Eu não consegui dormir, mesmo naquela cama confortável. Eu rolei de um lado para o outro e tudo o que eu poderia fazer era andar por aí, sei lá, a ideia de estar trancafiada naquele quarto me incomodou.
Coloquei o primeiro roupão que eu achei e saí pelos corredores acendendo todas as luzes, subi mais um andar e pude ver mais da beleza do local. Mas a voz de Enzo no final do corredor me atraiu para lá.
Além do fato de que eu sou extremamente curiosa.
Ele falava ao telefone concluí, não havia outra voz.
- Ela já está instalada, eu não pude continuar [...] - Ela é difícil sim, mas nada disso é culpa dela certo Giovanna? Ela foi metida nisso quando nasceu! [...] Por que está me ligando? Por que está tão interessada em minha noite te nupcias? [...] Lógico que eu não irei te encontrar, você ficou maluca? Eu sou um homem casado!
Eu não aguentei, minha personalidade era demais para eu conseguir conter ela e simplesmente ir dormir.
Eu abri a porta em um rompante de raiva tão colossal que os olhos de Enzo ficaram arregalados.
- Eu te ligo depois! - Ele disse ao telefone
- Não precisa não, continue conversando! Você não disse que era um homem fiel? Que iria ser leal ao nosso casamento? - Eu explodi de tanto ódio no meio da sala, minha vontade era chorar, mas me mantive firme para não dar esse gostinho a ele.
- Droga Catarina, quem mandou você ficar ouvindo atrás da porta? Porra! E se ouviu, sabe muito bem que eu disse que não iria me encontrar com ela, como ela queria!
- Quem é essa Giovanna? Pode ao menos me dizer?
- Eu namorei com ela a muito tempo atrás, antes de eu ascender ao meu cargo.
- E por que não se casou com ela ao invés de me fazer de idiota? - Descumpri minha própria promessa e comecei a chorar.
- A história é complicada, eu não tenho mais nada com a Giovanna! E também não sei se te devo esse nível de satisfação, não se esqueça nunca de quem eu sou! Eu sou a porra de um Don! Não devo satisfações para você nem para ninguém!
O telefone dele tocou novamente, o que me enfureceu mais ainda foi ele atender.
- Diga... - Após o silêncio - Eu estou indo para aí, segura ele aí! Cazzo!
Ele pegou o casaco pendurado e saiu pela porta, mas não sem antes eu ir atrás.
- Você vai sair e me deixar falando sozinha? Sério mesmo Enzo?
- É um assunto importante, você não vai se intrometer, vá para o seu quarto e para de me causar problemas! - Disse com o olhar mais enfurecido do que o normal.
Eu me afastei no mesmo momento sentindo o amargor do meu fracasso encher o meu coração.
Finalmente me deitei em minha cama novamente, mas dessa vez com uma ideia pior do que a primeira.
O sol finalmente raiou e eu me arrumei quase como um rato, para ninguém notar que eu estava saindo.
Ser Maria Catarina Vicenzzo fazia com que nenhum motorista ou segurança do mundo me questionasse muito.
- Eu quero ir até a paróquia, preciso falar com o padre.
- O Sr. Vicenzzo ainda não voltou.
- E o que tem demais? Você me leva até a paróquia e eu posso fazer minhas preces pelo meu marido!
Não houve mais questionamentos, ele me levou. O que tinha demais eu ir até lá? Não parecia razoável a preocupação dele.
Eu entrei pelas portas exigindo falar com o padre que celebrou nosso casamento, eu estava cega de raiva. A falta de sono e a rejeição seguida de traição da noite anterior estava me levando a loucura certamente.
Não tinha justificativas para eu estar agindo assim, eu nem ao menos o conhecia. Mas se ele queria me possuir com um pedaço de papel, ao menos eu iria infernizá-lo.
- O que foi minha filha? O que faz aqui tão cedo? Não são nem seis horas da manhã...
- Eu quero o divórcio! - As palavras sairam cantadas da minha boca e tão altas que o padre levou a mão a boca no mesmo momento.
- Vamos até a minha sala, sendo quem você é... Pode morrer ao dizer algo assim em voz alta.
Dentro da sala pastoral eu me sentei, o tal padre que descobri que se chamava Vicente me deu água, na tentativa infâme de me acalmar, Como se isso fosse possível.
- O divórcio é um pecado mortal Catarina... Você precisa ter um motivo para isso!
- Eu tenho um motivo, quero me divorciar e você vai me contar como faço isso. Depois eu sumo no mundo, não tem problema.
- Quer ser caçada como um cão até o final da sua vida? Enzo Vicenzzo jamais irá te perdoar por isso, acredite em mim, é como tentar pegar o vento!
- Me ajuda, por favor... Eu quero me divorciar. Eu quero ir embora daqui.
- Eu vou te ajudar, tudo bem? Você promete ficar aqui... quieta?
- Se você for me ajudar, sim!
Ele saiu da sala respirando fundo, parecia preocupado demais. Mas eu permaneci ali sentada, durante uma hora e meia remoendo minhas decisões e onde elas me levariam.
Mas claro que Vicente jamais me ajudaria, sendo um fantoche de quem era, então após o tempo de espera o meu marido entrou pela porta com a expressão fechada. Logo atrás o padre traíra.
- Você prometeu me ajudar, mas foi contar a ele... Você não deveria estar a serviço de Deus?
- Deus não quer a separação de um casal tão lindo.
- Meu Deus, você me dá nojo!
- Já chega Maria Catarina - Disse Enzo gritando - Vamos agora para casa.
- Eu não vou, eu já disse... Eu quero o divórcio!
- E o que você está atribuindo essa certeza? - disse ele chegando mais perto para me encarar, enquanto o frouxo do padre se encolhia em um canto.
- O casamento não foi consumado, permaneço virgem. E posso pedir uma anulação por isso!
Forçar a virgindade era um pouco demais, mas eu tentei mesmo assim. O que poderia dar errado?
E então a expressão de Enzo que já estava fechada, ficou agora enraivecida.
- Padre... - Disse ele cheio de ódio.
- O casamento não foi consumado? - disse o padre com os olhos esbugalhados olhando para Enzo.
- NÃO! - Eu gritei
- Saia agora da sala padre, se é o que ela quer é o que ela vai ter... - Disse mais cheio de ódio ainda.
- Enzo... - Eu falei - use a cabeça, você fez promessas... disse que...
- PADRE SAIA! - Disse ele mais uma vez e quanto ouvi a porta bater eu sabia que dentro daquela sala só existia eu e ele.
Ele realmente ia consumar o nosso casamento na sala pastoral? O meu coração estava pulsando dentro de mim, mais rápido do que o normal. Ele deu a volta na sala toda lentamente, parecia estar procurando alguma coisa para me punir, mas o olhar dele já estava castigando o meu espírito. - O que você está fazendo Enzo? - eu disse visivelmente assustada, mas tinha algo naquela situação que estava me fazendo perder o juízo. - Eu vou dar o que você quer! - Ele disse de maneira gelada, após isso fixou os olhos em mim de novo, e eu podia jurar que eles flamejavam. - Eu só queria me divorciar, eu falei a primeira coisa que veio á minha cabeça... - Tentei me corrigir antes que ele completasse o seu cerco e ficasse perto de mim. - Você veio até a igreja dizer que eu não consumei o meu casamento e esse era o motivo pelo qual você queria o divórcio, pois bem Catarina, eu estou disposto a consumar o casamento agora. - Não precisa ser agora, nós estamos em uma maldita igreja!- Eu nunca tive ap
Eu podia ver a expressão no rosto dele, não era um romance.Ele só queria cumprir o que achava que tinha que cumprir, me olhou nos olhos mais uma vez, tentando não ofegar enquanto fazia isso e disse - Vista suas roupas, o mais rápido possível, eu vou te levar para casa. Eu não consegui dizer nem que fosse uma palavra, fiquei olhando para o chão. Eu o via em conflito com suas próprias emoções em relação a mim, tentei me manter fria, quem eu pensava que era afinal? Eu o conheci ontem basicamente e de repente virei uma princesa precisando ser salva de uma m*****a torre?Enzo abriu a porta e me esperou passar por ele, ainda sem jeito tentando ajeitar o meu cabelo.Passamos pelo padre que claro, evitou a todo custo olhar nos olhos de Enzo, aposto que aquele rato estava morrendo de medo, não se preocupou nem um pouco com a profanação na paróquia, como era de se imaginar. - Problema resolvido padre, estamos casados - disse ele para o padre enquanto terminava de fechar botões em sua camisa.
Era claro que Enzo não queria que eu me sentasse ali, mas diante do olhar ameaçador daquela mulher eu achei melhor obedecer.- Querida, você foi educada com as regras? Ou devemos domesticá-la? – Disse ela com um sorriso estranho nos lábios, aquela megera tinha mesmo aportado ali para me tirar do sério?- Minha esposa não é um cão que precisa ser domesticado Amélia! – Disse Enzo visivelmente mais irritado – Vamos Catarina, temos assuntos a conversar.- Você vai mesmo jogar a sua adorada esposa comprada aos leões? Sabe como funciona, sabe que ela será engolida no primeiro evento social que acontecer. Eu estou aqui para prepará-la para as malvadinhas que nunca saíram do maldito colégio e você quer mesmo atrapalhar tudo?- Como assim? Evento social? – Eu falei visivelmente afetada com a situação.- Você é uma mulher casada agora. E sendo casada com quem é, as desocupadas da alta sociedade esperam coisas de você. Então o chá anual será aqui mesmo nesse jardim.- Chá anual? – Eu falei confu
Tudo o que eu poderia fazer para me proteger eu fiz, tentei ficar o máximo que deu em silêncio, deixei que Amélia falasse nos meus ouvidos até eles basicamente sangrarem.- Eu acho que lilás combinaria muito com a ocasião, as flores precisam ser lavanda... – Disse ela mandando em basicamente tudo sem me consultar.- Mãe... Você deveria deixar que Catarina falasse um pouco. A festa será dela afinal.- Aposto que Catarina não se importa com minhas sugestões – Disse ela me olhando de cima abaixo como se fosse me engolir com seus olhos arregalados a qualquer momento.Eu engoli, o máximo que consegui foi franzir minhas sobrancelhas, eu não concordava com nada daquilo obviamente, então tudo o que eu poderia fazer era me calar e seguir o efeito manada.Eu fiquei no carro enquanto ela e meu cunhado confabulavam sobre qual peça eles doariam do acervo pessoal para o tal leilão.- Maria Catarina... – Disse o motorista me olhando pelo espelho.- Sim... – Eu respondi sem muita pretensão.-
O meu coração estava batendo tão rápido dentro de mim que eu não consegui ter uma reação apropriada ao meu luto.Era o meu pai e ele morreu sem que eu tivesse a chance de dizer o quanto eu o amava.- Eu posso ler essa carta? – Eu disse com lágrimas nos olhos, mas tentando me manter firme para não chorar ainda mais.- Eu não acho uma boa ideia Catarina, vem aqui... – Ele fez sinal para eu me aproximar dele e eu fui sem pensar duas vezes.Me sentei no colo dele e aconcheguei a minha cabeça no peito dele, deixei sair de mim o choro mais doloroso de toda a minha vida, mas logo tive que recobrar a consciência. Eu precisava ler a maldita carta, eu precisava de uma justificativa para o que Liz havia feito com nossa família.- Por favor Ethan, eu preciso ler essa carta. É o meu direito, não tire isso de mim. Eu sei que faço inúmeros questionamentos e faço coisas que você não concorda, sei que sou uma maldita pedra no seu sapato..., Mas por favor, não me tire isso.Ele me olhou nos olhos e col
O funeral estava sendo organizado, mas eu não conseguia nem ao menos digerir aquela morte. Eu parecia anestesiada com tudo aquilo, parecia que eu estava tão descolada da realidade que era impossível que eu realmente conseguisse realizar que ali dentro do caixão estava mesmo o meu pai, esperando por todas as condolências, flores, comidas e bebedeiras após ele ser enterrado em um chão frio. Eu me sentei enquanto milhares de empregados preparavam tudo e fiquei ali, naquela saleta, olhando para o corpo dele frio como pedra, com uma gravata azul marinho, um rosto pálido e uma expressão tranquila. A cena em si havia acabado totalmente comigo, mas eu não tinha mais lágrimas para chorar, elas pareciam ter secado, todas elas de uma vez. - Maria Catarina... as pessoas já vão chegar, você precisa ser forte! - Disse uma pessoa que eu nunca tinha visto na vida. - E quem é você? posso saber? - Ah eu sou esposa do Marco, Daniela, muito prazer... - disse ela me estendendo a mão. Ela era tão lind
Eu acordei um pouco mais acelarada que o normal, tudo estava pronto e eu não havia escolhido nenhum detalhe. Eu poderia fugir, mas concluí que isso acabaria em uma carnificina pior do que um casamento. As pessoas já estavam aceleradas andando na pequena saleta do meu quarto quando eu finalmente as encarei com minha cara amassada e meu mau humor matinal. Os sorrisos falsos a minha volta me davam uma vontade terrível de vomitar, era mais do que óbvio que eu não havia escolhido aquilo para mim, que foi um erro estúpido do meu pai me colocar um acordo falido de negócios. Eu tenho a percepção de que ele achou que eles não cobrariam desse modo, quem seria o animal a querer se casar com alguém que nem ao menos conhece? Mas ele se esqueceu de um detalhe dentro do nosso mundo, como se fosse um brasão para a família ao qual eu fui vendida:OS VICENZZO SEMPRE COBRAM SUAS DÍVIDASO pensamento me causou arrepios, quando eu finalmente respirei fundo... Minha mãe veio ao meu encontro, e como sem
As pessoas já estavam apinhadas no jardim, eu podia visualizar a tenda branca montada no ponto central, ao lado da fonte da fortuna que fora colocada lá por minha avó, ah se ela estivesse viva para ver o que o sobrenome que ela e meu avô tanto amavam virou.Eu desci as escadas sem me importar com o fato de que eu era a noiva, mas aquilo não agradou minha mãe que caminhou até mim, segurou o meu braço como se fosse um gavião e me levou para a biblioteca.- Você ficou louca menina? Espere até o seu pai vir te buscar aqui dentro, ninguém pode ver a noiva. Eu ri com a inocência dela - Você acha que o demônio Vicenzzo vai se importar de me ver apenas no altar? Ele nem deve ter chegado, eu não vou ficar presa aqui feito um bicho!- Enzo já chegou, ele vai fazer a entrada em poucos minutos, pelo menos uma vez na vida, não estrague tudo Maria Catarina! Eu me sentei, eu era voto vencido e não fazia sentido que eu gastasse a minha energia discutindo com minha mãe, talvez eu devesse guardar en