Capítulo Três

A lanchonete da Emma parecia o lugar mais seguro para se conversar. Era perto do colégio, mas estava vazio porque aquele tinha sido o último dia de aula antes da pequena pausa para o natal. Também era público, e no caso de um de nós surtar, haveriam testemunhas.

Eu estava sentada numa mesa, totalmente trêmula. Eu não podia conter a ansiedade. A ideia de que Jason Martell poderia entrar na lanchonete a qualquer momento e eu teria que contar que estava grávida me deixavam nervosa e me tiravam profundamente do sério.

Quando o sino tocou e o garoto de cabelos loiros adentrou no local, eu tive vontade de me esconder debaixo da mesa.

Jason me viu e eu automaticamente senti que ia passar mal. Vomitar ali mesmo, ter um ataque cardíaco, qualquer coisa que me tirasse dali numa ambulância. E quem sabe eu acordasse e não descobrisse que tudo foi um pesadelo?

— Aí está minha sorrateira favorita. — disse Jason, sentando na minha frente.

— Vai parar de me chamar de sorrateira? — resmunguei.

— Foi você que saiu da minha casa escondida pela porta dos fundos. — ele rebateu, ainda na tentativa de me provocar. E advinha só? Estava funcionando. Bufei em resposta e desviei o olhar. — Não vai dizer nada?

— O quê?

— Foi você quem me chamou aqui.

Ah, é. Talvez eu estivesse tentando evitar o assunto até o milkshake chegar. Só talvez. Tudo ficava melhor com milkshake da lanchonete da Emma. Contudo, a não ser que esse milkshake fizessem a Ariana e o Jason do passado lembrarem de usar preservativo, eu não tinha muita escolha. Eu precisava contar.

— Jason... — suspirei e olhei bem nos seus olhos. Será que o ser dentro de mim vai ter esses olhos? A súbita ideia de que eu carregava uma parte de Jason pareceu bizarra demais para os meus neurônios cansados, então afastei o pensamento. E, sentindo a minha pulsação acelerada, minha respiração se tornando mais rápida e as minhas pernas balançarem freneticamente debaixo da mesa, eu finalmente disse: — Eu estou grávida.

Foi a segunda vez dizendo aquilo em voz alta. E cada vez que eu dizia sentia um peso em meus ombros, me deixando mais próxima do quinto e último estágio: aceitação.

Entretanto, eu não queria aceitar. Não podia. Aceitar significava estar ciente que minha vida seria destruída e ninguém nunca mais olharia para mim da mesma forma e estar tranquila com isso. Não. Não podia.

Eu assisti ao sorriso de Jason Martell silenciosamente desabar. Parecia ter uma estátua de gelo diante de mim. Jason fixou o olhar em algo do lado de fora da lanchonete, e com a boca aberta ele parecia processar a informação. Ou o sistema cerebral dele havia pifado de vez.

Não havia absolutamente nada em suas feições. Ele estava perplexo. Parado. Estático. Imerso num estado de choque inexplicável. E eu estava ficando cada vez mais nervosa.

— Jason, por favor, diga algo ou eu terei que chamar uma ambulância.

Para minha surpresa, Jason Martell, o quarterback do time de futebol do colégio e pai do ser dentro de mim, começou a gargalhar. Loucamente, tão alto que estava assustando os outros clientes da lanchonete. Ele ria como se eu tivesse contato a piada mais engraçada do mundo.

Eu estava simplesmente boquiaberta e apavorada demais para exprimir qualquer reação quando Jason levantou e caminhou até a saída.

— Jason?! — gritei, franzindo a testa. — Onde você vai?

Decidi que deveria ir atrás dele, logo, me levantei e passei a correr em sua direção, enquanto chamava seu nome. Nenhuma resposta.

— Jason, para com isso! — gritei da porta do restaurante, vendo o loiro entrar no carro e sair dali em alta velocidade. — Inacreditável!

Ele tinha me abandonado! Sem nem ter conversado comigo direito! Ele ouvira o que eu disse porque tinha quase certeza de que ele não estava surdo e apenas saiu! Simples assim! E ainda por cima, rindo! Inacreditável!

Fervendo em ódio, entrei no lata-velha e dirigi para a casa de Chloe, onde ela me esperava com Ben, pois tínhamos combinado de nos encontrarmos. No carro, eu berrava inúmeras formas de xingamentos para Jason. Tomara que ele não morra num acidente de carro porque eu vou matar ele!

Chegando na casa de Chloe, contive toda a minha raiva na hora de tocar a campainha.

— Oi, senhora Yamazaki! — disse eu, esboçando meu melhor sorriso.

— Oi... Ariana. — a mãe de Chloe me cumprimentou, torcendo o nariz. Ela e o marido eram muito rígidos, e julgavam que eu era má companhia para sua filha. — Chloe e Ben estão lá em cima.

Não sabia o motivo, mas todo aquele ódio tinha subitamente se tornado em tristeza. Corri em direção ao quarto de Chloe para que a mãe dela não me visse chorar. Eu sentia um misto de emoções que eu não sabia por quanto tempo poderia segurar.

— Oi, Ari...

Antes que Chloe pudesse terminar a frase, percebeu que eu estava no limite de um ataque de nervos e se lançou em meus braços, me puxando para um de seus abraços bem apertados. Fiquei alguns minutos chorando em seu ombro, enquanto Ben acariciava meu cabelo.

— Eu preciso contar uma coisa para vocês. — falei, me afastando um pouco deles, que me olhavam de maneira preocupada. — Em breve, todos vão ficar sabendo e vão me julgar por isso...

— Nós nunca julgaríamos você. — Ben apertou a minha mão. — Foda-se todo mundo.

— Eu estou grávida. — afirmei, num suspiro. Chloe e Ben, se entreolharam, com os olhos arregalados.

— Ariana...

— Eu não espero que vocês reagam diferente do que o resto das pessoas. Julgando, ou sem saber como reagir. — tentei elaborar uma frase em meio ao choro. — Mas vocês são meus melhores amigos e...

— E sempre estaremos do seu lado. — Ben me puxou para um abraço apertado.

— Eu estou totalmente pronta pra ser titia. — Chloe sorriu e entrou no abraço. Ela tinha lágrimas nos olhos e eu sabia que ela estava preocupada comigo e com as dificuldades que eu enfrentaria. — Eu sei que isso de gravidez na adolescência é uma droga e nada do que eu disser vai amenizar. Mas vamos estar aqui para absolutamente tudo que você precisar.

— Obrigada. Eu amo vocês.

— Jason é o pai, não é? — indagou Chloe, depois que eu me acalmei o suficiente para contar todos os detalhes para eles. Assenti com a cabeça.

— Eu não acredito que essa criaturinha — Ben apontou para minha barriga, o que foi estranho pra mim — nem nasceu e já é a criança mais sortuda da América. Com os genes de Jason Martell e Ariana Baker, não tem como essa criança não ser um supermodelo.

— Agora você está só me bajulando. — retruquei.

— Claro que não! — exclamou Chloe.

As risadas que Chloe e Ben arrancavam de mim pareciam a única coisa que alegraria meus dias. Eu não esperava que eles ficassem ao meu lado quando piorasse, porque não era obrigação deles, mas agradeceria muito se o fizessem.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo