Eu estava certo, e aconteceu muito antes do que eu poderia sonhar.
Cinco anos após nossa mudança para o hotel, num dia de sol, quando eu estava atrás do balcão vendo uma porção de papéis, uma garota atravessou a porta com passos decididos.
Sua postura e feição entregaram quem era, por mais que os cabelos fossem mais claros e os olhos do tom azul exato de Max. Havia certa arrogância em sua aura que me remetia ainda mais à Amélia, e me deixou apreensivo.
- Você é Oliver. – não era uma pergunta. Ela me encarava de queixo erguido.
<Na semana seguinte, Amélia chegou no hotel. Estava muito pior do que eu imaginava. Tão magra que todos os seus ossos apareciam sobre a pele fina e translúcida, apoiando em Annie como se mal tivesse forças para se locomover. Ela não olhou na minha direção enquanto Max e seus filhos a acompanhavam até um quarto no primeiro andar – não sei como ela conseguiu subir as escadas -, e eu apenas observei de longe, imaginando se me sentiria mal por tê-la por perto. - Ela está muito pior do que eu tinha pensado. – Max desceu as escadas pouco depois com uma express
Mas certamente a vida não segue o roteiro que a gente deseja escrever. Tudo aconteceu tão rápido que nunca consegui processar direito. Em um momento era a vida seguindo, no outro o caos completo tinha se instalado e a dor me tomou tanto que pensei que jamais poderia sair vivo daquilo. Na noite em que Julian completou vinte anos fizemos um jantar em família, apenas Max, eu e nossos filhos. Colocamos uma mesa do lado de fora do hotel, na grama, e tudo foi completamente animado. Annie estava feliz por ter feito um bolo, sozinha, para o irmão postiço, João estava animado porque acreditava que Ju
Meu pai morreu pouco depois e, com grande receio, retornei para minha vila com meus três filhos, sem saber como seria recebido. Mamãe parecia me querer muito por lá, mas Rebeca nunca mais tinha entrado em contato comigo. Nosso reencontro aconteceu diretamente no cemitério, mas, enquanto minha mãe me abraçava e chorava, Rebeca não me dirigiu nem um olhar. Eu esperava que ela ignorasse Annie e João, mas não esperava que sua frieza se estendesse a Julian. Felizmente ninguém parecia se importar muito com ela. Meus três filhos apenas me observavam, espreitando a possibilidade daquele evento voltar a me abalar profundamente. Mas não aconteceu, eu sentia apenas u
Tivemos relativa calmaria até o nascimento de Munique. Minha neta encantava quem quer que fosse, desde nós, membros da família, até cada pessoa que colocava os pés no hotel. Todo mundo sorria e pedia para ter alguns momentos com ela no colo. Felizmente Sara era muito tranquila a esse respeito. Foi interessante ver meus traços reproduzidos. Munique decididamente seria a cara de Julian, e eu amei cada detalhe daquilo mais do que poderia ter sonhado, assim como Sara, que parecia amar meu filho com uma delicadeza silenciosa. Não muito tempo depois foi a vez de Annie.&nb
Depois disso o tempo passou muito rápido. Mamãe se foi, tranquilamente enquanto dormia, parecendo tão em paz que apenas sentimos uma tristeza saudosa, sem desespero ou raiva. Não se pode lutar contra a inevitabilidade da vida. Munique cresceu e começou a explorar o hotel, correndo pela grama e tocando as plantas com as mãozinhas fofas e rosadas. Sempre sorrindo para mim e, quase sempre, eu sentia que era Julian me sorrindo, de novo pequenino. Annie também teve um bebê. Um menino, que embora fosse completamente a cópia de Otto, ela resolveu chamar de Max. Infelizmente, devido a n
Semana passada aconteceu algo interessante. Completei meus oitenta anos e meus filhos acharam que era algo que deveria ser comemorado. Annie voltou com o marido e o filho e fez um bolo especialmente bonito para mim. Julian e Sara pareciam felizes em ver Munique conversar animadamente com o primo, que estava relativamente mais à vontade entre todos nós agora que não era mais uma criança. João era o mais afastado. Quase todo o tempo ficou sentado numa cadeira, de uma forma muito relaxada, os tornozelos cruzados um no outro, sorrindo enquanto observava a família interagindo animadamente, as vezes com a interrupção de uma discussão que o fazia gargalhar.&nbs
Eu não esperava vê-lo outra vez, pelo menos não nessa vida enquanto ainda éramos as mesmas pessoas com os mesmos dilemas de sempre. Mas lá estava ele, os cabelos tão loiros que eram quase brancos balançando na brisa suave, saindo do seu carro há poucos metros de onde eu estava. Seu corpo se esticou, esguio como eu me lembrava, a testa levemente franzida mostrando que estava pensando em alguma coisa que não estava exatamente ali. Ele esticou a mão para dentro do carro e ajudou uma segunda pessoa a sair, um garotinho com a mesma tonalidade de cabelo. Era seu filho, tive certeza na mesma hora, as outras semelhanças eram muito grandes para serem ignoradas.&
15 anos antes... O céu era muito azul, a grama pinicava minhas costas através do tecido da minha roupa e o vento balançava suavemente meu cabelo. Ajeitei a cabeça melhor em cima do meu braço dobrado e bocejei. - Entediado, Oliver? – Luzia perguntou. - Preguiçoso. – corrigi, me virando para observá-la encostada no muro de casa, virando as páginas de um livro. Ela sorriu quando me virei, com as bochechas mais coradas. Já fazia algum tempo que eu vinha sentindo umas ondas diferentes