Sebastian D’Amore
O frio ardente de Nova York preenchia meus pulmões conforme respirava profundamente, abrir os meus olhos olhando aquela correria sem fim das pessoas andando de um lado para o outro. Às vezes alguém esbarra na outra e em um pedido singelo de desculpa continua seguindo o seu caminho. Um casal passa animadamente no outro lado da rua de mãos dadas e entram em um restaurante, pareciam felizes. Sentia náusea, o amor é perda de tempo. Não conseguia enxergar a utilidade dessa perda.
— Não me importo com quem você pensa, é pago para fazer o que eu mando. — Falei ao meu assistente. O tom cortante faz com que se cale. — O investimento será maior e com o retorno financeiro triplicado, usaremos para investir nos nossos imóveis. Quero mais expansão.
— Sim, senhor.
Não me lembro do nome dele e tenho certeza que se pronunciar direi seu nome errado. Prefiro apenas dizer o que ele tem que fazer e pronto, continuando a fazer o seu serviço bem feito, não precisarei me dar o trabalho de aprender o seu nome para demiti-lo. Estamos em um dos meus apartamentos no centro de Nova York. Continuei olhando as pessoas que parecem umas formigas, tão insignificantes.
— Tenho um evento hoje a noite. — Não estou animado para essa exposição de arte em uma galeria nobre de Nova York.
— Sim, senhor! — Se aproxima mais de mim. Olhei de relaxe, o seu terno cinza é desagradável. — É em uma galeria em Manhattan, a sua família vem investindo naquele lugar há anos. Sua presença… é muito… muito importante, senhor. — Gagueja, arrumando os óculos em seu rosto.
Agora tinha a minha atenção, ele não é gago e sei que quando a sua voz falha desse jeito é porque está com medo de mim. Esse homem trabalha comigo há sete anos, esqueci o nome dele no momento, mas tenho que reconhecer que trabalha muito bem. Em uma estatura baixa, ele parece um adolescente nerd que vive trancado no quarto, só faltaram as espinhas. Não me importo com a sua aparência caso faça o seu trabalho direito e é por essa ocasião que está sendo mantido ao meu lado durante esses anos.
Na minha empresa trabalham apenas homens, não me importo que me chame de machista e preconceituoso… Que seja! Não me importo com essa merda. O que me importa é com trabalho bem-sucedido, homens são fanáticos pelo trabalho, seja para cuidar da sua família, ter dinheiro suficiente para sobreviver ou para comer alguma puta e se fazer de machão na frente dos outros. A parte que me interessa é que homens não precisam tirar licença maternidade tanto tempo quanto uma mulher, não fica com humor péssimo durante o seu período menstrual e o ambiente costuma ser melhor.
Mandar e ser mandado. E eu sou o líder, ordenando minhas ovelhas.
— Não voltarei para a empresa hoje, faça o que tem que fazer e me encontre na galeria mais tarde.
— Sim, senhor! — Faltava apenas ele bater continência para mim, essa situação me agradava.
Ergui uma sobrancelha, olhando para ele.
— O cachorrinho está esperando por um osso? — Debochei, mas com a voz grave faz parecer que estou brigando com ele.
O senhor Não Sei O Nome, tropeça em seus próprios pés quando tenta sair às pressas do meu apartamento. Esse homem é um desastre ambulante e com todo esse jeito consegue entregar o trabalho a tempo e em perfeito estado. Não tenho que reclamar sobre seu trabalho, posso ser generoso quando lhe dê sua bonificação de Natal. Espero que use a inteligência para comprar roupas melhores, aquele tom de cinza acaba com a imagem dele.
Ficar no meu apartamento foi opção minha, na empresa encontraria com Victor e não estou a fim de vê-lo. Terei que ir em seu lugar nesse evento na galeria e não quero estar de mau-humor além do normal.
A minha casa fica a algumas horas da galeria e não queria acabar chegando atrasado, quanto mais cedo chegar, mas cedo vou embora. Peguei o copo de whisky balançando o líquido levemente em meu copo, antes de levar a boca e beber de uma vez. Tenho que trabalhar! Vou para o meu escritório, finalmente ignorando aquelas pessoas desconhecidas que andavam de um lado para o outro. Estou perdendo meu tempo como eles. Sentei em minha cadeira e na minha mesa abri meu notebook para ter acesso ao meu e-mail, lendo alguns contatos que não tinha nenhuma urgência por agora. Mas tempo é dinheiro e sei que nesses contratos tem milhões me esperando.
A tarde cai e o cansaço também, seria meu corpo dolorido pela posição que fiquei durante horas. Me espreguiço, erguendo o meu corpo o máximo que posso. Nada que um banho quente nesse frio de Nova York não resolva, no caminho para o quarto meu celular toca.
Não faço questão de atender quando vejo o nome do Victor na tela, tirei a minha camisa e comecei a desabotoar os botões da minha calça quando meu celular começa a tocar novamente. Parece que estava em seus planos falar comigo mesmo se não aparecesse na empresa hoje. No fim das contas, não consegui fugir dele como queria.
— Não ouviu o celular tocar, Sebastian?! — Aposto que está massageando as têmporas nesse exato momento. — Do que adianta ter um celular se não atende?
— Oi, para você também pai…
— Não me venha com sentimentalismo! — Engoli em seco. — Tem uma obra de arte de uma artista chamada Julie Leroy que estará naquela galeria em Manhattan do qual você estará para representar a nossa família mais tarde. É seu dever comprá-lo e fazer essa arte ficar em posse da nossa família.
Olhei meu reflexo no espelho enquanto Victor passa suas ordens. Meu cabelo estava em uma bagunça negra com seus fios caindo pela minha testa, o corpo definido me lembrava que não fiz meus treinos hoje e amanhã teria que acordar mais cedo.
Não tenho tempo para ter ansiedade ou essas coisas que nos param por um determinado tempo, mas o trabalho e a academia é o que me mantém motivado constantemente. Como uma engrenagem. Tenho total controle em minha vida, da comida até a hora de dormir, do trabalho e até mesmo lazer. Tudo devidamente calculado e executado com precisão.
— Não importa o preço, traga! — Ouvia tudo que Victor dizia, conseguia fazer qualquer coisa e respondê-lo quando preciso. Foram anos que acabei me autotreinando.
— Ok! — Respondi.
A ligação do outro lado da linha é encerrada sem se despedir. Não, a ligação não caiu. Victor falou tudo que precisava e então desligou. Simples. Joguei o celular na cama e fui para o banheiro, senti a água morna deslizar pelo meu corpo. Respirei fundo, sentindo uma dor no peito se estalar. Não sei o que é, passei pelo médico e fiz exames, mas essa dor vinha de vez ou outra.
Não me demoro no banho. Minha família é conhecida pela linhagem de magnatas da indústria financeira, a nossa generosidade e eventos beneficentes nos acompanha há gerações. Temos em nossa família obras de artes que invejam muita gente, dinheiro é algo que não precisamos nos preocupar. Termino de vestir meu sobretudo e as minhas luvas, recentemente recebi uma mensagem de meu assistente avisando que o carro estava à minha espera. Dando uma última olhada no meu apartamento para ir à galeria.
E um cumprimento singelo com o meu assistente seguimos para Manhattan.
A fila de carros era esperada na entrada da galeria. Hoje teremos obras-primas bem requisitadas neste meio das artes e novos artistas que vem sendo destaque nos últimos tempos. Sai do carro com meu assistente logo atrás, não faço questão de parar e posar para os paparazzis. Quero ir embora tão rápido quanto cheguei, removo as minhas luvas olhando ao redor.
— Veja quantas obras estão disponíveis da artista Julie Leroy. — Aviso ao meu assistente. — Quero todas!
Ele não precisa de uma palavra e sai rapidamente. Algumas pessoas fazem questão de me cumprimentar, enquanto colocam as minhas luvas no bolso do meu sobretudo. Um casal faz questão de lembrar que me viu quando criança e que já foi próximo de minha família, é claro que finjo está interessado. E uma conversa melancólica e superficial leva os meus olhos além do casal.
Seu cabelo em ondas perfeitamente alinhadas desenhava suas belas costas, o cabelo em um tom de preto se destacava no macacão branco desenhando bem suas curvas, por mais que seja um tecido mais solto no corpo deixava a bela dama muito elegante. O pouco que consigo ver em seu rosto posso ver contornos definidos e as maçãs do seu rosto levemente coradas e um belo queixo esculpido. Quem é essa mulher?
Cercada por outras pessoas ao parar em frente a um quadro pintado com traços modernos, consigo ver a sua felicidade ao movimentar suas mãos e falar sobre a obra do artista. Olhe para mim, o meu subconsciente gritava. E como se pudesse ouvir, a mulher começa a se virar em minha direção. Não que fosse para me olhar, mas para mostrar a arte com mais detalhe. Estava ansioso para poder ver sua imagem por completo, ignorando completamente o que o casal dizia.
O seu sorriso era a mais bela arte presente e… Que merda é essa? Quem esse imbecil pensa que é atrapalhar minha visão?
Alessandra Martins Espero que o meu dia não termine tão péssimo como começou. Sofremos um grande imprevisto para exposição de arte que acontecerá hoje à noite, o que não é nada bom. André estava precisando se dobrar em dois para poder trazer um dos quadros, Julie Leroy é a mais nova aposta para o mundo das obras-primas. Não ter o seu quadro conosco hoje seria pedir o fim da galeria e manchar a imagem da minha família. Ao ter uma linhagem como a minha, com grandes curadores de arte e eu sendo a que precisa continuar essa linhagem, qualquer errinho pode ser o maior erro da minha carreira. A pressão é grande, reconheço. Porém, não consigo dizer não para minha realidade. André é um historiador de grande porte, conheci ele em uma das minhas viagens ao Egito e nos tornamos grandes amigos. André Brown é um anjo na minha vida, também não posso esquecer que já fiz muito por ele e a nossa amizade é uma via de mão dupla. Cuidei pessoalmente de todos os preparativos da galeria, conferindo cada
Alessandra MartinsAndré e eu temos código entre nós quando precisamos ser salvos se algum cliente que está nos dando dor de cabeça ou quando estamos em um bar e um cara chato vem dar em cima de mim ou vise e versa. Temos esse sistema de parceria até nessas horas, mas no momento não é o caso. É sim… não… eu deveria estar trabalhando e não jogando conversa fora com Sebastian, então por um lado foi bom André aparecer.— Sim, está tudo bem, André…— Não, não está. — Com uma fria, Sebastian diz para André.André deu um passo à frente e coloquei a mão em seu peito em um pedido silencioso para que não fizesse nada. Sou uma anã perto desse dois. Não queria uma competição de quem mais mija longe agora. Olhei para Sebastian, esse jogo está divertido, mas preciso trabalhar.— Foi bom conversar com você, Sr. D'Amore. Espero que aproveite o máximo da nossa exposição de artes, agora preciso voltar ao trabalho.Pensei que seria melhor não esperar uma resposta sua, conversar com Sebastian não é ruim
Sebastian D’AmoreMeia hora. Alessandra disse que em meia hora iria sair, faz vinte minutos do seu atraso. Essa mulher não tem palavra? Deveria ir embora, não sou de esperar por mulher e agora não seria diferente. Já perdi tempo demais nessa exposição de arte, o plano era comprar as benditas artes de Julie Lorey e no máximo vinte minutos depois ir embora. Simples, rápido e adeus. Porém, nos meus planos não contava com Alessandra Martins, mas uma para minha cama. Apenas! Mas ela não deveria se dar ao luxo de me fazer esperar. Coloco o dedo sobre o botão para poder falar com o motorista para irmos embora.Mexo desconfortável no banco e desisto de apertar o botão. Por que não vou embora?! Alessandra não tem nada de especial. A Sra. Rossi fez questão de expor comentários desagradáveis sobre Alexandra, sem pensar duas vezes a defendi. Sinceramente deixei minha raiva falar mais rápido, como aquele idiota tem a ousadia de segurar na cintura da Alessandra com tanta intimidade? Ela estava no s
Sebastian D'AmoreColoquei Alessandra sentada em cima da mesa, onde havíamos acabado de jantar. Alguma coisa caiu no chão e se quebrou. Suas mãos estão em volta do meu pescoço querendo mais contato comigo, suas mãos são tão delicadas que me lembro em ser cuidadoso ao apertá-la contra meu corpo. Não queria machucá-la por mais que ansiava pelo seu corpo, pelo calor que emanava dela poderia ser cuidadoso por essa noite. Haveria outro dia e outra chance para tê-la como realmente quero. Nada iria nos atrapalhar agora… Mas é claro que sim!— Oh, meu Deus! — Ouvi a voz da moça que nos atendeu antes. — Me desculpe…Alessandra se recompôs rapidamente e se esconde atrás de mim, envergonhada por termos sido pegos. Por que sempre tem alguém para nos atrapalhar? Será que dois adultos não pode se beijar em paz ou ter uma conversa tranquila sem ter um idiota por perto. Tenho que lembra o nome daquele imbecil que provavelmente trabalha com Alessandra. Não gosto dele.— Some daqui agora! — Não é preci
Sebastian D’AmoreCaminho pelo meu apartamento até a mesa ao lado do sofá, enquanto tirava o relógio do meu pulso. Me mantinha em silêncio não querendo começar uma longa discussão que dependendo de Victor iria acontecer a qualquer momento, e o motivo da discussão seria o motivo dele estar no meu apartamento sem permissão alguma. Odeio esse Seu jeito de achar que é dono de tudo e que pode estar presente em qualquer lugar que queira. Não! Não na minha casa. Victor tem as suas propriedades e pode ficar zanzando por lá quanto quiser.— Está querendo manchar a imagem da nossa família? Sabe quanto perderia e tenho certeza que você é mais esperto do que isso. Vou te dar um conselho Sebastian nem todo rabo de saia vale a pena, escolha bem onde você quer colocar as suas partes.Deixei o relógio em cima da mesa e desabotoei alguns botões da minha camisa, ainda com o terno no meu corpo. As suas palavras me incomodavam. A sobrancelha grossa de Victor se ergue ao ver que não teria a minha resposta
Alessandra MartinsCorri para arrumar as almofadas em cima do sofá, minha casa estava totalmente desorganizada. Havia chegado alguns minutos da rua, lembrando que havia combinado com o Caleb que viria aqui em casa dar uma olhada no meu notebook. Em pouca conversa com ele descobri o quanto ele é bom nessa área e mesmo oferecendo pagar pelo seu serviço, ele se negou. Então tive uma brilhante ideia em preparar um almoço, por que não? Só tinha que me auto lembrar que não tenho tempo para mim mesma, quem dirá preparar um almoço. Sei cozinhar e não queria ter que comprar comida já pronta, agora a minha correria está sendo maior tendo panelas no fogo e arrumar a casa.André falou que não precisaria me preocupar e poderia demorar o tempo que fosse para voltar à galeria. Porém, nem que precise deixar Caleb na minha casa ou depois de almoçar entregar meu notebook, daria um jeito de pegar depois. Caleb parece ser uma pessoa bem legal, mesmo tendo só dois minutos de conversa ou bem menos.SE recu
Sebastian D’AmoreO tempo na Alemanha está horrível, me faz querer voltar para Nova York com o rabo entre as penas. Conferir às luvas em minhas mãos mais uma vez antes de sair do carro, a neve intensa nos impede de seguir nosso caminho. O sobretudo não é o bastante para me aquecer, estamos em Berchtesgaden, Alemanha. Um cliente teve a brilhante ideia de se refugiar nessa cidade e me fazer ter que vir até aqui para encontrá-lo. Meu assistente quase caiu quando saiu do carro, não posso culpá-lo se não prestar muita atenção você se funde com essa neve.Não conseguimos subir a colina por completo onde a casa do cliente está, ele escolheu a última para ficar e estou mantendo todo o meu autocontrole para não xingá-lo quando o ver.— Sr. D’Amore, o motorista pediu para avisar que não conseguiríamos subir a colina…— Ah, sério? — Ergui uma sobrancelha. — Não havia percebido.Engole em seco.— Hum, logo mais adiante tem uma pensão. Teremos que ficar lá até essa tempestade passar, acreditamos q
Alessandra MartinsFui pega completamente de surpresa ao encontrar com Sebastian na Alemanha, quais são as chances? Essa tempestade surgiu do nada, o clima estava bem frio, mas essa tempestade forte foi algo inesperado para mim. O macacão que estou usando não é o suficiente para me aquecer e não recusei o sobretudo do Sebastian por teimosia ou fazendo charme. Não estou sentindo tanto frio como estava lá fora e com a grande chaminé aquecia o lugar o suficiente para nos esquentar. Caleb e o outro homem que estava ao seu lado estava tremendo de frio, é óbvio que não deixaria ele sair lá fora para pegar as minhas coisas.— Ok, vamos para o quarto. — Sebastian passa por mim indo pegar uma das malas com o Caleb. — Você precisa se esquentar antes que pegue um resfriado.Sebastian colocou a mão em minhas costas me guiando para as escadas. Não iria recusar. Sei que essa tempestade não iria embora tão cedo, meu celular está sem sinal e não iria sobreviver se tentasse seguir a pé. A escada era e