Era véspera de natal e eu ainda não tinha contado para os meus pais.
April me conhecia o suficiente para saber que eu estava evitando o assunto. Eu tentava me distrair arrumando a casa, limpando e deixando tudo tão perfeitamente organizado que chegava a ser irritante. E ela sabia que eu fazia isso para evitar pensar no ser se desenvolvendo dentro de mim.
Eu e Ben nos falávamos praticamente o tempo todo. Ele não entrava muito no assunto de gravidez, em vez disso, tentava me alegrar, me fazendo rir e contando sobre como ele era um péssimo cozinheiro e as suas tentativas falhas dele de reproduzir alguma receita. Já Chloe era um pouco mais complicado de contactar. Ela estava com a família dela no Japão, então sempre estava ocupada.
Meus seios estavam bem estranhos naqueles dias. Mais se
— Só mais uma volta no quarterão. Encarei minha mãe como se ela estivesse absolutamente louca. Tudo bem que eu era a grávida cheia de hormônios malucos tomando conta de mim, mas eu ainda não tinha perdido a minha cabeça a ponto de caminhar mais quinze minutos.Ainda. Todos estavam muito preocupados com a possibilidade de um aborto espontâneo entre o primeiro e o segundo mês, inclusive eu. Por isso eu estava seguindo todas as orientações médicas a risca. Eu até resgatara do meu computador um trabalho que tinha feito na oitava série sobre vitaminas e sais minerais essenciais para uma grávida. Meu quarto tinha se tornado uma zona parapost-itssobre tudo que eu deveria fazer para evitar problemas e complicações ou doenças futuras. Jason não era tão orga
— Pela milésima vez, Jason, nosso filho não vai se chamar Luke nem Leia. — disse eu. Eu e Jason estávamos numa loja de produtos para bebês, seguindo detalhadamente uma lista de compras que eu tinha feito baseada nas minhas pesquisas sobre filhos, especialmente recém-nascidos. O problema é que Jason não entendia minha organização extrema e contestava todos os itens da lista, além de querer adicionar coisas fúteis e desnecessárias. Nós tínhamos organizado nossas finanças e, juntando o salário de Jason do seu trabalho como zelador do museu, o que meus pais ofereceram, o dinheiro que eu tinha guardado das minhas mesadas e o que meus avós me davam no natal, teríamos o suficiente para lidar com a chegada de uma criança. E crianças eram bem caras. — Injusto. — falou Jason, cruzando os braços. Sua postura de indignação rapidamente desapareceu
April estava na cidade para a Páscoa, o que significava que ela poderia escolher o que assistiríamos na noite de filme. Meus pais iam sair pra um aniversário de um amigo, por isso, chamamos Ben e Chloe para ficar conosco. Eu estava lá para o quarto mês de gravidez e a partir daí minha barriga começara a crescer rapidamente. Eu estava analisando, vendo se tinha crescido alguns centímetros desde de manhã. Pesadelo dormia aos meus pés. Chloe e Ben estavam encarando minha barriga fazia alguns minutos, torcendo para ver o bebê se mexer ou chutar. Na semana passada, quando Jason veio jantar conosco, colocamos jazz clássico num fone de ouvido para o bebê escutar. Como sempre, Jason fez um comentário irônico, dessa vez sobre a minha escolha de música e decidiu porQueen. O bebê reagiu bem e acabou chutando a barriga. Desde que o
— Spencer, você está grávida? — exclamei, boquiaberta. — É do Jason?— Por favor, não! — ela revirou os olhos, balançando a cabeça e indicou as cadeiras para que nos sentássemos. — Eu fiquei grávida, ano passado. Era o meu primeiro namorado. — explicou, com a voz firme. — Ele me deixou, e eu... Eu não podia. — vendo a angústia expressa em seu olhar, segurei sua mão com força. — Então eu decidi terminar a minha gravidez. Eu não acho que fui corajosa como você está sendo agora.— Você é corajosa, Spencer. — falei. — Nós duas somos mulheres extremamente corajosas, nós só fizemos escolhas diferentes, só isso.
Jason ficou muito mal com a reação da mãe dele. Ele tentava disfarçar com suas habituais brincadeiras e piadinhas, mas eu sabia que no fundo ele queria que ela aceitasse bem como meus pais aceitaram e que seria difícil para ele esquecer as duras palavras como "eu estou extremamente decepcionada com você" ou "esse não é meu filho; meu filho ele não esconderia um bebê por seis meses". Ela até que foi simpática comigo naquela noite. Quando a gritaria acabou, ela me convidou para ficar para o jantar. Atualizamos ela de tudo desde que eu descobri a gravidez. Nas férias de julho, viajamos para a formatura de April. Ela conseguiu um emprego na nossa cidade natal, logo, quando voltamos, ela voltou conosco e dessa vez para ficar. Eu já estava desconfiando que um dos motivos para ela voltar a morar conosco era a chegada do bebê. Minhas suspeita
Na primeira semana, eu podia jurar que Jason ia fugir com o nosso filho a qualquer momento. Quando não estava com o Thomas, ou como o apelidamos carinhosamente, Tommy, ele só pensava e falava nele. Jason, de vez em quando lembrava de checar se eu estava bem, naturalmente porque eu fazia questão de lembrá-lo o tempo todo que fora eu quem empurrara um bebê para fora de mim. April tinha me ajudado a montar uma rotina para que, entre cuidar do Tommy, organizar as coisas dele e estudar no período na noite, eu pudesse me exercitar e voltar ao meu corpo anterior. Outras coisas eu tive que abdicar da minha vida, pelo menos por um tempo, como o blog com Spencer. Sobre a ideia de ser mãe... Todas as dúvidas que eu tinha desapareciam quando eu estava com Tommy. Ele era a única certeza na minha vida e eu sabia que morreria por ele. Era uma sensaç
— Mais rápido! Vamos, Jason! Mais rápido! — eu gritava no ouvido dele. — Ariana, você está me desconcentrando! — Você está fazendo errado! — reclamei. Jason tinha realmente uma mira muito ruim. Já era a terceira vez que ele comprara oticketpara ter a chance de acertar todos os patos com uma arma de brinquedo. Se ele conseguisse, ganharia um cavalo de pelúcia gigante que Tommy estava desesperado para ter. Era uma competição muito séria, até porque tinham inúmeras crianças na fila desejando o mesmo prêmio. — Você não vai conseguir, loirinho. Deixa as crianças brincarem. — reclamou o rapaz responsável por aquela barraca. Era o aniversário de dois anos de Tommy e nós tínhamos nos reunido com alguns familiares para um piquenique naquele parque de diversões. Nos
— Então esse é o pequeno Tommy de quem Ariana tanto me falou. — disse Luke, fazendo carinho no cabelo do meu filho. Eu estava tão ansiosa para que os dois se conhecessem, e esperava que tudo ocorresse bem. — Eu te trouxe um presente, garotão. Você quer ver? Soube que você gosta de cavalos.— Cavainho. — murmurou Tommy, finalmente olhando para Luke, que usara a palavra-chave para conquistá-lo.— Cuidado, ele está numa fase meio rebelde. — disse Jason, parecendo meio sério.Ele só deve estar surpreso porque não avisei que Luke vinha,pensei. — Você lembra quando ele começou a jogar brinquedos na televisão porque o programa de fazenda tinha acabado?
Último capítulo