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— Calma! — viu-o sair do quarto e voltar minutos depois com um embrulho lilás com detalhes brancos. — Feliz “três anos de amizade”!

Clara riu e o rapaz sentou-se na cama novamente, sorridente. A Dunsley saiu da cama e, quando viu que ele iria reclamar, colocou o indicador na boca do amigo, deixando em silêncio. Em seguida, foi para seu closet e esticou-se para pegar na prateleira de cima o presente do melhor amigo. Voltando, riu da expressão de surpresa dele e sentou-se de frente para o mesmo, colocando o presente sobre as pernas cruzadas.

— Pensou que só você compraria, é?

— Claro, você vive esquecendo o meu aniversário — apontou Nathan e ela corou.

— Foi só uma vez e mal nos conhecíamos! — rebateu e bufou, entregando o embrulho alaranjado. — Feliz “três anos de amizade”, Nathan.

Ele entregou o dela e rasgou o papel com violência, já a moça foi mais educada e foi tirando o papel com carinho, enquanto via a reação do amigo. Nathan abriu a caixa e arregalou os olhos, deixando-a feliz por ter surpreendido.

— Não é muito, mas... — tentou falar e ele impediu-a, dando um abraço de urso.

— Não é muito é o caralho! Puta que pariu, como eu queria um fone desses, Clara!

Ela fechou os olhos e tentava não fazer seu coração não disparar, o que não adiantou. Já fazia dois anos que Clara era apaixonada pelo Zanford, ainda que soubesse da preferência sexual dele. Era loucura, masoquismo! No entanto, ele foi um dos poucos rapazes que se mostrou preocupado com ela de verdade, além de seu pai e seu primo. E Nathan era cavalheiro, bonito, divertido... e gay.

“Acorda, ele gosta de mesma coisa que você”, repreendia-se e afastou-se do abraço de urso com um sorriso forçado que o melhor amigo nem percebeu ainda encantado com o presente. Terminou de abrir o presente e, ao tirar a tampa da caixa, Clara arregalou os olhos e sentiu o rosto ferver. Olhou para o amigo que mandou-lhe um sorriso malicioso e corou ainda mais, dando um tapa forte no braço dele.

— Nathan!

— Que? Uma lingerie não faz mal para ninguém! — comentou e sorriu ao vê-la tirar o sutiã branco e rendado da caixa. — O próximo cara que você transar vai pirar se você estiver usando isso.

— Nathan! — ela bateu no peito dele com mais força e colocou a peça na caixa, sem coragem de ver a outra peça.

— Você nem viu a calcinha! É muito sensual e ficará tipo “me come” em você...

— Nathan Zanford, cale essa boca! — gritou e ficou, se era possível, mais vermelha.

O rapaz jogou-se na cama, gargalhando, enquanto a pobre moça fazia uma expressão raivosa e tristonha. Por ter se apaixonado por Nathan, ela não conseguia sair com outros caras sem compará-los com o amigo. Ela até ficava com alguns e chegou a namorar dois, contudo, não passava nem um mês, porque ela não queria ferir os sentimentos dos garotos. Exatamente por nunca dar certo, no seu quinto e sexto período das faculdades, Clara passou a focar mais nos estudos e procurar estágios para seu último ano.

Ao notar que a amiga não fazia uma carinha raivosa e sim triste, o rapaz parou de rir e aproximou-se mais da amiga, puxando-a para seu colo e beijando sua testa. Com aquele gesto, a Dunsley percebeu que era uma idiota por se apaixonar por um homem que nunca a amaria e começou a chorar, escondendo o rosto no peito dele. Sendo um bom melhor amigo, Nathan apenas ficou acariciando o cabelo dela e esperando-a se acalmar.

— O que houve, minha princesa? — perguntou e ela abraçou-o com força, escondendo o seu rosto agora no pescoço dele. — Era pra você me bater de raiva, não me abraçar porque está chorando. Desculpa né...

— Nada... Nathan — sussurrou mansa e fungou, ainda sem forças para encará-lo. — Eu que sou... uma bobona por chorar.

— Mas por que chorou?

— É que... — engoliu seco e mordeu o lábio inferior, pensando em uma mentira. — Ah, Nathan, ninguém quer ficar comigo.

— O que? Está doida? Cega, talvez! — exclamou o rapaz e afastou delicadamente, pegando seu rosto molhado e vermelho e encarando-a nos olhos. — Gata,  têm filas de homens atrás de você e você que descarta todos eles!

— Mas nenhum é o que... — ela desviou o olhar para baixo. — Eu quero.

— Porque? Para tudo! Como assim, Clara Dunsley, a destruidora de corações, apaixonada?  isso tá errado! Minha filha, você aceitou essa profissão desde o começo, não pode deixá-la de lado, assim, do nada!

A morena riu enquanto sentia suas lágrimas serem limpas pelo rapaz que sorriu fraquinho ao vê-la um pouco melhor. Assim que encarou-o, pensou que só conseguiria esquecê-lo quando outro alguém entrasse em sua vida e, mesmo sem amá-lo no começo, esperar para ver o que o destino faria.

— Quem é o sortudo, minha princesa? Hum?

— Hã... — ela não tinha pensado nisso e, então, falou o primeiro nome que veio em sua cabeça. — É o Jonathan Winsley.

— Aquele nerd da Computação? — a expressão de Nathan era tão incrédula que ela riu um pouco. — Você é tão linda para aquele garoto sem sal...

— Nathan , não fale assim dele!

— Você está até protegendo-o! Ai, meu deus! Clara, temos que conversar sobre os seus gostos, porque, nossa, você está precisando abrir os olhos para o mundo!

E o resto da manhã, ele ficou assim, fazendo-a rir de suas piadas. Quando ela iria se arrumar para o estágio, Nathan impediu-a, falando que havia ligado para o trabalho dela e explicado que só poderia voltar na segunda-feira, graças a uma gripe. Como ambos estavam de férias nas faculdades, o Zanford sorriu maliciosamente ao dizer:

— Hoje, você é só minha!

(...)

O dia foi extremamente divertido! Clara que pensava não ter muita coisa para fazer em uma quinta-feira acabou se surpreendendo e curtindo da mesma forma como se fosse sábado.

Primeiramente, tomaram café da manhã em casa e fizeram uma guerra de comida. Arrumaram tudo enquanto empurravam um ao outro e foram tomar um banho para sair. Então, foram para o shopping e ficaram lá por horas, olhando as lojas e desejando ter dinheiro para poder comprar roupas e objetos caros que tanto amavam. Sim, eles tinham empregos, só que o dinheiro que recebiam não era em grande quantidade, ou seja, ficava apenas para a comida e para pagar o apartamento.

Foram ao cinema e viram dois filmes que estavam por lá. Depois, almoçaram e quem pagou desta vez foi Nathan, já que a morena pagara as entradas, as pipocas e os refrigerantes no cinema. À tarde, foram para um parque perto e apoiaram-se a uma árvore que os protegia do Sol. Ali, os dois ficaram lembrando de alguns momentos juntos.

— Lembra-se de quando começamos a trabalhar naquele restaurante? — perguntou Clara e apoiou-se no ombro do amigo.

— Claro! Era muito engraçado ver você lavando a louça... Você fazia aquela carinha de nojo e pegava a esponja, reclamando: ai, como esse meu chefe é pão duro; o que custa comprar uma esponja nova e blá blá blá! — comentou o Loiro e ambos riram.

— Mas é verdade! Aquela esponja precisava de uma aposentadoria!

— E lembra-se de quando fomos à nossa primeira festa de faculdade? — Nathan sorriu.

— Como posso esquecer-me de ter ficado bêbada pela primeira vez na minha vida? — ironizou e o rapaz alargou o sorriso.

— Em casa que foi mais engraçado, você fez um striptease para mim! Se não fosse gay, te agarrava naquela hora mesmo!

— Nathan! — corou e bateu no braço dele que gargalhou. — Também teve aquela vez que você ficou bêbado e ficou se molhando no chafariz do nosso prédio enquanto cantava “I’m singing in the rain”!

— Ei, isso é um clássico! E juro que tinha alguma coisa naquela bebida, eu sempre sei o meu limite para beber... E no nosso segundo natal juntos, hein?

— Aquele que fomos ajudar as crianças carentes? — sorriu encantada, recordando de como havia sido mágico aquele natal.

— Sim, aquele foi o mais lindo natal que presenciei... Principalmente quando você começou a ler algum livro para aquelas crianças.

— Prefiro a parte quando você chegou de Papai Noel e todas as crianças te atacaram, fazendo você, os presentes e as crianças rolarem no chão.

— Ainda bem que o travesseiro da barriga não havia caído ou, então, infeliz natal para todos, hou, hou, hou!

Ficaram rindo e relembrando os momentos até o Sol começar a sumir e foi quando decidiram alugar alguns filmes para passar a madrugada vendo. Chegaram a casa por volta das sete e, após trocarem de roupa, ajeitaram tudo para uma noite de cinema. Ver filme era uma coisa que os dois amavam fazer, ainda que seus gostos fossem diferentes.

Clara terminava de fazer a pipoca quando ouviu a campainha tocar.

— Nathan, pode atender para mim, por favor? — pediu da cozinha e ouviu-o levantar-se do sofá enquanto murmurava:

— Sim, madame...

Ouviu a porta ser aberta e logo depois um grito feminino. Franziu o cenho e desligou o fogo, ficando em silêncio para ouvir quem era.

— Nathan! — gritou alguém e sua voz era chorosa. — Meu deus, que saudade!

— Nathan Zanford! — outra mulher gritou e Nathan gemeu, o que fez Clara pensar que o mesmo havia levado um tapa. — COMO VOCÊ OUSOU ME ABANDONAR, SEU FILHO INGRATO?

— Lorena, acalme-se. — a voz de um homem se fez presente e, antes que ele continuasse, a tal Lorena respondeu:

— Me acalmar? Luiz, esse é o nosso filho! Ele sumiu por três anos! TRÊS ANOS! Você está entendendo a gravidade da situação?

A Dunsley, curiosa, chegou até a porta da cozinha e, ainda escondida, ficou observando a cena com apenas um olho. Nathan estava paralisado de costas para ela e sendo agarrado por uma loura que chorava muito enquanto uma ruiva olhava para o rapaz com os olhos queimando de raiva e tinha outro Loiro parecidíssimo com Nathan segurando-a pelos ombros e mandando um sorriso para o outro.

— Nathan, meu filho. Quanto tempo! — o loiro desconhecido falou e soltou a ruiva que desfez a expressão raivosa e abraçou o filho, chorando como a loura.

— Seu ingrato! Seu infeliz! Seu sem coração... — exclamava e começou a chorar mais alto. — Como pode... me abandonar?

— Acharam ele? — uma mulher de cabelos róseos adentrou a sala e colocou as duas mãos na boca, surpresa e feliz. — Nathan...

— AI MEU DEUSI! — exclamou outra loura que entrou logo depois a rosada. — Nathan, seu cretino!

“O que está acontecendo aqui?”, essa era a pergunta que rondava a cabeça de Clara. Por que xingavam e abraçavam Nathan? Quando pensou que não entraria mais ninguém, dois homens passaram pela porta e o hall ficou lotado. Um dos homens era moreno e o outro era ruivo. Ambos arregalaram os olhos e abriram um sorriso que, para a Dunsley, parecia ser algo que eles raramente faziam.

—  seu filho da mãe! — o moreno deu um peteleco na bochecha de Nathan que pareceu acordar para a vida.

— Você sumiu, Zanford — o ruivo deu de ombros. — Pensou que não viríamos atrás de você?

— MAS O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO AQUI? — berrou Nathan e afastou-se tanto da ruiva quanto da loira, principalmente da loura.

— Nós viemos atrás de você, Nathan...

— Não me venha com essa voz de anjo, Helena, porque ela não tem mais efeito! — apontou o rapaz e a moça encolheu-se, recebendo um abraço da ruiva que olhava a cena espantada. — O que, diabos, você está fazendo aqui?

Clara não soube o porquê, mas a voz de Nathan, tão fria quanto gelo, deixou-a arrepiada e temerosa. Ele não era assim, ela o conhecia e sabia que ele não era assim. No entanto, ao ver todas aquelas pessoas ali no hall, pensou se realmente o conhecia. O Zanford nunca havia comentado sobre sua família e, quando ela tocava no assunto diretamente, ele desviava. Será que eles eram a família dele? E, se fossem, por quê ele estava tratando-os assim?

— Nathan, não fale assim com Helena! — repreendeu a ruiva e encarou o Loiro com raiva. — Ela sofreu demais desde seu sumiço!

— Claro que sofreu, não tinha mais dinheiro para comprar roupa... — ironizou o rapaz e a ruiva apertou a moça contra o corpo, como se quisesse protegê-las das palavras dele.

— Nathan! — gritou a rosada, indo abraçar a garota que começou a chorar mais alto.

— Nathan... — chamou Clara e saiu de seu esconderijo, recebendo oito pares de olhos sobre si. — O que está acontecendo?

— Clara, eu...

— Quem é essa, Nathan? — perguntou a dona dos cabelos rosados. E a outra loura, que havia entrado junto com a rosada, comentou com um sorriso irônico:

— Não me diga que voltou a contratar prostitutas, Nathan, porque isso não faz seu estilo!

A Dunsley sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Abaixou o olhar e abraçou-se, pois pensava que sua roupa estava indecente: um short curto e uma blusinha larga. Sentiu uma vontade imensa de chorar e, quando pensou em dar as costas para aquela confusão, ouviu algo que deixou-a paralisada.

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