Aléssio Romano, Eu estava arrumando a cama, concentrado na tarefa como se aquilo pudesse trazer um pouco de ordem para o caos que estava dentro de mim. Os lençóis estavam todos bagunçados, e mexer neles me dava um falso senso de controle, como se arrumando a cama eu pudesse arrumar minha própria mente. Peguei os panos sujos e coloquei no cesto para lavar. Bianca estava em silêncio, se vestindo, e eu sentia o peso do olhar dela sobre mim. O ambiente parecia carregado. Era impossível ignorar o que tínhamos acabado de fazer, e a confusão em minha cabeça só aumentava. A pergunta dela veio sem aviso: — Você está arrependido? Parei o que estava fazendo. A pergunta me atingiu em cheio. O silêncio que se seguiu foi denso; eu podia sentir a tensão crescendo no quarto. Virei-me lentamente, tentando encontrar a melhor maneira de responder. — Não é arrependimento — falei, escolhendo as palavras com cuidado. — É só... uma sensação de que fiz algo errado. O rosto dela ficou sério, e percebi
Bianca Santoro, A dor me consumia como um incêndio incontrolável. Assim que saí do quarto de Aléssio, eu senti como se algo dentro de mim tivesse sido arrancado à força. Me joguei na cama, sem forças para sequer me levantar. O peso do que ele havia dito, de como ele havia me tratado, esmagava meu peito. Passei a noite inteira sem dormir, apenas deitada, encarando o teto e tentando, sem sucesso, segurar as lágrimas que desciam pelo meu rosto. O choro não era apenas de tristeza, mas de uma profunda decepção, com ele e comigo mesma. Eu me sentia enganada, usada, como se tudo o que eu tinha acreditado entre nós não passasse de uma ilusão. Minha mente estava um turbilhão de pensamentos confusos, perguntas sem respostas e memórias que eu preferia esquecer. Quando o sol começou a nascer, a luz fraca entrando pela janela, percebi que o novo dia não oferecia consolo. Levantei-me lentamente, como se cada movimento fosse um esforço tremendo. Minha cabeça latejava, meus olhos ardiam de tanto ch
Aléssio Romano, Eu estava sentado no meu escritório, encarando a pilha de papéis à minha frente. Meu pensamento, no entanto, estava longe dali. Desde a última discussão com Bianca, uma sensação incômoda me acompanhava, como um peso constante em meu peito. Tentei me convencer de que manter distância era o certo, que estava protegendo ambos ao tomar essa decisão. Mas, no fundo, sabia que estava apenas fugindo do que realmente sentia. Vito entrou sem bater, o que era um costume irritante dele, mas que eu aceitava devido à sua lealdade. — Senhor, tenho o relatório sobre Bianca — ele disse, entregando-me uma pasta. Olhei para o documento, hesitando em abrir. Sabia que isso poderia trazer à tona sentimentos que eu estava tentando controlar. Mas abri, afinal. — Ela está indo bem nas aulas — Vito continuou, sua voz calma. — Tem passado bastante tempo com seus colegas, especialmente com o tal Enzo. Meu maxilar se contraiu involuntariamente ao ouvir o nome. Eu não sabia por que isso me in
Bianca Santoro,Uma semana havia se passado, e desde aquela pequena desavença com Aléssio, eu fiz de tudo para não cruzar com ele pela casa. A mansão era grande o suficiente, e sempre que ouvia seus passos ou via sua sombra, eu me retirava antes de sermos forçados a nos encarar. Não queria dar a ele o prazer de achar que ainda me afetava.Hoje é o último dia das aulas de etiqueta, e em breve também encerraria minhas aulas na escola. Daqui a dois dias, completaria meus tão sonhados 18 anos, e mal conseguia esperar para alcançar essa marca. Essas últimas semanas foram confusas e cheias de surpresas, especialmente em relação a Enzo. Sim, estávamos namorando. Achei que entrar em um relacionamento "normal" seria a melhor forma de deixar para trás tudo o que aconteceu entre mim e Aléssio.Mas nada é tão simples. Noites sem fim eram povoadas por sonhos eróticos com Aléssio, e mesmo sem querer, minha mente e meu corpo pareciam lembrar cada toque, cada suspiro
Aléssio Romano,Fechei a porta do escritório, quase com força demais. O eco do som reverberou pelo ambiente, como se tentasse refletir a raiva contida dentro de mim. Meus passos soaram duros pelo assoalho de madeira, e eu caminhava sem direção por alguns instantes, apenas tentando controlar os pensamentos caóticos na minha cabeça.Peguei uma garrafa de uísque na estante e me servi sem pressa, observando o líquido dourado encher o copo. Precisava de algo para acalmar a mente, algo que amenizasse a irritação que me corroía. O namoro de Bianca com Enzo.... Só de pensar naquilo, minha mão apertou o copo com tanta força que pensei que ele poderia estourar.— Maldito moleque — murmurei entre dentes, tentando afastar a imagem dele perto dela. Eu conhecia o tipo dele; garotos assim eram atrevidos, confiantes demais para o próprio bem. E Bianca, com sua nova liberdade e confiança, parecia disposta a desafiar todos os limites, inclusive os meus.Sentei
Bianca Santoro,Naquele mesmo dia, depois da tensa conversa com Aléssio, tentei recompor meus pensamentos e me concentrar no que tinha para eu fazer. A última aula de etiqueta estava prestes a começar, e eu precisava manter a cabeça erguida. Havia me preparado tanto para chegar até aqui, e, depois de tudo, não permitiria que ele ou qualquer outra coisa me desviasse do meu objetivo.Caminhei até a área onde sempre aconteciam as aulas. O salão de dança era amplo, com janelas grandes que deixavam a luz entrar e iluminavam o piso de madeira. A professora Elenice e Gian, o professor de dança, já estavam lá, aguardando minha chegada. Ambos me cumprimentaram com sorrisos.— Bom dia, senhorita Bianca — disse Elenice, sempre educada.Eu apenas assenti, tentando manter a expressão serena. Precisava fingir normalidade, mesmo com o caos dentro de mim. A tensão entre Aléssio e eu era recente demais para ser ignorada, mas eu me forcei a deixar isso de lado
Bianca Santoro,A chuva fina caía sobre os telhados enferrujados da cidade. Eu estava encostada na parede de tijolos sujos, respirando devagar. Minhas mãos estavam frias, mas não era só por causa do tempo. Era sempre assim antes de um roubo. A adrenalina corria pelas minhas veias, e meu coração batia forte, quase como se quisesse pular do meu peito. Mas o que eu sentia, mais do que qualquer coisa, era fome. Não de comida, mas de algo maior. Algo que fizesse meu mundo caótico ter sentido por um momento.Olhei para o lado, certificando-me de que ninguém estava me observando. A rua estava vazia, exceto por alguns carros velhos estacionados e uma lixeira que transbordava. A loja de conveniência na esquina estava aberta, como sempre, com o dono, um homem gordo e careca, distraído com um jogo de futebol na pequena TV pendurada atrás do balcão."Agora ou nunca, Bianca" — sussurrei para mim mesma, enquanto ajeitava a touca sobre o cabelo molhado. Eu precisava daquele dinheiro. Precisava mais
Aléssio Romano,O poder é uma coisa curiosa. Quando você tem o controle, tudo parece estar à sua disposição. As pessoas abaixam a cabeça quando você passa, e ninguém ousa olhar nos seus olhos por muito tempo. Mas, por dentro, é diferente. Por dentro, você carrega um peso que ninguém vê. Um peso que, no meu caso, tem o rosto de uma garotinha de seis anos, deitada numa cama de hospital, lutando contra algo que nenhum poder, nenhum dinheiro, pode derrotar.Meu nome é Alessio Romano, e eu sempre soube o que era o controle. Desde jovem, fui criado no mundo do crime, onde força e lealdade eram tudo. Vi meu pai comandar com mão de ferro, e quando ele morreu, não havia dúvida de que eu seria o próximo a carregar o fardo da família. Aprendi rápido que nesse mundo, ou você controla, ou é controlado. E eu nunca fui bom em ser controlado.Hoje, eu tinha saído de mais uma dessas reuniões intermináveis. Homens de terno, conversas sobre territórios e negócios. Eu os controlava, mas por dentro, minha