POV EILEEN
Ainda está escuro, mas já estou de pé. Não consegui dormir muito devido às novas revelações, mas foi o suficiente para encarar o dia. Mesmo de férias, quero manter minha rotina matinal: acordar às 5h30, alongar, meditar, fazer minhas preces e oferendas aos deuses e meus ancestrais, revisar meu grimório e ver onde posso melhorar meus feitiços. Esse tipo de hábito me ajuda a manter tanto a mente quanto a vida em equilíbrio. Após duas horas, decido tomar um banho e me arrumar. Coloco um vestido preto casual e, como peça complementar, um kimono de tule com bordados de lírio vermelho e botas pretas. Pego um óculos de sol; está nublado agora, mas vai fazer sol mais tarde. Desço para o café da manhã no hotel. Sento e tento comer com tranquilidade. Estou tão acostumada com a vida corrida que é preciso grande esforço para realizar uma tarefa tão simples como comer sem me preocupar com o que vem a seguir. Depois de comer, dei uma volta nas redondezas para passar o tempo. É um lugar interessante. Acho que vou estender meu tempo aqui. No início, ficaria apenas hoje e amanhã, tempo suficiente para fazer negócios com Olga, mas fiquei com vontade de visitar Stonehenge. Como bruxa, não poderia deixar de visitar um local histórico. Nem vi o tempo passar. É uma sensação diferente, apenas viver o dia sem pressa. Talvez, só talvez, Olívia estivesse certa, e esse tempo sozinha seja o que eu precisava. Está quase na hora do almoço, vou caminhando até o local de encontro com Olga, um restaurante perto do hotel. Ele é um daqueles lugares chiques, mas muito aconchegantes. A decoração de flores e a iluminação tornam o ambiente único. Quem quer que seja o dono deve sentir muito orgulho. — Por aqui, senhorita Moore — a atendente me direciona até minha mesa. Para minha surpresa, Olga reservou uma que fica na parte de fora do restaurante. O que aquela criatura está pensando? Que vou atacá-la se disser algo que não gosto? — Gostaria do cardápio, senhorita? — perguntou a atendente, tirando-me dos pensamentos. — Não, obrigada. Quero apenas uma água com limão enquanto espero minha companhia. O tempo passa, transformando-se em quarenta longos minutos. Minha paciência está quase no fim quando o número de Olga aparece na tela do meu celular. — Espero que tenha uma ótima desculpa para o seu atraso, ou então será o seu último — disse em tom de ameaça. — Eileen, querida, é sempre bom falar com você. Não seja tão má — disse Olga do outro lado da linha. Ela deve estar com um desejo de morrer, só pode. — Desembucha. Não tenho nem tempo, nem paciência para brincadeiras. — Tive que pegar um avião de última hora devido a uma oportunidade em um leilão muito importante. Não consegui avisar, mas o que tenho para você vai valer a espera — disse confiante. — Você me fez vir aqui sem me dizer o que era e me deixou de palhaça te esperando. Se não abrir o bico logo, vou achar você e arrancar as palavras da sua boca — falei com raiva. — Estou com o grimório da sua bisavó, Caoimhe. Demorei um pouco para processar o que foi dito. O grimório de uma bruxa é algo de grande importância. É onde escrevemos os feitiços que aprendemos, os que criamos, nossos erros e acertos. Toda a nossa jornada na bruxaria é relatada nele. Caoimhe foi uma grande bruxa, mas seu grimório nunca foi encontrado. Pensávamos que ela poderia tê-lo queimado antes de morrer. — Você tem certeza? Se isso for uma pegadinha... — fui interrompida por Olga. — Posso garantir que é verdadeiro. Peço apenas que espere alguns dias e ele será seu por um pequeno preço — disse de forma suspeita. Se é realmente o grimório da minha bisavó, é uma ótima notícia. Eu não tive a oportunidade de conhecê-la, adoraria ler e aprender com o que ela deixou escrito. Entretanto, como foi parar nas mãos de um demônio como Olga? Sei que ela é uma comerciante influente, mas mesmo assim é suspeito. Esse “pequeno preço” não me cheira nada bem. — Como um item tão estimado foi parar em suas mãos? E quanto você quer por ele? — perguntei curiosa. — Não posso dizer como consegui, nesse ramo preciso proteger minhas fontes. Quanto aos valores, querida, para você vou fazer por apenas 10 milhões de dólares — falou Olga. — Você está brincando comigo? Dez milhões por algo que pertence por direito à minha família? — falei indignada. — Com certeza vale até mais, mas dei prioridade para vender para você, já que é parente de sangue dela. Se não quiser, posso entrar em contato com outro comprador — falou despreocupada. — Vocês demônios são criaturas muito gananciosas. Não ouse vender para outra pessoa. Quando eu confirmar a veracidade, você terá seu dinheiro — falei irritada. — Obrigada pela confiança, cliente. Quando eu estiver de volta, mandarei uma mensagem para marcar o encontro — disse Olga, encerrando a ligação. Ela tem muita sorte de as bruxas e os demônios terem um acordo de paz. Se não fosse por isso, ela já não estaria mais aqui. Agora estou presa nesta cidade até essa dissimulada voltar. O que mais pode dar errado nesta viagem? Depois de todo esse estresse, volto para meu quarto no hotel. Olívia está me ligando. Atendo e conto todo o ocorrido. — Não ria, não foi nada engraçado ser feita de boba, e ainda, se for verdade, vou ter que pagar caro por algo que deveria ser meu de graça — falei emburrada. — Desculpe, nunca vi alguém ter tanto azar assim. Mas por que não aproveita e sai para se divertir um pouco? Você é estressada demais, vai ser bom para você — disse Olívia. — Ah é? Pois eu sou um poço de calma, mas sempre tem alguém para me esgotar. — Não seja assim, Eileen. Sei o que seria perfeito para você. Ouvi falar que existe uma boate aí perto, somente para criaturas sobrenaturais. Com certeza, você vai encontrar alguém lá para tirar esse estresse de você — disse Olívia de maneira sugestiva. — Você não tem jeito mesmo, Oli. Eu vou, mas não por essa razão, e sim pelo álcool. — Não esquece a lingerie. — Tchau, Olívia.POV DARIUS Hoje, sem dúvidas, não está sendo um bom dia. Essa reunião e discussão com Andrew acabaram com o meu humor.Às vezes, sinto falta de quando ainda não era o alfa. Eu tinha mais liberdade de ser eu mesmo, vivia melhor o tempo presente.É melhor eu parar com esses pensamentos melancólicos. Nunca fui o tipo de lobo triste, não é agora, com quase trinta anos, que vou começar a ser.Sei que sou um bom alfa. Minha família é dona da maioria das casas, hotéis e restaurantes de luxo da cidade. É daí que tiramos a renda para manter a alcateia.Nos últimos anos, não só aumentei nosso patrimônio como também agreguei valor. A alcateia nunca esteve melhor.A única parte chata é ficar indo e voltando para a cidade, já que a alcateia fica fora dela. Infelizmente, é um negócio que preciso sempre estar de olho, afinal muitos dos que trabalham para mim não são lobisomens.Como tenho alguns compromissos na cidade, vou aproveitar e almoçar em um dos meus restaurantes. Saindo agora, provavelment
POV EILEEN Começo a me arrumar. Visto um vestido de couro bem justo e curto, uma jaqueta de couro e saltos Mary Jane. Hoje, não quero muita maquiagem, passo apenas um batom vermelho. Essa balada deve ser a única exclusiva para seres sobrenaturais na cidade. Imagino que estará bem cheia. Como meu cabelo é muito comprido, é melhor prendê-lo em um rabo de cavalo. Não quero que fique enroscando em nada. Pego um táxi. O local fica no centro da cidade, não muito longe do hotel. Como imaginei, está lotado. Se os humanos soubessem a quantidade de sobrenaturais que vivem entre eles, ficariam em choque. Entro na área VIP e vou direto ao bar. — O que posso servir para você esta noite? — disse o barman, dando uma piscadinha no final. — Um uísque puro, por favor — respondi com um sorriso, preciso de uma bebida forte para essa noite. Hoje, nada de Eileen estressada e mal-humorada. Onde quer que aquela demônia esteja, ela não vai mais tirar minha paz. Até porque o grimório será meu. Ela não s
POV DARIUS Cheguei na boate “Outra dimensão”. Esse lugar foi minha ideia de construir, é exclusiva para sobrenaturais. Aqui todos podem apenas serem quem são, sem ter que ficar pisando em cascas de ovos, devido aos humanos. No entanto, não é nada fácil manter a segurança desse lugar, de vez em quando aparece um humano enxerido tentando entrar, nunca tiveram êxito. É arriscado, mas muito lucrativo.Esse é o lugar perfeito para tentar tirá-la da minha mente. A agonia de saber que você têm uma companheira e não estar com ela é absurda. Preciso beber até não sentir mais nada ou ficar inconsciente, tanto faz, desde que eu não termine ficando louco e indo atrás dela.Vou até o bar. O barman, antes mesmo de dizer uma palavra, já me entrega minha bebida favorita: English Cider.Essa que temos na boate, além de ser de ótima qualidade, tem o teor alcoólico bem alto. Nunca me canso dessa bebida mas hoje vou precisar de mais do que ela para me derrubar.— Boa noite Alfa Dar
POV EILEEN Me senti hipnotizada pelo seus olhos dourados, era como se, naquele momento, não existisse mais nada ou ninguém. Seu toque, embora fosse dominante, também era caloroso. Esse mix de emoções estavam fazendo minhas pernas fraquejarem. Nunca me senti tão impotente, porém, de alguma forma, estou gostando, o que me deixa ainda mais confusa. Porque eu que gosto de tudo à sua maneira, estou me deixando levar por esse homem misterioso?.Ele me tira de meus pensamentos conforme chega mais perto. Quase perto o suficiente para seus lábios encostarem nos meus, mas antes que eu caísse nos encantos do belo homem misterioso à minha frente, concentro-me em sentir sua energia. Quero saber que ser ele é.Meu corpo estremece de raiva, me tirarando do transe. Ele é um lobo, um maldit* lobo! Como ele ousa colocar suas patas em mim? E, pior de tudo, como eu me deixei levar por essa situação? Algo está errado, tem que estar. Talvez eu tenha bebido demais e não esteja pensando com clareza.— Tire
POV EILEEN Como futura líder do clã Lua Sangrenta, finalmente chegou o dia em que terei meu ano de férias. Quando a próxima bruxa ou bruxo sucessor completa 20 anos, ele recebe a liberdade de, por um ano, não precisar participar de nenhum treinamento ou cumprir responsabilidades. O que fará nesse ano fica a seu próprio critério. Eu fui criada e moldada para ser uma líder perfeita, tudo aquilo que meu pai deixou de ser há anos. Eu não precisava dessas férias; por mim, iria direto para a Ilha de Morrigan para cumprir meu treinamento de 2 anos, a última etapa necessária para, enfim, me tornar a nova chefe do clã. Todos que passavam por esse treinamento intenso ficavam mais fortes. Não sei o que acontecia naquela ilha, mas quem retornava voltava mudado. Eu almejava esse poder, essa mudança. Nós, bruxas, somos gananciosas por poder: quanto mais forte a bruxa é, mais ela deseja. Mas minha amiga Olívia me convenceu de que essa seria minha única oportunidade de viver apenas como Ei
POV DARIUSUma forte chuva está caindo sobre mim e uma mulher, mas por mais que eu tente, não consigo ver seu rosto com clareza. Um borrão me impede, e o fato de ser noite não ajuda.Estou segurando-a em meus braços, chorando incontrolavelmente, implorando para que ela não me deixe.Sinto o cheiro de seu sangue. No fundo, sei que não há o que fazer. Ela toca suavemente meu rosto e diz algo antes de morrer.Acordo assustado, com dificuldade de respirar, sentindo o desespero em cada parte do meu corpo.Sento-me na cama, e percebo que os lençóis estão encharcados de suor. Estranhamente, isso sempre me acalma — significa que não estou mais sonhando.Concentro-me na respiração e, aos poucos, começo a me acalmar.Tenho esse pesadelo desde os 18 anos, quando me transformei pela primeira vez, e nunca, em todos esses anos, consegui lembrar o que ela diz.Meu lobo, Andrew, insiste que não é um pesadelo, mas sim uma memória de uma vida passada.Apesar de existirem diversas criaturas no mundo, eu