Pablo RodriguézAlicia não parece bem e, por mais que eu queira deixar para lá sabendo que não é da minha conta, me sinto incomodado. Vejo pelo espelho do retrovisor seu corpo tenso, enquanto respira pausadamente com os olhos fechados. Penso que ela pode estar perto de ter uma crise de pânico e me sinto tentado a perguntar se ela está bem. Era para ela estar, no mínimo, animada, aparentemente eu estou a levando para uma festa ou algo parecido e, até aonde eu entendo, ela parece estar vestida para uma. Sim, eu fui idiota o suficiente para reparar em cada detalhe do seu vestido preto curto, mostrando suas pernas torneadas em cima de um salto dourado. Não tenho como negar sua beleza, ela é um maldito imã, por mais que eu tente desviar o olhar, seu corpo me chama.Aperto o volante, sentindo uma gota de suor rolar pela minha testa.A última coisa que eu deveria estar pensando nesse momento era em Alicia em quaisquer circunstâncias eróticas. Que tipo de canalha eu pareço ser?Volto a
Pablo RodriguézMinhas pálpebras parecem pesar toneladas, manter os olhos abertos está sendo uma luta.Merda de antialérgico!Seguro o volante, batendo a cabeça ali algumas vezes. Se já não bastasse a droga do sono, ainda tenho que lidar com a vontade de beber, estar em um lugar como esse incitava ainda mais o meu desejo de ficar chapado.— Porra! — grito a plenos pulmões, sabendo que ninguém escutará já que estou trancado dentro do carro.Vejo que já passa de uma e meia da manhã. Que horas aquela mulher vai resolver ir para casa? Nunca fui uma pessoa de festas, nem quando era mais jovem, depois que deixei de servir até fui em alguns lugares com música e que era lotado, mas não estava sóbrio o suficiente para me lembrar de como era estar lá, então posso dizer que sigo odiando lugares fechados com música alta. Abro um Sneaker que eu tinha guardado no porta luvas e dou uma mordida, não estou com fome, mas o açúcar tem sido um forte aliado na minha abstinência.Me recosto no banco, fe
Pablo RodriguézSinto uma dor insuportável no pescoço. Passar a noite no sofá duro da sala trouxe péssimas consequências.Depois de quase matar Brenda e minha avó de susto, por chegar com Alicia nos braços, tive um trabalho e tanto para explicar o que havia acontecido.Minha irmã ajudou Alicia a tomar um banho frio, enquanto ela balbuciava frases desconexas ou cantava uma música country. Ela deu muito trabalho para Brenda. Busquei ao máximo me manter afastado, não iria me aproveitar da situação para agir como um tarado.Ainda estou tentando absorver a loucura que foi a minha noite de sábado, enquanto Alicia dorme pesadamente na minha cama, perdi a conta de quantas vezes fui até lá velar seu sono. Ainda bem que Brenda estava cansada demais para ficar me vigiando.Não é nem oito da manhã e eu só consigo pensar no escândalo que Alicia vai fazer ao acordar e se encontrar ali. Me levanto do sofá, esticando meu corpo e bocejando. Ainda estou com sono, os pequenos cochilos não me deixaram
Alicia PamukRespiro fundo, tentando relaxar e não deixar tão evidente o meu desconcerto, abro a boca para pedir uma aspirina ou qualquer outro remédio que melhore essa dor de cabeça, mas sou interrompida quando Pablo entra em disparada no quarto, seguido por um casal de idosos. Ele me olha apreensivo, como se estivesse esperando por um chilique meu, mas não consigo reparar em outra coisa que não em sua roupa despojada e no cabelo bagunçado.— Está vendo, hijo? Brenda a acalmou, tenho certeza de que não irá te demitir — a senhora baixinha, usando um vestido florido, diz com um sorriso amistoso nos lábios.— Ela só precisa comer alguma coisa, de um café forte, uma aspirina e muita água — Brenda diz, ficando ao lado de Pablo, me fazendo notar agora a semelhança entre os dois, não é muita, mas existe.A senhorinha se aproxima, sentando-se na cama e me surpreendo quando pega minhas mãos, colocando-as sobre o colo.— Sou Angela, e aquele velho ali é o meu amado marido, Miguel. — Aponta pa
Alicia Pamuk Bebo um gole do café, que está muito forte, e volto a comer o bolo para tirar o sabor amargo da minha boca.— Está muito bom — digo, me servindo de outro pedaço de bolo.Ouço um celular tocar e vejo que é o do Pablo, mas ele olha para a tela curioso e me pergunto o porquê de não atender.— Não vai atender? — Brenda verbaliza meus pensamentos.— Praticamente ninguém tem esse número — responde.— Mas atende, hijo, talvez seja engano e você já dispensa — é a vez de o avô falar.Ele respira fundo, ignora a chamada e coloca o aparelho no bolso.— Quer que eu prepare o carro para irmos... — Faz uma pausa olhando para meu prato — quando terminar? — O que é isso, Ry? Ela está comendo, que grosseria é essa? Parece que nem está falado com sua chefe? — Brenda diz, fechando a cara enquanto puxa uma cadeira e se senta quase ao meu lado.Pablo finge não ouvir as perguntas da irmã e permanece me olhando, percebo suas narinas inflando. Ele está incomodado. — Não estou entendendo essa
Pablo RodriguézDroga! Aonde eu estava com a cabeça quando achei que seria uma boa ideia trazê-la para casa dos meus avós? Estava esperando por um escândalo de Alicia quando ouvi seus gritos vindos do meu quarto, mas de alguma forma Brenda conseguiu acalmá-la e agora ela está tomando café na cozinha de casa, com toda minha família babando por ela. Já não basta Brenda, agora são os meus avós.Teria sido tão mais fácil se ela tivesse gritado, me xingado e exigido que eu a levasse embora dali.Por que está sendo tão simpática?A casa dos meus avós é praticamente do tamanho da sala dela. Como ela pode estar tão confortável aqui e por que isso me incomoda tanto? Talvez porque, se ela estivesse agindo como uma idiota, seria mais fácil arrancar de dentro de mim esse sentimento que insiste em brotar toda vez que olho em sua direção.Abro a porta da garagem em um arranco. — Pablo Rivera Rodriguéz — meu avô grita, me fazendo congelar.Ele me chamava assim quando eu era adolescente e só qua
Alicia PamukGeralmente não me sinto confortável contando sobre minha trajetória na Pamuk, mas a empolgação de Brenda ao me ouvir tirou todo o desconforto. Ela se mostra interessada, mas não pelo que a Pamuk oferece e sim em como me sinto, sendo a mulher que comanda tudo aquilo. Ela quer saber sobre mim. Brenda é um sonho de garota, em poucos minutos de conversa tive uma visão do quanto ela é sonhadora e do quanto se esforça para realizar seus sonhos.Ela cursa medicina, conseguiu um bolsa na mesma faculdade que ingressei, mas as circunstâncias me fizeram abandonar. Ela tem os sonhos da Alicia de anos atrás...Sua alegria é contagiante, não gosto muito de pessoas que falam demais, mas eu ficaria por horas ouvindo essa garota contar sobre sua infância, o quanto Pablo a atormentava e o tanto de coisas que ela deseja fazer quando se formar.Sinto uma alegria estranha ao saber mais sobre ela e sobre toda a família. Um desejo de ter algo assim, um lar cheio de apoio, de amor e de cuidad
Alicia PamukPigarreio, me afastando o mais rápido que posso, buscando não olhar para seu rosto, quase caio ao bater as costas na porta do quarto que, aparentemente, eu não havia fechado direito. — Cuidado! — Sua mão segura firme meu pulso.Sua expressão enigmática me deixa desconcertada e me perco em seus olhos, hipnotizada pelo brilho intenso deles, reparando em seus cílios volumosos. Noto a vermelhidão em suas bochechas atrás da barba por fazer, meus olhos permanecem medindo cada centímetro do seu rosto, parando na boca entreaberta. Meu corpo é traidor o suficiente para reagir com um arrepio intenso.Eu acabei de receber uma chuva de informações sobre Pablo, me fazendo ter a certeza de que eu sequer o conheço de verdade. Não consigo entender o porquê do meu coração parecer uma bateria toda vez que ele está próximo.Pablo abaixa o olhar, passando por mim ao mesmo tempo que me arrasta pelo pulso para dentro do quarto, fechando a porta atrás de si.A mão grande ainda contorna meu b