Já passava das dez e Marcos, após uma noite bem dormida, brincava, como ele dizia, com seu computador. De lá, através da rede, era possível ter informações do mundo todo. Do outro lado da sala, vinte e dois monitores garantiam a segurança do prédio. Na realidade, a sua sala era uma sub-central que funcionava como “back up”. O circuito interno de segurança contava com quarenta e quatro câmeras, sendo vinte e duas ostensivas e vinte e duas micro-câmeras, estrategicamente escondidas, dando o mesmo ângulo de visão. O circuito das micro-câmeras descarregava suas imagens na sala do Marcos. Metido em sua cadeira de rodas, buscou as imagens dos monitores como sempre fazia.
De repente, parou no visor que mostrava a portaria principal. Viu quando um Santana preto parou no estacionamento com dois homens de terno, dentro.
Sem nenhum motivo aparente, foi à mesa de controle e deu um “zoom” na câmera. Visitas como aquela eram bastante corriqueiras na CIFEC. No entanto, quando o hom
Eram 12:07h. A equipe já havia caminhado cerca de duas horas. Os quatro integrantes atravessaram os campos de pastagem, entraram num capão de mato e agora penetravam uma floresta mais fechada. O importante era demarcar bem a trilha para que pudessem retornar em segurança. Willdson era o batedor da equipe e seu senso de direção, bastante apurado. Sabia, pelos seus cálculos, que estavam fazendo praticamente o caminho inverso, pelo menos em parte, em relação à trilha de 86. Assim, tentando sempre uma linha reta em relação ao Morro da Divisa, mantinha os olhos abertos na tentativa de encontrar algum ponto que pudesse recordar a trilha de 1986. A selva era espessa e isso anulava qualquer possibilidade de visualizar o morro. — E aí, San? Acha que estamos na direção certa? — Está realmente difícil, Ramon. Mas vamos tentar mais um pouco. É que o mato está muito fechado e isso está nos atrasando um pouco. Vamos tocar em frente. Se eu não estiver errado, logo sairemos
Chegaram ao Hotel Fazenda e já passava das 20:00h. Um bom banho seria revigorante antes do jantar. Cláudio fez questão de jantar com eles e aprender um pouco sobre Arqueologia. A comida era farta e muito bem feita. A decoração era rústica, mas de muito bom gosto. As pilastras que sustentavam o prédio principal eram enormes troncos de árvores nativas que receberam tratamento especial, sem alteração das suas formas originais. Artesanatos indígenas estavam espalhados por todo lado compondo a decoração. O prédio central era redondo com uma varanda à sua volta onde havia mesas de jogos. O restaurante ficava do lado direito da recepção e do lado esquerdo, uma espécie de american bar. Os apartamentos ficavam em dois outros pavilhões um pouco afastados do prédio central. Eram como pequenos chalés em que, na porta de entrada, existia um pequeno terraço. Cada um era composto por um só quarto com dois beliches e um banheiro conjugado. Após o jantar, continuaram
Sete de julho de 1990, sexta-feira. O dia mal havia clareado e a equipe já estava a caminho. Na viatura só os equipamentos essenciais. De volta à fazenda, colocaram o carro no mesmo local, montaram a micro-câmera por segurança e apanharam a trilha que os levaria ao córrego. — Estive conversando com o Marcos ontem à noite, comentou Ramon. Não tenho dúvidas de que o nosso visitante é um federal. — E o que os federais estariam fazendo atrás de nós? observou Carlos. — Não estou bem certo, Carlão. Se o intuito deles é descobrir a conexão aqui na fazenda, por que estariam no nosso vácuo? — Será que tem a ver com nosso acidente na estrada? perguntou Willdson. — É possível, San. Pelo menos, continuou Ramon, seria a dedução mais lógica para eles. Contudo, duas coisas me intrigam nessa história: se os caras do Comodoro nos queriam fora do caminho, por que não atiraram na gente? — Como você mesmo disse, provavelmente queriam que parecesse um acid
Mauro Corrêa tinha sido o outro guia da equipe do Projeto INCA. Na verdade, ele era quem conhecia, efetivamente, a região. Na época, ele caçava muito naquelas matas. O Ariovaldo era amigo seu e tinha acompanhado-o várias vezes. Quando Ramon e Willdson conheceram-no, ele solicitou a colaboração do Ariovaldo, pois, naquele ano, passariam por sua fazenda para que pudessem penetrar na então fazenda Estância sem serem percebidos. Era um bom sujeito e tinha se mostrado amigo da equipe. Prometeu até ir a Campinas para visitar os novos amigos, o que nunca aconteceu. Morava em uma pequena chácara na periferia da cidade. Seu pai tinha um boliche como eles diziam. Era um pequeno armazém onde se vendia de tudo. Quatro anos depois, novamente a CIFEC buscava a sua ajuda. A viatura parou diante de uma porteira amarrada com pedaços de borracha de câmara de ar. Os primeiros a recebê-los foram dois cachorros vira-latas carentes de afeto. Latiram por um instante e depois abanaram o rabo como s
Marcos trabalhara a sexta-feira toda vasculhando os arquivos. Fredy não havia retornado do Rio. Resolveu voltar no sábado para continuar suas investigações. Checou o laudo da perícia quanto ao incêndio da sala de arquivo, como Ramon lhe pedira, mas não encontrou nada de estranho. De acordo com o laudo, o motivo do incêndio tinha sido mesmo ocasionado por um curto-circuito acidental. Segundo o relatório, quando o segurança ligou a chave, dois cabos que haviam sido deixados próximos, durante a instalação do vibrador intra-molecular, soltaram faíscas iniciando o incêndio. O arquivo provisório, de madeira, estava em um canto atrás da máquina onde seriam conectados os cabos. Isso fez que o sistema contra incêndio, mesmo acionado quase imediatamente, através dos sprinkers, levasse um tempo até acabar totalmente com o fogo. Marcos decidiu deixar de lado, pelo menos por um tempo, essas investigações e partir para outra. Como era sábado, pouca gente trabalhava na administraçã
A viatura parou no antigo boliche de seu João. A fachada continuava a mesma, exceto pela placa que identificava o novo negócio. “Ferro Velho João Bolicheiro”. Era a forma como conheciam seu pai e Mauro manteve como homenagem. A porta do antigo bar estava fechada, mas era o portão lateral a principal entrada do novo estabelecimento. Deixaram o carro no mesmo lugar e dobraram a esquina. Ramon pediu que Carlos e Henrick ficassem na viatura. — Bom-dia! disse Ramon entrando no estabelecimento. — O Seu Mauro está? Um homem, sentado em um pequeno banco, mal levantou a cabeça. Desmontava um painel de carro e sem parar o trabalho respondeu em tom mal-humorado. — O patrão não está! Se quiser alguma coisa, fala com o outro lá no fundo. — Oh! Muito obrigado, respondeu Ramon. O outro de que ele falava era um sujeito de raça negra, bastante forte e que separava peças em lotes. O ferro-velho continha peças usadas de todas as marcas de automóveis. Não aparent
Não eram 11 horas ainda. Assim, a equipe resolveu não perder tempo. De acordo com a conversa de Ramon com o funcionário do ferro-velho, Mauro não dera previsão de retorno. O jeito era voltarem no riacho da floresta e prosseguirem na busca. Assim fizeram. Já haviam caminhado por duas horas aproximadamente, dentro do seu leito. Era muito tempo a mais do que haviam caminhado em 86. Além disso, o riacho começava a se transformar em um pequeno rio, atingindo dimensões de quatro metros de largura e profundidade, em alguns pontos, de quase um metro e meio. A paisagem estava totalmente mudada. Diferente de qualquer coisa registrada em suas memórias. Resolveram retornar pelo mesmo caminho até chegarem à pequena estrada. Era uma estrada recentemente aberta por trator de esteira. — Quem sabe essa estrada não seguiu o curso da vala? sugeriu Willdson. — Sabe de uma coisa, San? Não é má essa sugestão, observou Ramon. A vala de que falavam fora descobe
Nove de julho de 1990. Finalmente as idéias começavam a surgir. A equipe havia conversado muito na noite anterior. Se o Mauro estava descartado, por que não o Ariovaldo? Afinal, o Ariovaldo conhecia o Ponto M tanto quanto o Mauro e, por ser domingo, com certeza seria encontrado em casa na fazenda. A conclusão estava correta. Ariovaldo recebeu-os muito bem e alegrou-se com a visita. Conversaram por muito tempo relembrando aquela empreitada. — Almoçam com a gente, não e´? perguntou com clara satisfação. Afinal de contas, hoje é domingo! — Está certo, Ari, assentiu Ramon. Acho que estamos precisando mesmo relaxar um pouco. O almoço foi servido. A mesa era farta e toda a família e também amigos se reuniram em companhia dos arqueólogos. — E o Mauro, Ariovaldo? Como ele está? A pergunta era um tanto capciosa. Dependendo da resposta, Ramon poderia analisar o relacionamento dos dois nos tempos atuais. Ariovaldo baixou a cabeça demonstr