Segunda, 01 de outubro de 2018.
07h16 – Universidade de Baltimore,
Baltimore – EUA.
Antes da primeira aula, vou comprar um café e, quando saio, encontro Josh me esperando com um sorriso no rosto.
— Como você está? — Josh pergunta.
— Um desastre, na verdade.
— Amélia, você dormiu um pouco desde sábado? Comeu alguma coisa?
Ele faz uma pausa e me encara, como se estivesse esperando que eu pensasse no que está dizendo. E a verdade é que eu não tenho dormido muito. Mal comi. Mas como posso comer quando Olga está morta? Como posso dormir quando quem quer que tenha feito isso com ela, est&a
Espio pelo canto e meus joelhos fraquejam. Meus dedos se enfiam na parede de tijolos para me impedir de cair, quando vejo dois guardas carregando um saco preto para o furgão.Aquilo era um corpo? O furgão branco sai pela porta dos fundos, que se abre automaticamente. Com meu canivete na mão, corro a distância que falta até a porta de trás antes que ela se feche. Consigo entrar, e meu corpo está formigando de ansiedade.Eu não deveria estar aqui. Entro na primeira sala que vejo. Ligo a lanterna do meu celular, mantendo-a baixa, longe das janelas. O lugar tem meias-paredes para dividir os cômodos, mas sem portas. Há uma mesa encostada, com materiais de pintura organizados em recipientes, alinhados em uma fileira perfeitamente reta. O lugar i
Josh se aproxima e eu me afasto. Algumas dores não devem ser compartilhadas. Eu fui a idiota que acreditou no Mike. Fui eu que sinceramente pensei que era especial o bastante para ser amada.— Ele se aproveitou de você. — Josh fala. Um sentimento de raiva se agita na voz dele. — Isso não te faz uma vagabunda, isso faz dele um babaca.Ele não está entendendo.— Eu bebo. Eu fumo maconha. Eu já usei outras drogas. Antes de você me conhecer, eu ficava chapada o tempo todo e transei com outros caras. Não sou o tipo de garota com quem você quer ter um relacionamento. Você não está enxergando quem eu sou de verdade.— Sei que você abriu mão da oportunidade de se drogar no sábado, quando Jake te deu aquela droga. Sei que você anda mais na linha do que a maioria dos alunos da faculdade. Eu não sei quem você fingia ser
Quarta-feira, 03 de outubro de 2018. 7h45 – Universidade de BaltimoreBaltimore – EUA.“Foi horrível acordar hoje de manhã.Não que os cobertores pesassem muito,mas era como se eu estivesse enterrada.”Diário de Olga.Na manhã seguinte, sinto-me exausta. Estou sem energia e prestes a cair no choro a qualquer momento. Meus olhos estão vermelhos e inchados. Minha pele parece estranha no meu corpo. Quase como se estivesse apertada demais e precisasse ser arrancada. Durante anos eu me concentrei em matar aula, e hoje eu lutei para conseguir vir, mesmo com esse estado de espírito. O que há de errado comigo?
Domingo, 14 de março de 2018.4h11 – Gilmor Homes, Sandtown Baltimore, EUA.Eu podia ouvir o barulho da chuva fraca do lado de fora. Ela batia contra a janela de um jeito melancólico. Olhei a hora no celular ao lado da cama e vi que passava das quatro da manhã, mas alguma coisa me mantinha acordada. A sensação de saudade de algo que nunca chegou a ser meu. Não sabia o que era, mas aquilo me perturbava havia semanas, como se me preparasse para alguma coisa que estava por vir. A antecipação de um vazio futuro.Espreguicei na cama, me esticando o máximo que consegui. Olhando para o vidro sem cortina, a sombra das gotas de chuva que desciam pela janela era hipnotizante. Eu seria capaz de passar horas encarando aquilo sem me cansar. Olhei novamente para o celular. Quatro e meia. Sentei na cama, colocando os p&e
2 anos atrás:Sábado, 28 de novembro de 2016.14h21 – Sandtown-WinchesterBaltimore, EUA.Não tem nada melhor do que a sensação de flutuar. Ou de o calor de uma mão no meu rosto, alisando meu cabelo. Se pelo menos a vida pudesse ser assim para sempre... Eu poderia viver para sempre aqui, no porão da casa da tia do Jeremy. Só paredes. Nenhuma janela. O lado de fora fica só lá fora. E aqui dentro: Jeremy: o garoto tímido que se esconde do mundo. Thomas: um cara cheio de tatuagens que assusta os normais e atrai os livres. E eu: a poeta na minha mente quando estou chapada. Vim para essa casa por segurança. Mas é só por uma semana. Eles vieram porque o s
Sábado, 28 de novembro de 2016.14h23 – Calhoun St - SandtownBaltimore, EUA.— Eu usava flores no cabelo — digo. Minha voz soa bizarra e distante. E falo de novo só para ouvir a estranheza. — Muitas. — Adoro quando ela faz isso — Thomas diz para Jeremy. Nós três relaxamos na cama grande do porão. Thomas, Jeremy e eu nos tocamos. Só nos tocamos quando estamos chapados ou bêbados ou as duas coisas. Thomas e Jeremy são melhores amigos desde a infância. E podemos fazer isso porque não conta nessas situações. Nada importa quando você se sente sem peso.Thomy passa a mão no meu cabelo de novo. O toque delicado me faz fechar os olhos e querer dormir para sempre. Um verdadeiro êxtase.
Quarta-feira, 12 de setembro de 2018. Quando volto para o abrigo, Lauren - uma garota da minha idade que ainda está no ensino médio e mora conosco - está se arrumando para sair, o que presumo ser algum encontro pago, que ela faz toda noite. Vou para meu quarto e tento estudar, mas com meus pensamentos inquietos sobre um certo garoto, ligo a pequena tv e procuro um filme.— Amy! Estou indo para uma festa — Lauren anuncia, parada na porta do quarto. — Queria muito que você fosse. Juro que não vamos passar a noite lá dessa vez. Vamos ficar só um pouquinho. Se você não for, vou ficar chateada! — Lauren insiste e eu dou risada. Ela continua falando enquanto arruma os cabelos e muda de roupa pelo menos três vezes antes de se decidir por um vestidinho verde que deixa pouquíssimo espaço para a imaginação. A cor forte ca
Mais tarde, decido pesquisar sobre garotas desaparecidas. Vou até à biblioteca pública do outro lado da cidade para poder usar a internet e ver os jornais de dias anteriores.Diante de mim, está uma pilha de impressões de artigos em jornais sobre meninas desaparecidas no estado de Maryland nos últimos doze meses.Dois meses atrás, The Daily Record havia divulgado uma matéria de capa a respeito de uma garota que havia desaparecido do campus da faculdade. A fotografia estava escura demais para que as pessoas tivessem uma ideia de como ela era, mas a descrição dizia que era morena e bonita.The Baltimore Sun: outra garota desaparecida, vista pela última vez em um cinema. Descrita como atlética e atraente. A matéria seguinte era do Baltimore Times: Uma garota desaparecida vista pela última vez perto da propriedade de Highland. Alta, c