Alicia PamukA reunião termina e eu não consigo esconder a satisfação por ter conseguido colocar em prática tudo que eu havia planejado, e o melhor de tudo foi meu pai não ter feito nenhuma objeção as minhas ideias.Em alguns momentos, pude notar que ele parecia orgulhoso. Sabia que ele confiava em mim, também lembro da guerra que ele travou com minha mãe quando decidiu se aposentar por causa da sua saúde e me deixar à frente da empresa. A presidência da Pamuk quase causou um divórcio e eu não sou hipócrita de dizer que não acho isso uma boa ideia. Minha mãe suga o meu pai ao extremo, usa o amor que ele sente por ela como uma arma, para conseguir o quer. Ela consegue moldar Otto a sua maneira, fazendo o pior dele.Por mais errado que isso possa ser, eu adoraria ver meus pais divorciados, queria vê-lo longe da mediocridade da minha mãe, queria vê-lo tomar suas próprias decisões sem precisar travar uma guerra antes. — Alicia , seu pai já foi, acho que irá passar nos outros setores —
Alicia PamukHavia um bom tempo que não tinha um sábado livre de compromissos durante todo o dia.Espreguiço, esticando meu corpo pelo sofá, sentindo uma leve pontada nas costas.A solidão do meu apartamento é mais do que satisfatória, me acostumei com minha companhia e aprendi que não preciso dividi-la com quem não mereça.Estava precisando de um tempo sem fazer nada, não que eu não tivesse nada para fazer, deveria estar focada em encontrar uma nova agência de modelos para o lançamento da próxima coleção e em desenvolver a minha ideia para a publicidade, mas ao invés disso, estou jogada no sofá da sala, me empanturrando de pipoca e vendo televisão, ao menos pipoca é antioxidante.Comecei a assistir uma série coreana na Netflix, o famoso dorama Pousando no Amor que Donna tinha me indicado em uma das nossas trocas de mensagens e, por incrível que pareça, estou gostando muito da história, passei boa parte da tarde suspirando por um romance impossível de acontecer no mundo real.Percebo
Pablo RodriguézAlicia não parece bem e, por mais que eu queira deixar para lá sabendo que não é da minha conta, me sinto incomodado. Vejo pelo espelho do retrovisor seu corpo tenso, enquanto respira pausadamente com os olhos fechados. Penso que ela pode estar perto de ter uma crise de pânico e me sinto tentado a perguntar se ela está bem. Era para ela estar, no mínimo, animada, aparentemente eu estou a levando para uma festa ou algo parecido e, até aonde eu entendo, ela parece estar vestida para uma. Sim, eu fui idiota o suficiente para reparar em cada detalhe do seu vestido preto curto, mostrando suas pernas torneadas em cima de um salto dourado. Não tenho como negar sua beleza, ela é um maldito imã, por mais que eu tente desviar o olhar, seu corpo me chama.Aperto o volante, sentindo uma gota de suor rolar pela minha testa.A última coisa que eu deveria estar pensando nesse momento era em Alicia em quaisquer circunstâncias eróticas. Que tipo de canalha eu pareço ser?Volto a
Pablo RodriguézMinhas pálpebras parecem pesar toneladas, manter os olhos abertos está sendo uma luta.Merda de antialérgico!Seguro o volante, batendo a cabeça ali algumas vezes. Se já não bastasse a droga do sono, ainda tenho que lidar com a vontade de beber, estar em um lugar como esse incitava ainda mais o meu desejo de ficar chapado.— Porra! — grito a plenos pulmões, sabendo que ninguém escutará já que estou trancado dentro do carro.Vejo que já passa de uma e meia da manhã. Que horas aquela mulher vai resolver ir para casa? Nunca fui uma pessoa de festas, nem quando era mais jovem, depois que deixei de servir até fui em alguns lugares com música e que era lotado, mas não estava sóbrio o suficiente para me lembrar de como era estar lá, então posso dizer que sigo odiando lugares fechados com música alta. Abro um Sneaker que eu tinha guardado no porta luvas e dou uma mordida, não estou com fome, mas o açúcar tem sido um forte aliado na minha abstinência.Me recosto no banco, fe
Pablo RodriguézSinto uma dor insuportável no pescoço. Passar a noite no sofá duro da sala trouxe péssimas consequências.Depois de quase matar Brenda e minha avó de susto, por chegar com Alicia nos braços, tive um trabalho e tanto para explicar o que havia acontecido.Minha irmã ajudou Alicia a tomar um banho frio, enquanto ela balbuciava frases desconexas ou cantava uma música country. Ela deu muito trabalho para Brenda. Busquei ao máximo me manter afastado, não iria me aproveitar da situação para agir como um tarado.Ainda estou tentando absorver a loucura que foi a minha noite de sábado, enquanto Alicia dorme pesadamente na minha cama, perdi a conta de quantas vezes fui até lá velar seu sono. Ainda bem que Brenda estava cansada demais para ficar me vigiando.Não é nem oito da manhã e eu só consigo pensar no escândalo que Alicia vai fazer ao acordar e se encontrar ali. Me levanto do sofá, esticando meu corpo e bocejando. Ainda estou com sono, os pequenos cochilos não me deixaram
Alicia PamukRespiro fundo, tentando relaxar e não deixar tão evidente o meu desconcerto, abro a boca para pedir uma aspirina ou qualquer outro remédio que melhore essa dor de cabeça, mas sou interrompida quando Pablo entra em disparada no quarto, seguido por um casal de idosos. Ele me olha apreensivo, como se estivesse esperando por um chilique meu, mas não consigo reparar em outra coisa que não em sua roupa despojada e no cabelo bagunçado.— Está vendo, hijo? Brenda a acalmou, tenho certeza de que não irá te demitir — a senhora baixinha, usando um vestido florido, diz com um sorriso amistoso nos lábios.— Ela só precisa comer alguma coisa, de um café forte, uma aspirina e muita água — Brenda diz, ficando ao lado de Pablo, me fazendo notar agora a semelhança entre os dois, não é muita, mas existe.A senhorinha se aproxima, sentando-se na cama e me surpreendo quando pega minhas mãos, colocando-as sobre o colo.— Sou Angela, e aquele velho ali é o meu amado marido, Miguel. — Aponta pa
Alicia Pamuk Bebo um gole do café, que está muito forte, e volto a comer o bolo para tirar o sabor amargo da minha boca.— Está muito bom — digo, me servindo de outro pedaço de bolo.Ouço um celular tocar e vejo que é o do Pablo, mas ele olha para a tela curioso e me pergunto o porquê de não atender.— Não vai atender? — Brenda verbaliza meus pensamentos.— Praticamente ninguém tem esse número — responde.— Mas atende, hijo, talvez seja engano e você já dispensa — é a vez de o avô falar.Ele respira fundo, ignora a chamada e coloca o aparelho no bolso.— Quer que eu prepare o carro para irmos... — Faz uma pausa olhando para meu prato — quando terminar? — O que é isso, Ry? Ela está comendo, que grosseria é essa? Parece que nem está falado com sua chefe? — Brenda diz, fechando a cara enquanto puxa uma cadeira e se senta quase ao meu lado.Pablo finge não ouvir as perguntas da irmã e permanece me olhando, percebo suas narinas inflando. Ele está incomodado. — Não estou entendendo essa
Pablo RodriguézDroga! Aonde eu estava com a cabeça quando achei que seria uma boa ideia trazê-la para casa dos meus avós? Estava esperando por um escândalo de Alicia quando ouvi seus gritos vindos do meu quarto, mas de alguma forma Brenda conseguiu acalmá-la e agora ela está tomando café na cozinha de casa, com toda minha família babando por ela. Já não basta Brenda, agora são os meus avós.Teria sido tão mais fácil se ela tivesse gritado, me xingado e exigido que eu a levasse embora dali.Por que está sendo tão simpática?A casa dos meus avós é praticamente do tamanho da sala dela. Como ela pode estar tão confortável aqui e por que isso me incomoda tanto? Talvez porque, se ela estivesse agindo como uma idiota, seria mais fácil arrancar de dentro de mim esse sentimento que insiste em brotar toda vez que olho em sua direção.Abro a porta da garagem em um arranco. — Pablo Rivera Rodriguéz — meu avô grita, me fazendo congelar.Ele me chamava assim quando eu era adolescente e só qua