O alfa e a bruxa: além do ódio
O alfa e a bruxa: além do ódio
Por: Vitória Jaines
Capítulo 1

POV EILEEN

Como futura líder do clã Lua Sangrenta, finalmente chegou o dia em que terei meu ano de férias.

Quando a próxima bruxa ou bruxo sucessor completa 20 anos, ele recebe a liberdade de, por um ano, não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. O que fará nesse ano fica a seu próprio critério.

Eu fui criada e moldada para ser uma líder perfeita, tudo aquilo que meu pai deixou de ser há anos. Eu não precisava dessas férias; por mim, iria direto para a Ilha de Morrigan para cumprir meu treinamento de 2 anos, a última etapa necessária para, enfim, me tornar a nova chefe do clã.

Todos que passavam por esse treinamento intenso ficavam mais fortes. Não sei o que acontecia naquela ilha, mas quem retornava voltava mudado. Eu almejava esse poder, essa mudança. Nós, bruxas, somos gananciosas por poder: quanto mais forte a bruxa é, mais ela deseja.

Mas minha amiga Olívia me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Eileen Moore e não como uma bruxa poderosa. Depois de tanto me aborrecer, acabei cedendo e concordei em passar o ano viajando.

— Vejo que já está fazendo as malas — diz Olívia, com um grande sorriso no rosto.

Ela é minha melhor amiga. Apesar de não ser uma bruxa, e sim uma metamorfa, nos damos muito bem. Mas o fato de sempre invadir minha casa como se fosse sua me tira do sério às vezes.

— Até quando vai apenas invadir minha casa, Olívia? Sabe, existe uma coisa chamada bater na porta — digo com descontentamento.

— Você se preocupa demais com coisas pequenas. Olha só o que tenho para você — disse Olívia, com um sorriso malicioso, me entregando uma sacola preta.

— Por que eu precisaria de uma lingerie vermelha? Meus deuses, Olívia, isso não cobre nada! — disse, espantada. Sou uma mulher muito bonita e confiante, admito, mas em questões amorosas é outra história. Bem, não dá para ser perfeita em tudo.

— Não seja puritana. Você já tem 20 anos, já passou da hora de se aventurar em outros corpos, em outras línguas, se é que me entende — disse, dando uma gargalhada no final.

Diferente de mim, ela tinha bastante confiança em relacionamentos. Olívia tinha um corpo de dar inveja, é um pouco mais alta que eu, sua pele era bronzeada, seus cabelos ruivos e olhos dourados como ouro. Um completo furacão na vida de quem passa.

Revirei os olhos e coloquei a lingerie na mala. Por mais que odeie admitir, ela estava certa. Nessa viagem, eu deveria, pelo menos uma vez, me aventurar um pouco. Assim que concluir meu treinamento, tenho certeza de que os anciões vão tentar me arranjar um noivo que eles aprovem.

Casamento arranjado não é muito comum hoje em dia, mas depois do meu pai começaram a achar uma boa ideia.

— Você não tem jeito mesmo. Tem certeza de que não quer vir comigo? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Não posso. Você tem que fazer isso sozinha. Sinceramente, espero que esse ano longe abra seus olhos e você veja que, além de bruxa, é uma mulher, e que suas emoções importam — disse Olívia, enquanto me dava um abraço caloroso.

Pensei em retrucar, em dizer que estou bem assim. Tenho o respeito do clã, todos aqui sabem muito bem como sou e que seria uma péssima ideia me desrespeitar. A única que me trata de maneira diferente e não sofre nenhuma consequência é minha amiga. Sei que ela só quer o meu bem.

Olívia me levou ao aeroporto. Vou começar minha jornada indo direto para a Inglaterra, pois Olga, uma comerciante de itens raros, me intrigou dizendo que está em posse de algo que me interessaria muito. Espero que não seja uma perda de tempo, ou terei que arrancar a língua de uma certa criatura.

— Aqui está, senhorita Moore. Já pode embarcar. Tenha uma ótima viagem — disse a agente do aeroporto.

Me sentei no meu lugar, e o avião decolou. Me senti estranha, nunca havia saído da Irlanda. Não sabia o que esperar desse ano. Pela primeira vez na vida, não tinha tudo planejado. Estava completamente só. Não havia nenhum olhar de expectativa em mim. Era apenas e somente eu.

Peguei no sono, dormi praticamente as três horas de voo. Só acordei quando o avião estava prestes a aterrissar.

Peguei o carro alugado que estava à minha espera no aeroporto e fui direto para o hotel. Quando já tinha desfeito as malas e tomado banho, já era começo de noite.

Pensei em seguir a recomendação da recepcionista e ir a um restaurante perto dali, mas algo dentro de mim me deixou inquieta desde que cheguei.

Tentei dormir, mas fiquei rolando de um lado para o outro até que perdi a paciência.

Raramente recorro a algum tipo de oráculo. Gosto de tirar minhas próprias conclusões ou apenas encarar o que o destino me der. Porém, essa inquietação não é normal; sinto que algo vai acontecer. Pode ser apenas medo do desconhecido.

Depois de muito ponderar, pego um saco aveludado preto contendo minhas cartas de tarô e começo a embaralhá-las.

— Morrigan, tu que és a deusa da guerra, não por usar armas, mas sim por teu grande espírito e esperteza na feitiçaria, invoco-te agora para abrir meus olhos, abençoá-los com sabedoria para ver o que o destino me trará.

Começo a entrar em transe e estou pronta para começar.

Tiro dez cartas fazendo o método da cruz celta. O que a leitura das cartas diz me choca: alguém aparecerá e virará tudo de cabeça para baixo. O que antes era certo se mostrará errado, mentiras cairão por terra, uma grande turbulência se aproxima. Cuidado com aqueles que sorriem sem mostrar as mãos, pois podem te apunhalar pelas costas.

Volto ao normal. Ainda não entendo o que essa revelação quer dizer, mas devo tomar cuidado. As cartas não mentem. Acho melhor, por enquanto, guardar essa revelação. Não sei quem seria essa pessoa de quem devo tomar cuidado.

Agora que me acalmei um pouco, posso dormir. Amanhã será um longo dia. Encontrarei Olga para almoçar. Quero muito saber que item é esse que ela tem para mim.

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