● Por Alivia
Ver o túmulo de Paul fez com que a ficha de Alivia finalmente caísse, e não foi algo bom. Doeu. Mais do que ela podia aguentar.A jovem ainda tinha esperança de ser tudo um sonho ruim, do qual acordaria a qualquer momento, assim que achasse um jeito.Mas não era um sonho.E ela não acordou.Ver o túmulo de Claire foi igualmente doloroso para ela, sua melhor amiga era uma pessoa tão boa, tão meiga, tão gentil, e foi sua primeira amiga de verdade e a primeira garota que Paul levou a sério, os dois estavam tão felizes juntos...Era muito injusto. Com todos eles.O túmulo de Luigi era o único que não estava naquele cementério, estava em um mausoléu da família dele do lado norte da cidade, Alivia iria visitar seu túmulo sem sombra de dúvida, mas não naquele dia, já havia tido emoções demais para aguentar mais uma tão forte.Alivia sentia um buraco no peito, onde devia estar seu coração, a sensação sufocante de perder alguém e não poder acompanhar isso, ela não pode sofrer no tempo certo, e isso parecia pior agora, quando todos já haviam superado e ela não.--- Não deveríamos ter ido. --- Vanessa disse, sem tirar os olhos da avenida, estavam voltando do cemitério e não haviam conversado desde que saíram --- Você ainda não estava pronta para...--- CHEGA! --- Alivia gritou do banco do carona sentindo os olhos arderem, não aguentava mais ouvir sua mãe se lamentando --- Pare de agir como se soubesse o quê é melhor para mim! Eu quis ir ate o cemitério! E se quis, eu sabia que estava pronta!--- Filha... --- Vanessa sussurrou com os olhos cheios de lágrimas, não esperava que a filha fosse falar com ela daquela forma. Ela só queria ajudar.--- Não quero conversar.Vanessa assentiu e continuou dirigindo sem dizer nada. Ela não sabia o que falar, e sua filha também não, não algo que não acabasse em discussão.O caminho foi silencioso demais, um silêncio pesado, internamente Alivia gritava de raiva e tristeza, não conseguia encarar a mãe, se sentia culpada por gritar com ela, mas precisava se expressar se não surtaria.Ela estava sobrecarregada demais para fingir calma pelos outros. Ela queria gritar, e chorar. Queria isso o tempo todo.● Por JoshuaJosh viu pela janela da sala quando o carro de Vanessa voltou, viu Alivia descer num pulo e correr para dentro de casa, com Vanesssa a chamando, mas a menina a ignorou e bateu a porta.--- O que será que aconteceu? --- Jake perguntou para o irmão, desviando os olhos da televisão.--- Eu não sei pirralho, eu não sei. --- Ele respondeu suspirando sem tirar os olhos da janela --- Não sei.--- Mas vai descobrir? --- O loiro mais jovem insistiu, agora virando o corpo para o irmão.--- Quê? --- Joshua encarou o irmão, confuso.O mais novo revirou os olhos castanhos.--- Fala sério! --- Jake encarou Joshua como se ele fosse uma criança --- Você é curioso demais para deixar isso passar. Vai fazer de tudo para descobrir qual o problema dela, e resolvê-lo. --- O menino deu de ombros.Jake se levantou, falava como se fosse um adulto, e Joshua fosse a criança, então desligou a televisão e encarou o irmão.--- Estou errado? --- Levantou uma sobrancelha.--- Uau... --- Joshua estava impressionado --- Eu sou assim mesmo? --- Perguntou, sorrindo e fazendo suas covinhas ficarem evidentes.--- Com toda certeza, Dortmund! --- Jake também sorriu, porém, não tinha as covinhas que seu irmão tinha --- Vou almoçar. --- Falou se afastando --- Te aconselho a não ir atrás dela agora, dê um tempo, e vai lá amanhã.--- Você está me dando conselhos? --- Joshua arqueou a sobrancelha.--- Sim, e deveria aceita-los, tá precisando! --- Jake debochou encarando o irmão por sob o ombro.--- Ora seu...! --- Joshua não terminou de falar já que o menor saiu correndo rumo a cozinha --- Pirralho... --- Murmurou sorrindo e se levantando, também precisava almoçar. Mas não tirava a imagem dos olhos de Alivia da mente. Ela parecia alguém que gritava por ajuda.● Por Alivia...Quando Alivia chegou em seu quarto bateu a porta com força e a trancou.Não queria conversar com ninguém, e se jogou na cama, afundando o rosto no travesseiro e chorando, tudo estava tão difícil, ela não via um motivo para querer continuar viva.Sua existência parecia tão sem sentido e insignificante que doía. Ela sentia raiva. Dela mesma, se sentia morta.--- Por que? --- Sussurrou para ninguém em especial.Alivia tirou o travesseiro do rosto e se virou de barriga para cima, encarando o teto com os olhos vermelhos. Ela queria sumir.--- Eu estava tão feliz... --- Virou a cabeça, olhando para as paredes e as várias fotos de seus momentos felizes.Aquilo parecia muito errado. Fora do lugar. Como ela havia sido tão feliz anos atrás, e agora estava naquela situação? As fotos pareciam rir de sua dor e desgraça, então se levantou, como um furacão de raiva e lágrimas.Alivia arrancou todas as fotos da parede, pensou em rasga-las assim que as teve em mãos, mas sabia que iria se arrepender, então andou até a escrivaninha e guardou tudo em uma caixinha de madeira branca, feito isso voltou a se jogar na cama e chorou até pegar no sono.Chorar parecia a única coisa que conseguia fazer nos últimos tempos.Quando acordou, Alivia viu que já estava anoitecendo, não sabia dizer quantas horas eram, mas sentiu seu estômago implorar por comida, não queria comer. Ela se levantou e foi até seu guarda-roupas, procurar algo para vestir após um banho. Precisava de um.Optou por uma calça cinza de moletom e uma blusa preta sem mangas, seguiu rumo ao banheiro e se permitiu chorar em meio a água que caía. Parecia uma rotina.Ali no chuveiro, ela teve vontade de se deixar afogar, até se assustou com isso, e com o quão plausível parecia, mas afastou esse pensamento, desligando o chuveiro e pegando uma toalha branca para se secar.Alivia saiu do banheiro amaldiçoando os cabelos compridos os quais estavam a deixando totalmente incomodada, usando o toalha ela secou os cabelos e a colocou na cabeceira da cama para secar, respirou fundo e andou até a janela para fecha-la.A maldita janela sempre acabava aberta.Quando parou a frente da janela, Alivia viu Joshua sentado no parapeito da janela de seu quarto com fones no ouvido e um caderno no colo no qual desenhava algo com uma caneta.A jovem ficou encarando ele por um tempo, a tranquilidade do rapaz, os movimentos da caneta no papel, até que ele percebeu sua presença e se virou para o lado, encarando Alivia do outro lado, ele tirou os fones e sorriu, a janela de Joshua sempre estava aberta.O jovem acenou para ela, sorrindo abertamente, ela retribuiu o sorriso o melhor que pode, e fez um aceno discreto com a mão direita, então se lembrou que não sabia as horas, não havia um relógio em seu quarto, não havia comprado um celular ainda, e já que não pretendia descer e encontrar com a mãe, não lhe custava nada perguntar a Joshua...Ele ainda a encarava quando Alivia fechou os dedos da mão direita deixando apenas o indicador e o do meio para fora, juntos, e bateu sobre a parte de cima do pulso da mão esquerda que estava fechada em punho.Joshua tombou a cabeça de lado, parecendo confuso, mas havia entendido o recado, e olhou as horas no celular, folheando o caderno e escrevendo as horas para então virar o caderno para Alivia.18:32Perdeu o relógio? :)Alivia não esperava por aquilo, algo tão sutil, mas sorriu de leve, negando com a cabeça e falando um "obrigada" mexendo os lábios e fechando a janela em seguida.A carinha sorridente tinha um sorriso mais verdadeiro que o dela.● Por JoshuaHaviam duas semanas inteiras que Joshua não via Alivia, e ele estava mais preocupado do que achou que ficaria. Nem sequer a janela do quarto dela estava aberta, e ficou as duas semanas fechada e coberta com cortinas escuras que não permitiam ver nada lá dentro, nem uma luz ou qualquer sinal de que a jovem estava lá. Joshua passou a ficar muito preocupado, ele queria ir até lá, mas não teve coragem, não conhecia muito bem Alivia, mas sabia, pelos olhos dela, que a jovem precisava conversar, parecia solitária, triste e até deprimida demais... --- Joshua? --- Ouviu a voz de sua mãe o chamar e se virou, vendo Angeline parada na porta da cozinha --- Fi
● Por JoshuaEle havia ficado assustado com a jovem de cabelos pretos e olhos puxados que entrou na sala como um furacão de macacão florido. O olhar de desconfiança não sumiu nos segundos que se seguiram a entrada dela. --- Por que você está aqui? --- Ela perguntou, tentando acalmar a crise de choro de Alivia --- Qual seu nome? Sinto que te conheço. --- Sou Joshua, vim trazer umas coisas para a mãe dela e ela estava assim, a mão está cortada. --- Avisou. --- Sou Lin Mei, prima dela. --- A morena pegou a mão da outra, haviam cacos presos lá --- Preciso tirar isso, fique aqui, vou pegar o kit médico.
● Por AliviaLin Mei ficou com Alivia até Vanessa voltar do trabalho, e explicou para a tia tudo que aconteceu naquela manhã, como Alivia cortou a mão, como ela e o vizinho ajudaram a prima com o machucado, e que ela deveria sair mais de casa, que a jovem estava muito deprimida. --- Eu não acredito que você socou um espelho! O quê você tem na cabeça?! Porquê fez isso Alivia?! --- Vanessa estava furiosa. --- Tia, vai com calma...não precisa gritar com ela. --- Lin interveio com a voz calma --- Desnecessário.Alivia estava sentada no sofá com Vanessa em pé a sua direita e Lin Mei a esquerda, ao seu
● Por JoshuaJá fazia alguns minutos que Alivia e Joshua estavam andando pelas calçadas da rua principal, a jovem se sentia bem ao lado do loiro, ele era um rapaz divertido, bem humorado, capaz de lhe arrancar sorrisos. --- Seu irmão é impossível. Não acredito que ele fala coisas assim, é muito inteligente. --- Alivia deu um sorriso --- Jake parece um adulto falando! Mais esperto que nós dois juntos! A conversa dos jovens havia se prolongando por todo caminho, não faltava assunto com Joshua, ele sempre tinha algo a falar ou comentar, era contagiante. --- Pois é, você não sabe o que eu tenho que aturar em casa! --- Joshua deu risada rápida, eles es
● Por JoshuaJoshua percebeu que Alivia estava, de alguma forma, mais leve, mais alegre e mais feliz também, podia ver que o azul de seus olhos apareciam mais nitidamente do quê das outras vezes que estivera com a jovem. E ele ficava muito feliz por ela. --- E você pretende voltar a estudar? --- Ele perguntou, pegando uma batatinha empanada e colocando na boca. A conversa havia rodado até chegar nos estudos, Joshua começaria a faculdade em alguns meses. --- Não sei, mas acho que sim. --- Alivia respondeu dando um gole no seu milkshake --- Eu ia começar o 2° ano do Ensino Médio e não sei como vai ser voltar a estudar
● Por AliviaDepois do passeio pela cidade, que já fazia dois dias, Alivia não havia visto Joshua, talvez tenha sido pelo fato da jovem nem ao menos sair de casa depois daquele dia. Nem na janela ela aparecia, estava sempre fechada, não recebia visitas, não queria ver ninguém. Alivia não sabia explicar o que estava sentindo, era um estranho misto de emoções por ter se divertido tanto quando devia estar de luto. Nas últimas duas semanas, desde que voltara, havia recebido a visita de três exs-colegas, com quem tinha mais intimidade quando estudava, agora eles estavam na faculdade, mas não podiam ser considerados seus amigos. --- Filha vou sair com a Angeline e co
● Por Alivia Ela sabia que seria difícil. Sabia que iria chorar, que iria sofrer. Um sofrimento necessário. Mesmo assim, precisava fazer isso, caso contrário nunca deixaria essa parte de sua vida para trás, e precisava seguir em frente, virar mais essa página. Superar faz parte do ciclo de vida de todo ser humano, e era hora dela superar e seguir sua vida. Por mais doloroso que fosse. --- Mãe? --- Alivia chamou, parando na porta da cozinha. Domingo havia amanhecido com poucas nuvens e um céu cinzen
● Por Joshua Joshua não podia negar que estava surpreso com tudo que ouvira de sua vizinha, ele de fato já sabia que Alivia tinha um namorado, já que, pelo que a jovem morena havia dito três dias atrás, havia ficado claro, porém, o jovem não imaginava que o tal Luigi estivesse morto. Alivia contou um pouco sobre Luigi e sobre ele ter morrido no acidente. O loiro se perguntou quem mais havia morrido nele. --- Então, você me chamou para ir com você ao túmulo do seu ex-namorado, é isso? --- Joshua franziu as sombrancelhas, seguindo pela estrada que a jovem indicava --- Por que? ---Eu... --- Alivia suspirou --- Achei que seria uma boa oportunidade para