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O Terrível Mafioso
O Terrível Mafioso
Por: Mel Reis
Capítulo 1 - Manhã do casamento

Eu acordei um pouco mais acelarada que o normal, tudo estava pronto e eu não havia escolhido nenhum detalhe. Eu poderia fugir, mas concluí que isso acabaria em uma carnificina pior do que um casamento. 

As pessoas já estavam aceleradas andando na pequena saleta do meu quarto quando eu finalmente as encarei com minha cara amassada e meu mau humor matinal. 

Os sorrisos falsos a minha volta me davam uma vontade terrível de vomitar, era mais do que óbvio que eu não havia escolhido aquilo para mim, que foi um erro estúpido do meu pai me colocar um acordo falido de negócios. 

Eu tenho a percepção de que ele achou que eles não cobrariam desse modo, quem seria o animal a querer se casar com alguém que nem ao menos conhece? 

Mas ele se esqueceu de um detalhe dentro do nosso mundo, como se fosse um brasão para a família ao qual eu fui vendida:

OS VICENZZO SEMPRE COBRAM SUAS DÍVIDAS

O pensamento me causou arrepios, quando eu finalmente respirei fundo... Minha mãe veio ao meu encontro, e como sempre, me tratando do pior jeito possível.

- Maria Catarina, você deveria estar acordada á horas, hoje é o dia mais importante de nossas vidas! - Disse ela também de mau humor, que por coincidência sempre tinha a ver comigo de alguma forma. 

Minha mãe me odiava, desde o meu nascimento e eu sabia muito bem que o motivo daquele desassossego pessoal era só o fato de estar finalmente se livrando de mim. Sua filha mais nova e rebelde, segundo ela mesma. 

- Você fala como se eu estivessse animada com esse dia, é tanta hipocrisia dentro de uma sala que faz o meus ossos doerem! - Eu disse a encarando nos olhos. 

Ela não se conteve e me deu um tapa no rosto, tão forte que Lourdes, minha ama deu um grunhido de terror. 

- Não se atreva a levantar a voz para mim sua fedelha! - Disse ela com suas pupilas dilatadas e verdes, destacadas em meio as bolotas vermelhas de ódio. 

- Vocês estão me vendendo como se eu fosse uma vaca no pasto e eu deveria sorrir e acenar? Não consegue ser benevolente comigo nem em meio a essa situação? Onde está o meu pai? 

Apesar de toda aquela situação, eu sabia que o meu pai ao menos me protegeria das selvagerias da minha mãe. 

- Hoje você é problema meu, o seu pai não quer vê-la a não ser no altar. Tarefa insuportável a minha, mas cumprirei com prazer! - Disse ela se voltando para o vestido rendado pendurado na porta. 

Eu a segurei pelos braços em uma atitude de profundo desespero e olhei dentro de seus olhos tão diferentes dos meus, não pude conter as minhas lágrimas ao dizer:

- Por que mãe? Por que me odeia tanto? 

Ela fez sinal de que ia ao menos me dar uma resposta, o meu coração estava aflito, eu precisava saber o motivo de todo aquele ódio e falta de amor. Mas ela não disse nada, como nunca disse e nunca iria dizer, eu concluí. 

- Tudo bem senhora - Interferiu Lourdes - Eu posso ajudar a Catarina, assim não temos mais brigas por aqui! 

- Acho melhor, não tenho tempo á perder com perguntas estúpidas em uma dia importante como esse, Maria Catarina esteja pronta no salão principal da casa as 15:00 e nenhum minuto a mais, você entendeu? Lourdes, garanta isso! - Disse ela dando as costas com seu vestido pomposo, com certeza comprado com um dinheiro que poderia me salvar daquela ruína terrível. 

Eu chorei copiosamente enquanto Lourdes penteava os meus cabelos, como ela fazia desde que eu era criança. 

- Ela me odeia tanto ao ponto de nem ter tentado me salvar, e quanto ao meu pai? E quando  Liz? Ela nem sequer vai vir ao meu casamento? 

- Dona Liz está na sala com o seu pai tem um tempão Catarina, ela chegou a algumas horas. Ouvi dizer que seu pai está arrasado, não consegue te olhar nos olhos. 

- E o que eu deveria dizer sobre isso? Eu deveria dizer que ele está me fazendo um favor me vendendo ao homem mais cruel do mundo? Deveria morrer por sua promessa como é o costume da famiglia, pelo menos teria um pouco mais de honra esse filho da puta!

Lourdes se abaixou em um rompante de ódio que me deu arrepios, me encarou nos olhos antes de disparar:

- Não ofenda o seu pai, existem coisas que você não sabe! Existem histórias antigas, acordos de proteção que foram feitos antes mesmo de você dar os seus primeiros passos. Otto é um bom homem e sempre foi, ele te amou profundamente enquanto sua mãe a desprezou, sobre isso você pode falar, mas não vou permitir que você abra a boca para falar mal de seu pai na minha presença Maria Catarina Lion!

- Não me chame de Lion, esse sobrenome está sendo negado hoje para mim! Serei uma Vicenzzo contra a minha vontade, eu os odeios mais do que tudo e agora vou ser obrigada a cuspir uma prole de novos demônios para o mundo! E ninguém conseguirá me proteger, ninguém conseguiu me proteger e você olha dentro dos meus olhos para me dizer que o meu futuro é justo Lourdes? Você também não tem honra? É do mesmo saco de farinha que Otto e Vanessa Lion! 

- Não diga coisas pelas quais você certamente vai se arrepender Maria Catarina, eu aposto que se você se esforçar você e Enzo poderão se amar de verdade.

- Eu jamais poderia amar o meu torturador, jamais poderia amar alguém que me compra como uma cabeça de gado que ia para o abate.

- Ser a mulher mais poderosa da Italia parece um mau negócio para você? Encare esse desafio, sei que você  nunca fugiu de um.

- Sempre fui livre para escolher os meus desafios Lourdes, esse desafio só me colocará em uma gaiola dourada. Nada além disso, homens como Enzo Vicenzzo nunca poderão sentir o que significa o amor de verdade, e por causa de um erro do meu pai, eu também nunca saberei o que significa isso. 

- Chega de auto compadecimento, se levante, vamos colocar logo esse vestido e acabar com isso!

As batidas na porta nos deixaram em alerta, Lourdes gritou para que a pessoa entrasse.

- Senhorita Catarina o seu pai quer vê-la, pode ir até lá? 

Eu não me fiz de rogada, saí como um foguete pelos corredores até o escritório do meu velho pai, com sangue nos olhos, língua afiada e um monte de mágoas que estavam me sufocando.

Abri a porta sem olhar dos lados, não queria encarar a minha invejosa irmã Maria Liz de frente. 

- O senhor mandou me chamar, quer ver como está a sua vaca de ouro? - Eu disse arrogante, tentando manter o controle para não chorar. 

- Eu só queria dizer que um dia... Deus me permita viver para ver, você irá me perdoar! 

- Por ter colocado nossa família em uma ruína tão nojenta que eu estou sendo vendida para o demônio Vicenzzo? Por que não Maria Liz? - Eu disse com o olhar mais desdenhoso que consegui lançar sobre ela. 

- Digamos que eu não tenha o pedigree que você tem - Disse Liz com um olhar de deboche - Mas sendo você um demônio pior do que ele, vai conseguir se adaptar com facilidade. 

- Basta! Basta vocês duas! Sempre o ambiente dessa casa tem que ser hostil assim? Não podem se ajudar como irmãs!

- Você sabe que ela não é minha irmã! - Disse Maria Liz com os olhos cheios de ódio e lágrimas 

- CALADA! SAIA AGORA DA MINHA SALA, QUERO FALAR A SÓS COM MARIA CATARINA! 

Ela ia confrontar, mas ao ver o ódio estampado no rosto do meu pai, desistiu desse feito. Saiu com a cabeça baixa o coração pesado e com certeza a mente cheia de ótimos palavrões para soltar pelo ar nessa ocasião. 

- Eu jamais vou te perdoar!  Desista disso, consiga outro acordo...

- Eu preciso te dar uma coisa, olhe bem para isso... - DIsse ele pegando um amuleto pesado em uma caixa de veludo vermelha, dava para ver que era ouro puro. O que só me deixava com mais raiva.

- Já ganhou alguma parte do pagamento por me vender? Vai dar esse colar para enfeitar o pescoço da minha mãe? 

- Não, isso é seu. Foi dado a você no dia do seu nascimento, Quero que guarde isso com a sua vida, no momento certo, você saberá todas as respostas, só acredite minha filha, minha amada filha, eu te amo mais do que consigo traduzir em palavras. Por favor, pegue a caixa com o colar, leve com você para sua nova casa e principalmente, lembre-se desse aviso: Não confie em ninguém, só confie em Enzo, você entendeu?

- Ficou doido? O homem é o diabo encarnado! Como posso confiar em alguém assim?

- Faça o que eu digo para permanecer viva, confie em Enzo! Me prometa Maria Catarina... 

- Eu tenho que ir agora, falta uma hora para essa crucificação começar e eu preciso estar preparada, se não sua amada esposa vai espetar minha cabeça no muro da casa. 

Dei uma olhada em meu pai e saí em silêncio pela porta, com o coração acelerado, a caixa nas mãos e a mente cheia das maiores dúvidas do mundo. Eu caminhei até meu quarto, joguei a caixa em cima da minha cama, vesti o maldito vestido de noiva com a cabeça alta, sem deixar que alguém além de Lourdes percebesse minha miséria, fiz uma maquiagem básica e ás 14:55 eu já estava na sala como mandou a bruxa que me colocou no mundo. 

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