De Cara Com a Loba

No apartamento 

Eu me sentia psicologicamente exausta! A Saphira me indicou o quarto que me abrigaria por um tempo. Só precisava de algumas horinhas de descanso e estaria renovada. O lugar era aconchegante funcional e sempre estava arrumado.

Sem contar que ela não costumava trazer visitas; isso me dava alguma vantagem. Assim que pudesse teria meu próprio lugar, não seria correto invadir a privacidade da minha amiga. Tomei um banho, vesti um jeans com camiseta e saí comendo uma fruta, fui buscá-la no café livraria. Era início da noite, por volta das 18h30. Não havia mais movimento. 

Saímos de lá em direção ao shopping. Olhamos vitrines, conversamos sobre planos futuros para quando os bebês voltassem; jantamos por lá mesmo e fomos para casa. No caminho, percebi que um carro nos seguia, ele bem que podia ter ultrapassado mas não o fez. Decidi acelerar e ele também. A Saphira ficou assustada, mas sou ótima no volante e não perdi tempo, acelerei bastante ganhando uma boa distância até desviar da rota entrando num estacionamento. Demos um bom tempo dentro do carro e em seguida fomos embora. 

— Deby, o que foi aquilo? Alguém nos perseguia ou foi só impressão? 

—Você não notou que o carro nos seguiu? Não havia outra maneira a não ser sair do seu caminho. Estou vulnerável demais. Preciso de um carro pra me locomover, não posso está saindo com você e pondo em risco sua vida. 

—Não é sobre isso que tenho medo. Mas você realmente está em apuros, se isso que aconteceu não foi uma baita coincidência, melhor se cuidar. 

—Esquece isso! Não vamos estragar a nossa noite. Amanhã verei como locar um carro. Tenho que ver o Dan, como sem falta. 

—Não tem nenhum problema, você me deixa em casa e segue seu compromisso. Sobre o carro, veremos mais adiante 

—Valeu amiga, não sei o que seria de mim sem você. 

Eu estava me sentindo péssima com essa situação. Arriscar a vida de uma inocente não estava nos meus planos. Resolveria o mais rápido possível meu problema com o Dan. Durante a noite mal preguei os olhos imaginando como estariam os bebês. Certamente sentiam minha falta. Estou morrendo de saudade dos meus lindinhos. 

Pela manhã, tomamos nosso café e saímos, não tocamos mais no assunto do episódio anterior. Deixei a Saphira no café e segui para o Drive thru. 

—Bom dia Sr. Lews. 

—Bom dia Deby, chegou pontualmente como sempre. 

—Não gosto de me atrasar, o senhor sabe.

—Querida, não me leve a mal, mas você nunca falou o que a trouxe para esta cidade.- Deby pensa rápido antes de responder. 

—Sr. Lews, as vezes precisamos sair do bando, quero dizer... do meio da família para poder crescermos. Estava me sentindo oprimida. 

—Tudo bem, sei que não pode confiar em todo mundo. Mas quando sentir vontade de falar a verdade, aqui estarei. 

Sr. Lews parecia ler meus pensamentos. Eu não podia sair por aí dizendo que pertencia a uma Alcatéia de lobisomens. Apenas agradeci e segui para minhas funções. 

A manhã, passou bastante rápida, saí às 14h30 me dirigindo ao Café Livraria para apanhar o carro da Saphira emprestado; não podia esperar mais. Entrei no carro segurando o volante por alguns segundos certificando-me que não estava sendo seguida, fui ao encontro do meu destino. 

A paisagem no caminho até à Alcatéia do Dan era solitária. Sai da rodovia principal e peguei uma estrada de terra, a propriedade dos Thompsons era suntuosa e elegante, havia a casa grade e mais atrás em forma de meia lua ficavam as demais casas. Mas, antes mesmo de seguir adiante, fui abordada no portão por dois caras bastante atléticos. Um deles estava com uma roupa colada ao corpo mostrando o quanto era definido, não é por mal, mas os lobisomens são homens praticamente irresistíveis! 

—Parada aí!! Aonde pensa que vai, mocinha?- um deles lambia uma adaga reluzente ao me encarar. 

—Mocinha, é a senhora loba que te pariu;seu bastardo! 

—Como é sua cachorra de merda? Repete!! 

Do nada, eu vi pular bem na frente deles o Dan. Ele apareceu não sei de onde?! Acho que sentiu meu cheiro e veio ao encontro antes que mais confusão se formasse. 

—Podem deixar comigo rapazes. Eu assumo a partir de agora. Podem ir !- Os homens saem assentindo com a cabeça em sinal de respeito. 

—Como vai, Dan Thompson? Desculpa não avisar que viria. 

—Até agora tudo estava bem. Mas pelo que presencie aqui, vou ter problemas em breve. 

—Você já sabia que eu estava na cidade, eu o vi com sua noiva ontem na moto. 

—Como sabe que ela é minha noiva, já andou investigando minha vida!

—Não foi preciso, eu vi como havia um entrosamento entre vocês. 

—Mas então, Deby. O que veio fazer aqui?- Dan parecia indiferente à minha presença. 

—Apenas quero que escute. Não me interrompa, por favor! 

—Seja breve. Não tenho a tarde inteira pra ficar de conversinha, a não ser que deseje outra coisa!- ele me olha de cima a baixo 

—Não me olhe como se eu fosse sua presa. Já chega de abusos e humilhações! Estou aqui para te pedir ajuda. 

—Ah... então é isso! Andou aprontando na sua Alcatéia envergonhando seu Clã, no qual, devia respeito e obediência; agora vem pedir ajuda? 

— Não sabe o que está dizendo! Nunca fiz nada de errado ao meu Clã. Fui exposta a diversas humilhações até decidir fugir. Não sou culpada pela morte dos meus pais. 

—Isso são águas passadas. Não sou juiz, não sei do seu nível de culpa e pouco me interessa. 

—Você realmente se esqueceu do acordo que nossos clãs fizeram na infância? Eu me lembro de tudo. 

—Para quê guardar lixo mental? Sou muito seletivo com meus pensamentos. O passado ficou para trás, já não existe acordo algum desde que seus pais morreram. 

—Está falando sério? 

—Não percebeu ainda?- ele me olha de modo frio. 

—Acho que foi um erro ter vindo aqui. Vou ter que me virar sozinha. 

Eu viro de costas e saio em direção ao carro, mas sou rapidamente imobilizada por ele num abraço mortal no qual perco as forças. Preferia morrer alí mesmo nos seus braços. 

—Não vai a lugar algum até me explicar o que veio fazer aqui! Me fez perder tempo, vai abrindo essa boca!- eu me sentia sufocar, Dan estava me oprimindo de um modo doloroso. 

—Me solta! Estou sufocando!! Não posso falar presa em seus braços. 

Ele ri, enquanto aperta um pouco mais. Vendo que não vou suportar por mais tempo, chamo a Kira mentalmente e sem mais demora início o processo de transformação fazendo o Dan se afastar de olhos arregalados. Minha loba parece ter quase 3 metros e sua pelagem é num tom dourado. Rujo fortemente mostrando as presas e os olhos âmbar assume toda a esclera. Dan fica imóvel diante do ser imponente que ele jamais imaginaria que eu seria. Minha loba mostrava sem precisar de palavras que não estava alí para brincadeiras. 

Dan a reverenciou pedindo desculpas mentalmente. Mas já era tarde para voltar atrás. A Kira avança sobre ele que cai sem esboçar reação. Ela o cheira encarando muito próximo, faz um grunhido de tristeza como se quisesse que ele soubesse. Mas se afasta aos poucos e desaparece como uma flecha no meio da vegetação espessa. Dan ficou confuso. Para que uma loba pudesse estar naquela condição suprema, tinha que ter sido transformada numa lua cheia e ser descendente da deusa Lua Dourada.

A lenda conta que uma filha genuína gerada sobre essa descendência da lua dourada, assume as características de rainha ao dar suas crias. Mas onde estariam os filhos se ela sequer os mencionou?!

Dan permaneceu alí por algum tempo.Sentiu uma conexão voraz invadir seus pensamentos como se um véu se rasgasse diante dos seus olhos.

Minha loba poderia ter avançado e

eles lutariam, mas a reação de recusa o deixou intrigado. Eu era a sua destinada, só podia ser. 

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