Capítulo 5

Capítulo 5

Luna

O sol mal começava a nascer quando a porta do meu quarto se abriu com um leve rangido. Nenhuma batida, nenhum anúncio. Apenas uma figura feminina entrando em silêncio com uma bandeja de café da manhã.

— Bom dia, senhorita Luna — disse, com um sotaque leve. Cabelos escuros presos em um coque firme, uniforme impecável. Olhos atentos, mas sem julgamento.

— Você trabalha para ele? — perguntei, sentando devagar na cama.

— Trabalho para esta casa. O senhor Moretti me pediu para garantir que estivesse bem alimentada. Disse que hoje seria um dia importante.

“Importante”. A palavra ficou pairando no ar, carregada de peso. Suspirei, empurrando as cobertas para o lado. Vesti o roupão de seda que alguém — provavelmente ela — havia deixado dobrado sobre a poltrona, e caminhei até a bandeja. Café quente, pão fresco, frutas cortadas com perfeição. Nada combinava com a ideia de cárcere. Mas, de alguma forma, tudo era ainda mais perturbador.

— Qual seu nome?

— Chiara.

— E ele... sempre é assim?

Ela me olhou por um momento, como se ponderasse o quanto poderia dizer. Depois apenas respondeu:

— O senhor Moretti é um homem de extremos. E de palavra.

De palavra. Engraçado. Eu tinha crescido acreditando que nesse mundo promessas eram feitas apenas para serem quebradas. Mas Dante parecia ser o tipo de homem que, quando dizia que ia destruir alguém, destruía mesmo. E quando dizia que você era valiosa… ele fazia você sentir isso na pele.

Quando terminei o café, Chiara me levou até um closet. As roupas que encontrei lá pareciam saídas de uma revista de luxo — vestidos de corte impecável, sapatos novos, lingeries que me fizeram corar. Nenhuma etiqueta. Tudo escolhido sob medida.

— Isso é demais — murmurei.

— O senhor Moretti mandou preparar tudo ontem à noite.

Um arrepio percorreu minha espinha. A ideia de que ele tinha mandado escolher roupas para mim, mesmo enquanto eu dormia, me assustava... mas, de novo, me inquietava de outra forma que eu ainda não sabia nomear.

Vesti uma calça preta de alfaiataria e uma camisa branca com botões dourados. O reflexo no espelho me devolveu uma mulher que eu mal reconhecia. Elegante. Sóbria. Controlada. Como se, de algum jeito, aquele novo mundo já estivesse me moldando.

Dante me esperava no andar de baixo. De terno escuro, como sempre. As mãos cruzadas atrás das costas, como um general prestes a anunciar uma nova batalha.

— Dormiu bem?

— Como uma prisioneira de luxo — respondi com ironia, cruzando os braços.

O canto da boca dele se ergueu.

— Você vai ter um dia cheio. Quero que conheça algumas pessoas, veja o que realmente está acontecendo. Chega de teorias. Hoje você vai ver a guerra de perto.

Engoli em seco. Não sabia o que ele queria me mostrar, mas uma parte de mim — a parte que estava cansada de mentiras — precisava saber.

— E se eu não quiser participar?

— Então observe. Absorva. E no final do dia, pode decidir o que fazer com o que viu. — Ele estendeu a mão. — Confia em mim?

Olhei para aquela mão como se ela fosse uma armadilha. Talvez fosse. Mas mesmo assim… eu a segurei.

E descemos juntos os degraus para o que, eu sabia, seria um caminho sem volta.

O carro preto já nos aguardava na porta, e o motorista, silencioso como uma sombra, abriu a porta traseira para nós. Entramos sem trocar uma palavra. Dante manteve o olhar fixo na janela, os dedos batucando no joelho como se acompanhassem uma música silenciosa. Resolvi quebrar o silêncio.

— Vai me mostrar onde enterra os corpos?

— Ainda não — ele respondeu, com um sorriso enviesado. — Primeiro, vou te mostrar por que os corpos aparecem.

O carro parou em frente a um prédio discreto, fachada de tijolos antigos. Entramos por uma porta lateral, onde dois homens armados nos cumprimentaram com um aceno. Lá dentro, o cenário era completamente diferente, tecnologia de ponta, painéis de segurança, monitores exibindo imagens de câmeras espalhadas pela cidade.

— Bem-vinda ao centro de inteligência Moretti — disse ele. — Aqui, controlamos tudo: entregas, acordos, vigilância… e pessoas.

Caminhei ao lado dele por um corredor iluminado, onde vozes falavam em códigos e telas piscavam incessantemente. Nada ali lembrava uma operação criminosa. Era mais sofisticado do que qualquer empresa que já conheci.

Dante me conduziu até uma sala envidraçada. Lá dentro, uma mulher e um homem discutiam estratégias de rota com mapas digitais.

— Essa é Sofia, minha estrategista. E aquele é Lorenzo, meu analista de risco. — Ele se virou para mim. — Eles sabem quem você é.

Sofia me lançou um olhar direto. Curioso, mas não hostil.

— Você é a peça nova do tabuleiro. Espero que saiba jogar.

— Estou aprendendo — respondi.

— Aprenda rápido — disse Lorenzo, sem tirar os olhos da tela.

Ficamos ali por horas. Dante me mostrou documentos, escutas, registros. Provas de corrupção policial, tráfico, movimentações do próprio Marcelo. Cada arquivo era um golpe contra a imagem que eu tinha do homem que um dia chamei de chefe.

No final da tarde, sentada em um sofá de couro, encarei Dante com olhos diferentes.

— E o que você ganha me mostrando isso tudo?

— Ganha quem controla a verdade, Luna. — Ele se aproximou. — Quero que você veja o que realmente está em jogo. E depois, decida por si mesma.

As palavras dele ecoaram pela minha mente enquanto voltávamos. Já não sentia medo. Sentia inquietação. Sentia curiosidade. E, o mais perigoso de tudo... sentia admiração.

Quando a noite caiu e voltei para meu quarto. Chiara já havia deixado a banheira pronta, com água quente e óleos perfumados. Mergulhei, tentando lavar do corpo o peso do dia. Mas algumas marcas não saem com sabão.

Dante apareceu na porta minutos depois, sem convite, como sempre. Encostado no batente, com aquele olhar que parecia atravessar minha alma.

— Amanhã começa uma nova fase — ele disse. — Vamos ver do que você é feita, Luna Santiago.

Quando ele se afastou, fechei a porta com a mão trêmula. Deitei-me, encarando o teto escuro.

E pela primeira vez, me perguntei… e se eu não quiser mais fugir?

Essa pergunta, mais do que qualquer ameaça, era o que me assustava.

Porque talvez eu já estivesse me tornando parte daquele mundo.

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