterioso à minha frente, concentro-me em sentir sua energia. Quero saber que ser ele é.Meu corpo estremece de raiva, me tirarando do transe. Ele é um lobo, um maldit* lobo! Como ele ousa colocar suas patas em mim? E, pior de tudo, como eu me deixei levar por essa situação? Algo está errado, tem que estar. Talvez eu tenha bebido demais e não esteja pensando com clareza.— Tire
POV DARIUSEla foi embora zangada, me deixando completamente sozinho na boate. Mesmo ela tendo motivos, não consigo parar de me sentir péssimo. Como eu queria que as coisas fossem mais simples... se ela fosse uma loba, a essa altura já estarimos marcados e acasalados. Levanto-me do sofá para ir embora. Ficar sentado com essa autopiedade não fará as coisas se resolverem. Pego as chaves da boate, deixadas em cima do balcão do bar, como havia pedido para o chefe de seguranças deixar, depois de expulsar todos da boate. Fecho o estabelecimento e vou em direção a minha moto. Antes de ir para casa, passo na residência do gerente da boate, Dean, para entregar as chaves. Dean me comprimenta formalmente, me olhando com curiosidade, sei exatamente o que ele está pensando em perguntar entretanto ele tem mais amor a vida do que curiosidade; não ousaria me perguntar porque mandei expulsar todo mundo ou porque estava tão perto da bruxa. Esse é um dos motivos de ter o colocado c
POV DARIUSOs raios de luz invadem a janela e, como de costume, as cortinas abertas me forçam a levantar. Tomo banho rapidamente, visto uma calça jeans preta, uma camiseta branca e um par de tênis preto, simples e funcional.Hoje vai ser o puro caos. Minhas ações terão muitas consequências. Quanto mais eu penso, mais minha cabeça dói.Desço as escadas em direção à sala de jantar. A mesa já está servida com tudo o que gosto: chá preto, torradas com ovos mexidos, Bife Wellington, linguiças e bacon.Infelizmente, hoje não é um dia em que posso me dar ao luxo de sentar à mesa e aproveitar a deliciosa comida feita por Grace. Como com pressa, apenas o bife e uma pequena xícara de chá.— Bom dia, alfa — disse Grace, observando o fato de eu não ter tocado no restante da comida. — Não acredito que vai comer pouco novamente — falou com indignação, cruzando os braços.— Não posso, Grace. Tenho muitas coisas para resolver e pouco tempo — disse, limpando minha boca com o