O Mafioso que me Roubou
O Mafioso que me Roubou
Por: Arthur Souza
Capítulo 1

Capítulo 1

Luna

Trabalhar para um mafioso nunca foi parte do meu plano de vida, mas planos mudam quando a sobrevivência fala mais alto que a moral. E eu sobrevivo. Sempre. Meu pai dizia que a vida era como um jogo de xadrez. Você não precisa ser a rainha, só precisa saber quando mover suas peças. E eu vinha movendo as minhas com cuidado, desde o dia em que entrei no escritório de Marcelo Rivas: olhos baixos, ouvidos atentos, boca calada. Marcelo era exigente, imprevisível, mas ele confiava em mim. O suficiente para me manter por perto, o suficiente para me fazer sentir indispensável.

O relógio marcava 20h47 quando deixei minha mesa, já com os sapatos nas mãos, e segui pelos corredores silenciosos do prédio. Era tarde demais para estar ali, mas um relatório urgente precisava ser entregue antes da reunião da manhã seguinte. A cidade do lado de fora parecia quieta, mas São Paulo nunca dorme de verdade. Sempre há alguém observando, esperando, tramando. E naquela noite, senti isso mais do que nunca. Ao abrir a porta do escritório de Marcelo sem bater, um hábito adquirido depois de tantos meses, percebi de imediato que algo estava errado. O ambiente estava escuro, silencioso demais, com um ar denso que parecia pesar sobre meus ombros. Minhas mãos apertaram a pasta com mais força enquanto dava um passo hesitante para dentro.

Foi quando senti o arrepio na nuca. Um frio repentino percorreu minha espinha e meu corpo ficou em alerta. Virei devagar e o vi ali: um homem alto, de terno escuro impecável, parado junto à estante de livros, envolto pelas sombras como se fizesse parte delas. Seu olhar era intenso, afiado, escuro como a noite sem lua. E ele me observava com uma calma tão absoluta que me fez estremecer. Aquela presença não precisava de gritos, armas ou ameaças. Ele era a ameaça. E ele sabia disso.

— Luna Santiago? — ele perguntou, a voz rouca e grave.

O som do meu nome em sua boca me fez congelar. Eu conhecia aquele homem, mesmo sem reconhecer o rosto. Os sussurros nos bastidores, os arquivos confidenciais, as conversas abafadas ao telefone. Dante Moretti. O nome que fazia os homens de Marcelo empalidecerem. O inimigo. O fantasma do outro lado da guerra. A última pessoa que qualquer funcionário de Rivas esperaria encontrar.

— Quem é você? — perguntei, e não reconheci minha própria voz. Firme, desafiadora, mesmo com meu coração prestes a saltar pela boca.

Ele sorriu de canto, como quem se diverte com o fato de eu ainda fazer perguntas.

— Não se preocupe, Bella. Logo você vai descobrir.

Foi tudo o que disse antes de dar um passo à frente, e antes que eu pudesse me afastar, algo — alguém — surgiu atrás de mim. Um braço forte me agarrou pela cintura, me puxando com brutalidade. A pasta caiu no chão com um baque surdo, e um pano abafou meu grito. Lutei, chutei, tentei morder, mas não tive chance. Dois contra um, e eles sabiam exatamente como me neutralizar sem deixar rastros.

O corredor girou, as luzes tremeluziram, e a última coisa que vi antes de tudo escurecer foram os olhos de Dante, frios, decididos, intensos como o próprio inferno.

Quando despertei, não senti concreto ou sujeira sob meu corpo, mas sim lençóis macios, um colchão confortável, e o cheiro sutil de couro misturado a um perfume amadeirado e quente. Abri os olhos com dificuldade, piscando contra a luz suave que entrava pelas frestas da janela coberta por cortinas pesadas. Meus pulsos estavam presos, mas não por algemas. Fitas de veludo envolviam meus braços, firmes o bastante para me manter imobilizada, suaves o suficiente para parecerem um toque íntimo, quase... cuidadoso.

Estava em um quarto que mais parecia uma suíte de hotel de luxo. Cada detalhe gritava sofisticação: a madeira escura dos móveis, o tapete grosso sob os pés da cama, as luminárias de vidro, os quadros nas paredes. Nada de câmeras, nada de sangue. Nada do que se esperaria de um cativeiro de máfia. Mas o perigo estava ali, vivo, observando.

Dante estava sentado em uma poltrona próxima à cama, as pernas cruzadas, a camisa social desabotoada no colarinho e as mangas arregaçadas até os antebraços. Ele me observava como se eu fosse uma obra de arte que ele ainda decidia se valia a pena roubar ou destruir. Seus olhos eram impassíveis, mas havia algo neles... uma faísca estranha. Curiosidade? Interesse?

— Onde eu estou? — perguntei, com a garganta seca.

— Em segurança — respondeu ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Você me sequestrou — acusei, tentando sentar, mas ele apenas inclinou a cabeça, como quem se diverte com a obviedade.

— Eu te salvei. — Ele se levantou, caminhando até o bar no canto do quarto. Serviu dois dedos de uísque em um copo e tomou um gole antes de continuar. — Marcelo Rivas está morto, Luna.

Minha mente não processou de imediato. Era como se ele tivesse dito algo absurdo. Incrível demais. Impossível.

— Mentira.

— Verdade. O prédio onde você estava vai virar cinzas até o amanhecer. E todos que estavam lá dentro com ele... bem, nenhum deles vai contar o que aconteceu. Mas você, Luna, você saiu viva.

— Por quê?

— Porque você é inteligente. E porque eu estava lá.

Ele voltou a se aproximar, ficando ao lado da cama, perto demais. Podia sentir o calor do corpo dele, o cheiro marcante, a eletricidade que parecia vir de cada gesto. Ele era o tipo de homem que fazia a respiração vacilar mesmo quando tudo em você gritava perigo.

— Você sabe muito mais do que parece — continuou ele. — Acesso a informações, contratos, códigos. E, além disso...

Ele se inclinou, a voz abaixando até virar quase um sussurro.

— Eu queria te ver de perto.

Aquilo me fez prender a respiração. Não era uma ameaça. Era uma confissão. Um aviso. Um desejo.

— E se eu não colaborar? — perguntei, ainda tentando manter o controle, ainda agarrada à ideia de que eu poderia, de alguma forma, sair daquela situação com dignidade.

O sorriso dele sumiu, e o olhar se tornou mais sério, mais sombrio.

— Então vai descobrir o que acontece com quem desafia Dante Moretti. — Ele me observou por mais um momento e acrescentou, mais baixo: — Mas algo me diz que você não é do tipo que quebra fácil.

Aquela frase ficou ecoando em mim, enquanto ele se afastava, deixando um silêncio carregado de promessas. Eu ainda não sabia como, mas alguma coisa me dizia que aquele sequestro era só o início. E que, por mais que tentasse resistir, algo em mim já estava quebrando.

Naquela noite, perdi a liberdade.

Mas sem saber... comecei a perder muito mais do que isso.

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