POV EILEEN
Como futura líder do clã Lua Sangrenta, finalmente chegou o dia em que terei meu ano de férias. Quando a próxima bruxa ou bruxo sucessor completa 20 anos, ele recebe a liberdade de, por um ano, não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. O que fará nesse ano fica a seu próprio critério. Eu fui criada e moldada para ser uma líder perfeita, tudo aquilo que meu pai deixou de ser há anos. Eu não precisava dessas férias; por mim, iria direto para a Ilha de Morrigan para cumprir meu treinamento de 2 anos, a última etapa necessária para, enfim, me tornar a nova chefe do clã. Todos que passavam por esse treinamento intenso ficavam mais fortes. Não sei o que acontecia naquela ilha, mas quem retornava voltava mudado. Eu almejava esse poder, essa mudança. Nós, bruxas, somos gananciosas por poder: quanto mais forte a bruxa é, mais ela deseja. Mas minha amiga Olívia me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Eileen Moore e não como uma bruxa poderosa. Depois de tanto me aborrecer, acabei cedendo e concordei em passar o ano viajando. — Vejo que já está fazendo as malas — diz Olívia, com um grande sorriso no rosto. Ela é minha melhor amiga. Apesar de não ser uma bruxa, e sim uma metamorfa, nos damos muito bem. Mas o fato de sempre invadir minha casa como se fosse sua me tira do sério às vezes. — Até quando vai apenas invadir minha casa, Olívia? Sabe, existe uma coisa chamada bater na porta — digo com descontentamento. — Você se preocupa demais com coisas pequenas. Olha só o que tenho para você — disse Olívia, com um sorriso malicioso, me entregando uma sacola preta. — Por que eu precisaria de uma lingerie vermelha? Meus deuses, Olívia, isso não cobre nada! — disse, espantada. Sou uma mulher muito bonita e confiante, admito, mas em questões amorosas é outra história. Bem, não dá para ser perfeita em tudo. — Não seja puritana. Você já tem 20 anos, já passou da hora de se aventurar em outros corpos, em outras línguas, se é que me entende — disse, dando uma gargalhada no final. Diferente de mim, ela tinha bastante confiança em relacionamentos. Olívia tinha um corpo de dar inveja, é um pouco mais alta que eu, sua pele era bronzeada, seus cabelos ruivos e olhos dourados como ouro. Um completo furacão na vida de quem passa. Revirei os olhos e coloquei a lingerie na mala. Por mais que odeie admitir, ela estava certa. Nessa viagem, eu deveria, pelo menos uma vez, me aventurar um pouco. Assim que concluir meu treinamento, tenho certeza de que os anciões vão tentar me arranjar um noivo que eles aprovem. Casamento arranjado não é muito comum hoje em dia, mas depois do meu pai começaram a achar uma boa ideia. — Você não tem jeito mesmo. Tem certeza de que não quer vir comigo? — perguntei, tentando mudar de assunto. — Não posso. Você tem que fazer isso sozinha. Sinceramente, espero que esse ano longe abra seus olhos e você veja que, além de bruxa, é uma mulher, e que suas emoções importam — disse Olívia, enquanto me dava um abraço caloroso. Pensei em retrucar, em dizer que estou bem assim. Tenho o respeito do clã, todos aqui sabem muito bem como sou e que seria uma péssima ideia me desrespeitar. A única que me trata de maneira diferente e não sofre nenhuma consequência é minha amiga. Sei que ela só quer o meu bem. Olívia me levou ao aeroporto. Vou começar minha jornada indo direto para a Inglaterra, pois Olga, uma comerciante de itens raros, me intrigou dizendo que está em posse de algo que me interessaria muito. Espero que não seja uma perda de tempo, ou terei que arrancar a língua de uma certa criatura. — Aqui está, senhorita Moore. Já pode embarcar. Tenha uma ótima viagem — disse a agente do aeroporto. Me sentei no meu lugar, e o avião decolou. Me senti estranha, nunca havia saído da Irlanda. Não sabia o que esperar desse ano. Pela primeira vez na vida, não tinha tudo planejado. Estava completamente só. Não havia nenhum olhar de expectativa em mim. Era apenas e somente eu. Peguei no sono, dormi praticamente as três horas de voo. Só acordei quando o avião estava prestes a aterrissar. Peguei o carro alugado que estava à minha espera no aeroporto e fui direto para o hotel. Quando já tinha desfeito as malas e tomado banho, já era começo de noite. Pensei em seguir a recomendação da recepcionista e ir a um restaurante perto dali, mas algo dentro de mim me deixou inquieta desde que cheguei. Tentei dormir, mas fiquei rolando de um lado para o outro até que perdi a paciência. Raramente recorro a algum tipo de oráculo. Gosto de tirar minhas próprias conclusões ou apenas encarar o que o destino me der. Porém, essa inquietação não é normal; sinto que algo vai acontecer. Pode ser apenas medo do desconhecido. Depois de muito ponderar, pego um saco aveludado preto contendo minhas cartas de tarô e começo a embaralhá-las. — Morrigan, tu que és a deusa da guerra, não por usar armas, mas sim por teu grande espírito e esperteza na feitiçaria, invoco-te agora para abrir meus olhos, abençoá-los com sabedoria para ver o que o destino me trará. Começo a entrar em transe e estou pronta para começar. Tiro dez cartas fazendo o método da cruz celta. O que a leitura das cartas diz me choca: alguém aparecerá e virará tudo de cabeça para baixo. O que antes era certo se mostrará errado, mentiras cairão por terra, uma grande turbulência se aproxima. Cuidado com aqueles que sorriem sem mostrar as mãos, pois podem te apunhalar pelas costas. Volto ao normal. Ainda não entendo o que essa revelação quer dizer, mas devo tomar cuidado. As cartas não mentem. Acho melhor, por enquanto, guardar essa revelação. Não sei quem seria essa pessoa de quem devo tomar cuidado. Agora que me acalmei um pouco, posso dormir. Amanhã será um longo dia. Encontrarei Olga para almoçar. Quero muito saber que item é esse que ela tem para mim.POV DARIUSUma forte chuva está caindo sobre mim e uma mulher, mas por mais que eu tente, não consigo ver seu rosto com clareza. Um borrão me impede, e o fato de ser noite não ajuda.Estou segurando-a em meus braços, chorando incontrolavelmente, implorando para que ela não me deixe.Sinto o cheiro de seu sangue. No fundo, sei que não há o que fazer. Ela toca suavemente meu rosto e diz algo antes de morrer.Acordo assustado, com dificuldade de respirar, sentindo o desespero em cada parte do meu corpo.Sento-me na cama, e percebo que os lençóis estão encharcados de suor. Estranhamente, isso sempre me acalma — significa que não estou mais sonhando.Concentro-me na respiração e, aos poucos, começo a me acalmar.Tenho esse pesadelo desde os 18 anos, quando me transformei pela primeira vez, e nunca, em todos esses anos, consegui lembrar o que ela diz.Meu lobo, Andrew, insiste que não é um pesadelo, mas sim uma memória de uma vida passada.Apesar de existirem diversas criaturas no mundo, eu
POV EILEEN Ainda está escuro, mas já estou de pé. Não consegui dormir muito devido às novas revelações, mas foi o suficiente para encarar o dia.Mesmo de férias, quero manter minha rotina matinal: acordar às 5h30, alongar, meditar, fazer minhas preces e oferendas aos deuses e meus ancestrais, revisar meu grimório e ver onde posso melhorar meus feitiços.Esse tipo de hábito me ajuda a manter tanto a mente quanto a vida em equilíbrio.Após duas horas, decido tomar um banho e me arrumar. Coloco um vestido preto casual e, como peça complementar, um kimono de tule com bordados de lírio vermelho e botas pretas.Pego um óculos de sol; está nublado agora, mas vai fazer sol mais tarde.Desço para o café da manhã no hotel. Sento e tento comer com tranquilidade. Estou tão acostumada com a vida corrida que é preciso grande esforço para realizar uma tarefa tão simples como comer sem me preocupar com o que vem a seguir.Depois de comer, dei uma volta nas redondezas para passar o tempo. É um lugar
POV DARIUS Hoje, sem dúvidas, não está sendo um bom dia. Essa reunião e discussão com Andrew acabaram com o meu humor.Às vezes, sinto falta de quando ainda não era o alfa. Eu tinha mais liberdade de ser eu mesmo, vivia melhor o tempo presente.É melhor eu parar com esses pensamentos melancólicos. Nunca fui o tipo de lobo triste, não é agora, com quase trinta anos, que vou começar a ser.Sei que sou um bom alfa. Minha família é dona da maioria das casas, hotéis e restaurantes de luxo da cidade. É daí que tiramos a renda para manter a alcateia.Nos últimos anos, não só aumentei nosso patrimônio como também agreguei valor. A alcateia nunca esteve melhor.A única parte chata é ficar indo e voltando para a cidade, já que a alcateia fica fora dela. Infelizmente, é um negócio que preciso sempre estar de olho, afinal muitos dos que trabalham para mim não são lobisomens.Como tenho alguns compromissos na cidade, vou aproveitar e almoçar em um dos meus restaurantes. Saindo agora, provavelment
POV EILEEN Começo a me arrumar. Visto um vestido de couro bem justo e curto, uma jaqueta de couro e saltos Mary Jane. Hoje, não quero muita maquiagem, passo apenas um batom vermelho. Essa balada deve ser a única exclusiva para seres sobrenaturais na cidade. Imagino que estará bem cheia. Como meu cabelo é muito comprido, é melhor prendê-lo em um rabo de cavalo. Não quero que fique enroscando em nada. Pego um táxi. O local fica no centro da cidade, não muito longe do hotel. Como imaginei, está lotado. Se os humanos soubessem a quantidade de sobrenaturais que vivem entre eles, ficariam em choque. Entro na área VIP e vou direto ao bar. — O que posso servir para você esta noite? — disse o barman, dando uma piscadinha no final. — Um uísque puro, por favor — respondi com um sorriso, preciso de uma bebida forte para essa noite. Hoje, nada de Eileen estressada e mal-humorada. Onde quer que aquela demônia esteja, ela não vai mais tirar minha paz. Até porque o grimório será meu. Ela não s
POV DARIUS Cheguei na boate “Outra dimensão”. Esse lugar foi minha ideia de construir, é exclusiva para sobrenaturais. Aqui todos podem apenas serem quem são, sem ter que ficar pisando em cascas de ovos, devido aos humanos. No entanto, não é nada fácil manter a segurança desse lugar, de vez em quando aparece um humano enxerido tentando entrar, nunca tiveram êxito. É arriscado, mas muito lucrativo.Esse é o lugar perfeito para tentar tirá-la da minha mente. A agonia de saber que você têm uma companheira e não estar com ela é absurda. Preciso beber até não sentir mais nada ou ficar inconsciente, tanto faz, desde que eu não termine ficando louco e indo atrás dela.Vou até o bar. O barman, antes mesmo de dizer uma palavra, já me entrega minha bebida favorita: English Cider.Essa que temos na boate, além de ser de ótima qualidade, tem o teor alcoólico bem alto. Nunca me canso dessa bebida mas hoje vou precisar de mais do que ela para me derrubar.— Boa noite Alfa Dar
POV EILEEN Me senti hipnotizada pelo seus olhos dourados, era como se, naquele momento, não existisse mais nada ou ninguém. Seu toque, embora fosse dominante, também era caloroso. Esse mix de emoções estavam fazendo minhas pernas fraquejarem. Nunca me senti tão impotente, porém, de alguma forma, estou gostando, o que me deixa ainda mais confusa. Porque eu que gosto de tudo à sua maneira, estou me deixando levar por esse homem misterioso?.Ele me tira de meus pensamentos conforme chega mais perto. Quase perto o suficiente para seus lábios encostarem nos meus, mas antes que eu caísse nos encantos do belo homem misterioso à minha frente, concentro-me em sentir sua energia. Quero saber que ser ele é.Meu corpo estremece de raiva, me tirarando do transe. Ele é um lobo, um maldit* lobo! Como ele ousa colocar suas patas em mim? E, pior de tudo, como eu me deixei levar por essa situação? Algo está errado, tem que estar. Talvez eu tenha bebido demais e não esteja pensando com clareza.— Tire