Capítulo 3

POV EILEEN

Ainda está escuro, mas já estou de pé. Não consegui dormir muito devido às novas revelações, mas foi o suficiente para encarar o dia.

Mesmo de férias, quero manter minha rotina matinal: acordar às 5h30, alongar, meditar, fazer minhas preces e oferendas aos deuses e meus ancestrais, revisar meu grimório e ver onde posso melhorar meus feitiços.

Esse tipo de hábito me ajuda a manter tanto a mente quanto a vida em equilíbrio.

Após duas horas, decido tomar um banho e me arrumar. Coloco um vestido preto casual e, como peça complementar, um kimono de tule com bordados de lírio vermelho e botas pretas.

Pego um óculos de sol; está nublado agora, mas vai fazer sol mais tarde.

Desço para o café da manhã no hotel. Sento e tento comer com tranquilidade. Estou tão acostumada com a vida corrida que é preciso grande esforço para realizar uma tarefa tão simples como comer sem me preocupar com o que vem a seguir.

Depois de comer, dei uma volta nas redondezas para passar o tempo. É um lugar interessante.

Acho que vou estender meu tempo aqui. No início, ficaria apenas hoje e amanhã, tempo suficiente para fazer negócios com Olga, mas fiquei com vontade de visitar Stonehenge. Como bruxa, não poderia deixar de visitar um local histórico.

Nem vi o tempo passar. É uma sensação diferente, apenas viver o dia sem pressa. Talvez, só talvez, Olívia estivesse certa, e esse tempo sozinha seja o que eu precisava.

Está quase na hora do almoço, vou caminhando até o local de encontro com Olga, um restaurante perto do hotel. Ele é um daqueles lugares chiques, mas muito aconchegantes. A decoração de flores e a iluminação tornam o ambiente único. Quem quer que seja o dono deve sentir muito orgulho.

— Por aqui, senhorita Moore — a atendente me direciona até minha mesa. Para minha surpresa, Olga reservou uma que fica na parte de fora do restaurante. O que aquela criatura está pensando? Que vou atacá-la se disser algo que não gosto?

— Gostaria do cardápio, senhorita? — perguntou a atendente, tirando-me dos pensamentos.

— Não, obrigada. Quero apenas uma água com limão enquanto espero minha companhia.

O tempo passa, transformando-se em quarenta longos minutos. Minha paciência está quase no fim quando o número de Olga aparece na tela do meu celular.

— Espero que tenha uma ótima desculpa para o seu atraso, ou então será o seu último — disse em tom de ameaça.

— Eileen, querida, é sempre bom falar com você. Não seja tão má — disse Olga do outro lado da linha. Ela deve estar com um desejo de morrer, só pode.

— Desembucha. Não tenho nem tempo, nem paciência para brincadeiras.

— Tive que pegar um avião de última hora devido a uma oportunidade em um leilão muito importante. Não consegui avisar, mas o que tenho para você vai valer a espera — disse confiante.

— Você me fez vir aqui sem me dizer o que era e me deixou de palhaça te esperando. Se não abrir o bico logo, vou achar você e arrancar as palavras da sua boca — falei com raiva.

— Estou com o grimório da sua bisavó, Caoimhe.

Demorei um pouco para processar o que foi dito. O grimório de uma bruxa é algo de grande importância. É onde escrevemos os feitiços que aprendemos, os que criamos, nossos erros e acertos. Toda a nossa jornada na bruxaria é relatada nele.

Caoimhe foi uma grande bruxa, mas seu grimório nunca foi encontrado. Pensávamos que ela poderia tê-lo queimado antes de morrer.

— Você tem certeza? Se isso for uma pegadinha... — fui interrompida por Olga.

— Posso garantir que é verdadeiro. Peço apenas que espere alguns dias e ele será seu por um pequeno preço — disse de forma suspeita.

Se é realmente o grimório da minha bisavó, é uma ótima notícia. Eu não tive a oportunidade de conhecê-la, adoraria ler e aprender com o que ela deixou escrito. Entretanto, como foi parar nas mãos de um demônio como Olga? Sei que ela é uma comerciante influente, mas mesmo assim é suspeito. Esse “pequeno preço” não me cheira nada bem.

— Como um item tão estimado foi parar em suas mãos? E quanto você quer por ele? — perguntei curiosa.

— Não posso dizer como consegui, nesse ramo preciso proteger minhas fontes. Quanto aos valores, querida, para você vou fazer por apenas 10 milhões de dólares — falou Olga.

— Você está brincando comigo? Dez milhões por algo que pertence por direito à minha família? — falei indignada.

— Com certeza vale até mais, mas dei prioridade para vender para você, já que é parente de sangue dela. Se não quiser, posso entrar em contato com outro comprador — falou despreocupada.

— Vocês demônios são criaturas muito gananciosas. Não ouse vender para outra pessoa. Quando eu confirmar a veracidade, você terá seu dinheiro — falei irritada.

— Obrigada pela confiança, cliente. Quando eu estiver de volta, mandarei uma mensagem para marcar o encontro — disse Olga, encerrando a ligação.

Ela tem muita sorte de as bruxas e os demônios terem um acordo de paz. Se não fosse por isso, ela já não estaria mais aqui.

Agora estou presa nesta cidade até essa dissimulada voltar. O que mais pode dar errado nesta viagem?

Depois de todo esse estresse, volto para meu quarto no hotel.

Olívia está me ligando. Atendo e conto todo o ocorrido.

— Não ria, não foi nada engraçado ser feita de boba, e ainda, se for verdade, vou ter que pagar caro por algo que deveria ser meu de graça — falei emburrada.

— Desculpe, nunca vi alguém ter tanto azar assim. Mas por que não aproveita e sai para se divertir um pouco? Você é estressada demais, vai ser bom para você — disse Olívia.

— Ah é? Pois eu sou um poço de calma, mas sempre tem alguém para me esgotar.

— Não seja assim, Eileen. Sei o que seria perfeito para você. Ouvi falar que existe uma boate aí perto, somente para criaturas sobrenaturais. Com certeza, você vai encontrar alguém lá para tirar esse estresse de você — disse Olívia de maneira sugestiva.

— Você não tem jeito mesmo, Oli. Eu vou, mas não por essa razão, e sim pelo álcool.

— Não esquece a lingerie.

— Tchau, Olívia.

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