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Capitulo Seis: Janelas.

● Por Alivia

Ver o túmulo de Paul fez com que a ficha de Alivia finalmente caísse, e não foi algo bom. Doeu. Mais do que ela podia aguentar.

A jovem ainda tinha esperança de ser tudo um sonho ruim, do qual acordaria a qualquer momento, assim que achasse um jeito.

Mas não era um sonho.

E ela não acordou.

Ver o túmulo de Claire foi igualmente doloroso para ela, sua melhor amiga era uma pessoa tão boa, tão meiga, tão gentil, e foi sua primeira amiga de verdade e a primeira garota que Paul levou a sério, os dois estavam tão felizes juntos...

Era muito injusto. Com todos eles.

O túmulo de Luigi era o único que não estava naquele cementério, estava em um mausoléu da família dele do lado norte da cidade, Alivia iria visitar seu túmulo sem sombra de dúvida, mas não naquele dia, já havia tido emoções demais para aguentar mais uma tão forte.

Alivia sentia um buraco no peito, onde devia estar seu coração, a sensação sufocante de perder alguém e não poder acompanhar isso, ela não pode sofrer no tempo certo, e isso parecia pior agora, quando todos já haviam superado e ela não.

--- Não deveríamos ter ido. --- Vanessa disse, sem tirar os olhos da avenida, estavam voltando do cemitério e não haviam conversado desde que saíram --- Você ainda não estava pronta para...

--- CHEGA! --- Alivia gritou do banco do carona sentindo os olhos arderem, não aguentava mais ouvir sua mãe se lamentando --- Pare de agir como se soubesse o quê é melhor para mim! Eu quis ir ate o cemitério! E se quis, eu sabia que estava pronta!

--- Filha... --- Vanessa sussurrou com os olhos cheios de lágrimas, não esperava que a filha fosse falar com ela daquela forma. Ela só queria ajudar.

--- Não quero conversar.

Vanessa assentiu e continuou dirigindo sem dizer nada. Ela não sabia o que falar, e sua filha também não, não algo que não acabasse em discussão.

O caminho foi silencioso demais, um silêncio pesado, internamente Alivia gritava de raiva e tristeza, não conseguia encarar a mãe, se sentia culpada por gritar com ela, mas precisava se expressar se não surtaria.

Ela estava sobrecarregada demais para fingir calma pelos outros. Ela queria gritar, e chorar. Queria isso o tempo todo.

● Por Joshua

Josh viu pela janela da sala quando o carro de Vanessa voltou, viu Alivia descer num pulo e correr para dentro de casa, com Vanesssa a chamando, mas a menina a ignorou e bateu a porta.

--- O que será que aconteceu? --- Jake perguntou para o irmão, desviando os olhos da televisão.

--- Eu não sei pirralho, eu não sei. --- Ele respondeu suspirando sem tirar os olhos da janela --- Não sei.

--- Mas vai descobrir? --- O loiro mais jovem insistiu, agora virando o corpo para o irmão.

--- Quê? --- Joshua encarou o irmão, confuso.

O mais novo revirou os olhos castanhos.

--- Fala sério! --- Jake encarou Joshua como se ele fosse uma criança --- Você é curioso demais para deixar isso passar. Vai fazer de tudo para descobrir qual o problema dela, e resolvê-lo. --- O menino deu de ombros.

Jake se levantou, falava como se fosse um adulto, e Joshua fosse a criança, então desligou a televisão e encarou o irmão.

--- Estou errado? --- Levantou uma sobrancelha.

--- Uau... --- Joshua estava impressionado --- Eu sou assim mesmo? --- Perguntou, sorrindo e fazendo suas covinhas ficarem evidentes.

--- Com toda certeza, Dortmund! --- Jake também sorriu, porém, não tinha as covinhas que seu irmão tinha --- Vou almoçar. --- Falou se afastando --- Te aconselho a não ir atrás dela agora, dê um tempo, e vai lá amanhã.

--- Você está me dando conselhos? --- Joshua arqueou a sobrancelha.

--- Sim, e deveria aceita-los, tá precisando! --- Jake debochou encarando o irmão por sob o ombro.

--- Ora seu...! --- Joshua não terminou de falar já que o menor saiu correndo rumo a cozinha --- Pirralho... --- Murmurou sorrindo e se levantando, também precisava almoçar.

Mas não tirava a imagem dos olhos de Alivia da mente. Ela parecia alguém que gritava por ajuda.

● Por Alivia...

Quando Alivia chegou em seu quarto bateu a porta com força e a trancou.

Não queria conversar com ninguém, e se jogou na cama, afundando o rosto no travesseiro e chorando, tudo estava tão difícil, ela não via um motivo para querer continuar viva.

Sua existência parecia tão sem sentido e insignificante que doía. Ela sentia raiva. Dela mesma, se sentia morta.

--- Por que? --- Sussurrou para ninguém em especial.

Alivia tirou o travesseiro do rosto e se virou de barriga para cima, encarando o teto com os olhos vermelhos. Ela queria sumir.

--- Eu estava tão feliz... --- Virou a cabeça, olhando para as paredes e as várias fotos de seus momentos felizes.

Aquilo parecia muito errado. Fora do lugar. Como ela havia sido tão feliz anos atrás, e agora estava naquela situação? As fotos pareciam rir de sua dor e desgraça, então se levantou, como um furacão de raiva e lágrimas.

Alivia arrancou todas as fotos da parede, pensou em rasga-las assim que as teve em mãos, mas sabia que iria se arrepender, então andou até a escrivaninha e guardou tudo em uma caixinha de madeira branca, feito isso voltou a se jogar na cama e chorou até pegar no sono.

Chorar parecia a única coisa que conseguia fazer nos últimos tempos.

Quando acordou, Alivia viu que já estava anoitecendo, não sabia dizer quantas horas eram, mas sentiu seu estômago implorar por comida, não queria comer.

Ela se levantou e foi até seu guarda-roupas, procurar algo para vestir após um banho. Precisava de um.

Optou por uma calça cinza de moletom e uma blusa preta sem mangas, seguiu rumo ao banheiro e se permitiu chorar em meio a água que caía. Parecia uma rotina.

Ali no chuveiro, ela teve vontade de se deixar afogar, até se assustou com isso, e com o quão plausível parecia, mas afastou esse pensamento, desligando o chuveiro e pegando uma toalha branca para se secar.

Alivia saiu do banheiro amaldiçoando os cabelos compridos os quais estavam a deixando totalmente incomodada, usando o toalha ela secou os cabelos e a colocou na cabeceira da cama para secar, respirou fundo e andou até a janela para fecha-la.

A maldita janela sempre acabava aberta.

Quando parou a frente da janela, Alivia viu Joshua sentado no parapeito da janela de seu quarto com fones no ouvido e um caderno no colo no qual desenhava algo com uma caneta.

A jovem ficou encarando ele por um tempo, a tranquilidade do rapaz, os movimentos da caneta no papel, até que ele percebeu sua presença e se virou para o lado, encarando Alivia do outro lado, ele tirou os fones e sorriu, a janela de Joshua sempre estava aberta.

O jovem acenou para ela, sorrindo abertamente, ela retribuiu o sorriso o melhor que pode, e fez um aceno discreto com a mão direita, então se lembrou que não sabia as horas, não havia um relógio em seu quarto, não havia comprado um celular ainda, e já que não pretendia descer e encontrar com a mãe, não lhe custava nada perguntar a Joshua...

Ele ainda a encarava quando Alivia fechou os dedos da mão direita deixando apenas o indicador e o do meio para fora, juntos, e bateu sobre a parte de cima do pulso da mão esquerda que estava fechada em punho.

Joshua tombou a cabeça de lado, parecendo confuso, mas havia entendido o recado, e olhou as horas no celular, folheando o caderno e escrevendo as horas para então virar o caderno para Alivia.

18:32

Perdeu o relógio? :)

Alivia não esperava por aquilo, algo tão sutil, mas sorriu de leve, negando com a cabeça e falando um "obrigada"  mexendo os lábios e fechando a janela em seguida.

A carinha sorridente tinha um sorriso mais verdadeiro que o dela.

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