Depois do terceiro ano de Sarati na Cidade Murada, sem dar nenhuma notícia aos pais, Ané começou a ficar desesperado. Ali sempre mandava cartas, mas estas não tinham resposta e com o sumiço do caixeiro e o não comparecimento da filha, ao casamento do próprio irmão, as desconfianças aumentaram. Passaram a acreditar que a filha não estivesse recebendo as correspondências. A ausência de Sarati ao casamento, e nem um comunicado foi o ponto crucial.A cerimônia foi realizada na data designada. O irmão estava triste, mas não podiam esperar mais. O próprio pai da noiva fez o pequeno ritual. A noiva estava vestida com uma túnica rosa, confeccionada pela sogra, entre lágrimas de tristeza e alegria. Entrou guiada pelos braços do pai, que depois tomou lugar, de frente para os noivos. Ali, tentava disfarçar, mas não parava de olhar para a cadeira vazia da filha, durante o jantar feito para eles e poucos convidados.Após a festa de casamento, Jacob viajou com sua noiva para uma breve lua de mel. A
Enquanto Ali tomava banho, Liviá deixou uma roupa limpa na cama separada para ela, e foi para a cozinha esquentar a sopa. Um tempo depois, ela chegou linda, como sempre fora, mas ainda não iluminada, como nos tempos de outrora. Ela se sentou com um pesar, pegou na mão dos sogros, e chorou baixinho até se acalmar para poder contar tudo.— Eu e Ané escondemos de vocês algo absurdo. Apenas contamos que Sarati, com oito anos, viu uma estrela, mas não falamos que era a grande Estrela. Ignoramos a profecia, por medo. Escondemos tudo que pudemos de nossa filha. Contamos também que um soldado entrara em nossa casa, por engano, mas ele estava atrás da criança, que viu a estrela. Possivelmente o Comandante viu alguma movimentação diferente aquele dia.— Ali, tente conectar suas ideias. Está tudo meio confuso. Sarati viu a estrela e você acredita que ela é uma das crianças da profecia?— Eu tenho certeza. E por isso, eu e Ané a demos em casamento para um soldado, com o intuito de protegê-la do C
Alair correu junto ao pai, foi até o mecanismo que comandava a abertura da porta da caverna para abri-la. Porém, Padiah mal esperou que abrisse por completo e foi para o lado de fora, esquadrinhando o local, sem avistar Ané.— Ané, onde está você? — indagou Padiah, cogitando que o amigo tivesse desistido.— Aqui embaixo. Eu ia dar a volta pelo morro para ver se encontrava outra passagem.— Suba, suba. A entrada é aqui mesmo.Ané subiu com esforço, uma vez que estava exausto da viagem, pelo calor e a falta de uma comida decente. Padiah abraçou-o no fim da encosta.— Às suas ordens, meu príncipe.— Não vou nem brigar com você, por chamar-me assim. Estou sem forças. Foram três dias de viagens no desconhecido. Nunca imaginei que existiam essas paragens em Jetiah.— Continuarei o chamando de meu príncipe até o fim dos meus dias. Entre, pois já suspeito porque veio até mim, mas antes pedirei que o levem a um quarto. Aproveite e tome um banho, descanse ao menos uma hora, a viagem até aqui fo
Magdali levantou-se e acompanhou Ané até a porta do quarto, no qual ficaria. Depois, voltaram para a biblioteca ela, Padiah e Lucadeli, que foram convocados para arquitetarem os próximos passos do resgate de Sarati.Magdali pediu água e alguns pães para poderem, alimentados, arquitetarem os melhores caminhos para resgatar Sarati das mãos do soldado. Se espantaram quando Alair entrou com as bandejas e se sentou com eles a mesa.— Você não vai para a Cidade Murada, nem tente — falou Padiah, com meio sorriso nos lábios.— Eu sei, e não vou desobedecer, mas tenho o direito de saber o que planejam.— Tem — perguntou a mãe, também com um meio sorriso nos lábios.— Não adianta ficarem com esses sorrisos nos lábios. A companheira é... quer dizer, ainda será minha. Posso me preocupar e querer saber de tudo, não?— Será que um dia vou me apaixonar assim, só com um olhar — perguntou Lucadelli, pegando na orelha do amigo, para o irritar.— Não me enche... E você já tem sua companheira.— Tenho e
Há algum tempo o soldado vinha usando drogas mais fortes, mas que tinham tecnologia suficiente para não o deixar abobado, sem condições de realizar suas funções. Como soldado ele se destacava, e seus futuros planos o levariam a Cidade Central.— Então foi apenas por esse motivo que se casou comigo, para descobrir algo que nunca aconteceu?— E você achou que foi por amor — Julião soltou uma gargalhada forte, que mexeu com as estruturas da jovem.Sarati, chorando, esperou por um tapa que não veio; ao contrário, Julião estava tão drogado e bêbado que caiu no chão, onde permaneceu até o outro dia. A jovem foi para o quarto, pegou a carta e a outra pequena estrela e as colocou no mesmo esconderijo do outro artefato, há anos esquecida. A estrela maior possuía um brilho diferente. Quando a encostou em sua mão, uma energia latente pareceu lhe queimar a pele, e sua recordação voltou-se de imediato para os eventos em Laidé.Sarati despertou deitada no chão, a casa jazia em pleno silêncio. Para
— Não tenho medo de Alair. E não se preocupe, meu pai, sou mais jovem e farei uma varredura por toda a cidade, onde as mulheres podem frequentar, mas sem falar o nome da jovem.— Outra coisa muito importante: caso escutem o nome de Julião, o qual é o soldado, marido de Sarati, fiquem atentos a qualquer coisa que ele faça ou fale. Não estou com um pressentimento ótimo — ordenou Padiah.— Ele é perigoso, senhor — questionou Lucadelli, preocupado.— Não posso afirmar, mas Sarati não dá notícia para os pais há três anos. Por quê? O genro deve respeito aos pais da esposa, então isso me leva a ter medo de, como esse soldado procede com a menina. E tenho minhas desconfianças em relação a ele. Já ouvi esse nome, só não me lembro de quem ele era filho, na Cidade Central.— Tomaremos cuidado, senhor. Escutou, moleque.À tarde, Padiah foi ao mercado, Lucadelli, à ala oeste da cidade, e Anarit, à ala leste. Os três voltaram já à noite para o acampamento e não tiveram êxito no primeiro dia de empr
— Eu a segui e descobri onde mora. De dia, o marido sai cedo, e posso dar um jeito de entregar-lhe um bilhete, ou algo assim sem levantar suspeitas.— Ainda bem que criei um rapaz muito, muito esperto. Merece agora dois presentes, filho. Só não quero que a faça correr perigo. Tem que ser muito discreto, mesmo sabendo que esse marido sai cedo para trabalhar.— Farei tudo certinho, pai.— Padiah, por que disse que Sarati corre risco? —interrogou Lucadeli.— Tive a sorte de ouvir uma conversa do marido. Ele está com um plano arquitetado com outros soldados e a matará, para poder voltar a morar nas cercanias do Palácio Real, na Cidade Central. Ele contratou dois outros moradores, viciados em drogas, por um pagamento em espécie, que a matará. Julião fingirá que a deixará ver a família e a soltará no deserto sozinha. Esses capangas a pegarão, um tempo depois, e tem ordens de não a deixar viva. O soldado ainda quer uma comprovação da morte.— Se fará isso, é porque descobriu o segredo dela.
— E o senhor e Ali, como se conheceram. Padiah me disse que ela morou um tempo na caverna, mas depois partiu.— Ela pediu água e comida, na casa dos meus pais. Hoje, acredito que foi de propósito, quero dizer, que ela já sabia que os antigos reis residiam lá. Parou para verificar se estava tudo bem.— Quando a viu se apaixonou — perguntou Alair sorrindo.— Como não se apaixonar, por aquela mulher. Tudo bem que ela é bem mais velha do eu.Alair sorriu.— Imagino. Não tenho nem coragem de perguntar a idade de meus pais.— Então, você sabe, que eles são, da atualidade, os mais antigos guardiões.— Sei, mas nunca questionei a idade deles.— Padiah e Magdali fizeram um bom trabalho. Acho que quando Sarati o reconhecer como guardião e parceiro, a deixarei em boas mãos. Na festa de Laidê, lembro de vê-lo, a olhando de longe. Senti sua angústia, mas infelizmente, eu já tinha tomado minha errada decisão, e atrasei o encontro de vocês.— Não sei se foi um atraso. Preocupo, com o que aquele sold