Eu não esperava vê-lo outra vez, pelo menos não nessa vida enquanto ainda éramos as mesmas pessoas com os mesmos dilemas de sempre. Mas lá estava ele, os cabelos tão loiros que eram quase brancos balançando na brisa suave, saindo do seu carro há poucos metros de onde eu estava.
Seu corpo se esticou, esguio como eu me lembrava, a testa levemente franzida mostrando que estava pensando em alguma coisa que não estava exatamente ali.
Ele esticou a mão para dentro do carro e ajudou uma segunda pessoa a sair, um garotinho com a mesma tonalidade de cabelo. Era seu filho, tive certeza na mesma hora, as outras semelhanças eram muito grandes para serem ignoradas.
O garotinho correu para dentro da escola, se misturando aos outros garotos – entre eles, o meu – e, por alguns instantes, ele observou o filho, como se quisesse saber se estava tudo bem. Não havia nada de errado, o garoto me parecia saudável, expressivo e independente.
Depois disso, enquanto ele voltava para dentro do carro, seus olhos azuis encontraram os meus. Seu corpo congelou a meio caminho e a boca se entreabriu de surpresa. Ele não também não esperava me ver outra vez.
Um frio percorreu minha barriga e comecei a andar, me afastando. Minha respiração estava alterada, o coração batia desenfreado e a boca tinha ficado seca. Como ele ainda podia causar tantas coisas dentro de mim?
Segui andando por uma rua sem olhar para trás. Ainda era cedo, só haviam as pessoas que levavam as crianças para a escola circulando por ali, se afastando e sumindo gradativamente após o sinal que dava início às aulas ter soado.
Não tive nenhum aviso. Não escutei o carro ou qualquer outro indicio que me preparasse para o que veio logo em seguida.
- Oliver!
Meu coração pareceu parar por um momento. Eu conhecia aquela voz tão bem quanto a mim mesmo, jamais a esqueceria passasse o tempo que fosse, e não conseguia a ignorar e continuar andando como se ele não tivesse me chamado.
Parei, primeiro olhando para a frente, sem coragem de virar a cabeça. Minhas mãos, em punhos fechados dentro dos bolsos do meu casaco, tremiam, e eu ainda não confiava na minha voz para responder.
Depois virei a cabeça levemente. Ele estava parado dentro do carro, a cabeça virada na minha direção. O sol da manhã refletia em seus cabelos de uma maneira suave, e justamente essa claridade o fazia estreitar os olhos.
- Max. – respondi quando tive certeza que minha voz sairia firme como a dele.
Nenhum de nós soube o que dizer em seguida. Seus olhos pareciam estudar meu rosto tanto quanto os meus estudavam o dele. Eu não achava que ele tinha mudado muito, será que ele via mudanças significativas na minha expressão?
Em seguida retomei minha caminhada de uma forma meio acelerada. Minha cabeça ficou confusa, tomada de lembranças que eu quase tinha conseguido afundar muito bem dentro de mim.
Dessa vez escutei muito bem a porta do carro abrindo e fechando com força, seguido por seus passos apressados na calçada. Vindo atrás de mim, ele estava claramente vindo atrás de mim.
Algo semelhante a pânico se agitou dentro de mim e virei a esquina, buscando uma salvação para aquele momento, mas tudo que encontrei foi um beco silencioso. Acabei me encurralando, sem meios de evitar o que estava prestes a acontecer.
- Oliver. – ele repetiu, dessa vez com uma voz mais alterada, como se tivesse sem fôlego.
Me virei, com meu peito subindo e descendo pela respiração alterada. Max estava mais perto agora, tanto que eu sentia seu perfume pela brisa que soprava na minha direção. Aquele cheiro... era o mesmo cheiro.
- Max. – repeti, a voz muito mais baixa e trêmula do que antes.
Ele andou até mim. Estava agitado, eu podia perceber. Seus olhos se moviam rapidamente por mim, quase como se não acreditasse que eu realmente estava na sua frente.
- Fugindo? – me perguntou tentando soar leve, quase uma brincadeira, mas falhando miseravelmente.
Não confirmei, mas também não fazia sentido negar o óbvio. Dei mais passos para trás, para as sombras de uma grande árvore, nos dando ainda mais privacidade.
- Não acredito que ... – Max não completou a frase.
- Nem eu. – concordei sem precisar de uma frase inteira.
Ele deu mais passos decididos na minha direção e parou, tão perto que eu sentia o calor do seu corpo através do ar gelado. Ergui ligeiramente a cabeça para poder olhar nos seus olhos, então percebi que eles brilhavam porque estavam rasos d’água.
Quanto do passado ainda pairava sobre nós?
- Precisa pedir para eu me afastar, Oliver. – Max disse suavemente, quase como um sussurro.
Meu coração acelerou ainda mais, mas não consegui produzir nenhuma palavra. Dei um passo incerto para trás e minhas costas bateram contra o tronco da árvore. Max não se abalou, deu outro passo na minha direção e repetiu:
- Você precisa pedir, Oliver. – sua voz saiu mais falhada, como se ele tivesse tomado de emoções como eu.
Fui tomado de uma vontade avassaladora de que, por nada no mundo, ele se afastasse de mim. Só de pensar que ele poderia dar as costas e simplesmente ir embora, doía profundamente. Uma ferida sendo cutucada com a ponta da faca.
- Não. – balancei a cabeça enquanto sentia meus olhos ardendo pelas lágrimas que estavam se formando.
Max não hesitou mais nenhum segundo. Veio na minha direção, enterrou as mãos nos meus cabelos e me beijou apressadamente, como se eu pudesse evaporar se pensasse muito. Eu não julgava, sentia coisas semelhantes naquele momento.
15 anos antes... O céu era muito azul, a grama pinicava minhas costas através do tecido da minha roupa e o vento balançava suavemente meu cabelo. Ajeitei a cabeça melhor em cima do meu braço dobrado e bocejei. - Entediado, Oliver? – Luzia perguntou. - Preguiçoso. – corrigi, me virando para observá-la encostada no muro de casa, virando as páginas de um livro. Ela sorriu quando me virei, com as bochechas mais coradas. Já fazia algum tempo que eu vinha sentindo umas ondas diferentes
Acordei antes de todo mundo pela luminosidade da sala, mas os outros não tardaram a se juntar a mim. Rebeca estava muito animada, não sei se pelo início do meu relacionamento com sua amiga ou pelas nossas férias, mas não estava muito falante, para meu alívio. Luzia apareceu pouco depois, me lançando olhares furtivos e levemente envergonhados. Ela parecia feliz por ontem, então eu não devia ter causado uma má impressão. - Ah, vocês vão adorar o hotel. – Theo disse enquanto terminava de beber seu café – É muito bonito, espaçoso. Tem piscina, já falei?&nbs
A primeira coisa que Luzia e Rebeca quiseram fazer foi explorar a piscina. Pouco depois do almoço as duas se trancaram no quarto da minha irmã com o pretexto de se prepararem, e eu fiquei sozinho mais uma vez. Me fechei no meu próprio quarto, me sentindo estranhamente inquieto. Não conseguia parar de pensar em Max, no jeito como ele se movia e na intensidade dos seus olhos. Era diferente de qualquer pessoa que eu tivesse visto antes e, com toda a certeza, ninguém tinha me deixado tão agitado antes. Por outro lado, ele agia com tanta naturalidade perto de mim que eu ficava desconcertado por me sentir tão tempestuoso. - Vamos? – Rebeca colocou a cabeça para dentro do quarto.
Quando acordei no dia seguinte, pensei que tivesse sido um sonho. Rapidamente fiquei eletrizado pelas lembranças da noite passada, depois de horas beijando Max. O que eu pensara ter sido alguns minutos, se revelara ter sido três horas quando conferi no relógio do quarto. Me levantei e entrei no chuveiro, esperando disfarçar seu cheiro na minha pele e o álcool do meu hálito. Não queria que Rebeca e Luzia fizessem perguntas demais, aquilo não dizia respeito a elas, era somente entre nós dois. No entanto, quando me vi indo tomar o café da manhã, fiquei completamente env
Aquele dia foi difícil de levar. Amélia estava perambulando feliz pelo hotel, dentro e fora, de braço dado com Max e conversando animadamente com Theo, que seguia os dois. Tive vários ângulos daquela interação. Pela janela enquanto me trocava, através do salão enquanto comia, de dentro da piscina... Parecia estar em todo lugar, o tempo todo, para me fazer enlouquecer. Por outro lado, Luzia ficava o tempo todo grudada em mim, sem me dar uma chance de ficar sozinho. Parecia determinada, apesar da nossa conversa, a mostrar que eu era uma espécie de posse sua. Rebeca estava com
Acordei muito cedo, o sol que entrava no ambiente era muito suave. Senti minha cabeça contra uma pele quente e, rapidamente recordando várias cenas da madrugada, meu coração acelerou. Precisei erguer a cabeça para ter certeza absoluta e ali estava, Max dormindo com os olhos fechados e um quase sorriso nos lábios. Fui tomado por uma admiração profunda. Ele era tão lindo, com aquele cabelo extremamente loiro, quase branco, espalhado pelo travesseiro, e a pele clara, suave, refletindo um pouco a luminosidade precária do quarto. Eu estava apaixonado. O sentimento me pegou de
Aquele foi nosso melhor dia juntos. Sem Amélia, Theo, Receba ou Luzia para atrapalhar, pudemos ser nós mesmos e esquecer o que o futuro nos traria em breve. Fomos como um casal normal, que tinha tempo demais pela frente. Nadamos juntos, rindo e espirrando água um no outro. Andamos entre as árvores da propriedade e nos perdemos um no outro, felizes e seguros da nossa privacidade. Fizemos as refeições juntos, as pernas entrelaçadas em baixo da mesa, conversando sobre trivialidades. Era uma amostra da vida que ambos perderíamos. Quando nos encontramos, ao final do dia, no mesmo quarto da noite anterior, nos abraçamos e choramos. O tempo estava se encerrando, o dia seguinte vol
Jurei a mim mesmo que não iria. Não era possível que eu fosse querer me torturar daquela maneira quando já tinha sido ruim o suficiente me separar de Max sabendo que jamais estaríamos juntos de novo. - Vou comprar um vestido novo. – Luzia disse animadamente, segurando minha mão. Estávamos todos sentados no sofá da sala da casa dela. Depois que nosso namoro foi consolidado precisei conhecer formalmente seus pais, e levar os meus pais, que os conheciam a vida toda, para uma nova onda de formalidades inúteis. - Você realmente quer ir? – perguntei tentando s