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A jovem se encarou no espelho mais uma vez. Estava bonita, e, principalmente, estava feliz.
Iria comemorar a aceitação do único irmão na faculdade em alguns minutos, e queria que tudo fosse perfeito. Ele merecia algo assim, pelo esforço e por tudo.
Vestia um bonito e justo vestido preto, um pouco acima dos joelhos, e um par de saltos baixos da mesma cor. Ela provavelmente quebraria o pescoço se tentasse algo mais alto que aquilo.
Alivia arrumou o cabelo escuro com as pontas dos dedos mais uma vez, checando o visual e a maquiagem, como se mais uma olhada na espelho do quarto fosse mudar alguma coisa.
--- Vamos logo, Alivia! --- Seu irmão chamou, pela quinta vez, batendo na porta de seu quarto com louvável insistência --- Se nos atrasarmos por sua culpa eu vou... --- Ele se interrompeu quando a porta foi aberta e a jovem, passou por ela.
--- Vai? --- A jovem arqueou a sobrancelha, com um discreto sorriso de canto, e um tom de desafio nas palavras.
Alivia gostava de implicar com o irmão, era assim que as coisas funcionavam, eles se amavam, se apoiavam, e se atormentavam. O básico do relacionamento entre irmãos.
--- Te proibir de comer batata frita por um ano! --- O jovem respondeu e sorriu, brincalhão.
Paul era um belo e atraente jovem, os cabelos escuros e levemente encaracolados nas pontas, estavam grandes, a pele escura como ébano destacava seus olhos e seu sorriso.
Se parecia muito com a mãe, tinha os mesmos lindos e calorosos olhos castanhos, estava na flor da idade, com seus recém completos dezenove anos.
--- Nem se você tentasse conseguiria! --- Alivia debochou do irmão mais velho, pegando sua bolsa e seguindo pelo corredor estreito do andar superior da casa.
--- É, acho que você tem razão. --- Paul sorriu seguindo a irmã e passando o braço pelos ombros dela, por baixo do curto cabelo de Alivia --- Seu namoradinho está te esperando... --- Fez uma careta.
Ele tinha ciúmes de Alivia, era um rapaz ciumento de modo geral, tanto com a mãe quanto com a irmã, mas, gostava do namorado dela, Luigi era um cara legal.
--- Sério?! --- A jovem sorriu abertamente diante da notícia, não que ela já não tivesse visto o namorado naquele dia --- Está lá embaixo?
--- Hunhun. --- O jovem concordou com a cabeça, quando chegaram a escada --- Na cozinha, conversando com a mamãe. --- Avisou, revirando os olhos.
--- E a Claire? --- Alivia perguntou pela amiga, melhor amiga. Paul soltou os ombros da irmã --- Não chegou ainda?
--- Não, nós que vamos passar na casa dela para busca-la. --- O outro informou enquanto pisavam nos últimos degraus da escada --- Hoje você vai poder se divertir de verdade maninha, sem se preocupar com a escola! --- Sorriu, os dois já passavam pela sala.
--- É, só que apenas por hoje, uma exceção. --- A jovem sorriu passando pela porta alta da cozinha, encontrou o namorado e a mãe conversando perto do balcão --- Sobre o quê estavam falando, amores?
--- Nada de importante, linda. --- Luigi a encarou.
Os cabelos negros do rapaz cobriam sua testa e orelhas, os olhos verdes eram intensos, ele caminhou até a namorada e lhe deu um selinho.
--- Você esta incrível... --- Sussurrou ele, em seu ouvido, com um sorriso de canto.
--- Você também... --- Sussurrou ela de volta, com sorrisinho tímido.
Alivia encarou a mãe, sentada em um dos bancos do balcão, com uma xícara de chá nas mãos, Vanessa era uma bela mulher, já tinha lá seus quarenta e três anos, mas continuavaa com lindos cabelos castanhos e pele morena.
--- Você está linda, filha! --- A mulher sorriu, tomando mais um gole do chá.
--- Obrigada, mãe nós já vamos, vai ficar bem sozinha? --- Alivia levantou uma sobrancelha --- Certeza?
--- Claro! Não precisam se preocupar, vou assistir um filme. --- Ela se levantou caminhando até eles --- Vão com Deus e se divirtam!
Ela srriu os acompanhado até a porta da frente, os jovens seguiram até o carro de Paul, que já os esperava.
--- Juízo, hein! --- A mulher pediu ainda com um sorriso enquanto os três entravam no carro.
Após passarem na casa de Claire, uma jovem sorridente, de cabelos lindamente cacheados e olhos brilhantes, os quatro jovens seguiram para uma boate no centro da ciadade, um lugar muito frequentado por jovens de todas as idades.
A festa havia sido incrível, mas, aquela noite que havia começado tão bem teria um final trágico.
Por estarem comemorando, os jovens ficaram até tarde na boate, e já estavam voltando para casa, ainda felizes e eufóricos pelo álcool, quando Paul, virando em uma esquina bateu de frente com um caminhão, que vinha na contra-mão.
Eles não tiveram tempo de desviar, e o caminhão os acertou em cheio com um barulho alto, tudo que Alivia viu foi de relance a luz do farol do caminhão, que iluminou o medo nos rostos de seu irmão, de seu namorado e de sua amiga, e depois tudo ficou escuro.
Por muito, muito tempo tudo ficou escuro.
● Por Alivia Ela sentiu uma luz bater em seu rosto e começar a incomodar seriamente seus olhos, mas não os abriu, não estava conseguindo, não se lembrava direito de nada, tudo parecia dormente... aos poucos seus sentidos foram voltando a funcionar.Com certa dificuldade, abriu os olhos azuis e quase os fechou de novo, a luz que vinha do teto os incomodou, mas sentiu algo estranho em seu nariz, franziu as sombrancelhas finas, olhando ao redor, percebeu as paredes brancas e altas de um quarto, o teto branco com lâmpadas ao longo de sua extensão.Estava em um hospital, tinha certeza disso, não sabia como, mas tinha certeza.
● Por AliviaMais de um ano. Ela havia ficado em coma por mais de um ano.A jovem Alivia havia perdido muitas coisas, havia perdido pessoas, pessoas que amava, que faziam parte da sua vida. E que agora estavam mortas e enterradas.Ainda em estado de choque com as informações, Alivia pediu para que a mãe a deixasse sozinha, precisava pensar, precisava chorar e por pra fora o que sentia o quanto antes.Após chorar pelo que pareceram horas a fio a jovem dormiu em meio a lembranças, lágrimas e pensamentos, nenhum bom.Teve um sono conturbado, precisou que ser medicada duas vezes. Pelo que sua mãe havia lhe contado ela havia ficado em coma por exatos um ano e três meses, e como na &eacut
● Por AliviaPassar em frente a porta do quarto de Paul foi como um soco no estômago de Alivia, ela não conseguiu ficar muito tempo no corredor e logo correu para seu quarto, batendo a porta e trancando-a mesmo indo contra os pedidos de sua mãe.Ela não queria magoar Vanessa, mas ela própria estava tão machucada que não sabia como prosseguir.Assim que fechou a porta atrás de si, Alivia deslizou até o chão e chorou toda sua tristeza e armagura, ali largada e sozinha, do jeito que se imaginava pelos próximos anos.Depois de alguns minutos, ela começou a olhar em volta, observando seu quarto e percebendo que tudo estava exatamente igual, do mesmo jeito que havia deixado na n
● Por Joshua..Joshua se levantou da cama e começou a andar em círculos pelo quarto, não deveria ficar pensando na jovem que vira a pouco, sabia disso, ele nem sequer a conhecia, e pelo que observou dela, não parecia querer fazer amigos.Mas sua mente insistia em pensar nela, sem parar.--- JOSHUA! --- Ouviu a voz Jake o chamar, antes do garoto abrir a porta do quarto com força e entrar, fazendo com que o loiro se assustasse --- Mamãe está te chamado lá embaixo.--- Não entre mais no meu quarto assim, pirralho! --- Johsua observou o irmão mais novo se encostar no batente da porta e revirar os olhos castanhos --- O quê a mamãe quer?--- Não sei, só mand
• Por Alivia...As palavras da jovem deixaram Vanessa assustada num primeiro momento, e num segundo, ela estava confusa e preocupada.Ir ao cemitério era a última coisa que Alivia devia fazer naquele momento. Seria doloroso demais, uma emoção desnecessária no momento em que estava.--- Como assim, minha filha? --- Vanessa ainda estava em choque, e seu cérebro se esforçava para acompanhar.A decisão havia sido muito repentina, e a mais velha não esperava que a filha fosse querer algo assim tão depressa. Alivia não estava preparada. Não, Vanessa não podia deixar a filha ir. Ela sabia o que era melhor para sua menina.-
● Por AliviaVer o túmulo de Paul fez com que a ficha de Alivia finalmente caísse, e não foi algo bom. Doeu. Mais do que ela podia aguentar. A jovem ainda tinha esperança de ser tudo um sonho ruim, do qual acordaria a qualquer momento, assim que achasse um jeito. Mas não era um sonho. E ela não acordou. Ver o túmulo de Claire foi igualmente doloroso para ela, sua melhor amiga era uma pessoa tão boa, tão meiga, tão gentil, e foi sua primeira amiga de verdade e a primeira garota que Paul levou a sério, os dois estavam tão felizes juntos... Era muito injus
● Por JoshuaHaviam duas semanas inteiras que Joshua não via Alivia, e ele estava mais preocupado do que achou que ficaria. Nem sequer a janela do quarto dela estava aberta, e ficou as duas semanas fechada e coberta com cortinas escuras que não permitiam ver nada lá dentro, nem uma luz ou qualquer sinal de que a jovem estava lá. Joshua passou a ficar muito preocupado, ele queria ir até lá, mas não teve coragem, não conhecia muito bem Alivia, mas sabia, pelos olhos dela, que a jovem precisava conversar, parecia solitária, triste e até deprimida demais... --- Joshua? --- Ouviu a voz de sua mãe o chamar e se virou, vendo Angeline parada na porta da cozinha --- Fi
● Por JoshuaEle havia ficado assustado com a jovem de cabelos pretos e olhos puxados que entrou na sala como um furacão de macacão florido. O olhar de desconfiança não sumiu nos segundos que se seguiram a entrada dela. --- Por que você está aqui? --- Ela perguntou, tentando acalmar a crise de choro de Alivia --- Qual seu nome? Sinto que te conheço. --- Sou Joshua, vim trazer umas coisas para a mãe dela e ela estava assim, a mão está cortada. --- Avisou. --- Sou Lin Mei, prima dela. --- A morena pegou a mão da outra, haviam cacos presos lá --- Preciso tirar isso, fique aqui, vou pegar o kit médico.