CLARAO som ensurdecedor do tiro ecoava no quarto, misturado com o cheiro acre de pólvora que parecia invadir o ar. Meus ouvidos zumbiam, e minha respiração estava descontrolada, mas o que mais me incomodava era o silêncio repentino que veio depois. O homem que eu havia atingido estava caído no chão, o corpo imóvel, e a visão dele ali, deitado de costas, me paralisava. Nunca imaginei que estaria nessa situação, com uma arma nas mãos e o pânico consumindo cada parte do meu ser.Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a pistola, mas o medo era maior do que qualquer outra coisa. Meu corpo gritava para eu correr, fugir daquela cena, mas minha mente sabia que ainda havia mais perigo lá fora. Os outros homens, aqueles que tinham vindo comigo, ainda estavam na casa.E eu sabia que não restava muito tempo até que eles subissem para o andar de cima.Tentei controlar minha respiração, me escondendo novamente atrás da mesa, mas o som dos passos no andar de baixo era inconfundível. O
CLARAO abraço de Henrique era tudo o que eu precisava naquele momento. Seus braços ao redor de mim me davam uma sensação de segurança que eu não sentia há dias, talvez semanas. Mas, mesmo assim, o medo ainda estava ali, como uma sombra persistente, me lembrando de que, apesar da polícia e do alívio temporário, isso estava longe de terminar.— Eu achei que não fosse te ver de novo — Henrique murmurou no meu ouvido, sua voz ainda trêmula, carregada de uma mistura de alívio e culpa.Eu o apertei contra mim, querendo acreditar que estávamos seguros agora, que o pesadelo havia acabado, mas no fundo, sabia que era só uma pausa. Eles fugiram, mas não por medo — fugiram porque sabiam que podiam voltar a qualquer momento. E eu não podia continuar vivendo assim, à mercê dessas ameaças constantes.— Eles vão voltar, Henrique. Eu sei que vão — sussurrei, sentindo as lágrimas que eu estava segurando começarem a escorrer pelo meu rosto.Henrique me soltou um pouco, olhando fundo nos meus olhos, su
CLARAA noite ainda estava escura quando começamos a arrumar nossas coisas. Henrique estava em silêncio, focado em organizar tudo o que precisaríamos levar. Eu o observei de perto, tentando absorver a determinação nos olhos dele, mas não conseguia evitar o aperto no peito. Fugir parecia a decisão mais sensata, mas também significava abandonar nossa vida e aceitar que estávamos sendo caçados.Enquanto eu colocava algumas roupas na mala, meus pensamentos corriam sem parar. Nunca imaginei que estaria nessa situação — deixando tudo para trás, com o medo me sufocando a cada passo. A casa de Ana, que havia sido um lugar seguro, agora parecia um espaço vazio, apenas um eco do que já foi paz. E Henrique... ele estava ali, mas eu sabia que ele carregava um fardo pesado.— Você acha que estamos fazendo a coisa certa? — perguntei, sem conseguir manter o silêncio por mais tempo.Henrique parou de dobrar as roupas por um momento, me olhando de lado. Ele estava cansado, e a tensão em seu rosto most
CLARAO silêncio dentro do carro era insuportável, interrompido apenas pelo som dos pneus contra o asfalto e pelo bater descompassado do meu coração. A mensagem que Henrique acabara de receber girava na minha mente, uma constante lembrança de que, por mais que tentássemos, não conseguíamos escapar deles. Eles sabiam que estávamos indo embora. Eles estavam nos seguindo.— O que exatamente dizia a mensagem? — perguntei, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia, quebrando o silêncio denso que havia se formado entre nós.Henrique não desviou os olhos da estrada, mas eu percebi como seus ombros ficaram mais tensos. Ele hesitou por um segundo antes de responder.— Só dizia que eles sabem que estamos fugindo e que não vai adiantar. — Sua voz era fria, como se ele estivesse se segurando para não deixar o medo transparecer.Senti o pânico começar a crescer dentro de mim. Por mais que Henrique tentasse manter a calma, a realidade estava diante de nós. Eles estavam nos seguindo, e agora er
CLARAA trilha de terra por onde Henrique dirigia era estreita e cheia de buracos. O carro balançava violentamente a cada pedra que atingíamos, e meu corpo era jogado de um lado para o outro no assento. Mas, por mais que o medo me sufocasse, uma sensação de alívio momentâneo me envolveu ao ver que os faróis atrás de nós haviam sumido.Henrique ainda estava concentrado, seus olhos fixos na estrada à frente, embora fosse difícil chamar aquilo de estrada. Estávamos no meio do nada, cercados por árvores e escuridão. Cada segundo parecia durar uma eternidade enquanto eu olhava para trás, esperando que, a qualquer momento, aqueles faróis voltassem a aparecer, prontos para nos alcançar de novo.— Você acha que conseguimos despistá-los? — perguntei, minha voz trêmula, mal conseguindo formar as palavras.Henrique manteve os olhos na estrada, seus músculos tensos enquanto tentava controlar o carro sobre o terreno irregular.— Por enquanto. Mas não podemos desacelerar. Eles vão tentar outra vez,
CLARAO ar dentro da cabana parecia pesado, sufocante. A escuridão ao nosso redor era quebrada apenas pela fraca luz da lanterna que Henrique segurava, sua mão trêmula, mas determinada. Eu podia sentir o pânico crescendo dentro de mim, mas sabia que não havia tempo para ceder ao medo. Eles estavam lá fora, e, a qualquer momento, poderiam tentar entrar.O som de passos do lado de fora ecoava pela noite, cada movimento me fazia enrijecer. Era impossível dizer quantos eram, mas sabíamos que pelo menos dois deles estavam nos seguindo desde o início da perseguição. Agora, estávamos encurralados, presos dentro de uma cabana no meio da floresta, sem saber se conseguiríamos sair vivos.Henrique estava ao meu lado, sua expressão séria, com a arma pronta em mãos. Seus olhos se moviam pela pequena sala da cabana, avaliando cada detalhe, cada possível saída. A madeira das paredes estava velha, desgastada pelo tempo. Qualquer força maior e eles conseguiriam entrar. Eu sabia disso, e ele também.—
CLARAAs sirenes ecoavam pela floresta, preenchendo o ar com uma sensação de alívio, mas também de incerteza. As luzes piscando da viatura iluminavam a escuridão lá fora, e, por um momento, tudo parecia estar em pausa. Henrique ainda me segurava firme, seu peito subindo e descendo com dificuldade enquanto ele tentava recuperar o fôlego. O silêncio dentro da cabana era pesado, cheio de tudo o que não havia sido dito, mas as batidas fortes do meu coração ainda ecoavam em meus ouvidos.— Eles foram embora? — minha voz saiu fraca, quase inaudível, enquanto eu olhava para a porta aberta, onde o homem havia desaparecido.Henrique respirou fundo e assentiu lentamente.— Foram... mas não por muito tempo. — Ele afrouxou o abraço, seus olhos analisando cada canto da cabana, como se esperasse que mais alguém surgisse da escuridão.O que restava da porta estava arrombado, pendendo precariamente das dobradiças, e as marcas da luta ainda estavam por toda parte. O corpo do primeiro homem ainda estav
CLARAAs horas que se seguiram foram um borrão de instruções e procedimentos. Os policiais se moviam rápido, preparando tudo para nossa entrada no programa de proteção. Eles garantiram que estaríamos seguros, nos colocariam em um lugar desconhecido, longe do alcance daqueles que nos perseguiam. Mas, por mais que me dissessem isso repetidamente, eu não conseguia me livrar da sensação de que algo estava errado. O medo ainda estava ali, presente em cada canto da minha mente.Henrique estava ao meu lado o tempo todo, seu olhar sério e atento. Ele falava pouco, mas eu sabia que sua mente estava a mil, tentando encontrar a melhor maneira de lidar com a situação. Ele confiava na polícia, mas, ao mesmo tempo, estava preparado para o pior.— Vai dar tudo certo — ele disse, pela terceira vez, enquanto apertava minha mão suavemente. Seu toque era quente e firme, mas a tensão no ar era quase palpável.Eu queria acreditar nele, queria me agarrar à esperança de que, depois de tudo, poderíamos final