A lanchonete da Emma parecia o lugar mais seguro para se conversar. Era perto do colégio, mas estava vazio porque aquele tinha sido o último dia de aula antes da pequena pausa para o natal. Também era público, e no caso de um de nós surtar, haveriam testemunhas.
Eu estava sentada numa mesa, totalmente trêmula. Eu não podia conter a ansiedade. A ideia de que Jason Martell poderia entrar na lanchonete a qualquer momento e eu teria que contar que estava grávida me deixavam nervosa e me tiravam profundamente do sério.
Quando o sino tocou e o garoto de cabelos loiros adentrou no local, eu tive vontade de me esconder debaixo da mesa.
Jason me viu e eu automaticamente senti que ia passar mal. Vomitar ali mesmo, ter um ataque cardíaco, qualquer coisa que me tirasse dali numa ambulância. E quem sabe eu acordasse e não descobrisse que tudo foi um pesadelo?
— Aí está minha sorrateira favorita. — disse Jason, sentando na minha frente.
— Vai parar de me chamar de sorrateira? — resmunguei.
— Foi você que saiu da minha casa escondida pela porta dos fundos. — ele rebateu, ainda na tentativa de me provocar. E advinha só? Estava funcionando. Bufei em resposta e desviei o olhar. — Não vai dizer nada?
— O quê?
— Foi você quem me chamou aqui.
Ah, é. Talvez eu estivesse tentando evitar o assunto até o milkshake chegar. Só talvez. Tudo ficava melhor com milkshake da lanchonete da Emma. Contudo, a não ser que esse milkshake fizessem a Ariana e o Jason do passado lembrarem de usar preservativo, eu não tinha muita escolha. Eu precisava contar.
— Jason... — suspirei e olhei bem nos seus olhos. Será que o ser dentro de mim vai ter esses olhos? A súbita ideia de que eu carregava uma parte de Jason pareceu bizarra demais para os meus neurônios cansados, então afastei o pensamento. E, sentindo a minha pulsação acelerada, minha respiração se tornando mais rápida e as minhas pernas balançarem freneticamente debaixo da mesa, eu finalmente disse: — Eu estou grávida.
Foi a segunda vez dizendo aquilo em voz alta. E cada vez que eu dizia sentia um peso em meus ombros, me deixando mais próxima do quinto e último estágio: aceitação.
Entretanto, eu não queria aceitar. Não podia. Aceitar significava estar ciente que minha vida seria destruída e ninguém nunca mais olharia para mim da mesma forma e estar tranquila com isso. Não. Não podia.
Eu assisti ao sorriso de Jason Martell silenciosamente desabar. Parecia ter uma estátua de gelo diante de mim. Jason fixou o olhar em algo do lado de fora da lanchonete, e com a boca aberta ele parecia processar a informação. Ou o sistema cerebral dele havia pifado de vez.
Não havia absolutamente nada em suas feições. Ele estava perplexo. Parado. Estático. Imerso num estado de choque inexplicável. E eu estava ficando cada vez mais nervosa.
— Jason, por favor, diga algo ou eu terei que chamar uma ambulância.
Para minha surpresa, Jason Martell, o quarterback do time de futebol do colégio e pai do ser dentro de mim, começou a gargalhar. Loucamente, tão alto que estava assustando os outros clientes da lanchonete. Ele ria como se eu tivesse contato a piada mais engraçada do mundo.
Eu estava simplesmente boquiaberta e apavorada demais para exprimir qualquer reação quando Jason levantou e caminhou até a saída.
— Jason?! — gritei, franzindo a testa. — Onde você vai?
Decidi que deveria ir atrás dele, logo, me levantei e passei a correr em sua direção, enquanto chamava seu nome. Nenhuma resposta.
— Jason, para com isso! — gritei da porta do restaurante, vendo o loiro entrar no carro e sair dali em alta velocidade. — Inacreditável!
Ele tinha me abandonado! Sem nem ter conversado comigo direito! Ele ouvira o que eu disse porque tinha quase certeza de que ele não estava surdo e apenas saiu! Simples assim! E ainda por cima, rindo! Inacreditável!
Fervendo em ódio, entrei no lata-velha e dirigi para a casa de Chloe, onde ela me esperava com Ben, pois tínhamos combinado de nos encontrarmos. No carro, eu berrava inúmeras formas de xingamentos para Jason. Tomara que ele não morra num acidente de carro porque eu vou matar ele!
Chegando na casa de Chloe, contive toda a minha raiva na hora de tocar a campainha.
— Oi, senhora Yamazaki! — disse eu, esboçando meu melhor sorriso.
— Oi... Ariana. — a mãe de Chloe me cumprimentou, torcendo o nariz. Ela e o marido eram muito rígidos, e julgavam que eu era má companhia para sua filha. — Chloe e Ben estão lá em cima.
Não sabia o motivo, mas todo aquele ódio tinha subitamente se tornado em tristeza. Corri em direção ao quarto de Chloe para que a mãe dela não me visse chorar. Eu sentia um misto de emoções que eu não sabia por quanto tempo poderia segurar.
— Oi, Ari...
Antes que Chloe pudesse terminar a frase, percebeu que eu estava no limite de um ataque de nervos e se lançou em meus braços, me puxando para um de seus abraços bem apertados. Fiquei alguns minutos chorando em seu ombro, enquanto Ben acariciava meu cabelo.
— Eu preciso contar uma coisa para vocês. — falei, me afastando um pouco deles, que me olhavam de maneira preocupada. — Em breve, todos vão ficar sabendo e vão me julgar por isso...
— Nós nunca julgaríamos você. — Ben apertou a minha mão. — Foda-se todo mundo.
— Eu estou grávida. — afirmei, num suspiro. Chloe e Ben, se entreolharam, com os olhos arregalados.
— Ariana...
— Eu não espero que vocês reagam diferente do que o resto das pessoas. Julgando, ou sem saber como reagir. — tentei elaborar uma frase em meio ao choro. — Mas vocês são meus melhores amigos e...
— E sempre estaremos do seu lado. — Ben me puxou para um abraço apertado.
— Eu estou totalmente pronta pra ser titia. — Chloe sorriu e entrou no abraço. Ela tinha lágrimas nos olhos e eu sabia que ela estava preocupada comigo e com as dificuldades que eu enfrentaria. — Eu sei que isso de gravidez na adolescência é uma droga e nada do que eu disser vai amenizar. Mas vamos estar aqui para absolutamente tudo que você precisar.
— Obrigada. Eu amo vocês.
— Jason é o pai, não é? — indagou Chloe, depois que eu me acalmei o suficiente para contar todos os detalhes para eles. Assenti com a cabeça.
— Eu não acredito que essa criaturinha — Ben apontou para minha barriga, o que foi estranho pra mim — nem nasceu e já é a criança mais sortuda da América. Com os genes de Jason Martell e Ariana Baker, não tem como essa criança não ser um supermodelo.
— Agora você está só me bajulando. — retruquei.
— Claro que não! — exclamou Chloe.
As risadas que Chloe e Ben arrancavam de mim pareciam a única coisa que alegraria meus dias. Eu não esperava que eles ficassem ao meu lado quando piorasse, porque não era obrigação deles, mas agradeceria muito se o fizessem.
Era véspera de natal e eu ainda não tinha contado para os meus pais. April me conhecia o suficiente para saber que eu estava evitando o assunto. Eu tentava me distrair arrumando a casa, limpando e deixando tudo tão perfeitamente organizado que chegava a ser irritante. E ela sabia que eu fazia isso para evitar pensar no ser se desenvolvendo dentro de mim. Eu e Ben nos falávamos praticamente o tempo todo. Ele não entrava muito no assunto de gravidez, em vez disso, tentava me alegrar, me fazendo rir e contando sobre como ele era um péssimo cozinheiro e as suas tentativas falhas dele de reproduzir alguma receita. Já Chloe era um pouco mais complicado de contactar. Ela estava com a família dela no Japão, então sempre estava ocupada. Meus seios estavam bem estranhos naqueles dias. Mais se
— Só mais uma volta no quarterão. Encarei minha mãe como se ela estivesse absolutamente louca. Tudo bem que eu era a grávida cheia de hormônios malucos tomando conta de mim, mas eu ainda não tinha perdido a minha cabeça a ponto de caminhar mais quinze minutos.Ainda. Todos estavam muito preocupados com a possibilidade de um aborto espontâneo entre o primeiro e o segundo mês, inclusive eu. Por isso eu estava seguindo todas as orientações médicas a risca. Eu até resgatara do meu computador um trabalho que tinha feito na oitava série sobre vitaminas e sais minerais essenciais para uma grávida. Meu quarto tinha se tornado uma zona parapost-itssobre tudo que eu deveria fazer para evitar problemas e complicações ou doenças futuras. Jason não era tão orga
— Pela milésima vez, Jason, nosso filho não vai se chamar Luke nem Leia. — disse eu. Eu e Jason estávamos numa loja de produtos para bebês, seguindo detalhadamente uma lista de compras que eu tinha feito baseada nas minhas pesquisas sobre filhos, especialmente recém-nascidos. O problema é que Jason não entendia minha organização extrema e contestava todos os itens da lista, além de querer adicionar coisas fúteis e desnecessárias. Nós tínhamos organizado nossas finanças e, juntando o salário de Jason do seu trabalho como zelador do museu, o que meus pais ofereceram, o dinheiro que eu tinha guardado das minhas mesadas e o que meus avós me davam no natal, teríamos o suficiente para lidar com a chegada de uma criança. E crianças eram bem caras. — Injusto. — falou Jason, cruzando os braços. Sua postura de indignação rapidamente desapareceu
April estava na cidade para a Páscoa, o que significava que ela poderia escolher o que assistiríamos na noite de filme. Meus pais iam sair pra um aniversário de um amigo, por isso, chamamos Ben e Chloe para ficar conosco. Eu estava lá para o quarto mês de gravidez e a partir daí minha barriga começara a crescer rapidamente. Eu estava analisando, vendo se tinha crescido alguns centímetros desde de manhã. Pesadelo dormia aos meus pés. Chloe e Ben estavam encarando minha barriga fazia alguns minutos, torcendo para ver o bebê se mexer ou chutar. Na semana passada, quando Jason veio jantar conosco, colocamos jazz clássico num fone de ouvido para o bebê escutar. Como sempre, Jason fez um comentário irônico, dessa vez sobre a minha escolha de música e decidiu porQueen. O bebê reagiu bem e acabou chutando a barriga. Desde que o
— Spencer, você está grávida? — exclamei, boquiaberta. — É do Jason?— Por favor, não! — ela revirou os olhos, balançando a cabeça e indicou as cadeiras para que nos sentássemos. — Eu fiquei grávida, ano passado. Era o meu primeiro namorado. — explicou, com a voz firme. — Ele me deixou, e eu... Eu não podia. — vendo a angústia expressa em seu olhar, segurei sua mão com força. — Então eu decidi terminar a minha gravidez. Eu não acho que fui corajosa como você está sendo agora.— Você é corajosa, Spencer. — falei. — Nós duas somos mulheres extremamente corajosas, nós só fizemos escolhas diferentes, só isso.
Jason ficou muito mal com a reação da mãe dele. Ele tentava disfarçar com suas habituais brincadeiras e piadinhas, mas eu sabia que no fundo ele queria que ela aceitasse bem como meus pais aceitaram e que seria difícil para ele esquecer as duras palavras como "eu estou extremamente decepcionada com você" ou "esse não é meu filho; meu filho ele não esconderia um bebê por seis meses". Ela até que foi simpática comigo naquela noite. Quando a gritaria acabou, ela me convidou para ficar para o jantar. Atualizamos ela de tudo desde que eu descobri a gravidez. Nas férias de julho, viajamos para a formatura de April. Ela conseguiu um emprego na nossa cidade natal, logo, quando voltamos, ela voltou conosco e dessa vez para ficar. Eu já estava desconfiando que um dos motivos para ela voltar a morar conosco era a chegada do bebê. Minhas suspeita
Na primeira semana, eu podia jurar que Jason ia fugir com o nosso filho a qualquer momento. Quando não estava com o Thomas, ou como o apelidamos carinhosamente, Tommy, ele só pensava e falava nele. Jason, de vez em quando lembrava de checar se eu estava bem, naturalmente porque eu fazia questão de lembrá-lo o tempo todo que fora eu quem empurrara um bebê para fora de mim. April tinha me ajudado a montar uma rotina para que, entre cuidar do Tommy, organizar as coisas dele e estudar no período na noite, eu pudesse me exercitar e voltar ao meu corpo anterior. Outras coisas eu tive que abdicar da minha vida, pelo menos por um tempo, como o blog com Spencer. Sobre a ideia de ser mãe... Todas as dúvidas que eu tinha desapareciam quando eu estava com Tommy. Ele era a única certeza na minha vida e eu sabia que morreria por ele. Era uma sensaç
— Mais rápido! Vamos, Jason! Mais rápido! — eu gritava no ouvido dele. — Ariana, você está me desconcentrando! — Você está fazendo errado! — reclamei. Jason tinha realmente uma mira muito ruim. Já era a terceira vez que ele comprara oticketpara ter a chance de acertar todos os patos com uma arma de brinquedo. Se ele conseguisse, ganharia um cavalo de pelúcia gigante que Tommy estava desesperado para ter. Era uma competição muito séria, até porque tinham inúmeras crianças na fila desejando o mesmo prêmio. — Você não vai conseguir, loirinho. Deixa as crianças brincarem. — reclamou o rapaz responsável por aquela barraca. Era o aniversário de dois anos de Tommy e nós tínhamos nos reunido com alguns familiares para um piquenique naquele parque de diversões. Nos