POV DARIUS Depois de guardar o buquê, passei mais algum tempo no jardim. Cuidar das minhas flores estava me ajudando a me acalmar; mexer com a terra sempre tirava uma parte do meu estresse, mas isso vai durar pouco, já que meu escritório me espera.Quando abro a porta, logo me desanimo com a quantidade de trabalho sobre minha mesa, que, apesar de grande, parece agora pequena. A culpa é toda minha, já que tenho negligenciado meus afazeres nos últimos dias, devido a toda essa confusão com Eileen.Esfrego os olhos; minha vista está cansada após algumas horas de trabalho. Fiz todo o trabalho que era possível, mas ainda assim tenho alguns papéis sobre a mesa, fora os e-mails.“Você já trabalhou o bastante, vamos arrumar você”, disse Andrew, ansioso e animado. Gostaria de estar tão confiante quanto ele.Concordo com ele. Se não nos arrumarmos agora, vamos chegar atrasados.Tomo um banho rapidamente. Já seco, mas ainda enrolado na toalha, começo a vasculhar meu closet. Sou o tipo de homem s
POV EILEEN O humor brincalhão de Darius havia desaparecido por completo. Graças aos meus comentários, seu sorriso se transformou em uma expressão dura. Ele me guiou para fora do hotel sem dizer uma única palavra ou olhar em minha direção.Eu me sentia vitoriosa por arruinar seu humor; em contrapartida, uma parte de mim estava triste. Talvez eu não devesse ter desacreditado dele em relação às flores. Fiquei tão perplexa com a ideia de uma fera poder cultivar flores tão delicadas. Era difícil acreditar. Talvez os lobisomens não sejam o que me contaram, mas isso não importa. Meu plano de me livrar dele continua de pé.Saí dos meus pensamentos ao perceber que Darius me guiava para uma parte desconhecida do hotel.— Não íamos sair do hotel? Por que está me levando por este caminho? — perguntei, parando de andar. Ele parou também, finalmente me dirigindo o olhar. Sua postura não parecia autoritária, mas sim de alguém suspeito.— E vamos. Esta é apenas uma saída não muito usada. — Esse lobo
POV EILEEN A lua cheia brilha intensamente sobre a floresta densa, iluminando sua rica vegetação. Enquanto caminho, o cheiro fresco das ervas preenche o ar, envolvendo meu corpo em uma sensação de paz a cada passo.Não sei se é por haver muitas árvores altas e esguias, mas os outros dizem que esta floresta, que tanto me encanta, na calada da noite, como agora, se torna cruel e macabra. Mas eu não a vejo assim; ando por essas matas desde que me entendo por gente.Graças a esses medrosos, que não podem ver uma sombra diferente sem se assustar, posso colher minhas ervas tranquilamente.Essas ervas, essas maravilhas da natureza, são uma bênção dos deuses. Uma bênção que ajuda a manter nosso clã saudável e protegido. Por essa razão, colho cada erva com muito cuidado, pensando em quem posso ajudar com elas.Mas há algo que pesa meu coração cada vez que penso a respeito. Parte o coração saber que temos como ajudar as pessoas do vilarejo. Poderíamos curar suas doenças, fazer elixires, poções
POV DARIUS — É claro que não foi nas melhores circunstâncias, eu admito. Disse e fiz coisas que não queria. Se estivesse no meu lugar, entenderia... Por que você não me vê? Por que não abre os olhos e me enxerga como sou? Eu só quero uma chance, uma chance de provar o meu valor! — Eu estava abrindo meu coração para Eileen, para nós. Eu quero que ela nos dê uma chance de viver esse sentimento, de nos conhecermos.Minhas palavras pareciam estar surtindo efeito nela. Ela me olhava com olhos surpresos, mas...Ela caiu repentinamente, como se tivesse perdido as forças. Em desespero, corri ao seu encontro e, antes que chegasse ao chão, a segurei em meus braços. Andrew estava tão em pânico quanto eu, rugindo de desespero e arranhando minha mente. Controlei-me ao máximo para não me transformar.— Eileen? Não feche os olhos, ok? Fique comigo. Não, não, não... — Seus olhos se fecharam, e, por mais que eu tentasse, ela não acordava. Eu tremia com a possibilidade de perdê-la, de nunca mais poder
POV EILEEN Depois da partida de Darius, o silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente, me irritando ainda mais. Odeio a forma como ele dá ordens e sai andando, ignorando todas as minhas ameaças.Não acredito que, mais uma vez, tenho que seguir as vontades desse lobo lunático! Sempre fazendo o que bem quer. O grande problema é que, para o meu desgosto, a ideia de ficar aqui é boa. Me poupa o risco de o clã descobrir nosso envolvimento.Me encosto no closet por uns segundos, devido às pontadas repentinas na cabeça. Pensar demais em nós faz com que eu fique tendo flashbacks do sonho. Como pode um mero sonho ser tão realista? Parecia que eu tinha outra vida naquele lugar; eu era eu, mas ao mesmo tempo tão diferente. Eu, que sempre pensei só no clã, naquele lugar, tinha compaixão pelos humanos. Eu os queria ajudar.— Minha mente deve estar me pregando peças. Eu, que cresci sendo regada com rigidez e não com compaixão, poderia ser dessa maneira doce? — digo a mim mesma, dando uma breve r
POV DARIUS O barulho irritante do alarme me desperta; eu o desligo e jogo o celular longe. O maldito pesadelo havia voltado. Dessa vez, ao mesmo tempo em que aparecia o rosto de Eileen, aparecia também o rosto da mulher do último sonho. Ambas são tão parecidas, mas, ao mesmo tempo, diferentes. Porém, não importa qual dos rostos apareça, a sensação de dor no peito não para.Esses dias com ela desacordada quase me deixaram louco. Eu não sei o que seria capaz de fazer se ela não tivesse acordado.Levanto-me da cama com um peso nos ombros, sentindo cada músculo rígido e cansado. Andrew se alonga enquanto boceja. Ele também se manteve vigilante enquanto ela estava desacordada. Essas horas que dormimos desde que deixamos Eileen foram tudo o que conseguimos em mais de dois dias.“Estou com saudades dela, Darius,” disse Andrew, ainda cansado.“Eu também estou, mas, neste momento, ela deve estar pensando em maneiras de nos deixar,” falei tristemente. Nós nos esforçamos tanto para sermos aceit
POV EILEEN Apesar de Darius ter me colocado aqui sem me perguntar, não sei quanto tempo terei que ficar. É melhor fazer uma exploração do local para determinar qual feitiço de proteção será mais adequado.A casa é uma mistura de rústico com luxo. As paredes são de madeira escura, com um leve perfume de vegetação e algo mais – um aroma selvagem que remete ao dono do local. Em cada canto, havia indícios de uma vida solitária e organizada, o que me surpreendia, considerando o que eu sabia sobre lobisomens – brutos, instintivos, caóticos. Aqui, contudo, havia uma ordem meticulosa.A sala de estar era acolhedora, decorada com móveis robustos e confortáveis, com uma grande lareira ao centro que emanava um calor sutil, mesmo apagada.A estante de livros não foi fabricada para agradar os olhos de quem passa. Era possível notar a organização e o cuidado ao colocar os livros, composta por diferentes temas como guerra, arte, ficção científica, contos, horror cósmico, filosofia. Ao folhear algun
POV EILEEN A floresta macabra da ilha me cerca, suas árvores são grandes e espessas. Mesmo sendo um dia de sol, algo nela a torna mais escura, mais perversa, fazendo jus ao nome da grande deusa da guerra, Morrigan. Aqui, até o menor dos animais parece ser letal à sua maneira, espantando aqueles que adentram a floresta, dizendo ser corajosos, quando, na verdade, são fracos e covardes. Uma risada maligna ressoa entre a mata. Eu não recuo, não temo sua escuridão ou as vozes misteriosas. Seu ar gelado e misterioso não me abalam; sigo em frente. Fui treinada para este momento durante toda a minha vida. Eu sei que cada parte dessa ilha vai brincar comigo, tentar me levar ao delírio, fazer-me sucumbir ao medo, porém o desejo pelo poder que ela pode me oferecer é maior. A vontade de obtê-lo até a última gota de sua fonte me deixa determinada. Dois anos, apenas dois anos, e o terei. Escuto passos pesados quebrando os galhos secos; a fera, ainda escondida, solta um rugido gutural. Um urso n